Em plena crise económica, verifica-se uma enorme crise de valores sobretudo entre os jovens. De que forma se poderá inverter esta situação? Que apelos acha serem os mais convincentes?
A grave crise que vivemos tem atingido os jovens de uma forma ainda mais cruel, com uma escassez de oportunidades inimaginável, isto leva a que cada vez mais jovens se agarrarem ao imaterial como forma de preencher o seu vazio material, mas de que forma pode a igreja proporcionar a estes jovens oportunidades concretas?
Senhor D. Manuel Clemente, no decurso desta semana de formação a questão da importância dos valores na sociedade Portuguesa tem sido suscitada. Em que medida pode a Doutrina Social da Igreja auxiliar-nos na nossa reflexão?
Os contextos de fragilidades são paralelamente contextos de oportunidade e contextos-teste. Numa simples análise prospectiva, considera que o Estado Social sairá debilitado/comprometido ou reforçado?
Num contexto em que uma das precariedades sociais, é a crise de valores, onde os princípios e os valores religiosos parecem quase obsoletos numa sociedade em constante transformação, com os jovens cada vez mais de costas voltadas para a Igreja (em particular a Católica), não será necessária uma actualização das formas de actuar da Igreja?
Considera que a Igreja funciona como farol nestes tempos conturbados que estamos a viver? A família continuará a ser a célula da sociedade e da entreajuda?
Senhor D. Manuel Clemente, tem sido das figuras eclesiásticas que mais compreensão tem demonstrado quanto às questões governamentais. Como tem sido a reacção no seio da sua diocese face à abolição de alguns feriados religiosos já para o ano de 2013?
Sr. Dom Manuel Clemente em que medida a igreja portuguesa poderá colaborar, com o Estado português, na execução das políticas sociais, nomeadamente com as IPSS?
Tenho uma formação católica e conheço bastantes acções e iniciativas da Igreja com o objetivo de ajudar quem mais necessita.
Numa altura de crise e de grandes sacríficios para os portugueses, considera que a Igreja portuguesa está perto de atingir a sua ''capacidade máxima'' de ajuda aos mais desfavorecidos?
Numa época em que vivemos uma profunda crise de valores, em que recursos materiais se sobrepõem aos princípios humanisticos, em que a solidariedade é esquecida em prol do bem individual, como pode a Igreja ajudar a inverter esta situação?
Não estará na altura de uma verdadeira adaptação aos novos tempos e aos membros mais jovens, tendo em conta que somos o futuro?
Como católico praticante, verifico que os jovens estão cada vez mais afastados da religião católica, ou pelo menos da prática de ir ás igrejas, Será que existe educação familiar nesse sentido?
A igreja em Portugal tem um papel socialmente importante na sociedade Portuguesa. Com a crise económica os donativos provavelmente estarão a diminuir. Isso tem impedido a igreja de concretizar projectos que considerava muito importantes?
Como católico praticante desde cedo e tendo acompanhado todas as mudanças cívicas e sociais dos últimos tempos é, do meu ponto de vista, urgente e necessário uma maior e melhor intervenção por parte da Igreja principalmente no que toca à falta de valores de toda uma nova geração. Contudo não será necessário uma actualização da própria Igreja numa óptica de "pensar" mais jovem?
Portugal é desde à muito um país de católicos, coincidência ou não é também um país solidário desperto para as necessidades dos que vivem em maiores dificuldades, mesmo em tempos de crise, sempre que o povo português é chamado a apoiar uma causa, no dia seguinte surge na comunicação social que bateram-se novos recordes de adesão.
O que torna o nosso país tão especial nesta matéria, e qual o papel da igreja nesse sentido?
Com o evoluir da sociedade os jovens não ficam indiferentes à mesma, seguindo o seu rumo. Surgem novos hábitos e tradições. De que modo a igreja, reconhecida por muitas vezes ser rígida nos seus costumes e tradições, pode adaptar-se à actualidade e assim chegar mais próximo dos jovens?
Considerando a Igreja uma das maiores organizações em Portugal, qual acha que deve ser o seu papel nos dias difíceis que correm? Considera justo e correto alguns padres darem entrevistas claramente politizadas?
Há um futuro para a Igreja num país com tantas dificuldades? Poderá ser este um actor político e activo na sociedade? De que forma se pode aliar aos nossos governantes?
Será pertinente afirmar que, actualmente, tanto a Igreja como a Politica enfrentam iguais problemas de descredibilização, desinteresse e desacreditação junto dos jovens portugueses?
Considera a religião uma forma de fomentar a participação activa dos jovens na vida pública e politica ou entende que não se deve aliar a politica à religião para não se correr o risco de deformação de ideais e crenças?
Senhor D. Manuel Clemente, a minha questão é a seguinte: Hoje em dia muitos jovens estão afastados da Igreja Católica. De que forma seria possível intensificar esta relação (Jovem-Igreja Católica), visto que os princípios defendidos pela igreja Católica poderiam ser uma resposta para solucionar a actual crise de valores.
Na história da igreja a sua relação com o Estado é visível. Líderes da igreja, num passado distante, coroaram e descoroaram reis, influenciaram conflitos e guerras e abusaram do seu poder eclesiástico. Acha que o Estado, hoje, é o papel social da igreja?
Exm. D. Manuel Clemente, foi num passado próximo autor duma célebre frase que muito contribuiu para lançar em algumas esferas a discussão do tema Regionalização, mais concretamente, ao notar que a "macrocefalia de Lisboa" constitui um entrave ao desenvolvimento de outras regiões do País. Hoje, numa época em que o conceito"Local" esta a ser redefinido, que dentro em breve será ponto dominante na agenda política nacional dada a proximidade das Eleições Autárquicas, acha que o tema Regionalização deveria voltar à discussão?
Assumindo um projecto de Regionalização coerente, acredita que este poderia permitir uma maior eficiência económica, política e fiscal, ou se pelo contrário iria neste momento apenas contribuir para um Estado mais pesado?
Considera modelos como o perfilhado pelo Movimento dos Focolares, em Portugal, na Cidadela Arco Irís (Abrigada) parte da solução para o futuro de Portugal?
A ideia de suprimir feriados religiosos surgiu para que o tempo de trabalho e produção pudesse aumentar. Considera que esta é uma correta opção por parte do governo? Que se justifica esta supressão? E que realmente ajuda a resolver o problema de produtividade?
Tendo a Igreja Católica cada vez menos jovens, não sente que a Igreja está em "vias de extinção" pela própria estagnação em que ficou com leis rígidas pelas quais os jovens não se sentem nela inseridos ?
A separação do Estado, da igreja, poderá ter condicionado a qualidade da política nacional de Portugal? Faz sentido manter compartimentação entre dois agentes essenciais da vivência portuguesa? Até que ponto um partido, ou a própria igreja, poderão aliar-se a uma eleição, num programa governativo, na tomada diário de decisões, no mínimo com um papel (permanente) consultivo?
A igreja desenvolve um trabalho de grande relevo no que diz respeito ao apoio social. Quais os maiores desafios para a sociedade civil nesta área, e qual é a nossa maior responsabilidade enquanto jovens?
Referiu recentemente numa entrevista para Rádio Renascença que "o desemprego é problema de todos...". Considera que o actual nivel de desemprego pode fragmentar a nossa sociedade?