ACTAS  
 
8/29/2012
Jantar-Conferência com Dr. Miguel Pina Martins, Dr. David Valente, Dra. Joana Lopes Clemente e Dr. Rui Lopes
 
Dep.Carlos Coelho

Muito boa noite.

Vamos dar início ao segundo jantar-conferência da Universidade de Verão 2012 e como é da praxe abrimos com um momento cultural que consiste na escolha, pelos diversos grupos, de uma poesia e da sua leitura.

A Tânia Coutinho, que nos convidou ontem para o seu aniversário, lerá um poema de Sophia de Mello Breyner chamado "Nesta hora”. O grupo Rosa escolheu este poema porque quer destacar um dos mais nobres valores que deve pautar a nossa personalidade, a verdade.

Deste modo, ousa pedir a todos os presentes a coragem de aceitar a verdade por inteiro, fazendo dela uma força motriz ao longo do decorrer da nossa vida. Sem a verdade o ser humano vê a sua própria capacidade de actuação limitada, podendo também limitar as dos demais.

Posto isto, este poema é grito que exprime a necessidade de fazer tocar a verdade como torná-la a sinfonia da nossa vida.

A seguir, o grupo Roxo, através do Pedro Laborinho, vai apresentar-nos uma interpretação de "Nunca estamos contentes” de Luiz Vaz de Camões. O grupo Roxo diz que quis escolher algo que não estivesse ligado à política, pois este é um momento cultural e durante esta semana iremos trabalhar, sentir, respirar, viver e pensar política e uma folga nunca fez mal a ninguém. Este poema de Camões fala da vida, do quanto ela é curta, dos seus prós e contras, mas "falo por mim, falo pelo meu grupo” – diz o Pedro -, "talvez fale pelos nossos colegas da UV 2012, a vida é curta, temos de aproveitá-la o melhor possível, aproveitar desta estalagem que é o Mundo;carpe diem!”.

Vamos ouvir, portanto, as escolhas do grupo Rosa e Roxo.

[AUDIÇÃO DOS POEMAS]

[APLAUSOS]

O Duarte corrigir-me-á, mas não tenho memória de um quadro competitivo entre os grupos como nesta Universidade de Verão. Em todas Universidades de Verão há sempre competição entre os grupos, mas levada a este extremo nunca vi.

O grupo Rosa ontem tinha uma aniversariante, e o grupo Cinzento não quis ficar atrás.

[RISOS]

E convenceu um dos seus elementos, a Sofia Pires, a fazer hoje 25 anos. Presumo que estará um bolo em trânsito. Onde é que está a Sofia? A Sofia pode já levantar-se e nós podemos erguer as nossas vozes.

[PARABÉNS]

 
Vitor Manuel Fonseca

Boa noite. Gostava de fazer dois agradecimentos em nome da Universidade de Verão e do grupo Cinzento. Primeiro, pela vossa disponibilidade de estarem aqui nesta noite a transmitir-nos a vossa experiência. Segundo, por serem os quatro jovens empreendedores e estarem nas vossas áreas especificas a criar empresas,know-how, empregos e a desenvolver um pouco a nossa Economia.

Se é difícil, normalmente, desenvolver uma empresa, criar um projecto, ainda mais difícil é neste momento em que economicamente estamos mais debilitados. Por isso, o nosso muito obrigado.

Quero fazer um brinde aos nossos convidados: Miguel Pina Martins, David Valente, Joana Clemente e Rui Lopes, muito obrigado!

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho

Senhores Drs. Miguel Pina Martins, David Valente, Joana Clemente e Rui Lopes, senhores deputados Duarte Marques, Nuno Matias, Bruno Coimbra e Joana Barata Lopes, senhores avaliadores, senhores conselheiros, minhas senhoras e meus senhores, já de há três edições que queríamos introduzir na Universidade de Verão o tema do Empreendedorismo.

Por diversas razões acabámos por nunca o fazer e este ano decidimos que na décima edição iríamos incluir este tema.

Para ser completamente sincero, tivemos vários nomes em cima da mesa, nomes muito conhecidos de pessoas que estão na primeira linha ao nível de gestão nacional e internacional. Quando estávamos a pensar a estrutura da Universidade de Verão, o Presidente da JSD, Duarte Marques, disse algo que hoje parece evidente, mas que na altura não parecia.

"Nós estamos aqui com nomes conhecidos quando não é isso que queremos. O que nós queremos é mais do que ter aqui uma pessoa de uma outra geração a explicar como é que os jovens podem ser mais empreendedores. O que queremos é ter jovens de sucesso no empreendedorismo a contar a sua experiência.” Quando o Duarte, na altura, levantou a sugestão ninguém estava a pensar nesta linha, mas quando ele formulou a proposta fez todo o sentido que essa fosse a abordagem.

Essa é a razão pela qual pela primeira vez não temos um jantar-conferência com um convidado, mas sim com quatro convidados que vêm partilhar connosco a sua experiência. Vêm-nos dizer como é que jovens portugueses conseguiram ter iniciativa na vida empresarial ligada à Economia, à criação de valor, ou na intervenção social, apostando na cooperação e no desenvolvimento.

Quatro histórias que não são cor-de-rosa, são feitas de suor, muito sofrimento, mas muito sucesso. São histórias reais de quatro jovens reais que se destacaram. Quero agradecer-lhes o facto de terem estado cá, sei que nalguns casos não foi fácil, porque houve quem estivesse de férias e não muito perto, que veio de propósito e que regressa ainda hoje para fazer algumas centenas de quilómetros. Mas estamos muito agradecidos por terem aceitado o nosso convite e virem partilhar a sua experiência.

E antes de lhes dar a palavra para nos contarem a sua experiência, pedia ao Presidente da JSD, que foi o pai da ideia, que apresentasse os nossos quatro convidados.

 
Duarte Marques

Boa noite a todos. Obrigado, Carlos. Eu fiz questão de apresentar os quatro convidados, porque se correr mal a culpa é minha; o Carlos Coelho não quis assumir essa responsabilidade. [RISOS]

Queria agradecer a todos a vossa presença. O Carlos há bocado apresentou a ideia, o conceito, e eu gostava de vos falar de cada um deles: o primeiro a usar da palavra vai ser o Miguel Pina Martins que estudou em Lisboa, no ISCTE, e abriu uma empresa de brinquedos electrónicos chamadaScience 4 You.

O Miguel nasceu em 1985, é uma criança ainda. Ohobbydele é trabalhar. Não deve ser um tipo muito divertido, sobretudo para a namorada e para a família. A comida preferida do Miguel é lasanha de atum e o animal preferido é o cão. O livro que nos sugere é "Vencer” de Jack Welch e o filme é "O Gladiador”.

O Miguel criou uma empresa, foi o projecto dele de final de curso, era a contar mais, mas o que é importante é que quisemos trazer aqui diferentes tipos de empreendedores. O Miguel criou uma empresa de brinquedos que têm algumas características diferentes dos outros e é por isso que também são um sucesso.

O Miguel, além desta vida toda empresarial, de ter sido um excelente aluno, ter feito formação na universidade com qualidade, também teve um papel activo na JSD, foi presidente de uma regional, membro da direcção regional e regularmente também colabora connosco nas matérias do empreendedorismo. É um gosto para nós ter jovens tão qualificados, com sucesso profissional, que possam também dar um bocadinho do seu dia à causa pública e ao empreendedorismo.

O Miguel é mais recentemente um dos membros doboardnacional de empreendedores, um grupo criado há pouco tempo pelo Governo, em que empreendedores de sucesso ajudam os jovens a seguir, a terem sucesso e no fundo serem também apadrinhados por empreendedores mais experientes e com mais sucesso.

O Rui Lopes veio de uma terra chamada Celorico de Basto. Ainda ontem tivemos um orador da mesma terra, o Professor Marcelo; é uma terra com poucos acessos, do interior do país, mas onde o Rui começou a trabalhar. O Rui é engenheiro informático e criou um negócio na área de tecnologia para telemóveis, um negócio internacional que tem tido sucesso.

Não sei se ele vai contar ou não, porque ele não pode falar de marcas, mas se alguém for cliente do BPI, omobile bankingé feito por cerca de quatro pessoas em Braga, nasceu em Celorico de Basto, no interior do país, e teve sucesso.

Apesar disto tudo, mais recentemente decidiu abraçar a causa pública e é o presidente da JSD de Celorico de Basto. Não está cá por isso, está cá porque é um jovem de sucesso, que muito nos orgulha que também tenha tempo para fazer política.

O David não é militante da JSD, acho eu, se não é já devia ser. [RISOS]

Não sei se votou em Passos Coelho, ou não, se não votou devia ter votado, mas o David criou um negócio diferente, aproveitando um negócio numa altura de crise nas empresas portuguesas para exportar produtos portugueses lá para fora. Ou seja, ele fez Erasmus lá para fora, aquela nossa ideia das pessoas levarem também uma empresa lá para fora juntando o programa Erasmus a uma experiência profissional, isso vem muito da experiência pessoal do David.

Foi daí que ele criou esta empresa que sobretudo tem tentado levar para os países em que ele estudou e que conhece, onde as empresas portuguesas não têm representantes, o David está a explorar esse nicho de mercado numa altura de dificuldades.

Ele colabora muitas vezes com o gabinete de estudos da JSD, muitas daquelas boas ideias que temos de empreendedorismo vêm da cabeça do David. Há bocado, como não estou habituado a fazer isto, esqueci-me de dizer quais são os gostos do Rui.

O Rui gosta de música, é mais simpático para a namorada; a comida preferida, como homem lá de cima, é o cabrito assado e o animal preferido é o falcão.

O livre que ele sugere é o "Good to Great” e o filme "Forrest Gump”. A qualidade que ele mais aprecia é a integridade das pessoas.

O David, por sua vez, adora viajar, o que está ligado à profissão dele; o bacalhau assado no forno é o prato preferido e o animal preferido não indicou. Não sei se não tens, ou se é alguma espécie de urso branco. O livro que sugere é o "The four hour work week” e o filme que ele sugere é "Peace Warrior” e a qualidade que mais aprecia é a energia positiva.

Deixei para o fim a Joana que vai ser a última a intervir. A Joana, além de ser a mais bonita dos quatro, por razões óbvias [RISOS, APLAUSOS], tem comohobbyo Surf. Por alguma razão em especial, ela foi montar uma ONG em Moçambique. A cozinha tradicional portuguesa, em particular o Cozido é o prato preferido e o animal é o Tobias que é o cão dela. O livro que nos sugere é "Os sonhos de Einstein” e o filme "Into the Wild” de Sean Penn. A qualidade que mais aprecia é a coerência.

Reparem nas qualidades que eles os quatro nos apresentam. A Joana não faz negócios, tem outra vivência, dedicou-se à causa social, é empreendedora à sua maneira. Criou de raiz uma ONG, presta apoio em quatro países em quatro continentes e em especial em Moçambique, que depois explicará. Mas em geral também é empreendedora à sua maneira: cria emprego a muita gente e sobretudo ajuda pessoas.

Nós podemos ser empreendedores, cada um à sua maneira no seu dia-a-dia, fazendo negócios, ganhando dinheiro, criando emprego e também ajudando pessoas.

Foram estes quatro exemplos de pessoas que nós escolhemos para que possam também ser exemplos para vocês. Não disse, mas a Joana tirou Relações Internacionais na melhor escola do país que é exactamente a minha. [RISOS]

Miguel, o palco é teu.

 
Miguel Pina Martins

Muito boa noite a todos. Em primeiro lugar, agradecer aqui ao pai da iniciativa, ao Duarte, muito obrigado pelo convite, também ao reitor e claro a vocês também que me vão aturar durante dez minutos se não passar o tempo.

Como já ouviram, o meu nome é Miguel Pina Martins e a empresa que eu fundei, ainda não faz cinco anos, chama-seScience 4 You. Alguém aqui conhece? Pergunto sempre isto para fazer estatística também. Quem não conhece, vai agora passar a conhecer: penso que o vídeo já está nos ecrãs, não é o telejornal não se preocupem, mas também não é muito melhor.

[VÍDEO]

[APLAUSOS]

Muito obrigado, mais uma vez. Pronto, basicamente é isto. Agora ao menos já toda a gente conhece aScience 4 You. Aqui, como é óbvio, o que é importante não é falar de brinquedos, ou tentar aumentar a venda de brinquedos, mas é tentar realmente falar-vos um bocadinho de empreendedorismo, penso que é isso o importante e o meu contributo pode ser interessante para a Universidade de Verão.

A Science 4 You tem muito de empreendedorismo. Nasceu quando eu tinha 22 anos, sem quase nada do outro mundo por trás e mais importante que isso é que não havia propriamente uma fonte de dinheiro por trás, seja de um Banco, seja de onde for.

Ou seja, tinha 1.125 euros, que foi o meu primeiro investimento e foi com essa quantia que hoje existe uma pequena multinacional em que já vendemos mais de um milhão de brinquedos nos últimos anos e que este ano iremos facturar, em princípio, um milhão. E é este ponto que realmente pode servir, como eu disse no vídeo, que pode servir de inspiração para vocês.

Não sei, se calhar a plateia não é a mais empreendedora, que queira abri empresas, pelo menos, que se possa encontrar, apesar de que para mim o empreendedorismo não é abrir empresas, é uma forma de estar na vida. Mas o mais importante é realmente dar a perceber aos jovens e a toda a gente na generalidade, que é possível abrir empresas, que é possível ser patrão – como se gosta de dizer -, que é possível ter uma empresa própria, sem ter pais ricos, sem ir ao Banco e sem realmente ter uma patente xpto, que é o nosso caso que nunca tivemos uma patente que fosse mudar o mundo ou fosse espectacular.

Mas tínhamos uma coisa muito importante: muita vontade de trabalhar, de vencer e um empenho muito grande para fazer as coisas e isso penso que é o mais importante que um empreendedor pode ter, porque tudo o resto tenho a certeza que acontece a seguir.

Acho que o Duarte me pediu para vir cá por isso tudo é que, porque este pequeno exemplo que se tornou aqui aScience 4 Youe por isso é que ganhámos alguns prémios, pode ser um exemplo para vocês todos e obviamente uma pedrada no charco, porque um milhão de euros não é absolutamente nada, não é isso que vai mudar a nossa balança comercial, infelizmente, mas se calhar cem vezes um milhão já consegue ter um impacto interessante.

E é esse, obviamente, o desafio que vos deixo, porque de certeza absoluta que a maior parte das pessoas que estavam aqui e que pensavam em criar uma empresa, pensavam que isto é muito giro mas é para quem tem muito dinheiro e pelo menos hoje podem conhecer um exemplo em que não foi isso que aconteceu.

Há muitos instrumentos bons para o fazer, existe capital de risco em Portugal, capital de risco público que, hoje em dia, tem estado a funcionar muito bem e que com a nova gestão que tomou posse recentemente penso que tem dar uma lufada de ar fresco muito grande ao capital de risco público em Portugal e que pode ser uma fonte muito interessante e muito importante para começar qualquer negócio.

Se não tivesse existido capital de risco público há quatro anos atrás, hoje também não existia Science 4 You. Isso é certinho e por isso vale a pena tentar, para quem tem ideias e se sente empreendedor vale a pena tentar alguns meios. O meu e-mail, se quiserem e tiverem alguma dúvida, podem utilizar o info@science4you.pt que vai parar à minha caixa de correio directamente. Por isso, se por acaso saírem daqui e acharem que querem abrir uma empresa, mas não sabem quais são os contactos e tudo mais, tenho todo o prazer em ajudar-vos, mas realmente, mais importante, é deixar-vos a mensagem de que vale a pena empreender, porque é empreendendo que um dia podemos mudar um bocadinho Portugal.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

 
David Valente

Muito boa noite a todos. Primeiro que tudo, gostaria de dizer que é uma honra estar aqui hoje para poder partilhar um pouco da minha experiência como alguém que criou um negócio muito recentemente e passou por todos estes desafios normais que um empreendedor passa. Queria também agradecer o convite que o Dr. Carlos Coelho e o Duarte Marques me fizeram para cá estar.

Vou usar estes dez minutos para fazer uma apresentação muito prática daquilo que foi a minha história e o processo pessoal até chegar ao lançamento da Expandglobe. Muitos de vocês já sabem basicamente o que está por trás da Expandglobe: ajudamos empresas portuguesas a exportarem e a internacionalizarem os seus negócios para a Europa Central e do Leste e para a Rússia, que são mercados ainda pouco explorados por empresas portuguesas.

Mais à frente, vou aprofundar um bocadinho como é que fazemos isto e como é que temos feito. Um bocadinho sobre mim, o meu currículo aqui sumarizado: nasci no Montijo em 1986; na minha juventude aquilo que se destaca mais e que foi uma das fundações para aquilo que sou hoje em dia, fui atleta em vários desportos, inclusive canoagem. Fui, felizmente, vice-campeão nacional em 2002 e, portanto, muitos dos valores e dos princípios de trabalho, de ambição, de sentido positivo e de não desistir, que o Desporto me deu, ajudaram-me bastante no meu futuro. Especialmente, quando comecei o meu curso, a minha licenciatura foi em Gestão na Universidade Nova de Lisboa, comecei em 2004 e durante esse curso fiz também uma experiência de Erasmus. Não sei quantos é que fizeram Erasmus das pessoas que estão aqui.

Quantos é que fizeram Erasmus? E quantos é que querem fazer Erasmus? Muito bem. Recomendo vivamente, porque realmente para além do que é o conhecimento prático e técnico que temos na licenciatura na universidade em Portugal, faz sentido ter outro tipo de experiências e cada vez mais hoje no mundo global faz sentido conhecer pessoas de outros países e criar uma rede de contactos para um dia mais tarde poder fazer aquilo que é levar também Portugal e as nossas empresas lá para fora e, portanto, ajudar a que Portugal seja um país mais global.

Depois dessa experiência que fiz em Liubliana, na verdade não tinha escolhido a Eslovénia, tinha escolhido Viena de Áustria para fazer Erasmus e como era um bom aluno fiquei no oitavo lugar dos alunos da Nova em gestão. Havia cinco vagas para Viena e tive uma sorte imensa que dos sete primeiros houve cinco pessoas a ir para Viena de Áustria e eu fui o primeiro a não entrar e a ir para a Eslovénia que foi a melhor coisa que me podia ter acontecido.

Portanto, aqui começou a minha experiência pela Europa do Leste e que se construi naquilo que deu origem à Expandglobe. Depois de acabar o Erasmus, não sabia se ia voltar a Portugal e fazer um mestrado directamente, ou se ia trabalhar, mas aos 20 anos acho que é ridículo fazer uma carreira defull-timesem ter tido qualquer tipo de experiências ou diversificação de experiências.

Tive um mentor muito bom, que me recomendou duas coisas: primeiro, com essa idade tens é de diversificar experiências, tens de ir viajar, viver novas culturas e só depois é que pensas o que queres para a tua vida e a segunda coisa que ele me disse era que com essa idade o que arriscas não tem problema, porque um ou pouco mais anos perdidos com uma má decisão, não é por aí, portanto arrisca e faz coisas diferentes.

Acho que foi um conselho muito bom e no ano seguinte fui fazer um estágio internacional para a Polónia com o Millenium BCP e portanto, foi mais uma experiência internacional para enriquecer o meu currículo e a minha vida pessoal essencialmente. Estive em 2008 na Polónia, depois fui fazer o meu mestrado e decidi novamente continuar lá fora e portanto fui para a Holanda tirar o mestrado e em 2010 voltei a Portugal e estive um ano e meio no Millenium BCP, até que no Verão de 2010 comecei a pensar que se calhar não era a minha melhor opção de futuro para longo prazo continuar nesta carreira corporativa.

Tinha três opções nessa altura: uma delas era voltar para a Polónia, onde gostei imenso de viver e trabalhar, a outra era ir para uma empresa multinacional e a terceira começou a crescer aqui o bicho de criar uma empresa e ser um pouco mais dono do meu próprio destino.

Na verdade, não sou daquelas pessoas que diz que desde criança que queria ser empreendedor, nunca pensei em ser empreendedor, especialmente nesta idade, nunca pensei lançar um negócio tão cedo e realmente foi por necessidade pessoal e profissional que comecei a pensar nesta ideia de lançar uma empresa.

O que é que decidi? Estava no Verão de 2010 e pensei que ia tirar um mês de férias para voltar a viajar durante um mês, passando pela Europa toda, reflectindo de forma profunda o que é que realmente quero para a minha vida e cheguei à conclusão que se calhar do que eu precisava era um bocadinho mais de controlo sobre o que é que eu queria ter em termos pessoais e profissionais.

Sabia que queria voltar, especialmente com a idade que tinha, 23 anos, sabia que queria continuar a enriquecer a minha vida com experiências internacionais e sabia que queria um desafio maior do que o desafio que o mundo corporativo me estava a dar naquela altura. Então, comecei a fazer perguntas sobre o que é que eu consigo fazer que me possa permitir controlar o que eu faço, quando eu faço e onde.

Portanto, com isto, comecei a decidir cada vez mais a pensar em arriscar nesta altura que era a altura certa e especialmente vou também ter controlo sobre decidir o como. Esta é a questão que nos traz mais: como é que vamos lançar uma empresa?Então, quando cheguei a Portugal, vou só partilhar convosco duas situações de que gosto muito: a primeira é"live your life, take your chances, be crazy, don’t hesitate because right now is the oldest you ever been and right now is the youngest you’ll ever be again”.

Portanto, eu tinha já alguma experiência naquela altura e sabia que o custo de oportunidade de lançar uma empresa com 23 anos e com as poucas possibilidades que eu tinha não seria muito grande, por isso, porque não?

E a segunda é esta:"you miss 100% of the shots you never take”.Logo, se eu não tentasse fazer nunca saberia se correria bem ou não. Estava na altura certa e quando voltei a Portugal, no início de Agosto, tinha a decisão tomada, convidei um dos meus melhores amigos e disse-lhe: ok, em Novembro vou-me despedir, no final do ano estou fora e no início de 2011 começo a Expandglobe, na altura ainda não tinha este nome.

Comecei, queria lançar uma empresa, sabia mais ou menos o que queria obviamente, não estava a tomar uma decisão destas sem saber o que queria fazer, mas a decisão ainda não estava muito concreta. Ou seja, sabia o que queria fazer, sabia que tinha estes pontos fortes, de ter vivido nesta região e ter algum conhecimento específico da Europa Central e do Leste e uma boa rede de contactos e sabiam que estas eram vantagens competitivas e podiam, especialmente nos anos em que vivíamos, ajudar as empresas que mais queriam era exportar, nomeadamente para novos mercados.

A Europa do Leste ainda é um mercado muito novo e pouco explorado, daí que estas eram as minhas vantagens competitivas. Ir lançar um negócio sem ser baseado nas nossas vantagens competitivas, acho que é complicado. A segunda questão: não tinha dinheiro, o único que tinha era das poupanças do pouco trabalho que tinha feito, mas acho que muitas vezes coloca-se a questão do dinheiro acima donetworking.

Acho que é mais importante ter uma boa rede de contactos e saber a quem telefonar quando nós precisamos de dinheiro do que termos o dinheiro na nossa conta bancária, porque o negócio não é feito só por nós. A nossa vida, especialmente com 23 anos, não sabemos nada, portanto se não tivermos uma boa rede de mentores a quem telefonar que nos possam aconselhar quando temos uma decisão para fazer e especialmente, quando se lança um negócio sozinho, como eu fiz, onetworkingé crucial, é muito mais importante que o dinheiro.

Portanto, com esse pouco dinheiro que tinha, mas com alguns contactos decidi avançar. Em 2011, dia 1 de Janeiro estava oficialmente livre para lançar a empresa. Lancei a Expandglobe para apoiar empresas a exportar e o primeiro projecto que lancei foi o Be Portugal. Era um pouco sentido de mudar a forma como as empresas portuguesas vendem o seu produto lá fora.

Fala-se muito na marca Portugal, fala-se muito no impacto que a marca Portugal tem no potencial de venda produto português. Ora bem, isso é verdade, mas não para todos os produtos. Há um conjunto de produtos que vendemos em que a marca do país, Portugal, tem muito mais impacto do que noutros. Eu escolhi três e acho que realmente são aqueles em que a marca Portugal tem mais impacto: produtos agro-alimentares, vinho e alimentação. São muito escolhidos pelo consumidor internacional.

Em produtos deste tipo, a primeira coisa para que o consumidor internacional olha é de onde é que o produto vem. E Portugal, apesar de produzir vinhos fantásticos, não tem qualquer reconhecimento de marca em termos internacionais. O segundo é o Turismo; vendemos turismo e Portugal que é a marca do país e o terceiro, acredito e quero acreditar também que a Moda e onde Portugal também tem uma vantagem competitiva especialmente ao nível da produção, é algo em que a marca do país tem muito a oferecer.

Portanto, basicamente o que fiz foi fazer uma selecção dobest ofdas melhores empresas e produtos do país. Fui ter com as melhores e maiores empresas e disse: vamos todos trabalhar em conjunto, em cooperação, para entrar em mercados em que vocês sozinhos nunca na vida vão conseguir entrar. Portanto, vocês têm de juntar-se e trabalhar em conjunto com todos, em cooperação com o Governo, com as associações, as corporações, com outros sectores, promoverem antes de promoverem a vossa marca promoverem a marca Portugal, porque se não venderem a marca do país também não vão vender a marca Esporão, nem outras.

Assim, lançámos este projecto para sermos o elemento dinamizador desta acção e promovermos a marca do país em mercados em que Portugal pouco ou nada se conhece. Aqui não vos vou maçar muito com isso, basicamente é como actuamos, fazemos muitos eventos demarketing, vou-vos dar um exemplo de alguns eventos que temos feito neste ano e meio. Na Eslovénia, no ano passado, fizemos uma coisa muito gira, juntando o vinho, a gastronomia e a Moda. Fizemos uma passagem de modelos com uma marca de roupa portuguesa, uma apresentação dos vinhos e da gastronomia. Criámos uma experiência Portugal que nunca tinha acontecido.

Nem na Eslovénia, nem em muitos outros países acredito que tenha acontecido. Realmente, é uma forma inovadora de promover Portugal e de promover o melhor que temos para oferecer. Portanto, a reacção também foi muito interessante do público local. Depois, na Croácia – só para dar aqui uma ideia de integração –, a primeira coisa que fazemos é procurando os distribuidores de referência nos países e procuramos que sejam motivados a trabalhar os produtos portugueses, esse é o primeiro ponto e o segundo ponto é darmos-lhes toda a força demarketingpara que eles tenham apoio na promoção de algo que eles, por eles próprios, nunca irão fazer por Portugal.

Na Croácia, também no ano passado levámos lá um chefe de cozinha português, fizemos também a apresentação de vinhos, com jornalistas, celebridades e entidades locais. Levámos uma cantora de fado, fizemos assim a integração entre vinho, gastronomia e fado. Mais uma vez, não estamos só a promover os produtos mas também o país e também aqui acreditamos que estamos a fazer um bem público.

O ano passado, também, organizámos pela primeira vez a participação de Portugal na maior feira de caridade da Eslovénia. Já este ano, fizemos o maior evento de sempre de promoção de Portugal na Eslovénia com mais de mil pessoas, estivemos na maiordepartment storedo centro de Liubliana, onde levámos uma cantora de fado, o chefe do Hotel Sheraton do Porto. Portanto, fizemos uma grande promoção ao país e obviamente às novas marcas que lá colocámos: a Throttleman, vários vinhos, queijos da Serra, etc.

As iniciativas destas que vamos fazendo ao longo do tempo vão permitindo também que Portugal ganhe visibilidade, que os produtos ganhem visibilidade e que nós também comecemos a ter alguma exibição. Aqui, para terem uma ideia do que tem sido a exposição mediática lá fora e cá dentro, se bem que lá fora tem sido até muito maior do que cá dentro, infelizmente.

A Expandglobe, além do Be Portugal, trabalha outras empresas, não só as que estão dentro destes sectores, mas também de outros sectores e apoiamos em todo o seu processo de internacionalização no mercado. Hoje em dia, acredito que já sejamos o maiorplayerde apoio à internacionalização de empresas para estes mercados.

Portanto, temos um escritório na Eslovénia, além de termos uma empresa local que é nossa parceira, estamos também em Varsóvia, temos lá uma pessoa que está a fazer a parte do Norte. No ano que vem queremos começar também com um escritório local em Moscovo.

Queria acabar a minha intervenção com mais três pontos que eu acho muito importantes. Não sei se conhecem a Lei de Pareto. A Lei de Pareto diz que na maior parte das nossas actividades 20% do tempo que alocamos a essa actividade gera 80% dos resultados. Ora bem, qual é a grande ideia aqui e obviamente que isto funciona com tudo não é só com o empreendedorismo. Desde o início, uma pessoa sozinha numa empresa e a fazer o que eu faço, obviamente que se eu não conseguir controlar bem o meu tempo não consigo fazer nada.

Por isso, a ideia é: se eu consigo centrar apenas estes 20% em cada uma das actividades, empresas, sectores, consigo multiplicar por cinco aquilo que é o meuoutput. O tempo é um recurso muito precioso, mas para um empreendedor muito mais especialmente.

Portanto, acho que esta é uma das leis que um empreendedor quando lança o seu negócio deve ter consciência, de gerir muito bem o tempo e se focar realmente no que é crucial. A segunda questão é que não estejam à espera que no dia a seguir já estejam a fazer obreak even; demora muito tempo e só não desistes quando realmente gostas do que estás a fazer.

Porque o custo de oportunidade é tão grande. Se olhasses para o lado e visses quanto pagariam por uma empresa com o teu recurso de hora, se fosses racional e não gostasses aquilo que estavas a fazer na tua empresa, rapidamente desistirias. Tens de fazer realmente e seguir a tua paixão.

Finalmente, vou-vos deixar com esta questão e com esta situação do Steve Jobs e a pergunta é: de facto, o que realmente temos a perder quando arriscamos para seguir a nossa paixão?

O que ele diz, certamente até já viram o vídeo que ele fez na Universidade de Stanford:"remembering that you are going to die is the best way I know to avoid the trap of thinking you got something to loose. You are already naked, there is no reason to not follow your heart”.

Acho que isto diz tudo. A pressão de olharmos para o espelho cada dia e perguntarmos: aquilo que vou fazer hoje é realmente aquilo que nos realiza? Se dissermos que não, mais vale procurar outro caminho. Foi isso que eu fiz, não é fácil, demora muito tempo, mas acredito que para aqueles que têm a ideia de o fazer: arrisquem!

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

 
Rui Lopes

Boa noite a todos. Gostaria de agradecer o convite, Dr. Carlos Coelho e Duarte Marques.

O meu nome é Rui Lopes, sou fundador daNabia Solutions, uma empresa que se dedica ao desenvolvimento desoftwarepara dispositivos móveis.

Para terem uma ideia do potencial do mercado de dispositivos móveis, gostaria de começar por colocar duas questões. A primeira é: quantas pessoas utilizam diariamente mais do que um telemóvel? E quantas pessoas nesta sala utilizam diariamente mais do que uma escova de dentes diferente?

Por esta amostra também se verifica que há mais telemóveis a serem utilizados diariamente do que escovas de dentes. Portanto, o potencial é enorme, mas estamos a falar em comparação ao quê? Com a indústria de Hollywood por exemplo, que movimenta cerca de cem biliões? Não. Estamos a falar de um potencial de 1,4 triliões. Podem ver naquele slide o tamanho de uma pessoa comparado com as notas necessárias para fazer um trilião, portanto é qualquer coisa gigante.

Ou seja, quando começámos a nossa perspectiva era esta. Tínhamos uma equipa com gente forte, com talento, projectos internacionais na área da mobilidade, um mercado em forte crescimento e portanto tínhamos um futuro promissor à nossa frente. Só que dois meses após irmos ao nosso escritório, ainda sem secretárias, em Setembro de 2008, a crise ultrapassou a barreira dos Estados Unidos e tivemos os maiores bancos a falir, portanto foi aí que se começou a sentir a maior onda e o primeiro choque da crise que estava para vir.

Estão a imaginar, em Setembro de 2008, tínhamos acabado de abrir a empresa e até ao final do ano basicamente só se ouvia falar no fim do Mundo. Mesmo em Portugal, foi por essa altura que começou o despedimento em massa e o desemprego a aumentar em todo o lado. De repente, daquele cenário promissor passámos para um cenário de catástrofe mundial. O que é que nós fizemos? Parámos para pensar e decidimos que tínhamos de nos virar por outro lado do Mundo e virámo-nos para o Médio Oriente.

Conseguimos angariar um investidor do Médio Oriente que nos permitiu desenvolver um produto para operadores móveis. Conseguimos, entretanto, depois de desenvolver o produto ter uma referência nesse mercado, a Zen é a maior operadora no Kuwait que embora seja um país pequeno é dos mais ricos do Mundo.

A Zen é a TMN lá do sítio, mas além disso estão presentes em vários países do Médio Oriente, por isso para nós era uma bandeira ter uma referência de um grupo tão grande daquela região. O nosso produto, obviamente para atacar aquela região tivemos de aprender cultura, que é muito diferente da cultura ocidental. Esta é uma foto. Alguns de vocês devem ter Blackberry e existe o Blackberry Messenger, o qual permite trocar mensagens, mas é necessário a introdução de um pin.

Em muitos destes países, o que acaba por acontecer dadas as barreiras culturais que existe, isto porque uma rapariga não pode ir ter com o sexo oposto em locais públicos, então para facilitar a interacção social eles acabam por ultrapassar as dificuldades com novos métodos e um dos métodos é colocar o pin no seu carro.

Por isso, isto dá uma ideia de que o facto de ter um bom carro lá tem outra dimensão. [RISOS]

Pode facilitar algumas coisas. A recepção do produto foi muito boa, conseguimos taxas de conversão para este tipo de produtos claramente acima da média e tínhamos uma grande referência na zona. Portanto, pensámos que estávamos no cenário inicial novamente e que íamos conquistar o Mundo, não totalmente, mas a nossa parte do Mundo. A única coisa que tínhamos a fazer era abrir mais canais de venda e já temos uma referência e, portanto, vamos conquistar o Médio Oriente com o nosso produto.

O tempo entre o nosso lançamento no Kuwait e o primeiro grande protesto foi menos de quinze dias. De repente, dá-se o fenómeno da Primavera Árabe e foi doloroso de ver, por um lado, porque foi tudo ao mesmo tempo, um país após o outro. Portanto, todo o nosso plano de conquista daquela zona ficou suspenso.

Para terem ideia, na Síria Tel que é a maior operadora na Síria, estávamos muito perto de fechar negócio e de repente simplesmente deixamos de poder comunicar, nem pore-mail, nem por telefone, nem por mensagem, simplesmente era impossível. De modo que, voltámos outra vez ao final do Mundo parte II, pelo menos o nosso Mundo. Em Portugal, a coisa não estava melhor. Portugal estava à beira da bancarrota, teve de pedir ajuda externa e portanto o cenário não era nada animador.

Mas entretanto a oportunidade tinha que surgir. Recordam-se, em 2011, nas presidenciais, houve problemas porque havia pessoas que não conseguiam votar pois não tinham o número de eleitor. Ora, a Nabia Solutions como tinha um produto que era supostamente para conquistar o Médio Oriente, mas tinha uma componente robusta de envio de mensagens, foi seleccionada para que as pessoas pudessem receber nas eleições legislativas o número de eleitor através de mensagens.

Portanto, o nosso sistema foi auditado por entidades externas e o resultado foi que [RISOS] 100% dos pedidos tiveram sucesso, 99% dos pedidos à plataforma teve um tempo de resposta de menos de um segundo e os restantes 1% de menos de dois segundos. Claro que ninguém ouviu falar disso. O que quer dizer que às vezes o silêncio é sinónimo de sucesso, que foi o caso.

Gostaria apenas de terminar com a mesma imagem que comecei que é a imagem de uma montanha russa, isto porque da experiência que eu tive ao longo destes anos enquanto empreendedor, além de todo o talento que é preciso, além de trabalhar em áreas promissoras, há um terceiro ingrediente que para mim é a chave do sucesso: nunca desistir e ter a determinação de, nas maiores dificuldades, encontrar as maiores oportunidades.

Era isto que tinha para partilhar, obrigado pela atenção.

 
Joana Clemente

Boa noite. Quero agradecer a todos o convite e a oportunidade de estar aqui presente. Como tenho pouco tempo vou aproveitar e fazer duas coisas: passar um filme que gostava muito que deixasse em vós alguma curiosidade em relação à Helpo e falar ao mesmo tempo.

Espero que isto não contribua para a dispersão. Não vai ser tão divertido porque não trouxe a presença daHelponos programas da manhã como o Miguel, mas espero conseguir agarrar o vosso entusiasmo.

Para contar um bocadinho o que é que me aconteceu e que deu origem à Helpo, de uma forma rápida, em 2003 fui fazer Erasmus para Itália e, ao contrário, da sugestão do Duarte, eu acabei por importar uma ideia, não exportei nada.

Tive a oportunidade de estagiar numa organização não-governamental com 20 anos de experiência e a sorte de estar num país onde o boom do sector social e do apoio às pessoas deu-se nos anos 30, quando em Portugal se deu nos anos 90.

O que é que isso fez? Fez com que eu aprendesse muito durante 9 meses e passasse inclusivamente um mês em Moçambique, porque tive a incrível sorte – de que ainda não se falou aqui, não tem a ver com empreendedorismo – de dominar a Língua Portuguesa e como tal tive de ser eu a fazer parte de uma equipa de avaliação de projectos porque tinha de traduzir, fazer a retroversão do português para o italiano.

Apesar de o estágio ser uma experiência de onde não pudesse talvez retirar muito, isto deu-me de repente acesso a muita coisa, abriu um mundo novo aos meus olhos. Nunca tinha pensado trabalhar em cooperação, a minha especialização era de relações políticas e culturais, tinha ido a Itália para fazer estágio na Génova-Capital da Cultura, não encontrei lugar, tal como o David foi a melhor coisa que me podia ter acontecido, porque acabei a estagiar nesta organização.

Apaixonei-me. Fui para Moçambique, conheci comunidade rurais, a maneira de viver e de sobreviver da maioria das pessoas e apesar de ter muitos conhecimentos teóricos, dominar muitas estatísticas, ter passado quatro anos na faculdade a aprender sobre cooperação internacional o choque foi o contacto com a realidade.

Em 2004, sem dinheiro nenhum também, isto não é a criação de uma empresa, as necessidades e as pessoas estavam lá, observei o sítio onde estava a estagiar que tinha o programa de apadrinhamento de crianças à distância. A maior parte das pessoas talvez não conhecem a Helpo, mas conhecem com certeza outros programas de apadrinhamento de crianças, pois a partir da Helpo foram replicados também para organizações em Portugal.

Decidi, então, trazer esse programa para Portugal, propondo à organização que financiasse ostart-upe estes fundos seriam depois enviados para as comunidades que eles próprios apoiavam nessa altura, assim que recolhidos junto dos nossos padrinhos. O que é que eu tinha? Uma relação histórica privilegiada, porque os Portugueses sabiam onde era Moçambique, sabiam onde era S. Tomé, sabiam onde era Angola e a maioria dos italianos não sabiam sequer isto.

Portanto, a ideia que eu vendi foi esta: a proximidade histórica e ligação emocional que temos e tinha espaço porque em Portugal não havia nada deste género. O que aconteceu foi realmente ter conseguido o financiamento para começar aqui a organização, ter tido recursos humanos perto de mim, colegas da faculdade, familiares, amigos de uma vida que acreditaram neste projecto.

Alguns diziam: "Sim, mas vais fazer o quê? Está bem, vamos.” Porque era uma coisa completamente desconhecida e também não tem esta componente de gerar lucro. Vamos ajudar pessoas, dizia eu e as pessoas achavam giro e aderiam. Se posso recomendar alguma coisa, aconselho uma equipa de total confiança e sobretudo um ingrediente que é indispensável que é o entusiamo que tem a ver rum pouco com o amor pelo que se faz e sem o qual não podemos transmitir ao resto das pessoas aquilo que estamos a fazer e a ajuda que é necessitada, quando aquilo que nós precisamos é que constantemente as pessoas acreditem no que estamos a fazer e que acompanham, ainda que sem ordenado e sem garantias de muito sucesso da ideia.

Mas a coisa começou a acontecer. Em 2007, aconteceu uma cisão com a organização italiana; os fundos foram recebidos, foram retornados a quem tinha financiado ostart-upe começámos a ter algumas divergências a nível da visão da intervenção local, precisamente pela proximidade emocional e histórica que tínhamos com o terreno. Portanto, tínhamos também outras oportunidades que identificávamos, sobretudo ditadas pela língua, como é o caso do equipamento de bibliotecas, de formação, enfim, um conjunto de oportunidades que não eram identificadas pelos italianos.

Em 2007, o que aconteceu foi uma manobra quase suicida de refundar a organização. Não tinha bastado a aventura de 2004, em 2007 constituímos equipas no terreno para ver como isso dava e refundámos a organização, constituímos equipas em Moçambique. Hoje em dia, temos três equipas permanentes na ilha de Moçambique, em Nampula e em Cabo Delgado; temos uma equipa em S. Tomé e Príncipe; uma equipa em Portugal e a partir de Setembro passarão a ser duas pois abriremos no Porto.

Isto são 4.200 crianças apoiadas através do programa de apadrinhamento de crianças à distância e o apoio chega a mais de 1.500 crianças.

Este programa permite dar a estas crianças alimentação e no caso de serem crianças até aos seis anos de idade é uma alimentação diária, dar acesso a primeiros-socorros, a cuidados médicos, pagar-lhes os medicamentos que elas não podem comprar, as consultas são gratuitas para todas as crianças, está tudo facilitado, mas depois os medicamentos têm de ser pagos e as pessoas não têm dinheiro para isso. Também a formação, a construção de poços, para acesso à água, e tudo isto é conseguido com o apoio de 4.600 pessoas.

Está aqui uma ilustre representante dos padrinhos, que encontrei aqui por acaso, aliás, estão mais, que já percebi quando cheguei que havia mais pessoas envolvidas com a Helpo. E é graças a estas pessoas que se entusiasmam e que acreditam nisto que se consegue este projecto. Aquilo que eu gostaria de vos transmitir é que isto é possível, se alguns de vocês tiver este tipo de ideias e não tiver a ambição profissional do "tio patinhas”, como o Miguel, porque não é por aqui, mas isto é possível. Há muitas necessidades, há muito espaço para isto, mas mais do que espaço para isto e eu gostava de chamar a atenção para isto: aqui o alvo são as pessoas e o falhar na constituição de uma organização não é importante, quero dizer, o importante é tentar, se falhar falhou.

Mas falhar numa intervenção tem um impacto negativo sobre os beneficiários, sobre aquilo que os beneficiários acreditam e sobre a intervenção de novas organizações que queiram actuar naquela área. Recomendo, portanto, algum estudo, muita consciência daquilo que se vai fazer e muito diálogo com quem já faz, porque há espaço para complementar nas respostas sociais, falta muita qualidade e também alguma inovação.

Há muitas organizações e há muito boas organizações a precisar desse entusiamo. Portanto, acho que se alguém tem essa vontade, tendo estas indicações em mente poderá singrar também. Porque o povo português – e é uma coisa que vemos agora com a crise também – é solidário, podendo as pessoas ajudam e apesar de estarmos em crise há muitos sítios que não têm crise porque o desenvolvimento ali não se sente.

Nem sequer é uma linha recta, as pessoas não sabem o que quer dizer desenvolvimento, as pessoas que ajudamos, claro, não estou a fazer das elites políticas nem nas instituições, mas nas pessoas que vivem nas instituições rurais.

Penso que todos têm uma revista na mesa, um folheto, portanto aproveito também para vos pedir que se tiverem curiosidade folheiem, só o facto de tomarem conhecimento da instituição e com aquilo que a organização faz para nós é importante.

Queria deixar também ainda um apelo: nós, em Portugal, temos um projecto de apoio com pequena dimensão, é um projecto local, apoiamos crianças ao nível do estudo acompanhado no bairro social onde estamos sediados e fazemos também educação para o desenvolvimento em educação pelo jogo nas escolas do Ensino Básico, 3ºse 4ºsciclos, num programa que se chama Vecchi que ensina sobre interculturalidades, Direitos Humanos e Globalização, que são temas que não entram nos currículos escolares.

Em Portugal, estamos também a fazer a segunda edição, no dia 7 de Outubro, de uma corrida internacional. Apelo a todos, que se puderem, participem: esta corrida vai ocorrer em Cascais, em Braga, na ilha de Moçambique, na cidade de Pemba, na cidade de Nampula e na cidade de São Tomé simultaneamente.

Muito obrigada.

 
Dep.Carlos Coelho
Muito obrigado. Todos os vossos testemunhos são directos, claros e estimulantes. Vamos agora fazer perguntas e respostas com ritmo, portanto perguntas rápidas e respostas curtas. Vamos ter doze perguntas e vamos começar com a Maria Teresa Azoia do grupo Amarelo a perguntar ao Miguel Pina Martins.
 
Maria Teresa Azoia

Olá, muito boa noite a todas e todos. A minha pergunta então é para o Miguel: olhando para o seu caminho, quais são os factores que considera determinantes para ter chegado aqui e com certeza também o levarão mais longe? Foram características pessoais? O espírito empreendedor é algo inato, aprende-se ou também depende de factores culturais?

Obrigada.

 
Miguel Pina Martins

Em primeiro lugar, começando do fim, penso que é um bocadinho de tudo. Nasce, mas também temos de o trabalhar, nem todos são empreendedores, mas também ninguém pode deixar de o ser por não ter nascido assim.

Penso que acima de tudo o empreendedor tem uma série de características e penso que ninguém as tem todas, mas que uma delas passa sem dúvida pelo emprenho e acho que todos nós podemos ser empenhados, outra passa pelo trabalho, todos temos que trabalhar e penso que todos temos essa capacidade.

Mas passa também pela criatividade, nem todos temos essa capacidade e passa um bocadinho obviamente pela inteligência e penso que ninguém é burro nesta sala, que não a tenha.

Penso, por isso, que é algo que vem connosco também, mas que também ninguém deve dizer: não sou, porque não nasci para isso. Acima de tudo, quem quer empreendedor pode ser e portanto, querer ser e só por aí já ser empreendedor.

Em relação às características: muito trabalho, criatividade, muitíssimo empenho e dedicação, muita persistência, muita queda, mas muita vontade para se levantar a seguir, muita vontade de nunca desistir e acima de tudo, como disse e como comecei, também acabo, muito trabalho.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho
Bruno Sousa do grupo Laranja.
 
Bruno Reynaud de Sousa
Boa noite a todos. Cumprimento em especial os nossos convidados do jantar-conferência, com votos de continuado sucesso para as vossas iniciativas. A minha pergunta para o Dr. Valente: quais os principais desafios da internacionalização do seu projecto noutros mercados e genericamente que perspectivas de expansão?
 
David Valente

O primeiro desafio é claramente o facto de explorar mercados que não estão explorados e, portanto, estamos a "partir pedra”. Basicamente, olhar para os mercados da Europa Central e do Leste.

As empresas portuguesas até hoje têm bons casos de sucesso na Polónia em que há um mercado relativamente bem trabalhado por um conjunto significativo de empresas portuguesas, mas se olharmos para outros mercados dali da região, são mercados que têm meia dúzia de empresas que exportam para lá, a maior parte delas não tem nenhuma empresa portuguesa com investimento directo e quando vou ter com os senhores embaixadores nos vários países dizem que não há movimento, não há interesse das empresas, não há nada a acontecer.

Portanto, o grande desafio que se coloca é começar esta onda de levar Portugal para estes mercados. Quando olhamos para produtos como os de que eu vos falei, que estão dentro do projecto Be Portugal para produtos que realmente precisam de uma marca do país para se promoverem, então aí ainda é pior, é zero: "Mas Portugal também produz vinhos, Portugal também tem queijos?”

O Turismo é um bocadinho diferente, mas em termos do sector agro-alimentar é um bocadinho complicado fazer um trabalho realmente de "partir pedra” e, portanto, esse é o grande desafio: lutar contra essa questão e fazer crer que Portugal também tem empresas e produtos dignos de estarem à venda naqueles mercados. Esse é o grande desafio e outros desafios, claramente, esta região tem mercados que são bastante fechados, com relações comerciais com empresários locais muito importantes, é preciso conhecer as culturas, na Rússia saber a língua e por isso não são mercados fáceis.

É necessário que as empresas entendam que não é fácil, não é só chegar lá e vender, há vários desafios e estes dois são claramente os maiores. As perspectivas de desenvolvimento são boas, porque acredito e também foi por isso que escolhi esta região para apoiar, porque são mercados, especificamente olhando para a Polónia e Rússia, que continuam com crescimentos mais interessantes do que na Europa Ocidental. Por exemplo, a Rússia vai crescer 4%, ao contrário do que temos visto nos países da Europa Ocidental.

Portanto, as perspectivas são boas, temos de tentar crescer com a Economia local, tentar criar esta onda de Portugal e de produtos portugueses nos mercados e tentar alavancar com isso a criação de novos mercados, não-tradicionais, mas que eu acredito que claramente vão estar numa situação diferente.

 
Dep.Carlos Coelho
João Correia do grupo Rosa para Rui Lopes.
 
João Correia

Antes de mais, boa noite. Desde já, cumprimentar a mesa e agradecer aos quatro oradores pela oportunidade de ouvir as vossas experiências. No seguimento da temática do empreendedorismo, verificámos que todos os países tiveram e têm problemas ao nível deste mesmo tema.

Contudo, nos últimos anos em Portugal, tem existido alguma ajuda, o capital de risco, incubadoras parastart-ups, para ajudar realmente num dos mecanismos que é apontado como um método para sair da crise. Porém, a falta de empreendedorismo não será um problema mais a nível educacional e cultural? Não estaremos por exemplo na Escola a criar uma aversão ao risco, e é difícil depois mudar essa mentalidade para o futuro?

 
Rui Lopes

Sim, claramente, culturalmente Portugal precisa de mudar pelo menos nesta área. Lembro-me quando tomei a decisão de fundar a minha empresa, basicamente às vezes as pessoas diziam palavras diferentes, mas o que o rosto dizia era: "Não estás a regular bem, estás numa empresa de sucesso, tens um progresso de carreira acima da média, onde é que te vais meter?”.

Claramente, a certa altura culturalmente tem de haver essa mudança de valorizar as pessoas que de facto queiram empreender, independentemente do maior ou menos sucesso, é preciso empreender, porque para gerar riqueza num país, fala-se muito na temática de atrair investimento, mas também muito importante é no próprio país ter pessoas capazes de gerar riqueza.

Portanto, concordo contigo, há essa mudança cultural que tem de ser feita. Começa agora a mudar, nota-se que começa a haver mais consciencialização de que não há empregos e que para isso é preciso que alguém crie empresas, portanto essa necessidade tem vindo mais ao de cima.

 
Dep.Carlos Coelho
A próxima pergunta é do grupo Verde, é o João Almeida para Joana Lopes Clemente.
 
João Avó Almeida
Boa noite a todos. Dr.ª Joana Lopes Clemente, queríamos desde já felicitá-la pela sua iniciativa. Suscitou-nos alguma curiosidade sobre a necessidade de haver mais uma organização não-governamental, desperdiçando-se assim recursos nos cargos da organização que poderiam ser canalizados num papel mais prático na missão, ou na causa defendida, existentes já noutras organizações?
 
Joana Clemente

Obrigada. Bom, como resposta a essa questão, posso dizer que a Helpo trabalha em distritos em que não trabalha nenhuma organização não-governamental.

Ou seja, nós trabalhamos em duas províncias, por exemplo, no caso de Moçambique em que trabalhamos só nestas duas províncias num território que equivale a quatro vezes Portugal continental. Estes países, claramente, não têm meios para chegar a toda a sua população. Se me disser que estes fundos podem ser canalizados através de ajudas governamentais, bom, posso dizer que o canal que têm de percorrer até chegar a estas pessoas, provavelmente, não vão chegar.

E uma das grandes vantagens que temos é que, como Helpo, sabemos onde estão os fundos e o que acontece desde que os recolhemos até a quando os aplicamos. É óbvio que isso tem o reverso da medalha, nós temos custos com estruturas locais, temos, mas sabemos o que acontecem com os fundos desde a sua recolha à sua aplicação e eles são aplicados exactamente de forma a cumprir a visão e a missão da organização. Isso é uma coisa que podemos garantir. Claro que tem o reverso das medalhas, tem, o custo das estruturas, esse é um custo que aceitamos pagar, um custo que os nossos padrinhos aceitam pagar porque sabem como é que nós funcionamos para poder ver os resultados que podemos apresentar.

Penso que respondi à questão. Obrigada.

 
Dep.Carlos Coelho
Muito obrigado. Passamos para o grupo Amarelo com o Pedro Miguel Carvalho a perguntar a Miguel Pina Martins.
 
Pedro Miguel Carvalho

Boa noite a todos. Começo por cumprimentar a mesa, agradecer aos quatro oradores que nos presentearam aqui com a sua presença e Dr. Pina Martins deixe-me que lhe diga uma coisa: tenho inveja, de certa forma, não pelo seu sucesso, pelo seu currículo ou por ter um vídeo consigo ao lado do Manuel Luís Goucha [RISOS, APLAUSOS], é essencialmente pelo facto de se calhar ser a única pessoa nesta sala que se pode orgulhar de dizer que gosta que brinquem com o seu trabalho.

[RISOS]

Passando à pergunta do grupo: de acordo com informações que tivemos através do seu currículo que nos tinha sido entregue, o Dr. Miguel é um exemplo de que não é obrigatoriamente necessário adquirir experiência no estrangeiro para ser bem-sucedido cá dentro.

A nossa pergunta é: quando estava no mercado de trabalho, por conta de outrem, sentiu que foi valorizado, ou desvalorizado, por isso? E, na sua opinião, acredita que devemos ganhar uma certa experiência lá fora, ou a experiência que podemos adquirir cá dentro será o suficiente para termos sucesso cá dentro?

Obrigado.

 
Miguel Pina Martins

Muito obrigado pela pergunta. É realmente verdade, não me importo que brinquem com o meu trabalho, pelo contrário que brinquem, pois quer dizer que hão-de estar a comprar os brinquedos e a brincar com eles. Por isso, até agradeço.

Na questão mais sobre o empreendedorismo e sobre a internacionalização: realmente nunca fiz Erasmus, nem estive fora praticamente, pois penso que isso não é o que é mais importante. Obviamente, não é mau fazer Erasmus, trabalhar lá fora, mas na minha óptica e pelo menos no meu caso, penso que não é o mais importante. Tanto que ainda tenho muito e agradeço muito à JSD e a esta escola que vocês têm todos, porque provavelmente foi aqui que eu aprendi a maior parte das coisas que acabei por aplicar depois no trabalho.

Eu com 18 anos era presidente da concelhia do Seixal, pouco depois fui presidente da regional e hoje ainda sou presidente da mesa nacional, mas foi aqui, mais importante do que ir para fora e muitas vezes foi a JSD que não me permitiu ir para fora, pois não podia porque era deputado municipal e não queria estar a correr o risco de estar a perder alguma coisa ausentando-me e penso que seja o que acontece a muitas pessoas que estão ligadas à JSD, mas foi aí que eu investi e foi aí que a JSD investiu em mim.

Porque consegui retirar muito dali, em liderar equipas. O livro que vos recomendei fala muito que uma pessoa que consiga liderar uma associação de voluntários, como uma secção da JSD, consegue liderar qualquer coisa e que é muito mais fácil depois a seguir. E realmente a experiência que eu tive na JSD foi fundamental para depois catapultar para conseguir liderar já de uma forma mais fácil, porque temos uma vantagem muito grande que se chama ordenado e as pessoas são mesmo obrigadas a fazer aquilo, pois senão deixam de receber.

Na JSD, como todos sabem aqui, quem quer fazer aqui faz, quem não quer desaparece. Quantas vezes, uma pessoa tem de pedir: vai lá ao jantar, vai lá à iniciativa, vai lá à conferência; e é aí que realmente se consegue retirar muito daquilo que depois são as mais-valias que também é necessário para um empreendedor, pelo menos no meu caso, que eu tenho de vender muito, não é? Tenho de vender os brinquedos, tenho de ser um óptimo comercial. Penso que é uma das características que acabo por ter, é que sou comercial e na JSD penso que temos oportunidade de aprendemos a ser comerciais, vendendo o nosso projecto político, a nossa lista, cacicando, como se costuma dizer, consegue-se retirar essas características.

Pelo menos para mim, não foi preciso ir lá para fora, acho que tínhamos cá uma escola muito boa que é esta e, neste caso, agora já é melhor que é uma universidade em que eu por acaso nunca participei, que certamente ainda será melhor do que a escola em que eu andei. Quanto ao resto da pergunta, penso que fui valorizado. Estive pouco tempo na banca de investimento, aquilo é uma coisa gira, mas só podemos fazer três coisas: compramos ou vendemos acções, ou não fazemos nada, não há nada para fazer além disto.

Foi giro durante os primeiros quatro meses, mas depois acabei por me fartar e penso que foi por aí que realmente foi possível depois vir para este projecto. Por isso, não acho que não tenha sido extremamente bem valorizado, mas seria indiferente, pois eu simplesmente não gostava daquilo que estava a fazer. Por isso, foi óptimo, pois foi isso que acabou por proporcionar a abertura da Science 4 You. Espero ter respondido. Obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho
Muito bem. Grupo Bege, o Hugo Ribeiro pergunta a David Valente.
 
Ivo Ribeiro

Muito boa noite. Queria cumprimentar, em especial, os quatro jovens empreendedores que fizeram a amabilidade de estarem cá presentes. Queria também dizer que sou um jovem empreendedor e reforçar dizendo uma frase de Fernando Pessoa: "Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce” e vocês são esse exemplo.

Após ter tido, uma ideia que já se tornou num sucesso internacional, obtendo a qualidade de jovem empreendedor, o grupo Bege pergunta: quando jovem, quais as dificuldades que sentiu, ou não, aquando do contacto com todas as empresas com as quais hoje tem parcerias e se sentiu alguma dificuldade inicial para entrar no mercado internacional, principalmente nos países em que hoje se encontra e qual o reconhecimento pelo Governo português? Obrigado.

 
David Valente

Em relação à primeira pergunta, há pouco estava aqui a comentar: uma das vantagens em termos profissionais é que os primeiros seis meses da minha aventura como empreendedor foram, basicamente, passados a bater à porta das empresas. Basicamente, o que faço é: tenho de ter empresas para vender o produto delas lá fora. Portanto, a primeira coisa que fiz logo foi bater à porta das empresas e especialmente tentar convencer e motivar as empresas a trabalharem comigo.

Uma das coisas que me ajudou, até estava aqui a dar a piada, é que pareço um pouco mais velho do que sou e isso até se notou às vezes com as reuniões nas empresas. O facto de ter apenas 24 anos na altura, acabava por ser uma limitação em termos de experiência, mas se eu tivesse 30 anos, ou 35, e estivesse também a lançar um negócio, obviamente já tinha experiência, mas a experiência de ser empreendedor é sempre diferente.

Portanto, obviamente que faz falta alguma tarimba, de bater à porta e estar a ver como corre a conversa e essa questão com a prática ganha-se a habilidade de ir falando com as empresas. Em termos de desafios, acho que isso se aprende e não é uma questão que acabe com a ideia de ser empreendedor.

Acho que o facto de ser sozinho também tem um impacto, porque quando somos duas pessoas vamos à empresa e quando não fala um fala o outro, ajudamo-nos mutuamente. Quando estamos sozinhos, tens de ser tu a falar, pois se não fores tu, mais ninguém vai falar. Isso causa alguma pressão e é um bocadinho um desafio. Quando se vai lá para fora a mesma coisa. Eu comecei na Eslovénia porque durante o meu período de Erasmus consegui motivar um dos meus professores a convidar-me a contactá-lo se um dia alguma vez precisa de alguma coisa.

Meia dúzia de dias depois, escrevi-lhe a dizer que a seguir ao Erasmus queria fazer lá um estágio. Claro que ele conseguiu arranjar-me uma empresa que se interessasse e fiquei lá a trabalhar; hoje em dia, é o meu parceiro para os negócios da ex-Jugoslávia. Portanto, isso facilitou-me bastante, quando vou lá para fora ter o parceiro que conhece o mercado e as pessoas e permite-me minimizar o factor cultural da abordagem ao mercado.

A questão do parceiro é uma forma de contrabalançar o desafio de estar a fazer sozinho este trabalho duro. A terceira questão, em relação ao Governo, acho que o Governo não tem nada que fazer muita coisa além de dar todo o apoio por via da AICEP e por via das embaixadas.

O Governo tem dado todo o apoio, os embaixadores têm-me sempre recebido para me darem os apoios necessários com as empresas, a AICEP o mesmo e, portanto, tenho só a agradecer ao Governo por todo o suporte até ao momento por essa via para que o projecto esteja a correr bem. Cá em Portugal também tive uma reunião com o Dr. Pedro Reis, portanto, também me deram o reconhecimento necessário para conseguir ter uma reunião com ele, o que acho que também é uma forma de reconhecimento do Governo.

Por isso, sinto-me apoiado e sinto que estão a fazer tudo o que podem pelo meu projecto, mas também não estou à espera que seja o Governo a ajudar-me, porque se eu não me mexer não vai ser o Governo que me vai vender os produtos lá fora e portanto acredito muito mais naquilo que é o meu trabalho e aquilo que vier da parte do Governo é muito bem vindo, o que não vier virá no futuro.

 
Dep.Carlos Coelho
Do grupo Cinzento, a pergunta é para Rui Lopes e quem a faz é a Sofia Pires.
 
Sofia Pires

Muito boa noite a todos. No seu entender qual é a justificação para Portugal ser o país com a maior taxa de natalidade empresarial, mas também as maiores taxas de mortalidade, como indica o Instituto Nacional de Estatística que refere que ao fim de dois anos apenas 50% dessas empresas resistem?

Muito obrigada.

 
Rui Lopes

Acima de tudo, aquilo que tenho observado é a falta de preparação. Quando se cria umastart-uphá duas coisas que são necessárias: financiamento, por um lado ementoringpelo outro.

Em Portugal há um défice enorme nas duas coisas. Reparem que não há uma primeira geração de empreendedores com sucesso que consigam darmentoringa uma segunda geração.Mentoringe financiamento porque tiveram sucesso. Isto é países como os Estados Unidos, que são muito competitivos, acontece já há algumas gerações. Gerações após gerações conseguem dar apoio quer do ponto de vista financeiro, quer dementoringa novos empreendedores e claro que o conhecimento lá é muito superior ao de cá, porque muitos desses empreendedores não têm qualquer acesso amentoringou financiamento.

Portanto, as probabilidades são ainda menores do que em empresas que possam ter acesso a esses recursos. Essa é a explicação a meu entender.

 
Dep.Carlos Coelho
Muito bem. Agora o grupo Castanho com o Bruno Ferreira a fazer uma pergunta a Joana Lopes Clemente.
 
Bruno Ferreira

Olá, boa noite. Antes de mais, obrigado a todos, especialmente aos quatro jovens empreendedores que decidiram muito amavelmente partilhar as suas experiências bastante motivadoras.

Estamos numa altura em que tanto se fala em empreendedorismo e em se tentar direccionar os jovens nesse sentido, mas a verdade é que o jovem desempregado não tem 50 euros para frequentar umworkshope muito menos 300 para uma formação, ou um serviço de consultoria que é fulcral no arranque de uma PME.

Por que não existe uma entidade semelhante em Portugal ao SCORE dos Estados Unidos, onde antigos CEO e executivos prestam consultoria,coachingementoringa jovens empreendedores gratuitamente? No entanto, o obstáculo mais difícil trata-se mesmo da obtenção de capital para o projecto. Na altura de crise onde as fontes tradicionais de capital estão secas, ou seja, a Banca e mesmo o papá-trocínio e avós-trocínio, muito sinceramente não vejoangelssolução, pois do meu ponto de vista serão maisdemonsdo queangels, sendo que o fundo nacional de capital de risco também requer capital próprio.

Dadas estas circunstâncias como consegue um jovem desempregado, hoje em dia, e se me permitem a expressão, "tirar este coelho da cartola”? Obrigado.

 
Joana Clemente
Dado que serei a pessoa que domina menos os assuntos mais relacionados com start-ups de empresas lucrativas, peço a um dos meus colegas que possa responder com mais propriedade a esta questão.
 
David Valente

Primeiro de tudo, depende muito do negócio e da necessidade de capital que o negócio tem. Nem todos os negócios têm as mesmas necessidades de capital. Portanto, um desempregado para procurar um novo negócio não tem de investir cem mil euros num novo projecto.

Investi no meu projecto, com muito poucos recursos de apenas um ano de trabalho, portanto, não foi nada de significativo e há projectos e negócios em que se pode investir realmente com muito pouco capital e, portanto, a questão é ser criativo e procurar onde é que esses negócios estão e onde é que se pode fazer esse trabalho.

O segundo ponto é que mesmo que estejamos desempregados, não está toda a gente desempregada e há muita gente com capacidade de investimento e de apoio. Se pensarmos que estamos desempregados não quer dizer que o projecto tenha de ser feito só por nós, temos mais tempo para ir à procura dessas pessoas. Portanto, acho quenetworking, mais uma vez, é das ferramentas mais importantes que temos, pois é encontrar as pessoas certas que possam investir no nosso projecto.

Portanto, estar desempregado e não ter dinheiro não significa que não possa lançar uma empresa. Digo isto com bastante convicção, obviamente que é mais difícil, acredito que seja, pois o cash-flow para as necessidades básicas e para o início é mais difícil. Mas acho que a questão vai muito nesta forma: agora estou desempregado, mas não estive sempre desempregado. Se calhar estudei antes e tive bons professores e se soubesse gerir uma boa relação com eles, talvez tivesse o número deles para ligar e se calhar conseguia mais facilmente pôr o meu projecto a andar do que estar agora a queixar-me de que estou desempregado, não tenho dinheiro e não posso pôr projecto nenhum a andar.

Acho que, quer estejamos a estudar e infelizmente não consigamos logo um emprego e ficamos desempregados pós-estudos, ou tenhamos trabalho durante um tempo e depois ficamos desempregados, temos é de não perder nenhuma oportunidade de expandir a nossa rede de contactos, porque um dia quando precisarmos de lançar uma empresa saber a quem ligar e quem é que nos pode ajudar nessa questão.

Penso que este aspecto está claramente subavaliado e nem sequer se pensa muito nisto quando se pensa em empreendedorismo, pensa-se muito mais em como é que se hão-de financiar do que sabem quem é que pode ajudar a financiar. Portanto, claramente essa é uma falsa questão, pois há muitas formas de ser criativo, ou procurar negócios com menor financiamento, ou se um negócio tem mais necessidade de financiamento procurar as pessoas certas em Portugal, ou lá fora, que nos possam ajudar nos nossos objectivos.

Dá trabalho obviamente, não é fácil, mas não custa dinheiro ir onde as pessoas certas estão e tentar. Os próprios professores, como a minha história em que se eu não tivesse um bom contacto com o meu professor na Eslovénia e se não fosse no final da aula perguntar-lhe várias coisas para criar uma relação com ele, ele nunca me teria enviado aquelee-maile nunca me tinha convidado para ir trabalhar na Eslovénia. Se calhar assim eu também já não tinha o conforto psicológico de o ter do lado de lá e de me ajudar a lançar o meu projecto.

Lá está, muitas vezes perdemos muitas oportunidades e depois queixamo-nos de não termos os fundos necessários. Esta é uma resposta que pode ser considerada fácil de dar, mas acredito que tem de ser também por aí de pensar e que os jovens empreendedores têm de pensar muito nesta questão donetworking.

 
Miguel Pina Martins

Foi a pergunta dois em um, dá para dois. Penso que a questão do financiamento é muito importante, sem dinheiro não se faz nada, mas penso que hoje em dia, como já tive oportunidade de dizer e nunca fica mal repetir, é preciso encontrar financiamento. Há vários: osbusiness angels, por exemplo, oudemons, como lhes quiserem chamar, que tem muito capital neste momento, há o capital de risco, há a capital venture em que o Governo está a investir, porque neste momento o QREN está a acabar em 2013 como sabem e ainda há muito capital de risco para aplicar, os BusinessAngels têm o mesmo problema. Há o microcrédito que também vai funcionando. O método tradicional da Banca não existe, neste momento também não vale a pena pedir, mas existe a Garantia Mútua que também já tive a oportunidade de utilizar, também criada pelo Estado.

Por isso, na minha óptica existem várias fontes de financiamento. Mas mais importante que isso é sermos audazes, sermos empreendedores, pois depois o dinheiro surge. Hoje há várias formas de encontrar financiamento na sociedade portuguesa. Temos no Estado vários apoios, mas realmente a única coisa que vai pôr as pessoas a investir nas pessoas é mostrarem que são empreendedores e que têm muita vontade de levar para a frente qualquer que seja a ideia.

Porque no meu caso, tinha 22 anos, nem quatro meses de experiência tinha, acho que ninguém me ia considerar uma pessoa extremamente experiente, não tinha uma ideia completamente diferente, apesar de colocarmos vantagens competitivas e foi aí que realmente a Capital de Risco viu potencial, por não ser um produto que era apenas mais um brinquedo como existe da Majora e da Concentra. Era um produto que tinha uma certificação única da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e o símbolo dela ainda vai em todos os produtos e tinha uma parceria com museus que apareceu depois mas acabou por dar mais valor ao produto.

Uma parceria com os museus de ciência, em que na compra de um brinquedo há oferta de 14 bilhetes no valor agora de 105 euros. Um brinquedo que pode custar 6,99 euros. Por isso, acabam por ser estas vantagens competitivas que são importantes quando se tem uma ideia ou algo diferente, pois é isso que os investidores vão olhar e dizer que vale a pena investir, neste caso, foi neste miúdo que tinha obviamente vontade de fazer algo diferente, apesar de não ter uma ideia que vá revolucionar o Mundo é uma ideia com vantagens competitivas.

Não tenham dúvidas de que 80% do negócio depende da pessoa e 20% da ideia. Por isso, a ideia também é importante, mas não é o mais importante, o mais importante são as pessoas, o mais importante é o capital humano, o mais importante é vocês.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho

Bem, entramos na última ronda de perguntas. Tenho de me calar aqui, porque há um princípio de que não voltarei a falar depois dos convidados, o único que tem o privilégio de fazer isso é o Duarte, ele encerrará o jantar-conferência de hoje.

Devo dizer que conhecia em parte a história dos nossos convidados através do Duarte e conhecia a história do Miguel há já algum tempo, mas foi muito interessante perceber como é que eles começaram e há uma coisa que gostava de sublinhar que me parece muito importante que é a lógica de não desistir.

Cada um deles teve um momento complicado. O David quando não entrou em Viena e teve que ir para a segunda solução, o Miguel quando teve aquela experiência não-realizadora na banca, o Rui quando tinha tudo montado viu a Primavera Árabe trazer a Democracia a uma série de países, mas estragar o negócio dele. Raras vezes na vida dizemos mal da Democracia, mas acho que isso deve ter passado pela cabeça do Rui. A Joana teve aquele momento em 2007 onde houve a ruptura com os italianos.

Todos eles tiveram momentos que representaram momentos de corte e podiam ter dito: eu não sirvo para isso, eu não passei, eu não ganhei, eu tinha tudo organizado e isto falhou, foi tudo por água abaixo. Mas eles fizeram desses momentos difíceis um momento de oportunidade para repensar e recomeçar e com o sucesso que hoje lhes constatamos. Acho que se há um modelo importante para lá da iniciativa, do empreendedorismo, da inteligência de pegar nas oportunidades e fazer uma coisa diferente, é isto de não deitar a toalha ao chão, de entender cada adversidade como uma oportunidade para fazer melhor, para fazer de novo. Acho que isso é verdadeiramente inspirador.

Vamos entrar na última fase das perguntas e passo a palavra à Patrícia Pimenta do grupo Laranja para uma pergunta a Miguel Pina Martins.

 
Mariana Falcão

Boa noite a todos. Vou saudar em especial os quatro jovens empreendedores aqui presentes. Dr. Miguel Pina Martins, qual a importância do empreendedorismo para contrariar a actual crise económica e financeira e quais os meios para incutir o espírito empreendedor nos jovens?

Grata pela atenção.

 
Miguel Pina Martins

Acho que o empreendedorismo não é só realmente de pessoas que abrem empresas, temos aqui um exemplo disso. O empreendedorismo para mim é uma forma de estar na vida: é uma forma de querer fazer mais, de quererem fazer diferente, de se empenharem e não desistirem, que querem inovar e para estas coisas todas não é propriamente obrigatório abrir uma empresa.

Pelo menos, na minha equipa da Science 4 You sempre contei com empreendedores e hoje já são trinta pessoas que estão na nossa equipa e que são todos empreendedores, uns mais que outros. Só falta colocarmos nos anúncios de emprego que procuramos empreendedores, porque é a partir do empreendedorismo que se consegue mudar não só dentro das próprias empresas como no país.

Temos de realmente ter noção de que no sofá as coisas não mudam, ou no café a queixarmo-nos aos nossos amigos as coisas não mudam, não ficamos melhores, as coisas não ficam melhores a falarmos mal uns dos outros, não vai adiantar nada. Temos de conseguir também perceber que temos de investir o nosso tempo em algo útil. Não estamos a gastar tempo, não fomos para o café gastar tempo, mas se forem ao café que também é saudável invistam, falam de coisas que podem trazer algo mais, tentem sempre fazer coisas diferentes. Penso que é isso que o empreendedor faz, ele não está à espera que aconteça, ele quer muito fazer acontecer.

É muito também aquilo que o David dizia, se não tentarmos temos 100% de hipótese de falhar, pelo menos temos de tentar fazer algo diferente e isso cabe-nos a nós todos os dias conseguir fazer algo diferente e adicionar algo. É aí que temos todos de ser empreendedores e é aí que o empreendedorismo pode mudar o nosso país, com tempo obviamente, mas pode ajudar a mudar o nosso país.

Quanto aos meios para incutir, penso que isso é daquelas perguntas que toda a gente quer descobrir. Mas, por exemplo, temos coisas muito interessantes que podemos observar e que toda a gente consegue acompanhar, por exemplo os filmes. Nós, em Portugal, podemos fazer tudo mas não incutimos espírito empreendedor nas crianças. Zero, nunca acontece. Dois exemplos dos Estados Unidos, o país mais empreendedor do Mundo, sem dúvida: faz disso algo básico, por exemplo, como nós temos a Matemática, eles têm o empreendedorismo.

Por exemplo, toda a gente já viu em filmes os miúdos a vender limonada na rua, isto é perfeitamente normal, assim como vendem outras coisas e ninguém lhes está a dizer que estão a ser empreendedores, não, eles fazem aquilo quase naturalmente. Nós aqui, se alguém fosse vender limonada na rua, aparecia a ASAE e levava o pai, a criança e ia toda a gente presa.

[RISOS, APLAUSOS]

Por isso, só por aí percebemos como não somos empreendedores, mas pior que isso, não deixamos as crianças e os jovens ser. Isto é algo cultural, não é culpa do Governo, nem deste nem do último, é algo cultural, somos assim, não temos este espírito que existe noutros países como Estados Unidos, este espírito capitalista que realmente acaba por ser assim e coloca crianças aos cinco anos já a vender coisas e a pensar em produtos novos.

A minha limonada há-de ser melhor que a do outro, porque há-de ter mais limão, ou o meu limão é melhor, seja o que for e é isso que pode fazer a diferença. O outro exemplo que é algo básico que cá ainda não existe e não se percebe porquê, que são as feiras de ciências. Todos os miúdos têm de fazer no final do período algum projecto científico para a escola, têm de inovar, têm de fazer um produto novo, seja o que for, têm é de aprender a fazer alguma coisa.

É algo que é básico como sabem que têm de fazer em todos os períodos, cá temos a avaliação e eles têm também as feiras de ciência. Ou, por exemplo, oshow and tell, em que com oito anos levam uma coisa qualquer, às vezes o animal de estimação, o pai, a prima, para falarem em público. São coisas tão básicas de implementar e não sei se ninguém se lembrou ou se é a nossa sociedade que não permite, mas sei que isso sim são estímulos ao empreendedorismo que penso que podiam ser muito produtivos não só em Portugal como na Europa toda.

Obrigado.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho
Muito bem. É altura de agradecer ao grupo Azul por terem-nos recebido na vossa mesa e passar ao Ricardo Bessa Marques para uma pergunta ao David Valente.
 
Ricardo Bessa Marques

Muito boa noite. Queria agradecer aos quatro jovens empreendedores pela presença aqui esta noite e pelas brilhantes apresentações que fizeram das vossas experiências de vida.

Dr. David Valente, fala-se muito em empreendedorismo e em ser empreendedor. Parece que existe uma tentativa de vender a ideia que é a solução para combater a crise e até mesmo o flagelo do desemprego jovem. Mas perante esta situação com a maioria das pessoas a ter uma descrença na resolução da crise e sendo o Dr. David Valente um jovem empreendedor bem-sucedido, mas certamente consciente de que a percentagem de casos de empreendedorismo bem-sucedido é bem menor do que a dos que fracassaram, que conselhos e elucidações pode deixar sobre os riscos de ser empreendedor nos dias de hoje?

E se me permite, achava interessante saber a sua percepção sobre as ajudas, ferramentas e instrumentos existentes em Portugal; que sugestões faria para melhorar as existentes e as que faltam criar para apoiar os empreendedores portugueses?

 
David Valente

Acho que a primeira coisa que tenho a dizer é em relação à questão de muitas empresas fracassarem: acho que era bom sinal que houvesse mais empresas a fracassar, porque queria dizer que fracassaram uma vez, mas aprenderam para da próxima não fracassar. Também está estudado que 80% das empresas falham a primeira vez, mas se o mesmo empreendedor continuar a abrir empresas a probabilidade de fracasso reduz drasticamente.

Portanto, ao final da terceira ou quarta, em termos médios, a probabilidade de ter sucesso é para aí 100%. Acho que não se pode ter medo de arriscar, obviamente há constrangimentos pessoais, monetários, e muitos outros para testar e falhar, mas se puderem tentem, falhem e voltem a tentar. A ideia do flagelo do desemprego jovem, obviamente vem trazer para a ribalta esta palavra do empreendedorismo, porque as pessoas não têm trabalho e procuram ser elas a criarem o sue próprio trabalho.

Por isso, é normal cada vez mais ouvir-se falar de empreendedorismo, é uma consequência lógica. Claro que é mau haver mais desemprego, mas também é um incentivo para as pessoas tentarem mudar um pouco daquilo que é competitividade no nosso próprio país. Se calhar até é uma oportunidade para mais empresas e mais empreendedores terem mais ideias e que podem vir a ser brilhantes e ajudar a colocar o nosso país no mapa.

O próprio Bill Gates e Steve Jobs lançaram as suas empresas numa altura em que os Estados Unidos estavam em crise e eles próprios ainda estavam na universidade, também não tinham grandes bases para fazer e criaram as suas empresas. Portanto, a necessidade força e estimula o empreendedorismo e acho que isso é interessante.

Em relação às ajudas, ferramentas e instrumentos existentes acho que já respondi anteriormente, obviamente que é uma visão curta mas é baseada na minha experiência por isso que aqui estou para dar as respostas com base na minha experiência. Colocava mais um ponto: até hoje, estou há um ano e meio com a empresa, não paguei um cêntimo de escritório e tenho tido escritório desde o primeiro dia. A razão é que dois meses antes de sair do banco e montar a minha empresa convidei uma antiga pessoa que conheci no banco, que tinha sido director-geral e depois saiu uns meses antes de mim.

Fui almoçar com ele, apresentei a minha ideia e que podíamos ter um projecto juntos e ele convidou-me a ficar no escritório dele, portanto, não paguei um cêntimo de escritório até hoje e este é mais um exemplo de que se mexerem e forem à procura das oportunidades, há muitas formas de reduzir os custos para nos primeiros meses aguentarem-se com uma baixa estrutura de custos.

Acho que isso é o mais importante: antes de começar a empresa, têm de pensar em como é que podem reduzir as estruturas ao mínimo. Claramente, o escritório é uma questão que é opcional, quem é que precisa de escritório? A não ser que tenha um conjunto de pessoas e seja mesmo necessário, mas muitas pessoas podem trabalhar a partir de casa ou partir do escritório de outros.

Também aqui há uma forma de encontrar ferramentas para tentar encontrar ferramentas para contrariar essa falta de financiamento. Como última sugestão que eu daria aqui hoje, recomendei-vos um livro que penso que todos aqui devem lê-lo. Não têm de seguir o que o autor defende, mas acho que vos vai abrir a mente para muitas coisas.

Quer sigam o caminho de empreendedor ou não, na vossa vida, acho que vos vai ser útil e não precisam de retirar 100% da matéria e aplica-la, mas se retirarem três ou quatro pontos do que ele diz já é bom. O livro chama-se "The four hours work week”, tem um título sugestivo e, portanto, acho que vale a pena e muitas destas questões estão lá expostas. Aliás, o autor deu aulas na Universidade de Stanford e um dos exercícios que ele tinha era juntar um conjunto de 20 pessoas e oferecer uma viagem à volta do Mundo para os primeiros que conseguissem contactar celebridades como Bill Gates, Steve Jobs, ou Presidente Bill Clinton e ter uma conversa de vinte minutos com ele.

Da primeira vez ninguém o levou a sério, mas da segunda vez conseguiu duas pessoas que o fizeram. O nível de dificuldade para competir por objectivos impossíveis é muito mais baixa do que o nível de competitividade de competir por objectivos mais acessíveis e a razão é que para os objectivos impossíveis ninguém vai e portanto estamos sozinhos na corrida.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho
Pelo grupo Encarnado, o Duarte Alves pergunta a Rui Lopes.
 
Duarte Alves

Boa noite. Em primeiro lugar queria dar os parabéns ao Dr. Rui Lopes pela coragem e pela capacidade de trabalho. Em segundo lugar e muito directamente indo à questão: o que falta, em Portugal, para que surjam grandes projectos como a Microsoft, a Google, etc.

Muitos desses projectos não são compreendidos, o que falta, ou o que ainda não existe em Portugal? Será que não existe ainda um conjunto de leis laborais muito dinâmico? Este mercado de leis laborais que permite estabilidade e competitividade, será que ainda não é dinâmico suficiente em Portugal para que surjam estes grandes projectos?

Muito obrigado.

 
Rui Lopes

De facto, esse tipo de projectos que mencionaste, não só em Portugal como na própria Europa são raros acontecer. O mais engraçado é que muitos projectos nos Estados Unidos são feitos por pessoas que nem sequer são americanas, portanto, a questão não está na nacionalidade das pessoas.

A questão central, para mim, está no tipo de infraestruturas que existe de apoio a esses projectos. Os Americanos têm uma forma de pensar mais competitiva do que os Europeus; eles quando entram em campo é para dominar.

Digamos que em Portugal às vezes temos a tendência para pensar: "vamos procurar este nicho, pode ser que a coisa corra bem” e há pouca audácia em pensar que eu quero dominar este mercado. Tudo bem, há que começar por algum lado, mas na América existe mesmo esse espírito, eles entram para dominar.

Vejam o que aconteceu no império da mobilidade. Basicamente, a Google e a Apple tentaram entrar nesse mercado e em quatro anos aniquilaram o maior produtor desmartphonesque foi a Nokia, praticamente. Portanto, há um longo caminho a percorrer para sermos tão competitivos quanto os Estados Unidos. Em primeiro lugar na Europa e claro que Portugal não é o mais óbvio ponta de lança dessa Europa, não é? Mas as coisas estão a melhorar, como referiram os colegas, começa a haver mais apoios.

Além desta questão da infraestrutura também existe a questão cultural como eu disse há pouco, porque ser empreendedor não é abrir uma empresa. Mal abri a Nabia fiz questão de ter uma reunião com as restantes pessoas que fundaram a empresa comigo para estabelecer desde logo que acima de tudo somos empreendedores e colaboradores da empresa. Sou accionista da empresa em menos de 1% por ano, em meia dúzia de reuniões que tenho por ano, enquanto accionista/patrão da empresa.

Porque mais de 99% do tempo sou um colaborador como outro qualquer, tenho as minhas funções para cumprir e tenho de as cumprir e ponto final. Por isso, tem de haver uma desmistificação sobre essa questão de ser patrão, porque acima de tudo temos de ser empreendedores, porque eu já o era empreendedor antes de fundar a empresa.

Ser empreendedor é ser pró-activo, procura soluções, não se acomoda e isso é que é ser empreendedor e falta isso na cultura portuguesa. De uma vez por todas tem de se desconectar essa ideia de empreendedorismo equivaler a criação de empresas. Não é assim. Mais de 99% do meu tempo sou empreendedor, não sou accionista, sou um colaborador.

Portanto, a mensagem final que vos deixo é: sejam empreendedores!

Obrigado.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho
Do grupo Roxo, Nelson Bento Pereira pergunta a Joana Lopes Clemente.
 
Nelson Bento Pereira

Boa noite a todos. Quero começar por deixar um agradecimento ao painel de convidados, não pelas intervenções que fizeram que foram motivadoras, nem sequer por estarem presentes aqui connosco embora nos honrem com a sua presença, mas sobretudo por fazerem essa diferença de que nos falaram.

Penso que a nossa geração acredita hoje que este é o caminho: fazer! Fazer o que é tão falado no discurso político fácil de hoje em dia. Fazer realmente, pegar nos recursos humanos, tecnológicos, materiais, que o país ainda tem e transformá-los, criando mais valor e é por isso que vos agradeço.

Agradeço especialmente à Joana, porque a Joana, penso eu, que tem um sacrifício pessoal maior no que faz relativamente aos três tios patinhas restantes. [RISOS]

Tenho de fazer também um agradecimento do ponto de vista pessoal: sou também empreendedor desde os 25 anos e naturalmente sinto uma insegurança face a pessoas mais velhas mais experientes relativamente à minha idade.

Hoje foi importante para mim ver pessoas que foram bem-sucedidas e empreendedoras a partir dos 23 ou 24. Não conhecia, só alguns casos recentes próximos que não sei se vão ser bem-sucedidos. É muito bom e incentivador para mim e para o meu futuro ver que vocês com as vossas idades conseguiram fazer isso e ultrapassar esta insegurança que nós sentimos.

A minha pergunta para a Joana é também nesta linha: como conseguimos incentivar um jovem a empreender com um objectivo social, sem a perspectiva do lucro?

 
Joana Clemente

Não sei se a resposta é fácil. Eu trabalho com muitos jovens, a equipa de conselheiros é mais experiente, mas a equipa no terreno é muito jovem e acho que são pessoas especiais, sobretudo as que estão no terreno.

Estou a excluir-me porque não faço vida no terreno. Não significa que sejam pessoas melhores ou piores, são pessoas com características diferentes, que têm grandes capacidades e uma capacidade que também é muito necessário nos empreendedores: a auto-motivação. Não sei se é fácil criar uma motivação que não existe para este lado, uma motivação onde não há uma determinada sensibilidade para, sei que tenho tido a sorte de encontrar para a equipa pessoas que se auto-motivam para isto.

Também há muito a ganhar, ou seja, quero esclarecer que tenho um salário, não sou um "tio patinhas”, mas consigo viver e os meus colegas todos têm um salário, inclusivamente os que estão no terreno, mas mais do que um salário eles ganham outras coisas. Isto não é um cliché, é de facto assim, temos também pessoas na Helpo com carreira política que também quiseram fazer experiências para ganharem coisas que não ganham aqui, ganhar experiência de vida, ganhar experiência de recursos humanos, que aqui não se tem e uma gestão de recursos em África é extremamente difícil, para ganhar eventualmente uma ginástica emocional e racional também completamente diferente e para se confrontarem.

Também são coisas que contribuem para um enriquecimento ao nível pessoal que de outra maneira seria muito difícil alcançar, ou talvez demorasse mais tempo, pois não temos o confronto diário com determinadas situações invulgares que ele têm.

Eu acho que se ganham outras coisas, nesta área há muito disso e é também aprender a relativizar e a valorizar outras coisas. Num dos artigos que há numas das revistas que estão aí a circular, tenho um editorial em que falo disso também, nós temos o privilégio, apesar de estarmos a lidar com necessidades profundas e nem sempre fáceis de encarar, de estar a contactar a maior parte dos dias com o melhor das pessoas, porque as pessoas que vêm até nós são pessoas que querem mostrar e dar coisas boas e são pessoas que são donos de empresas, ou funcionários públicos, enfim, há de tudo.

Mas são pessoas que quando estão ali a falar connosco, mostram porventura o melhor delas e penso que isso é também uma grande coisa que as pessoas acabam por ganhar.

O Duarte está aqui a passar-me um apontamento. Não deixa de ser um cliché, mas é verdade: recebemos muito mais do que aquilo que damos. Penso que sim e acho que não é necessário que essas pessoas sejam convencidas a investirem o tempo e a investirem delas, pois assim que se confrontam com o retorno que têm acabam por perceber onde é que está o valor. Acho que é isso.

Obrigada.

[APLAUSOS]

 
Duarte Marques

Vou só dizer uma ou duas coisas. Queria agradecer-vos muito mesmo, deixarem de vender alguns brinquedos e virem aqui, outros vendido menos uns queijos e o Rui tenha deixado de andar a brincar com uns telemóveis e a Joana tem o namorado à perna porque estavam de férias e ela veio de autocarro até Évora, fomos lá buscá-la e ainda vai para Tavira.

O que eu queria dizer é o seguinte: este nosso jantar tinha como objectivo principal transmitir-vos que qualquer um de nós pode ser empreendedor, tanto é empreendedor aquele que está a servir à mesa, como quem trabalha num banco ou cria uma empresa. Na minha opinião e na experiência que tenho tido, também tenho aprendido muito com qualquer um deles que está aqui, gostava que soubessem que eles têm muito mais para contar do que contaram aqui, pois o tempo é escasso.

Mas, acima de tudo, para sermos capazes de inovar temos de melhorar aquilo que fazemos no dia-a-dia e isso podemos fazer em tudo: na política, num jantar, na nossa profissão, na nossa empresa, no que nós criarmos. O que precisamos em Portugal é de uma nova cultura de empreendedorismo e isto pode ser o desenrascar. Há bocado o Miguel pegava aqui num ponto que parece essencial: não sei se têm noção da quantidade de gente que quando termina o ensino superior tem uma experiência profissional, porque há bocado falavam de vender refrescos.

Na Suécia e nos Estados Unidos, eles têm um modelo completamente oposto: no final do Ensino Superior 95% dos jovens que acabam o Ensino Superior tiveram uma experiência profissional e cá em Portugal sabem qual é essa percentagem? É precisamente os outros 5%. Porque o jovem português não pode trabalhar enquanto estuda, não pode trabalhar no McDonald’s porque é uma vergonha, etc.

Ontem estava aqui um rapaz com o Miguel Morgado, que os que aqui trabalham há muitos anos conheciam, que serviu ali naquele balcão, em que ficavam dois gémeos gordinhos, não sei se se lembram, um deles é o melhor aluno da Católica em Ciência Política dos últimos cinco anos e andava aqui a servir à mesa todos os dias, e o irmão um grande aluno de Aeronáutica no Técnico, porque eles sempre trabalharam ao longo da vida e isto faz a diferença, alguém que tem experiência.

E nós, em Portugal, além de ter a cultura do empreendedorismo, também temos de valorizar mais as profissões. Dou-vos outro exemplo: na Alemanha, acaba-se o Secundário e vai-se para as obras e aos 25 anos pára as obras e vai tirar um curso de Engenharia Civil e na Alemanha é um herói. Cá, em Portugal, sabem qual é a reacção? Olhem este parolo que é pedreiro e agora quer ser engenheiro. E isto diz tudo.

[APLAUSOS]

Porquê? Porque nos nossos manuais escolares, desde a escola primária, somos indicados a dizer "o senhor doutor” e o Toninho que é filho do padeiro da terra, coitadinho e depois o Miguelinho que é filho do professor da escola. E somos ensinados até esta idade que há profissões que não são dignas, porque não têm curso, porque não sei o quê e essas pessoas fazem falta.

E como somos um país muitas vezes de parolos, tratamos mal essa gente, porque o mais importante sendo padeiro, professor, estudante, aquilo que precisamos de ser é mais profissionais e mais empenhados no que fazemos. Porque muitas vezes se diz: a nossa dignidade está na forma como nos empenhamos no nosso trabalho e em como tomamos conta da nossa família. Acho que esta é a grande mudança que temos de fazer, porque em Portugal fala-se muito pouco em falta de apoios, ou que os portugueses são pouco empreendedores e há bocado eles falavam disso e com razão: o presidente da federação europeia Business Angels que são tipos com dinheiro que investem em bons projectos, é português, chama-se Paulo Andrés. É o director, gratuitamente, da DNA Cascais que é uma incubadora de empresas e ele diz muitas vezes que há gente com dinheiro para investir em boas ideias.

Por isso, se alguém tiver uma boa ideia, vá à net, o Paulo Andrés arranja-vos dinheiro se a ideia for boa. O Estado português, já não é de agora, têm fundos de capital de risco, era dinheiro mal gerido então agora fundiram todos os fundos num e havia dinheiro disponível para bons projectos. O Impulso Jovem tem capital para bons projectos. Se precisarem de dinheiro vão ao Totta, como dizia o outro. Há gente disponível, se as ideias forem boas e não tenham medo disso.

Gostava de terminar, dizendo apenas uma coisa que me parece relevante: há bocado a Joana estava aqui a dizer que a malta queixa-se que tem de pagar 50 euros para ir a umworkshop, ou 100 euros para ir à Universidade de Verão, ou pagar para ir a um outro evento qualquer para aprender. Mas é muito fácil carregar 50 euros no telemóvel, ou ir a vários concertos; para isso há dinheiro, agora dinheiro para investir, ou comprar uma formação, já não há.

[APLAUSOS]

Há um colega nosso que é da Jota e foi ao programa Prós e Contras e contou uma história muito engraçada. O Paulo saiu da empresa em que trabalhava, ele édesignere abriu uma empresa própria que está a correr bem. A história tem um ano e tal. Ele estudou no IADE e antes de sair da empresa, virou-se para o "tio patinhas” do sítio e disse: "Ó chefe, desculpe lá, nunca lhe perguntei isto, mas porque é que me escolheu para vir para aqui?”. O chefe respondeu-lhe: "Foi muito simples, o anúncio esteve três meses na tua faculdade e só tu é que respondeste”.

A malta tem chatear, tem de "melgar”. A quantidade de vezes que o David liga a dar ideias ou a sugerir, ou até o Miguel e a Joana ligam carradas de vezes com ideias novas. Estão sempre a pensar no passo seguinte e isso é fundamental. Agora, dizia-vos uma coisa que é aquilo que podemos fazer também no nosso trabalho diário como políticos ou aquilo que queremos fazer na JSD e qualquer um de nós pode fazer: é verdade que Portugal é um dos países que mais cria empresas. Porque é que vão à falência? Porque a seguir não há tutoria, nem apoio a seguir a criar ao negócio.

Alguém que tira um curso de Arqueologia sabe sobre isso, mas não pode ser obrigado a saber gerir uma equipa de 20 pessoas, pagar ordenados, pagar impostos, e nunca aprendemos isto na escola, tirando os contabilistas. E o que é que o Estado pode fazer? O Estado não tem de inventar negócios, agora, as câmaras municipais por esse país fora e a JSD deu um programa ao Governo que vai ser implementado muito em breve, é uma ideia nossa, que o David e o Miguel e muitos de nós trabalhámos e que é muito simples: aqueles espaços velhos que estão desocupados, aquelas escolas, correios, tribunais que foram fechados, a mim, na minha terra faz muito mais falta uma incubadora de empresas do que um tribunal.

Estou a falar a sério. Há muitos edifícios por utilizar e se as câmaras aproveitarem os dinheiros do QREN e porem lá um ou dois funcionários com telefone e computador, com alguém que ajude na contabilidade, alguém que dê umas dicas sobre os impostos, ou como é que se faz um plano de negócios, ou como é que se pode exportar e parte comercial, é muito mais fácil criarmos mais empresas. O novo desafio dos nossos autarcas para o próximo mandato não é fazer esgotos, ou escolas, é criar emprego e fixar pessoas. Isso só se pode fazer se dermos esse carinho que é necessário e não vamos inventar nada pelas pessoas.

Por isso, terminava dizendo que o mais importante é ter vontade. Foi isso que aprendemos convosco; é ver que podemos tocar o céu se acreditarmos e o exemplo concreto que deram aqui, agradeço-vos imenso o vosso esforço. Como dizia há pouco o Nelson, não é por virem aqui, é por fazerem o que fazem, criarem valor lá fora e serem prova de que os portugueses são tão bons lá fora como cá dentro, basta que tenham vontade de fazer a diferença.

Esta mensagem não é para vocês que estão cá, é para todos aqueles que não tiveram a ousadia, ou a vontade de vir aprender ou de se vir esforçar. Essa é que é a grande diferença. Por isso é que nós dizemos e terminava assim, é tempo de levantar o rabinho do sofá e fazer alguma coisa pelo nosso país.

Obrigado.

[APLAUSOS, JSD!]

Não levem a mal, mas queria só dizer que a Joana, quando eu a conheci, era um bocadinho socialista, agora já viu a luz e que não somos más pessoas, mas não pode gritar JSD, mas pronto, relevo, nós percebemos.