ACTAS  
 
8/29/2012
Falar Claro
 
Duarte Marques

Boa tarde a todos. Ao contrário de outros eventos em Portugal, em que ora esperamos pelos participantes, ora esperamos pelos oradores, mas aqui na Universidade de Verão já é a terceira vez que esperamos pela hora.

Hoje é uma das aulas mais importantes da Universidade de Verão, é o "Falar Claro”, em que temos dois convidados muito especiais. Depois, no final, vão perceber porque é que eu digo isto. É uma aula que é completamente fechada, quer para a Imprensa, quer para a Internet, tem muitas limitações à transparência, neste caso.

O Carlos Coelho dispensa apresentações; faz formações em várias áreas e também na área da Comunicação têm-no feito de forma muito eficaz, não só cá, como lá fora, porque o Carlos não me deixa, vou passar já a apresentar o Rodrigo Moita de Deus.

Para quem não o conhece, devo dizer que além do Rodrigo ser da 31 da Armada e um dos mais famososbloggersportugueses, é actualmente membro da Comissão Nacional do PSD, militante do partido, escritor, comentador, consultor de comunicação, humorista, pai de três filhos, jovem empreendedor de sucesso, uma das pessoas com mais capacidade criativa que temos no nosso país, foi o meu primeiro patrão, quando eu tinha 18 ou 19 anos, numa empresa a distribuir panfletos na rua. Ele era empreendedor e eu precisava de dinheiro. [RISOS]

Mas o Rodrigo é também um conhecido escritor, algumas das meninas lembrar-se-ão de um livro chamado "Se elas ainda acreditam em príncipes encantados”, muitos leram e não sei se sabem que o Rodrigo era o autor desse livro. Tem outro que é um romance político, "O Vigarista”, que é uma história que não é real, mas podia ser e eu recomendo a leitura.

Além disto, foi um dos protagonistas das "Noites Marcianas” que foi um programa de humor que havia na televisão, ainda muitos de vocês não viam, em que o Rodrigo, não sei porquê, tinha o papel de beto do programa. Mas é sobretudo também um amigo da Universidade de Verão, foi conselheiro, avaliador e nos últimos anos tem sido orador e contribuiu desde sempre para muitas das inovações dos mecanismos que fazem hoje parte da técnica, da história, e sobretudo da qualidade da Universidade de Verão.

O palco é vosso, não sei quem é que começa, mas espero que comecem bem e acabem muito melhor.

Obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho

Muito boa tarde, sejam bem-vindos ao "Falar Claro”. Já receberam à entrada uma brochura com alguns dos elementos essenciais da nossa comunicação e há um jogo semântico na expressão "Falar Claro”, porque não há "falar claro” sem a política e a comunicação.

A comunicação oral é essencial na política e falar claro, porque consideramos que essa comunicação tem de ser clara, não pode ser confusa, tem de ser eficaz. A nossa apresentação está dividida em quatro partes, tirámos uma das partes que era sobre escrever claro, que continua na vossa brochura, mas hoje aqui vamos abordar, sobretudo, como comunicar bem, contactos com a Comunicação Social, os novos Média e quinze conselhos para falar em público.

Muito bem, vamos começar com a primeira parte: comunicar bem. Porque é que dizemos que fazer política é comunicar? Porque em democracia o povo é que decide através do voto. Não é assim noutros regimes, os ditatoriais, autocráticos, ou monárquicos absolutistas; em democracia quem decide é o povo.

Portanto, podemos ser os melhores, mas se não formos capazes de comunicar com quem decide, com o soberano, de nada nos serve, porque na altura do voto vamos ficar desiludidos. A comunicação é, assim, essencial para comunicarmos o que estamos a fazer, como estamos a fazer e porque estamos a fazer. Mas é também ao contrário: comunicar não é só falar, é também ouvir, saber o que é que as pessoas entendem, quais são as suas ansiedades e necessidades.

Em qualquer domínio da intervenção social, seja na política ou em qualquer outro, grande parte do nosso sucesso depende da nossa capacidade de comunicar, de falar e de ouvir.

A única parte teórica é esta, é a chamada equação comunicacional básica: para a comunicação são necessários três elementos, sendo eles o emissor, o receptor e aquilo que os liga, que é a mensagem.

Neste momento, estou a ser emissor, vocês os receptores e aquilo que nos liga é a minha voz, é a mensagem e, por isso, dizemos que a comunicação perfeita é aquela em que existe sintonia, porque se a mensagem não for clara esta comunicação não se estabelece. Vamos supor que não tínhamos aqui o senhor Dr. Durão Barroso, mas o senhor Van Rompuy que é o senhor Presidente do Conselho Europeu, que é uma grande figura que foi Presidente da Bélgica, e que ele estava aqui a falar-vos com mais autoridade do que eu posso falar sobre Europa na sua língua natal que é o flamengo.

Não sei se há alguém na sala que fale flamengo, provavelmente não há. Ele podia fazer o melhor discurso da vossa vida, mas não se estabelecia nenhuma comunicação. Mas a comunicação não funciona só neste sentido, mas no outro: o receptor que por sua vez é emissor e vice-versa; exactamente quando nós ouvimos os eleitores.

De uma forma silenciosa, vocês estão a ser emissores, por uma razão de que vos falarei mais à frente; porque eu estou a olhar para a vossa reacção, estou a ver pelas vossas caras se estão a gostar e a ouvir, ou não, se me estão a fixar ou estão dispersos. E através da vossa mímica vocês estão a mandar-me sinais: estou com atenção, ou não estou.

E esta sintonia no discurso é essencial nos pormenores e é totalmente diferente quando vocês falam para um lar de idosos, ou se falam para um grupo de jovens; para advogados, ou para pescadores; numa assembleia do partido, ou na Assembleia da República; ou seja, podemos estar a falar português – a nossa língua comum -, mas estarmos a falar de maneira diferente na linguagem, na forma, nas metáforas, nas imagens e isso estabelece a sintonia da comunicação.

Ou seja, quando ouvimos os eleitores e, por exemplo, podemos ouvir os eleitores quando faço uma sondagem, não estou a falar com eles mas quando pergunto o que é que o preocupa, ou qual a questão que acha neste momento que é mais importante, é uma forma de os perguntar, ouvindo sem ser através de contacto directo.

Falando de eleitores, fala agora o Rodrigo Moita de Deus.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Vou começar pelo princípio dos três elementos da comunicação, a parte do receptor. Este bichinho querido que têm na imagem é um peixinho dourado, que normalmente está nestes vasos em cima de frigoríficos, é um bicho não muito inteligente, tem uma memória limitada de 3 segundos e anda sempre às voltas do boião de água, porque não se lembra que já lá esteve, fica todo feliz e diz repetitivamente: "ah, que coisa tão gira”.

Este bichinho querido, o peixinho dourado, é o vosso típico eleitor, portanto na prática os eleitores também têm uma memória de 3 segundos e também ficam maravilhados de cada vez que voltam ao mesmo sítio de onde partiram e dizem repetitivamente: "ah, que coisa tão gira”. Mais do que isso, têm outra característica extraordinária acerca dos leitores, pensem no eleitorado como um grande rebanho e no partido com um cão pastor.

Há um cão pastor do PSD, do PS, do CDS e há umas ovelhas que vão para a direita e outras para a esquerda e as ovelhas negras vão para o Bloco de Esquerda. [RISOS, APLAUSOS]

Basicamente, o comportamento eleitoral mede-se mais ou menos assim. Mas para não estar a insultar tantas pessoas, vamos trazer um pouco de Ciência para a nossa conversa.

Este senhor chama-se António Damásio, alguns de vocês, ou pelo menos uma parte sabe quem é, têm essa obrigação; ele escreveu um livro fantástico chamado "Erro de Descartes” que toda a gente pensa que é sobre neurociências, mas não é, é sobre comunicação e eu vou explicar porquê.

Ele dizia que não era o "penso, logo existo”, mas o "sinto, logo existo”.

Para construir esta tese, partiu de alguns princípios que nos vão ser muito úteis no futuro. Primeiro princípio: o cérebro funciona por compartimentos estanques e fechados, ou seja, conseguimos através de máquinas, tendo a maquinaria adequada, perceber que parte do cérebro está a funcionar em cada momento. Isto quer dizer o quê?

Quer dizer que podemos ir mais longe e saber que parte do cérebro faz o quê ao corpo: uma serve para andar, outra para falar, outra para mexer, outra para pensar e outra para sentir. Uma das primeiras conclusões a que todos os cientistas já chegaram há muito tempo é que a memória visual é muito maior que a memória auditiva, ou seja, muito mais facilmente vocês vão decorar que roupa é que eu trazia hoje, do que aquilo que eu disse.

Daí o peixinho e as ovelhas. Mais rapidamente decoram que eu tenho barba do que o meusound bitee isto é uma coisa muito dramática para quem faz política, porque quer dizer que vamos ter de escolher com muito mais cuidado os fatos que levamos para os comícios. Segunda conclusão engraçada: têm aqui uma espiral em perpétuo movimento (é um GIF simples) e o cérebro faz uma coisa extraordinária que é se vocês ficarem a olhar muito tempo para a espiral tendem a adormecer. Este fenómeno tem um nome muito específico que ézoning oute na prática quer dizer o quê? Quer dizer que o cérebro sempre que está habituado a uma determinada tarefa, habitua-se a uma rotina, seja a uma voz, seja a um barulho, ou um estímulo visual, vocês começam a pensar noutra coisa.

Ou seja, dão-vos um orador chato, ele começa aqui a falar durante algum tempo e vocês começam a pensar no jogo que o Benfica tem na próxima semana. Isto é científico.

Portanto, o que é que nós podemos fazer para evitar que o nosso público adormeça, fazer oscilações de voz, garantir que estão coisas em movimento e animação para que o cérebro nunca entre na rotina. A pior coisa que vocês podem fazer é falar num tom monocórdico, do tipo professor do Charlie Brown, porque senão a assembleia adormece certamente.

Um bocadinho mais de neurociências e a parte mais importante de todas: como disse, é possível perceber que parte do cérebro está a funcionar e em cada momento. Aconteceu uma coisa extraordinária que foi a conclusão do António Damásio, é que um estímulo visual chega primeira à parte emocional e só depois à parte racional. Ou seja, quer isto dizer o seguinte: quando subi aqui para cima, ou quando me levantei, vocês já gostavam ou não de mim. Tudo o que eu disser a seguir serve para alimentar a vossa convicção, o vosso preconceito.

Isso é a coisa mais dramática na política: juntarmos a parte emocional e a parte emocional ter prevalência sobre a parte racional. O gostar, ou não gostar, tem de ser posto na equação como outra coisa qualquer, os preconceitos visuais e auditivos também, quando estamos a tentar chegar ao nosso receptor. Por falar em preconceitos, queria partilhar convosco um pequeno vídeo que trazemos aqui quase em todas as edições do "Falar Claro”.

[VÍDEO]

Uma pessoa fica com fama de parva, às vezes, só por causa de três segundos numa sucessão como esta e isto leva-nos para outra parte que é a recepção das mensagens-chave e dossound bites, aquela palavrinha proibida de que não podemos falar lá fora, pois as pessoas levam a mal, mas tem a ver com esta realidade nova acerca da Comunicação Social.

Em 1960, o tempo médio de citação na televisão era de 60 segundos, portanto, discursávamos durante uma hora e as televisões aproveitavam 60 segundos e, hoje em dia, é de sete segundos. Portanto, nós vemos uma reportagem do que se passa aqui na Universidade de Verão e muito provavelmente vão tirar apenas sete segundos da intervenção de um grande orador.

Ele pode ter falado sobre o Tempo, a Globalização, o Euro, isso tudo e apenas vão ficar sete segundos que são escolhidos pelo jornalista, ou editor, que está cá. Conclusão: não podem ser eles a escolher, temos de ser nós a escolher qual é a mensagem que queremos passar ao público, não queremos deixar essa decisão na mão dos jornalistas. E, portanto, trabalhamos para isso e como?

Primeiro aprendemos a construirsound bitesou mensagens. Vamos dar exemplos desound bites: "nunca erro e raramente tenho dúvidas”, isto é de quem? "Geração rasca”, "o país está de tanga” e esta última expressão foi utilizada pelo Dr. Durão Barroso para explicar que em vez de diminuir os impostos ia aumentar. A expressão pode não ser muito feliz, ou academicamente brilhante, mas deu uma vantagem enorme: o taxista percebeu imediatamente o que é que se estava a passar com o país. Não deixa dúvidas, não é? Em de falar de défice, de conjuntura, défice conjuntural, não, disse que o país está de tanga, que é uma linguagem que toda a gente entende.

"Beijar uma mulher que fuma é como lamber um cinzeiro” é da autoria do nosso queridíssimo companheiro Macário Correia e mais recentemente "porcaria na ventoinha” e ainda mais recentemente "que se lixem as eleições!”. O "que se lixem as eleições!” foi muito criticado, muita gente falou dosound bite, dizendo que era a vulgarização da linguagem, etc., etc., mas teve uma enorme vantagem que foi de explicar às pessoas que são os eleitores, que nós na prática nos estávamos a lixar para as eleições e que o que contava era o país e não a popularidade, nem as sondagens.

Trago-vos, a propósito dossound bitese das palavras para construi-los, um outro videozinho também, bastante divertido. Este é um vídeo antigo, mete o nosso Tony Blair e o actual Primeiro-Ministro David Cameron e gostava que vissem a associação de palavras que eles fazem.

[VIDEO]

Palavras que estão de facto na moda e estiveram muito na moda na política. Aliás, foi depois a palavra base do Obama e cá em Portugal também foi a palavra "mudar” que fez a campanha nas últimas legislativas. E perguntam vocês: como é que é possível – repararam que são apenas duas intervenções – que haja tantas palavras em comum? É simples. Fazemos umfocus group, sentamos pessoas numa mesa, puxamos por elas, perguntamos-lhes o que é que é as faz sentir bem, ou mal e vemos, escolhemos e avaliamos as palavras que podemos utilizar num discurso político, porque é que as palavras são quase as mesmas.

Por isso é que temos palavras boas para usar numa intervenção política e palavras que nunca podem ser utilizadas. Palavrascoole palavrasno no. Alguns exemplos de palavrascool: tecnologia, que é sempre aquela coisa engraçada;government, que é sempre melhor do que dizer governança;think tank, que é uma tertúlia, ou uma reflexão, mas que dito assim é muito mais chique, é coisa de MBA; tal comoaccountability, que é muito mais de responsabilização, quem usaaccountabilityjá não é de um MBA qualquer, mas um muito à séria, Católica, Nova.

Depois, estas palavrascoolque entraram na moda durante a campanha presidencial francesa: emprego e crescimento, como se nós repetíssemos a palavra emprego muitas vezes e fosse gerar emprego, não é? Não é assim, mas as pessoas acham que sim, tal como se repetíssemos que temos de crescer, crescer, crescer; como se o país crescesse sozinho, à conta das nossas palavras, mas isto é assim mesmo e "crescer” e "emprego” são hoje palavras obrigatórias em qualquer intervenção política.

Até podem utilizar isso para justificar o que quer que seja, desde que digam "emprego” e "crescimento”, aquilo é garantido. Palavras que nunca podemos utilizar em política: empreiteiro, é péssima profissão para quem está em política; também não dá para ter primos que sejam empreiteiros, não dá; negócio também não, não fazemos negócio, somos de uma tradição histórica judaico-cristã, ou seja, não temos negócios, porque isto significa que se está a enganar alguém, por isso não temos negócios, mas sim fazemos acordos no máximo dos máximos.

"Política” é péssimo, tudo o que é "política” é bandido, toda a gente sabe disso, que os políticos são bandidos e são todos iguais. "Assessores”, terrível; gajos que não fazem nada e que mamam à conta dos meus impostos, não dá. "Dinheiro”, tradição judaico-cristã, dinheiro é sujo, é pecado, todos nós gostamos de o ter no bolso, mas é no bolso. "Dinheiro” é feio, fala-se em fundos, receitas, verbas e nunca em dinheiro, pois é uma palavra proibida.

Mais recentemente, duas palavrinhas novas: Troika e austeridade; nunca falar delas em público, principalmente austeridade. Aspectos igualmente importantes nesta parte de comunicar são nos contactos com a Comunicação Social.

Fui jornalista, ou melhor, era um homem isento, rigoroso, já na linha de outros como José Saramago, Ruben de Carvalho, Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo Portas, tudo homens isentos que nunca utilizariam a Comunicação Social para propagandear as suas ideias, nunca, isso nunca aconteceria de maneira nenhuma.

[RISOS]

Depois, descobri que escrever num blogue era mais barato. [RISOS]

Em política, temos um hábito terrível que é dizer mal dos jornalistas, quando as coisas não nos saem bem a culpa é dos jornalistas que são todos uns vendidos e bandidos. Não. Os jornalistas não são todos vendidos e bandidos, há alguns como eu que até sou amigo, mas temos é fundamentalmente de perceber o trabalho dos jornalistas e tentar compreender quem é que está do outro lado.

Deixo-vos algumas dicas de como conhecer o vosso adversário neste jogo que é de tentar propagandear a palavra. O jornalista tem um trabalho para realizar, como nós, portanto ele faz uma peça ao fim daquele dia, tem uma história para contar e precisa de saber qual é a história. Portanto, quando nos pergunta alguma coisa ele quer saber qual é a história, não tem de compreender aquilo que nós fazemos, ou qual é a diferença entre um decreto-lei e um diploma legal, ou uma proposta de lei. Não tem de saber mais da matéria do que nós, nem nós temos de olhar para ele como se ele fosse estúpido por não saber isso; não é obrigatório da parte dele.

Se repararem, hoje em dia, os jornalistas fazem cada vez mais coisas e portanto sabem cada vez menos sobre os assuntos. Portanto, não nos pode escandalizar a falta de conhecimento prático que ele tem sobre a matéria. A mesma coisa para os nossos eleitores; também não têm de saber a fundo aquilo que fazemos. Nós temos é que saber explicar a fundo aquilo que fazemos. Depois, todas as histórias partem de um princípio, isto é, têm de ser contadas e para contarmos uma história temos dos maus e dos bons. Certo?

Portanto, o jornalista precisa necessariamente de um conflito, de um ponto e de um contraponto, de uma opinião e de uma contra-opinião. Precisa de alguém que esteja de acordo e de alguém que esteja em desacordo. Isso é normal, o que não é normal é termos só peças em desacordo, ou só de acordo. É normal termos os dois pontos de vista.

Finalmente e isto enquadra-se naquilo que estive a falar até agora, todos os jornalistas quando escrevem uma peça, ou quando fazem uma peça para a rádio, ou para a televisão, precisam de um título, isso é evidente.

Portanto, se não somos capazes de lhe dar um título ele vai inventar um. Normalmente, os títulos inventados pelos jornalistas são piores que os nossos, os nossos são mais amigáveis, portanto, sempre que vamos falar com um jornalista temos de pensar, aqui sim, emsound bites.

 
Dep.Carlos Coelho

Muitos de vocês, nas vossas responsabilidades, em associações, na JSD, ou outros, têm de lidar com jornalistas e se calhar convocá-los para as vossas sedes. Alguns cuidados a ter numa conferência de imprensa, que parecem ser coisas óbvias mas às vezes esquecemos delas. Por exemplo, a pergunta: "É necessário?”, pois a coisa mais ridícula que pode acontecer é chamar a Imprensa e não ter nada substancial para dizer. Enganam os jornalistas uma vez, a segunda vez que os chamarem eles já não vão.

Estimarem se em relação ao assunto os jornalistas vão, ou não aparecer; perguntar se fizeram uma conferência ou comunicado ontem, porque já fizeram alguma coisa recente, ou têm alguma coisa muito forte para ganhar espaço e atenção mediática novamente ou então não vão ter sucesso nenhum.

Escolher bem o dia e a hora e atenção aos que actuam sobre a imprensa regional, pois há a que tem um dia especial da semana, portanto se fizerem uma iniciativa que seja no dia a seguir ao que sai a maior parte dos jornais, esqueçam porque a notícia passado uma semana já está velha. Tentem fazer um ou dois dias antes de os jornais saírem. Façam uma convocatória cinco dias antes, telefonem na véspera a confirmar, vejam o tamanho da sala pois não há nada mais ridículo que um tamanho desproporcionado. Já estive numa conferência de Imprensa da JSD, em que eu tinha convocado cinco jornalistas e tinha sete cadeiras na sala, apareceram-me quase 20 tiveram de ficar em pé, é mau.

Mas se eu estimar que vou ter dez jornalistas e tiver uma sala deste tamanho é completamente ridículo; uma sala com 100 cadeiras com oito gatos-pingados na primeira fila dá uma imagem de completa desolação. Atenção à luz: dar conferências de Imprensa contra uma janela com um jardim lá fora, pode ser muito bonito, muito bucólico, mas as fotografias a contraluz não funcionam e as caras ficam todas enegrecidas. E atenção ao som que é muito importante. Não há nada pior do que ter efeitos defeedbackno som, mas já vamos regressar a isso.

Atenção à decoração; achamos que é uma preocupação mais feminina, não é masculina, mas a verdade é que o décor ajuda a criar ambiente. O António que nos leu o poema de Jorge de Sena na apresentação dá-nos esta imagem, este é o António de Matos a fazer uma comunicação aos jornalistas, pode ser numa sede partidária da JSD e isto é o António com este décor. A força da imagem, a solenidade, as mensagens, aquilo que se pode pôr aqui à frente, é completamente diferente.

Nas entrevistas, atenção, se tiverem algo a dizer, mesmo que a iniciativa não seja vossa, não são vocês a pedir, é o jornalista que vos pede uma entrevista e vocês não têm nada para dizer, digam-lhe que agora não dá jeito e que é melhor para o próximo mês. Porque não há nada mais ridículo que darmos uma entrevista e aquilo não dar nada. O Sol pediu-me uma entrevista, através do Pedro Esteves, há um mês e eu discuti com o Pedro a ver se tínhamos matéria e afinal tínhamos e acabámos por dar, mas atenção a isso.

Vejam se querem popularizar alguma coisa, alguma iniciativa vossa, se têm fotos ou documentos e se ajuda a dar material aos jornalistas. Atenção que na rádio a voz tem de ser firme, podem usar notas, mas não ler, porque se percebe que estão a ler e cuidado com as pausas. Aqui, estou a falar convosco e posso fazer uma pausa, porque temos umlinkvisual, não deixam de me ver, mas na rádio uma pausa é a morte da comunicação, o ouvinte fica na dúvida: "será que o meu rádio está a funcionar, será que lhe aconteceu alguma coisa?”.

Atenção ao som, como vos disse, à qualidade do som, pois uma das coisas boas que temos aqui na Universidade de Verão, graças ao Teixeira e ao Rodrigues, é um excelente sistema de som. Um mau sistema de som é assassino.

Gosto muito de contar uma história que vivi no Solar do Vinho do Porto, o Professor Cavaco Silva estava na primeira campanha presidencial, estava a apresentar-se e foi fazer uma coisa ao Solar do Vinho do Porto, no Porto, e houve um efeito de feedback, aliás como aconteceu ontem ao microfone lá atrás, aquele guincho horroroso que se estabelece quando há uma comunicação entre o microfone e a coluna.

O Professor Cavaco Silva afastou-se, é um homem inteligente, viu que aquilo estava a guinchar, afastou-se e mais de metade da sala não ouvia, então ele voltou a aproximar-se e aquilo guinchou de novo, isto aconteceu três vezes. À terceira ele desistiu e afastou-se e ninguém ouviu o Professor Cavaco Silva. Como aquilo não tinha declive nenhum alguns não viram o homem, não ouviram o homem e saíram com um sentimento de frustração. Uma acção de campanha foi completamente liquidada, não porque ele não soubesse o que dizer, não porque não havia mobilidade, pois estava a rebentar pelas costuras, mas porque o som falhou.

Portanto, atenção ao som numa iniciativa.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Estava para partilhar convosco, que neste último congresso do PSD, tínhamos a Dr.ª Berta Cabral e tudo preparado com as televisões, um décor lindo, fabuloso, uma afirmação do PSD com o terceiro ciclo de governação e o Carlos Costa Neves, Presidente do Congresso, abre os trabalhos num microfone e nada, experimenta outro e nada, levam-lhe um novo microfone e nada, com as televisões a entrar em directo.

E ele foi brilhante, pegou no microfone do púlpito, portátil, que já tinha estado a funcionar e falou durante 15 minutos ininterruptamente até que o problema dos microfones ficassem corrigidos para a Dr.ª Berta Cabral discursar em directo para as televisões. Era pior, porque ia estragar a campanha toda só por causa de um cabo que estava desligado lá atrás.

Deixem-me também voltar a uma questão que é na rádio ter muito cuidado com as pausas, mas também com a gestão dos silêncios.

Não sei se aqui já muita gente falou para a rádio, mas temos sempre a tendência para continuar a falar e a alongarmo-nos até que alguém nos mande calar, porque pensamos que o silêncio é perturbador na rádio.

Portanto, temos obrigação de continuar a falar e a falar. A responsabilidade da gestão do silêncio é, tal e qual como na televisão, da responsabilidade do jornalista. Quando nós acabamos a nossa mensagem-chave fazemos silêncio e o jornalista retoma. Se nós não somos capazes de fazer o ponto final através do silêncio a tendência é alongarmo-nos e quanto mais nos alongamos, mais propensão para o disparate temos, porque não temos mensagem para aquilo e depois é só "enrolar chouriços”.

Outra recomendação para televisão, devem usar roupa escura e evitar os padrões, pois fazem um feedback luminoso que estraga a imagem. Outra recomendação é inclinarmo-nos ligeiramente para a frente, em vez de estarmos para trás como se estivéssemos na praia. Se nos inclinarmos um bocadinho para a frente, seja num púlpito, sentados numa cadeira, ou em pé, resulta em proximidade e ajuda a passar a mensagem.

 
Dep.Carlos Coelho

E no caso do Rodrigo ajuda a disfarçar a barriga.

[RISOS]

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Mais do que isso é extremamente necessário.

[RISOS]

Nunca se deve olhar directamente para a câmara. Aquela coisa de "vamos falar directamente para as câmaras”, só muito poucas pessoas é que conseguem fazer sem entrarem em disparates, não há muita gente assim preparada.

Portanto, não é preciso andarmos a olhar para a câmara, nem andarmos a passear com os olhos, que é uma tendência normal das pessoas. Se alguém nos fez uma pergunta olhamos para essa pessoa. A câmara torna-se acessória, estejamos numa declaraçãoone-to-onecá fora, ou num estúdio de televisão. A câmara é um acessório, ocameramané que vai à nossa procura, não somos nós que temos de estar à procura da câmara.

Em relação aos cenários, agora está na moda ter cenário tipo futebol em que tudo mexe, não é? Não há nada de mais horrível. Mesmo na política isso acontece, cheio de logotipos na parede, tipo liga de futebol, com a Vitalis e a Coca-Cola em cima da mesa; não há nada pior que isso.

Porque estraga osbackdropsque servem para passar uma mensagem também e, portanto, nós pomos essa mensagem e esperamos que nada mexa. Depois, fazer uma coisa importantíssima que normalmente não se faz e faz toda a diferença, que é sorrir, não é rir, é sorrir e que faz mesmo toda a diferença, a não ser que estamos a transmitir a notícia de uma explosão de uma refinaria em que morreram 30 pessoas, aí não convém.

Em tudo o resto, faz-se um sorriso, mesmo quando estamos a responder a uma crítica faz-se um sorriso; é simpatia e as pessoas gostam de simpatia. Finalmente uma recomendação que é provavelmente a mais disparatada: não respondam a perguntas.

Nunca respondam a perguntas, pois normalmente só nos servem para nos entalar.

Nós temos, lá está, a tradição judaico-cristã de que sabemos tudo e portanto não sabemos para perguntar as coisas, portanto, quando perguntamos é para entalar alguém. Seja isto numa entrevista, ou num debate. Quando perguntamos alguma coisa é para entalar o perguntado. Espero que não me façam isso agora a seguir.

Mas as perguntas não são para ser respondidas. Cada pergunta traz um tema e nós falamos sobre esses temas.

 
Dep.Carlos Coelho

Não se esqueçam que não falam para o jornalista, falam para o público que está atrás do jornalista. Por isso, o vosso interlocutor real não é o que segura o microfone, não é para ele ou para ela, é para as pessoas que os vão ouvir. Sejam directos, claros e breves; quanto mais falam mais se enterram, portanto, quanto menos disserem melhor.

Mesmo que seja insultuosa e provocadores, a menos que ultrapasse todos os limites, não respondam com exasperação, mas com classe e elegância. E cuidado com as respostas evasivas, pois elas traduzem fragilidades. Quando uma pessoa começa a gaguejar ou a plissar não é a melhor imagem para a televisão.

Muito bem, já fizemos duas das nossas componentes da comunicação e agora vamos aos novos Média.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Trouxe um pequenoquizpara partilhar convosco. Em primeiro lugar, quantas pessoas é que estão aqui na sala? Quantas imaginam que aqui estão? Vamos fazer 115 e manter este número na cabeça.

Quantos é que se consideram cidadãos informados?

[RISOS]

Muito bem, muitos cidadãos informados. Quantos têm Facebook, blogue, ou Twitter? Então e cidadãos informados, quantos de vocês é que viram o telejornal ontem?

Então, vou-vos fazer outra pergunta: quantos é que ontem viram o Facebook? De onde é que vem essa informação toda, cidadãos informados? Não vêem o telejornal, mas viram o Facebook, donde é que vem essa informação?

Bom, deixem-me fazer-vos outra pergunta: quantos é que neste momento estão ligados a alguma rede? Quantas pessoas é que estão na sala na realidade? Já experimentaram contar com os vossos amigos? Já não estamos a falar de 115, nem 150, estamos a falar de muita gente que neste momento está na sala a partilhar.

Trago-vos um caso prático muito engraçado sobre o poder e a influência do Facebook. Aqui há dois, ou três meses, alguém começou a circular umpostno Facebook a dizer que os assessores do Governo iam receber os subsídios. Entretanto, este senhor que é o Carlos Zorrinho decidiu escrever um artigo sobre um jornal em que também saiu opostdo Facebook. Ele dizia: "o ruidoso silêncio do Governo”, pelo meio lêem-se os comentários do costume, filhos e enteados, vergonhoso, bandidos, malandros, este aqui é o meu nome também, não interessa [RISOS], e o José Junqueiro também ajudou à festa e de repente havia milhares e milhares no Facebook com a história de que os assessores do Governo iam receber subsídios de Natal e subsídios de férias, estou a falar de 2012, certo?

Portanto, "bandidos, bandidos”, "vergonha, vergonha” e "eles são todos uns bandidos” e entretanto da parte do Facebook saltou para os jornais, não é? Lá vinham notícias a dizer que os assessores do Governo vão poder receber o subsídio de Natal.

Queria mostrar-vos um pequeno vídeo que demonstra muito bem o poder ou a falta de poder que temos com o Facebook.

[VÍDEO]

Este é o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros a explicar que o Ministério das Finanças já tinha dito que o regime era igual para todos os funcionários públicos, teve que repetir outras vezes e ainda vai ter de repetir, porque a mensagem continua a passar no Facebook, nos blogues, e faz um ciclo absolutamente vicioso. Ou seja, temos o nascimento disto nos blogues, facebooks e vai para a Imprensa depois passa para desmentidos e origina notícias e depois volta para os blogues e facebooks.

E enquanto o tema tiver interesse isto vai circulando ininterruptamente. Isto é uma novidade, pois há oito anos se perguntássemos na Universidade de Verão quem é que lê blogues, facebooks, quem é que tinha uma coisa dessas, não é? Hoje em dia a pergunta já tem de ser feita ao contrário: quem é que não tem, quem é que não lê? De onde é que vem a informação? Já não vem só dos meios tradicionais, mas temos de contar com este novos meios de informação e às vezes de deformação.

 
Dep.Carlos Coelho

Muito bem. Chegámos à última parte da nossa apresentação que são 15 conselhos para falar em público.

O primeiro conselho é não ter medo do medo. Não vale a pena ter medo do medo e não só não vale a pena, como é normal ter medo antes de falar. O Rodrigo e eu quando, ontem às três da manhã, estávamos a alterar esta apresentação, estávamos a pensar como é que vocês iam reagir. Quero dizer, antes de entrarmos neste palco estávamos com alguma ansiedade sobre se vocês iam gosta ou não.

Ter medo de falar em público é normal e pode ser útil, porque o pior que pode acontecer a um comunicador é o excesso de convencimento. A auto-confiança em excesso é fatal, há erros crassos que se fazem por causa disso, portanto ter algum medo e combater essa vaidade pode ser muito positivo.

Gosto muito de contar sempre a história da Sarah Bernhart, uma actriz francesa que uma vez ao entrar no palco nos Estados Unidos virou-se para uma jovem corista e perguntou-lhe: "Então, a menina está nervosa?” E a jovem corista, enchendo o peito e com toda a força disse: "Eu nunca fico nervosa antes de entrar no palco.” Ao que a grande Sarah respondeu: "Há-de ficar um dia, a minha menina, há-de ficar quando tiver algum talento.” E isto é o que eu digo hoje a qualquer um.

A propósito do medo, há uma pergunta que se faz sempre: o que fazer com as mãos? E o nosso especialista em mãos é o Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Um dos problemas do medo e do nervosismo que são reacções químicas, como aliás outras no corpo humano, e assim que a adrenalina nos sobe, coloca-se a questão sobre o que é fazemos com isto. Parece que não andamos com elas no dia-a-dia e que elas aparecem de repente aqui e a primeira tentação é enfiá-las no bolso, que é sempre uma coisa boa, dá elegância, estatuto e autoridade.

A melhor maneira de tentarmos combater estes vícios, ou problemas, mais manuais é arranjarmos um vício, ou um tique, ou um escape para o nervosismo. Se repararem, alguns apresentadores de televisão estão com a caneta na mão enquanto falam, ajuda, parece que o nervosismo sai pela caneta; outros estão a brincar com o relógio, nomeadamente o Dr. Marcelo Rebelo de Sousa.

Devem ter visto aqui, no outro dia, claramente ele não pára de mexer no relógio, é um tique, um escape para o nervosismo, põe-no ali no relógio. Eu, quando falo atrás de uma mesa, estou sempre a abanar o pé, ou então quando falo em pé estou sempre a mexer-me de um pé, ou ando de um lado para o outro para esquecer que as mãos existem, o que não é mau e às vezes resulta.

Outros políticos são menos talentosos e esses não sabem mesmo o que fazer com as mãos. [RISOS, APLAUSOS]

Não tem muito a ver com mãos, mas tem a ver com outra recomendação: nunca vão para a assembleia da república depois de um almoço bem regado.

[RISOS]

 
Dep.Carlos Coelho

O conselho seguinte é não atrair os abutres, ser firme; o que é que isso significa? Significa que tal como as moscas são atraídas pelo sangue, numa assembleia quem ataca é atraído pela fraqueza. Quem quer atacar pela assembleia é ver quem é a peça mais fraca. É uma reacção natural, é assim na natureza; o leão quando vê um conjunto de veados ataca quem lhe parece mais fraco.

Os predadores tentam sempre atacar aquele que da manada parece mais vulnerável. Pois bem, a reacção a isso, o conselho que vos damos é aparentar mais firmeza que aquela que sentem. Isso é fundamental e uma coisa muito importante é olhar para as pessoas numa assembleia. Eu estou a olhar para vocês, mas há pessoas que não conseguem e dizem que não conseguem fazê-lo, que tremem logo, têm muita ansiedade, atrapalham-se.

Há um truque para isso, que é olhar para a última fila, ver quem é o mais alto. Neste momento, aqui, é o Edgar; estou a olhar para um ponto imaginário que está um palmo acima da cabeça do Edgar. Estou a olhar para a assembleia desta forma, não estou a olhar para cara nenhuma, mas a imagem que vos transmito não é que estou a olhar para vocês assim, com os olhos no papel sem correr o risco de olhar para a assembleia.

O ideal é olhar e interagir com a assembleia, mas se não conseguirem olhem para um palmo acima da cabeça da pessoa mais alta da última fila.

A terceira recomendação é que não comecem a falar sem definirem o objecto e o intuito. Ou seja, não basta definir o que querem dizer, mas têm de definir qual é o efeito que querem com a vossa intervenção. É totalmente diferente ser racional, exprimir argumentos, ou despertar emoções, é completamente diferente falar na Academia das Ciências ou num comício partidário.

Portanto, não têm de definir a substância da vossa intervenção, mas definir o objectivo da vossa intervenção.

Mesmo nos pedidos de esclarecimento – já foi dito há pouco pelo Rodrigo –, eu posso querer fazer um pedido de esclarecimento porque quero esclarecer, porque não percebi o que o adversário disse, porque acho que a ideia não ficou clara, ou posso pedir um esclarecimento para irritar o adversário. O pedido de esclarecimento é uma arma que vale mais que a sua substância.

E uma ideia muito importante: a resposta ao esclarecimento. Não há ninguém, ou nada, mais limitado do que a resposta ao esclarecimento, porquê? Porque o Rodrigo fez-me uma pergunta e eu tenho de responder. Portanto, quando faço um esclarecimento estou condicionado pela figura regimental. Fizeram-me uma pergunta, eu tenho de responder. Até esta figura que é mais limitada, a mais bitolada é uma figura muito plástica.

Gravámos isto há dois anos, ainda Sócrates era Primeiro-Ministro, na sequência de um exemplo concreto: o Professor Cavaco Silva, Presidente da República, tinha feito um apelo geral, mas percebia-se que era para o PSD, para se abster na votação do orçamento de Sócrates.

Imaginámos o que seria um debate parlamentar em que o Primeiro-Ministro Sócrates estava a importunar um representante do PSD a propósito desse apelo do Presidente da República. Vamos ver os três exemplos.

[VÍDEO]

Isto é uma resposta simples, houve uma pergunta dá-se uma resposta. Isto é o pedido de esclarecimento a resposta típica, mas posso usar o pedido de esclarecimento para usar uma resposta diferente, isto é, para mudar o assunto da conversa e pôr outros assuntos na mesa.

[VÍDEO]

É dizer que há outros assuntos para tratar. Mas também se pode usar a resposta para o contra-ataque. Posso esquecer completamente a pergunta e fazer um contra-ataque.

[VÍDEO]

Usar a resposta para o esclarecimento para uma coisa que não tem a ver, mas como um instrumento para contra-ataque político.

Não se esqueçam nunca, antes de falarem, de definirem as ideias-chaves, organizarem os argumentos e tenham a clara consciência do que pretendem fazer: expressar ideias, despertar emoções, importunar o adversário – é muito importante que isto seja claro antes de começarem a falar.

A quarta recomendação é não ignorar a audiência. Já falámos sobre isto. A interacção com a audiência é muito importante. Resumindo numa ideia: mente, é ingénuo, quem diz que o Carlos Coelho ou o Rodrigo foram falar para os participantes da Universidade de Verão, mentira. Viemos falar com os participantes da Universidade de Verão. Discursar numa assembleia não é falar para, é falar com.

Isso faz toda a diferença em termos de envolvimento.

Quinta ideia: não esquecer que os outros vêem. Ou seja, o discurso não se ouve só, vê-se. Por isso, tenham atenção às mãos, como o Rodrigo já disse. Há que representar o discurso. Tiveram aqui de manhã um exemplo claro disso: o Engenheiro Carlos Pimenta, vê-se quando o temos pela frente que ele não está a discursar, ele está a viver o que está a dizer, está a ser autêntico, a ser sincero e está a viver apaixonadamente aquilo que são as causas dele.

Isso faz toda a diferença na comunicação. O discurso não é só para ouvir é para ver. Aliás como o Rodrigo recordou acerca da memória auditiva e da memória visual e, portanto, há que representar o discurso; expressar argumentos, mas também emprestar emoção. Dizemos que se fala com o corpo, mas cuidado para não apalhaçar.

Cuidado com os tiques. Já falámos do Professor Marcelo Rebelo de Sousa e eu tenho aqui um vídeo dele com um tique. O Professor Marcelo Rebelo de Sousa era Presidente do PSD e deu uma entrevista à Margarida Marante na televisão e reparem, ele tem uma caneta na mão e achou que era engraçado passar a caneta de uma mão para a outra para provar que conseguia escrever com as duas mãos.

E durante toda a entrevista ele usou isto e já ninguém ouviu o que ele estava a dizer, estava toda a concentração nas brincadeiras do "passa para a mão esquerda, passa para a mão direita”. As pessoas todas curiosas em saber o que ele estava a desenhar no papel. Ele desfocou a atenção com algo perfeitamente acessório com a brincadeiras das mãos. Portanto, há tiques que podem prejudicar a informação.

Agora pedia-vos para distribuírem um documento sobre a importância da imagem. A imagem hoje em dia é muito importante e tem de ser coerente. Eu posso dizer que estou a trabalhar na Universidade de Verão e se tiver os facebooks abertos, pode passar a ideia de que não estou a trabalhar na Universidade de Verão. Já falámos disto de maneira discreta: a imagem pode corroborar ou destruir imagens.

Vocês não sabem, mas o Rodrigo Moita de Deus, antes de vir aqui para a Universidade de Verão esteve em Calgary no Canadá a visitar o parque natural e foi violentamente atacado por um urso polar. Graças a deus está bem e já saiu do hospital. Vocês têm um comunicado do JUV da Universidade de Verão a solidarizar e talvez seja bom que o Rodrigo conheça também o comunicado. Podem dar exemplares ao Rodrigo e ao Duarte Marques que também não tem e às restantes pessoas que ainda não têm.

Vêem esse comunicado. Ouviram dizer que o Rodrigo foi atacado, mas que já está bem, está aqui na Universidade de Verão e estamos muito contentes com isso e aqui está a imagem do ataque vil que foi sofrido pelo Rodrigo Moita de Deus.

A imagem destrói a mensagem. Aquilo que aparecia com algum grau de seriedade nopress releasedo JUV transmite uma ideia um tanto ou quanto exagerada. Não se esqueçam que um gesto, uma imagem, vale mil palavras e há gestos tradicionais portugueses que traduzem isso muito bem.

Sexto conselho: o Rodrigo já fez uma referência a isso, tenham atenção à vossa imagem. As pessoas só votam em quem confiam.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

O urso está bem, obrigado. O outro. [RISOS]

Nós falámos logo no início sobre os preconceitos e do "sinto, logo existo” do professor Damásio. Não sei se conseguem identificar quem está aqui nesta fotografia de 1986.

É o Lula da Silva quando era candidato à presidência brasileira, foi uma das três vezes em que ele foi candidato e perdeu essas eleições. Percebe-se porquê não é? Aquela barba, aquela camisa, aquilo nem para uma Junta de Freguesia dava quanto mais para uma presidência. Aquela barba e aquela camisa faziam-nos mais depressa mudar de passeio do que propriamente pôr um voto na urna. As pessoas realmente só votam em quem confiam.

Depois daquela alteração magnífica, extraordinária que o Lula da Silva fez, até parece aqueles programas americanos que fazem reconstrução da imagem e de repente aparece ele de gravata monocolor, de fatinho mais decente, de barba aparada, uma coisa mais à séria e ganhou as eleições, não é? E hoje em dia é o fenómeno que nós conhecemos. A diferença entre os dois Lulas é que o antigo mais do que gerar preconceitos tinha um problema de confiança e de credibilidade – essa palavra maldita da política – e este Lula novo não, aquilo é muito americanizado, o discurso é exactamente o mesmo, mas tudo ali do ponto de vista da imagem mudou e com óptimos resultados.

 
Dep.Carlos Coelho

Muito bem. O sétimo conselho é não falarem sem sentirem o que dizem, falem do que sentem, da vossa experiência, do que sabem. As pessoas sentem quando se fala com convicção e autenticidade, recordamos o exemplo do Carlos Pimenta.

A autenticidade do discurso é essencial à sua eficácia. Pedia para distribuírem agora o segundo documento que é uma brincadeira que conhecem, é uma tabela com quatro colunas, dez frases em cada coluna com que podem jogar, pegando uma frase de cada coluna. Existem perto de dez mil variações possíveis jogando com as quatro colunas e as dez linhas. Usei da primeira a décima, da segunda a sexta, da terceira a nona e da quarta a oitava e dá-me a seguinte frase:"o incentivo ao avanço tecnológico, assim como o desenvolvimento de fórmulas de actuação, oferece uma oportunidade de verificação das condições apropriadas para os negócios”.

Isto é uma frase com ar tecnocrático, soa muito bem, não diz rigorosamente nada e vocês podem jogando com essas frases podem construir dez mil frases parecidas que podem soar muito bem, mas que são sem sentido. Se dedicarem-se a este exercício podem encontrar dez mil formas de dizerem nada, dez mil vezes não convencerem ninguém e, dez mil vezes a soarem a falso.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Isto espera-se do Secretariado Nacional do PS.

[RISOS]

 
Dep.Carlos Coelho

Infelizmente, grande parte da comunicação política tem a ver com este absurdo e inconsequente "tecnocratês”.

Oitava recomendação: ganhem a simpatia do público, sobretudo no primeiro discurso. Às vezes, temos em Portugal a tentação de tentar falar caro para mostrar que somos bons. O problema é que entre parecer convencido, ou parecer modesto e simpático, ganha-se mais parecendo modesto e simpático.

Este é um exemplo que gravámos com o Rodrigo há cerca de dez anos.

Bem, ele até se enganou no meio, não disse nada de essencial, mas passou a mensagem de bom rapaz. Na intervenção inicial se tiverem de escolher entre assustar os adversários, ou ganhar simpatia, é melhor ganhar simpatia, sobretudo sendo jovem. Sejam modestos sem serem humildes e simplórios.

Nono conselho: não sejam chatos como eu e o Rodrigo, que estamos aqui há uma hora. Não falem mais de 20 minutos. Não se esqueçam daquilo que vos disse, quanto mais falam mais se enterram. Nenhuma intervenção deve ter mais de 20 minutos. Não devem falar demais. Atenção que quando falam sem papel o tempo parece muito curto e tudo é maior. Não falem depressa demais. Uma situação ridícula que tive com um colega nosso, na Assembleia da República, é conhecido mas não vou dizer agora o nome, foi o Presidente da Assembleia dizer-lhe que ele tinha só dois minutos e ele em vez de encurtar o discurso decidiu acelerar a leitura.

Não se percebia nada do que ele estava a dizer. A precipitação a falar é tornar um discurso completamente inconsequente. Recusem o discurso redondo. Em Portugal há muito a mania de mostrar que se é erudito, que se fala com elegância, ora há aqui um problema de princípio: ganhar o concurso de comunicação não é um concurso de elegância, mas sim de eficácia.

Portanto, não interessa parecer elegante, interessa é ser eficaz. Vamos ver o que é um discurso redondo, que escrito estaria bem, mas falado é uma tragédia.

[VÍDEO]

O que é que ele disse? O que é que ele quer dizer? Alguém percebeu qual era a mensagem? Bem, a mensagem seria muito mais eficaz, se o antigo deputado da JSD, o Gonçalo Capitão, tivesse dito isto.

[VÍDEO]

Era isso que ele queria dizer e era melhor ter dito de uma forma simples e não rebuscada como fez e que foi completamente inútil sob o ponto de vista da eficácia da comunicação.

Décimo conselho: nunca decorar um discurso escrito. Aconteceu com Winston Churchill e muitos outros oradores famosos, decoraram um discurso, treinaram em casa e funcionava, mas o problema é que no meio se falha a recordação, falha tudo, acabou; o bloqueio psicológico é terrível. Se querem falar sem papel levem notas, esquecem-se de uma nota, passam para a seguinte.

Decorar um discurso escrito é péssimo e se pedirem a alguém que escreva um discurso, leiam-no antes vocês e adaptam-no ao vosso estilo, ponham-no nas vossas palavras e trabalhem o texto, não sejam preguiçosos. Quem vai ler um texto escrito pelos outros, sem que ele seja trabalhado ou adaptado pode fazer figuras tristes.

Isto é um Primeiro-Ministro português na tomada de posse do seu Governo.

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Bem, isto é penoso, muito penoso. O Dr. Santana Lopes é dos melhores oradores que temos. Se isto acontece a um grande orador, acontece a qualquer um de nós, portanto, muita atenção aos discursos escritos por outros.

11º conselho: nunca descurem as defesas. É muito fácil o ataque. Uma pessoa fez uma intervenção da qual nada se aproveita. Se vocês fazem uma intervenção de fundo metam princípios que tornam difícil aos outros dizerem que não concordarem com nada, princípios que todos podem subscrever, que sejam coisas relativamente pacificas, por exemplo, dizer: não há solidariedade sem reduzir as gritantes diferenças entre os cidadãos. Não se pode atacar isto. Dizer que não há progresso justo em Portugal sem que ele se faça sentir em todas as regiões do país se estiverem a falar sobre o desenvolvimento. É difícil não concordar com isto.

Dizer, por exemplo, que há que reduzir as assimetrias entre o Litoral e o Interior, a cidade e o campo, o Norte e o Sul do país. Há princípios que são universais e se forem fazer um discurso de fundo não descurem as defesas, ou não esqueçam ascool wordsde que o Rodrigo falava há bocado: formação, qualidade de vida, participação dos cidadãos, Ambiente, transparência na administração, etc. – conceitos que são fáceis de subscrever.

12ª recomendação: responder que não se sabe. É melhor que não se sabe do que simular conhecimento. A coisa mais ridícula é fingir que sabe e depois ser desmascarada. Estou na televisão a entrar numa cerimónia e há um jornalista que me põe o microfone à frente e diz:"Senhor Deputado Carlos Coelho, o que é que acha sobre a Física Quântica?”E eu incho o peito e digo: acho que a Física Quântica é fundamental para o desenvolvimento da nossa sociedade. Ele diz:"Muito bem e o que é que acha da relação entre a Física Quântica e a Química Inorgânica?”.E eu aí já estou tramado.

Já não sei dizer nada, fiz o disparate de fingir conhecimento e saí completamente humilhado. Nessas alturas, o melhor é assumir que não se sabe de uma forma elegante. Dizer: nunca tinha visto o problema sob esse ângulo; parece-me interessante, ou inaplicável, ou perigoso, mas gostaria de pensar melhor antes de me pronunciar. Imaginem um debate na rádio com um adversário, é uma forma de considerar o adversário.

Ou dizer argumentos novos que merecem reflexão: se agisse de imediato não lhe faria justiça, prefiro valorizar os seus argumentos, pesar com outras opiniões e voltar ao assunto numa outra oportunidade. Mas há também outras formas de reagir, Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Nós sistematizámos mais ou menos estas técnicas com esta expressão do bloqueio/ponte. Na prática primeiro bloquear a pergunta do adversário, ou seja, voltando ao princípio todas as perguntas trazem água-no-bico ou alguma maldade e, portanto, aquilo que devemos fazer é evitar a pergunta.

Ao senhor Ministro das Finanças perguntam qual vai ser a derrapagem do défice este ano e a primeira coisa que se faz é bloquear a pergunta dizendo: "Ainda bem que me faz essa pergunta, porque o que é importante frisar é que o corte da despesa foi superior ao que tínhamos estimado no início do ano.” O jornalista, ou adversário político vai voltar a perguntar a mesma questão e eu procedo exactamente da mesma maneira: bloqueio a pergunta com elegância e simpatia.

Bloqueia-se a pergunta, traz-se de novo a bola para o nosso campo e depois passa-se a mensagem que se quer.

 
Dep.Carlos Coelho

A 13ª recomendação é atacar com firmeza, protegendo a rectaguarda. O que é que isto significa? Que não devem afirmar aquilo que não sabem ou de que não têm provas. E aqui há uma coisa da comunicação que o Rodrigo particularmente não gosta, que é o "parece-nos que”. Pode funcionar como um instrumento de defesa. Deixem-me dar-vos um exemplo concreto.

Imaginem que estamos numa Câmara Municipal em que há um escândalo com o Presidente e fala-se na terra que há um problema de dinheiros, toda a gente fala nisso, mas não há provas. Tenho de dizer alguma coisa na Assembleia Municipal sobre o assunto. Eu posso dizer algo deste género:"A confirmarem-se os rumores que correm, temos de apurar responsabilidades e retirar consequências jurídicas e políticas.”E reparem na força do português, na força da adjectivação: se em vez de consequências jurídicas e políticas eu disser consequências políticas e criminais tem mais som, tem mais picante, tem mais ferrete, é mais directo.

Posso dizer com ar de Estado que estamos preocupados com as informações que circulam e a confirmarem-se são prova da mais grave irresponsabilidade e do aproveitamento ilícito de recursos públicos. Ou posso dizer ainda:"Boatos com esta gravidade têm de ser desmentido, sob pena de minarem a credibilidade de autarcas que até prova em contrário devem merecer a nossa consideração.”

Isto é de uma "filha-da-mãezice” total, mas é uma forma de atacar com firmeza, protegendo a rectaguarda. Ninguém vos pode acusar de estarem a cometer difamação. Penúltimo conselho: nunca ataquem com maldade e doseiem a vossa agressividade. Devem evitar ataques pessoais, estes são proibidos na comunicação, mas podem insinuar com fundamento e com clareza, aliás como acabei de dar exemplos, e representar a indignação, deixando-os envergonhados.

Temos vários exemplos que podem tirar da Intranet, mas deixem-me mostrar aqui apenas o do PCP, pois estamos muito atrasados; trata-se do Gonçalo Capitão a fazer um contra-ataque ao PCP, dizendo o pior que se pode dizer a um comunista que é dizer que eles são exactamente iguais aos fascistas.

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Bem, viram como ele faz um ataque ao PCP? Mesmo quando são vocês a atacar, podem atacar, como nós dizemos, sendo um "filho-da-mãe educadinho”. Deixem-me dar um exemplo.

[VÍDEO]

Finalmente, o último conselho: nunca admitam serem inferiorizados por razões de idade, sexo, cor, ou qualquer outra discriminação. A discriminação é intolerável numa sociedade democrática. Se isso acontecer, vocês devem reagir com a defesa da honra.

Este é um exemplo em que o Gonçalo Capitão simula a defesa da honra num ataque que lhe fizeram sobre ele ser jovem, ou inexperiente, e ele defende-se em nome da legitimidade de estar nessa assembleia.

[VÍDEO]

Numa Universidade de Verão já me fizeram a questão sobre se tivermos um caso de discriminação total. Vamos supor que num país que é um bocadinho machista e que pode discriminar os jovens e nalguns casos ter afloramentos racistas, o que acontece se tivermos uma rapariga negra, jovem, a falar numa assembleia e a ser discriminada por causa disso? O ideal seria que ela respondesse desta forma para o machista, velho, branco, que teria feito essa agressão:"vejo-o nervoso, agressivo e agitado”(a pior coisa que se pode dizer a um homem),"não sei o que o perturba mais”(é assustador, um homem não se perturba, isto ataca logo a virilidade dele),"se o facto de ser jovem, de ser mulher, ou de ser preta. Qualquer dos receios(o gajo é maricas [RISOS])só por si já o deveria embaraçar. Concentre-se naquilo que eu aqui afirmei e na razão que me assiste, tudo mais é preconceito do qual o senhor se deveria envergonhar.”

Se uma pessoa nestas condições consegue reagir desta forma serena seria de 20 valores. Não se esqueçam que o sangue frio valoriza a reacção e impede o disparate.

Muito obrigado pela vossa atenção.

[APLAUSOS]

 
Duarte Marques

Muito obrigado aos oradores, vieram de longe para esta sessão.

Vou dar a palavra à Ana Lúcia Francisco do grupo Roxo. Pedia que se poupassem nos agradecimentos, o Rodrigo não leva a mal, porque há muitas perguntas no "Catch the Eye” e há muita gente que quer, por isso não sobreponham perguntas, não as repitam, para aquelas que já foram feitas arranjem outras e força.

Obrigado.

 
Ana Lúcia Francisco

Muito boa tarde a todos. Dr. Rodrigo se me permite e sendo eu uma pessoa do concelho do Interior do país, gostava de "puxar a brasa à minha sardinha”, no que concerne ao afastamento dos jovens em relação à política.

Sabemos à partida que todos os partidos políticos utilizam uma linguagem muito formal que não permite um jovem comum interessar-se por captar a mensagem. Como é que eu, enquanto membro do partido no meu concelho, poderei chegar a nossa mensagem aos meus jovens de forma a cativá-los e a serem mais interessados na política?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Obrigado, Ana Lúcia, pela pergunta: como é que se chega aos jovens? Diria algo redundante: não mudar nada, não se tem de mudar a maneira de falar. É um vício da política; a partir do momento em que temos o microfone à frente pensamos que temos de utilizar vocabulário mais caro, falar menos claro, ser mais redondos, ser mais defensivos, mas não.

Tem, por exemplo, o caso do Mayor de Londres que explicou que uma das vantagens de ter lá os Jogos Olímpicos era ter lá as brasileiras em biquíni. [RISOS] Faz sentido.

Se fizer esse esforço de não mudar a linguagem já é um passo em frente para tentar chegar aos jovens, aproximar-se deles e aumentar a participação deles na política. Aliás, deixe-me só dar-lhe uma nota: há nesta sala alguém que não muda a sua linguagem e que nem por isso tem-se de afastar da vida política, que sou eu. Até estou lá na CPN, aquilo é divertidíssimo e acredite que continuo a falar da mesma maneira.

 
Duarte Marques
Muito bem. A seguir, temos o Luís Teixeira do grupo Rosa.
 
Luis Teixeira

Boa tarde a todos. Desde já, peço desculpa, mas desde ontem durante o jantar-conferência com o Dr. Miguel Morgado ficámos com uma ideia que acho que se pode interligar aqui hoje com a exposição sobre a comunicação.

O professor Miguel Morgado – e reparem que eu disse professor e não assessor; estava atento à aula – fez uma referência à necessidade de reformular conceitos e aproveitar janelas de oportunidades para, de certo modo, inovar ou renovar com o objectivo primordial de simplificar os processos de comunicar.

Pegando nesta ideia e sem a pôr de algum modo em causa, até porque acredito nela, e na excelente exposição que foi feita aqui, ousava a perguntar: até que ponto numa sociedade do século XXI em que somos mais criativos, o modelo de comunicação linear que nós temos, em que existe um emissor, receptor e uma mensagem e em que o canal de transmissão deveria funcionar como um merocontainerda própria mensagem, não está posto em causa e não se deixa de facto manipular com a forma de jogar do receptor?

Será que a forma do conteúdo não passa a rivalizar com a informação em si e muitas vezes não se sobrepõe?

Obrigado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Se a forma às vezes não se sobrepõe ao conteúdo, quero dizer que tivemos um belo exemplo disso no caso do Primeiro-Ministro José Sócrates em que a forma era tudo. Ficavam a olhar para a televisão em que havia a tenda, os leds e diziam: "ah, pronto, está tudo a correr bem”. Isso é um problema do eleito, ou do eleitor?

Porque não é de certeza um problema de comunicação, é mais de finanças públicas. Não é o caso de dizer no fim do dia que os "marketeiros” são todos uns aldrabões e estão todos a tentar enganar as pessoas, não. Há aqui uma formação que é quase tão importante como a que fazemos aos eleitos, que é a formação dos eleitores.

As pessoas têm de facto de participar mais, estarem mais atentas, ler os jornais, estarem informados sobre a forma como o país é governado e aquilo que acontece. Não sei se podemos responsabilizar isso pelo formato da comunicação. Não, é muito mais noutro caminho que temos de fazer que é da formação do próprio leitor.

 
Dep.Carlos Coelho

Concordo com o que o Rodrigo disse, não tem muito a ver com o formato, mas tem muito mais a ver com a forma como nós estabelecemos a comunicação. Gosto muito de ver isto na lógica de um plano. Imaginem um plano com quatro quadrados, com uma recta das ordenadas e uma recta das abcissas. Vocês têm um quadrante que é de sucesso na comunicação, quando a substância e a forma são positivas, mas têm o quadrante oposto que é de insucesso total que é quando a substância e a comunicação são completamente um falhanço, não vale a pena sequer vermos esse quadrante.

O problema é que muitas vezes a comunicação oscila entre os dois outros quadrantes, que é quando há substância, mas a forma é má, ou quando a forma é muito boa, mas a substância é fraca, como o exemplo do José Sócrates. E muitas vezes coloca-se a pergunta sob o ponto de vista do agente político: o que é que ele deve usar mais, é a substância ou é a forma? Digo-vos com toda a sinceridade: tem de ser as duas, porque se só usarmos a forma, mais tarde ou mais cedo a verdade, que é como o azeite, vem sempre ao de cima.

Se ligarmos só à forma, vemos a nossa credibilidade afectada. Ninguém leva a sério José Sócrates, não interessa se ele é do nosso partido ou não, não estou aqui a tentar fazer um ataque partidário simples, mas realmente ninguém leva a sério, porque ele já não tem credibilidade.

Amanhã podemos até perder as eleições, mas quando um político perde a credibilidade perde tudo. Portanto, a comunicação tem de ter forma e substância, pois se ficar amputada de uma das duas fica a perder ou eficácia ou credibilidade e é fatal.

 
Duarte Marques
Muito obrigado. Eduarda Rocha do grupo Verde.
 
Eduarda Rocha

Antes de mais, cabe-me a mim cumprimentar os excelentes oradores desta tarde.

Muitas vezes, 70% ou 80% das fontes dos rendimentos dos jornais é proveniente do patrocínio do município, por exemplo nas páginas de publicidade, tornando os jornais neste caso com uma duvidosa independência.

Como podemos ter uma estratégia de comunicação eficaz no meio rural onde isto acontece e em que a maior parte das pessoas não conhece sequer as redes sociais? Qual é a melhor forma de comunicar com os cidadãos por forma a combater a pouca participação dos mesmos na causa pública e sobretudo em casos como este?

Obrigada.

 
Dep.Carlos Coelho

O Rodrigo complementará, mas acontece muito em meios pequenos em que comunicação regional está dependente dos patrocinadores e anunciantes e aqui o poder local é muito importante, e há de facto menor independência.

A Comunicação Social está de facto limitada por quem lhe paga e em momentos de crise o que é matéria de dependência financeira fica acentuada. Pois bem, a resposta é imaginação. Até um jornalista comprado tem dificuldade de não dar notícia se vocês forem criativos, se conseguirem fazer notícia, se conseguirem surpreender, eles têm de ir atrás, porque a pior coisa para um jornalista local é toda a terra falar numa vossa iniciativa que foi totalmente alienada nos meios de comunicação. Eles têm de reproduzir aquilo que é notícia na terra, portanto a solução passa por imaginação, criatividade e iniciativa.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Confesso que terei alguma dificuldade em responder, porque esta é a parte que não deveria partilhar convosco: não sou um defensor da isenção na Comunicação Social. Há outros países que vivem perfeitamente com o modelo em que os jornalistas e jornais são perfeitamente assumidos, não tem mal nenhum em dizer que não se gosta do PSD e portanto o jornal dele também é contra o PSD.

Vêem isto na Inglaterra, Estados Unidos, Inglaterra, Espanha; acontece por todo o lado um bocadinho, só cá é que temos a mania de que os jornalistas têm de deixar de pensar quando entram na redacção. Eles não deixam de pensar quando entram na redacção.

É generosa a sua afirmação da duvidosa isenção, mas depois façam um exercício: pensem na comunicação regional financiada pelas câmaras municipais, depois vão mais acima, na Imprensa nacional, têm empresas, algumas em que o Estado tem participações e portanto vocês tinham no último Governo do PS que em matéria de comunicação era mais afirmativo, a Comunicação Social toda a ser financiada toda directa ou indirectamente pelo Estado. E isso acontece a todos os níveis e a resposta está naquilo que o Carlos Coelho disse: a imaginação.

Se os jornais todos estão ocupados pelo inimigo, faça você mesma um jornal. É uma coisa extraordinária, sabia que podia? Pode não ficar bonito da primeira ou segunda vez, mas pode fazer. Nem precisa de registar no instituto, pode fazer um jornal, um blogue, uma página de Facebook. Diz-me que a intervenção é mais reduzida por causa do acesso às infra-estruturas tecnológicas, então faça mesmo um jornal de papel.

Ninguém a impede, porque é que não pode fazer? Claro que pode, pode e deve.

 
Duarte Marques
Muito obrigado, Rodrigo. Sara Crespo do grupo Amarelo.
 
Sara Crespo

Boa tarde aos presentes. A nossa pergunta, do grupo Amarelo, prende-se muito com a adaptação dos oradores às inovações tecnológicas, visto que antigamente tinham o capturar dos olhares perante os oradores que cativavam a audiência com as suas expressões faciais e que agora são muito mais esporádicas.

Como podemos ver pela nossa plateia, estamos muito mais com os iPads e com os computadores, então como é que se podem adaptar a estas inovações tecnológicas?

Obrigada.

 
Dep.Carlos Coelho

Como disse e muito bem, Sara, usando as novas tecnologias com conta e medida. Hoje não consigo fazer um esforço pedagógico sem usar Power Point. Não consigo, por isso não há nenhuma intervenção, fale sobre a Europa, sobre o controlo de fronteiras, ou sobre outro assunto, não consigo fazer sem Power Point exactamente pela razão que o Rodrigo disse sobre a memória visual ser mais importante do que a memória auditiva.

Vários de vocês já me ouviram falar e estiveram comigo em várias iniciativas e na maior parte delas sempre que posso distribuiu um papel: ou é uma brochura sobre a Europa, ou sobre o Tratado de Lisboa, etc. Porquê? Porque aquilo que vos fica na mão é mais permanente do que aquilo que vos entra no ouvido.

A capacidade de esquecer o que vocês ouviram, a não ser que seja uma coisa estrondosa, é imensa. Daqui a pouco já não se lembra de 95% ou 100% que vos disse, mas umcartoonque viram, ou ideia, ou sensação que experimentaram a ouvir uma coisa que eu disse, ou uma história que eu contei de uma experiência real, isso fica memorizado.

Agora, se for falar para uma assembleia de terceira idade, se calhar já não faz sentido levar uma apresentação em Power Point, ou senão tem de ser uma muito ajustada, não vou usar iPads nem outros, porque a lógica da comunicação não é essa.

Uma vez fui falar a Fátima, a um conjunto de professores dos Clérigos de Nossa Senhora e fui falar sobre ética e um grande professor de ética falou na mesma sessão e ele disse de uma forma muito clara que para se discutirem coisas essenciais e elevadas ao espírito não eram necessárias imagens, mas bastava a força das palavras.

Acho que ele disse isso um bocado porque estava despeitado, pois a intervenção dele teve menos impacto que a minha. Não porque eu soubesse mais, ele sabe muito mais sobre a matéria, mas a minha apresentação teve mais impacto porque foi apoiada por imagens. Contudo, há pessoas que acham que há assuntos que são demasiado elevados, e há idades para tudo, como vos disse há bocado, tenham atenção ao vossotarget; falar para vocês é totalmente diferente do que falar para o lar de terceira idade, ou para pessoas que não têm o vosso nível de formação.

Não é só ajustar a linguagem, as metáforas, mas é também ajustar os meios tecnológicos de que me vou socorrer.

 
Duarte Marques
Obrigado. Diogo Brás do grupo Bege.
 
Diogo Braz

Muito boa tarde a todos. Vinha falar sobre "falar claro” nas escolas.

Falar em público, penso que seja geral, que a maioria das pessoas têm medo e de facto acho que ainda há pouco incentivo a isso.

Já tinha ouvido e mesmo o Carlos já tinha feito algumas intervenções neste sentido, ou seja, falar deste tipo de matéria junto das escolas, mas eu gostava de saber o que é que é preciso para dar uma reformulação mesmo aos professores, porque o tipo de ensino hoje em dia, que eu vejo pelas pessoas mais novas que conheço, é que continuam a não estar actualizados. Porque a comunicação hoje em dia, seja numa empresa de agricultura, ou seja numa empresa no centro de Lisboa, a comunicação é fundamental.

E o facto de conseguirmos apresentar, ou falar em público para duas ou três pessoas, ou cem pessoas é fundamental até para um agricultor.

E gostaria muito de ver essa reformulação partindo do Governo e uma reformulação para novos meios didácticos a fim de termos na Educação logo à partida o incentivo a este tipo de iniciativas.

Ou seja, logo antes de sairmos do Secundário já termos estas bases e estas experiências.

 
Dep.Carlos Coelho

A resposta foi dada ontem pelo Professor Marcelo. De facto, a nossa escola, não apela à oralidade, ao contrário do sistema educativo de outros países em que isso se faz desde tenra idade, a nossa escola não apela à oralidade, apela a outras coisas, mas essa de facto não consta. Não há clubes de debate e a oralidade não é de alguma forma estimulada.

Muitas aulas são na lógica antiga do professor que fala e o aluno toma notas. A maior parte dos países anglo-saxónicos tem a escola como interacção, em que o professor ouve mais os alunos do que fala ele. Portanto, há um problema de paradigma de escola que é completamente diferente. Nas actividades extracurriculares também não há grande interacção e isso é errado.

Uma das coisas que o Duarte Marques fez de mais notáveis foi lançar uma iniciativa na JSD chamada "Sub-18” que é a simulação nas escolas de uma decisão. Isto é, ensinar a malta de tenra idade que fazer política é decidir e decidir coisas concretas, portanto, desmistificar a ideia de que política é para aqueles gajos de fato e gravata. Não, política é para nós decidirmos o nosso futuro.

E o exercício é feito todo numa lógica de oralidade, de confrontar argumentos e de fazer debate. Eu acho que o Duarte Marques e a JSD têm feito mais por esta formação com o sub-18 do que o sistema educativo e os professores todos de uma forma em geral.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Em relação às mãos, eu achava também importante fazer-se um pormenor para o púlpito, porque falar com as mãos no púlpito é diferente do que falar sem púlpito. Era só isso.
 
Dep.Carlos Coelho
Porque no púlpito podemo-nos apoiar.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Mas não há pior do que a tendência de apanharmos um púlpito à frente, agarramo-lo para ele não fugir, não é? Porque toda a gente sabe que eles têm a tendência para fugir para a frente e portanto, agarramo-lo bem, pomos o papel para a frente e enterramos os olhos nele.

Depois, há algo terrível que é: imprimimos o papel para ler na letra normal. Para quem vê bem, é fantástico, mas para quem é pitosga começa a ler assim. Depois isto fica o nosso refúgio, não é? Parece que nos estamos a defender das pessoas, isto até anda e estou a defender-me dos vossos olhares, é um obstáculo à comunicação.

O púlpito é uma óptima alavanca, mas é uma muleta, não serve; bom, é quando conseguimos tirar a muleta e falar normalmente. Não há muita diferença de falar para o público e falar para um amigo, não há diferença nenhuma, é só uma quantidade de olhos que estão a olhar para nós, é um pormenorzinho. Mas se pensarem bem, mesmo na questão da oralidade isto não se coloca; não há mesmo diferença nenhuma, nós é que a criamos.

Criamos essas barreiras todas, mas o púlpito serve para se apoiar mas não durante muito tempo. É só aprender a voar e o ideal é quando o conseguir largar mesmo.

 
Duarte Marques
Muito bem. De seguida, o João Estrela do grupo Cinzento.
 
João Estrela

Boa tarde a todos. Dr. Rodrigo Moita de Deus, tenho vindo a acompanhar as suas participações no blogue 31 da Armada e reparo que nos seus comentários utiliza sempre o humor.

Então, venho perguntar-lhe se acha que um político, ou titular de cargo público português conseguiria usar o humor sem perder a sua credibilidade para com os cidadãos.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

[RISOS] Não. Isto tem um bocadinho a ver com a pergunta do Diogo, nós temos o complexo da Universidade de Coimbra, aprendemos que o bom professor, os melhores e mais reputados, é aquele que chumba muitos alunos. Chegamos a uma universidade e perguntamos qual é o mais reputado e dizem que é aquele que chumbou 75% da turma. Então o camelo não sabe ensinar e é o melhor professor?

Já repararam na alteração de paradigma disto? Ou melhor, ele tem de ser bom professor, porque tem de falar de uma maneira que ninguém percebe. Isso aliás é uma coisa muito latina. Não sei se vocês conhecem o significado da expressão patavina. Patavina é uma expressão que era utilizada na Universidade de Pádua. Era uma linguagem que era desenvolvida especialmente para os alunos não perceberem.

Portanto, temos esta mania de enriquecer de tal maneira o discurso e de forçar tanto o discurso que existe muito este complexo de oralidade e de retórica e de semântica forçada que afasta o humor.

Noutros países não é bem assim. Os anglo-saxónicos, por exemplo, têm o hábito de começar uma intervenção com uma graçola, isto cria simpatia e proximidade com as pessoas.

Nós, portugueses, não vamos por esse caminho, mas o humor tem uma capacidade de influenciar as pessoas e a própria política.

Podia falar do exemplo mais batido dos Estados Unidos, do Jon Stewart, que aquilo não é fazer humor com a política, é uma coisa completamente diferente: é fazer política com humor.

Tudo aquilo é dirigido, pensado, estruturado. Ou dos Gatos Fedorentos cá também, que se envolveram e se envolvem em campanhas eleitorais. Nas últimas eleições, quando eles promoveram aquele programa especial, vocês tinham entrevistas seríssimas na TVI e na SIC e os programas políticos mais visto eram os dos Gatos Fedorentos. Isso significa duas coisas: uma é que o público perdeu a paciência para a forma como a política é feita e debatida hoje em dia e a outra é que o sarcasmo continua a ser tão eficaz como era no tempo da Antiguidade dos Gregos.

O sarcasmo vem daí, não é? Na altura, a capacidade que tínhamos de retoricamente destruir o nosso adversário a ponto de pôr toda a gente a rir à conta dele.

 
Dep.Carlos Coelho

Só uma nota sobre o humor: gosto de dizer sempre que o humor deve ser como com o sal na comida, pôr quanto baste (q.b.).

Fica bem um pontinho, porque ajuda a chamar a atenção das pessoas, mas em excesso dá a ideia que somos apalhaçados e portanto retira credibilidade. Portanto, com o humor é preciso ter muito cuidado, é melhor não usarem porque é pior usarem em excesso do que usar de menos.

 
Duarte Marques
De seguida, o Fábio Pinto do grupo Castanho.
 
Fábio Mousinho Pinto

Boa tarde a todos. A minha pergunta prende-se essencialmente com a primeira parte da sua exposição, Dr. Rodrigo, nomeadamente no que diz respeito às emoções, no sentido em que, por um lado, é importante estarmos atentos às emoções que são observáveis por parte da audiência, nomeadamente às expressões faciais.

De que forma, atendendo que se trata de uma tarefa bastante difícil, podemos adaptar, por um lado a forma do nosso discurso, sendo fiéis à clareza? Ou seja, estando nós a expor uma determinada mensagem para uma audiência que demonstra pelas suas expressões faciais que reprova, ou não concorda, com o que estamos a transmitir, de que forma podemos adaptar o discurso para levar a audiência a concordar com aquilo que estamos a dizer.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Sabe, às vezes, a melhor maneira de vender uma ideia – utilizando uma expressão muito comercial – é pôr o público a discordar de nós logo ao princípio, obrigando-os a pensar. Os preconceitos às vezes são tantos e tão fechados, que é por isso que o humor é uma coisa importante. Houve uma altura em que tínhamos a certeza que o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos era uma figura respeitadíssima e competentíssimo, lembram-se?

Os preconceitos são tantos, que a melhor forma de desfazê-los é obrigar as pessoas a pensar outra vez e usando o humor, sim, pois obrigamo-las a discordarem e a refazerem o seu processo de convicções. Agora, isto é um processo que leva muito tempo.

A melhor maneira que tenho, quando dou conferências, de garantir a atenção do público é dizer algo chocante, ficam todos a olhar para mim à espera do que eu vou dizer a seguir.

Uma vez fui à Universidade de Coimbra e disse que a culpa era deles e depois expliquei, fiz o processo de raciocínio, mas primeiro tive de garantir a atenção do público e nisso, o humor, de facto é uma chave muito importante para desconstrução dos preconceitos.

 
Duarte Marques
Obrigado, Rodrigo. André Morais do grupo Laranja.
 
André Filipe Morais

Boa tarde.

A minha questão é a seguinte: já são muitos e sabidos os exemplos de declarações de políticos, que causam muito desagrado na população, contudo, dados os constrangimentos económicos e as dificuldades por que a população passa e até a facilidade com que as declarações se propagam pelas redes sociais, julgo que os cuidados que os políticos devem empenhar nas suas declarações têm cada vez mais importância.

Quando uma declaração desse género cai, como no passado mais recente temos visto, com tanto desagrado na população, trata-se apenas de impreparação dos políticos, ou um desconhecimento dos anseios e necessidades da população, o que poderá relevar ainda mais o pré-conhecimento dessas necessidades e anseios?

Obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho

A pergunta é muito complicada. Há notícias que são indefensáveis. Se eu, face ao estado do País, tenho de retirar o 13º mês, eu não consigo, por melhor que seja a minha comunicação, passar isto como uma boa coisa. Não vale a pena.

Quero dizer, se eu vou retirar dinheiro às pessoas eu não consigo por melhor que seja em termos de comunicação passar isto como a melhor medida. Posso tentar passar que ela é necessária e que sou obrigado a ela, porque outros fizeram mal. Posso tentar passar a ideia de que com isso estou a garantir a viabilidade do país e vamos poder fazer outras coisas, agora, não posso fugir à natureza negativa da medida em si.

Posso ter uma estratégia de comunicação. Vamos supor que tenho mais medidas negativas a seguir para apresentar, mas que não são tão graves como essa, se esta passar como muito grave as outras podem passar como menos importantes. Ou, vamos supor que tenho um problema de credibilidade, não é o caso, é um cenário completamente utópico, mas diziam"aquele ministro é um tipo frágil, até sabe as coisas mas não é capaz de tomar uma decisão”.

Apimentar a natureza crua de uma decisão pode ser uma forma de dizer que ele afinal até é um homem que toma decisões, a decisão não é boa, mas ele fraco não é. Portanto, ao montar uma estratégia de comunicação nós temos de ver o que é que queremos assegurar: é que esta medida em concreto passe bem, ou que a imagem do decisor seja valorizada, ou que estamos a querer defender a percepção pública relativamente às próximas medidas que tenho de tomar?

Só quem tem toda a fotografia daquilo que se pretende é que pode ajuizar se aquilo foi bom, ou se foi mau. Agora, não há volta a dar, quando a medida é má não há nenhuma estratégia de comunicação que a possa vender como boa.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Ainda por cima, agora acrescenta-se um facto novo: no anterior Governo houve um caso extraordinário de um ministro das obras públicas que foi a um almoço e a seguir foi falar – erro crasso – e contou a história do "jamais”. O que é engraçado é que isso ficou, foi uma coisa não controlada, que ele disse, mas ele nunca disse aquilo de "Alcochete, jamais”, o que ele disse foi que tinha tido uma reunião com ambientalistas e que eles lhe tinham transmitido que em "Alcochete, jamais”. Ele nunca disse a opinião dele, nem precisava porque aquilo depois ficou meio entornado.

Estamos a falar de grandes especialistas de comunicação, que eles tinham de facto, mas como o Carlos estava a dizer a questão não é a comunicação, mas sim as medidas, são dois problemas diferentes.

No meio disto tudo, têm um dado novo: têm um Governo que não faz comunicação, faz política, governa, está-se nas tintas, "que se lixem as eleições”, todos nós ouvimos, certo?

Aliás, todos nós ouvimos o Primeiro-Ministro explicar que não ia tentar dourar a pílula, nem vender mais doce, uma coisa que não é doce, ele disse-o e é um facto novo que nós todos temos de aprender a gerir. É mau? Não, não é mau e é importante também não confundir a espuma, aquilo que é ruído, por exemplo não estou à espera que o Carlos Zorrinho concorde com as minhas declarações sobre o que quer que seja.

Portanto, vou ter sempre o Carlos Zorrinho empostsa dizer o quão ridículo é o silêncio do Governo. Não é isso que me preocupa, não é a oposição em si. O que me preocuparia era se os portugueses não percebessem as coisas e como eu acho que eles nisso até percebem muitíssimo bem, muito mais do que imaginamos, o porquê das coisas, penso que de facto não seja apenas uma questão de comunicação.

 
Duarte Marques

Obrigado. Permitam-me só acrescentar que, Rodrigo e Carlos, aquela história do "jamais”, a JSD fez um grandeoutdoorcom a história do camelo e o grande autor dessa ideia não está aqui sentado, mas está ali, que é o Nuno Matias e era o dirigente da JSD em Setúbal.

[APLAUSOS]

Dou agora a palavra ao Francisco Canas que é do grupo Azul.

 
Francisco Canas

Boa tarde. A nossa questão tem que ver com uma situação que hoje em dia é cada vez mais frequente que é, por exemplo, quando temos o Primeiro-Ministro a dar uma conferência ou entrevista me Portugal e temos o nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros na China, muitas vezes os jornalistas, curtos minutos após as declarações do Primeiro-Ministro, pedem para o Ministro dos Negócios Estrangeiros comentar as declarações do Primeiro-Ministro, apanhando-o assim um pouco desarmado.

Como é que um Governo pode gerir uma situação dessas?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Se você fosse jornalista não fazia a mesma coisa? Eu fazia, claro, é divertidíssimo. [RISOS]

Quero dizer, há um dia em que ele há-de cair, há-de se estampar, não é? Mas ele agora apanhou aquela frase de "quando estou fora de Portugal, tenho por hábito nunca comentar nada do que se passa no meu país”, que é uma frase que dá jeito de vez em quando.

Já o ouvi a dizer isto para não falar do caso da RTP e às vezes não falar também é uma bela maneira de falar, porque as notícias aparecem na mesma. Mas é normal que os jornalistas façam isso; voltando um pouco à apresentação: eles estão a fazer o trabalho deles e hão-de continuar a fazer o trabalho deles e mais cedo ou mais tarde ele há-de estampar-se nalguma coisa, ou há-de haver uma contradição e lá se vai criar um caso monumental.

Isto só tem sido tentado porque normalmente as coisas têm sido coordenadas e sincronizadas. O extraordinário é que ao fim deste tempo todo e com estas dificuldades todas, a comunicação dos dois partidos tem estado mais ou menos coordenada e sincronizada e não tem havido grandes atropelos apesar das diferenças eleitorais que existem entre os dois.

 
Duarte Marques
De seguida, a Selma Sequeira do grupo Encarnado.
 
Selma Sequeira

Antes de mais, permitam-me que cumprimente a mesa e todos os presentes.

Dr. Rodrigo Moita de Deus, ou deputado Carlos Coelho, relativamente a este tema em que a atenção é maioritariamente direccionada para a fluidez do discurso, assim como para a capacidade de comunicar bem, o grupo Encarnado decidiu debruçar-se sobre outro tema que a nosso ver é também essencial e muito delicado.

Portanto, a nossa questão passa pelo seguinte: de que forma acha que devemos reagir quando o público-alvo parece mostrar-se indiferente ou simplesmente contra perante determinado assunto? Recordo, por exemplo, o momento em que o actual Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Dr. Miguel Relvas, se encontrava presente na cerimónia de abertura dos oitavos jogos desportivos da CPLP, onde o seu discurso foi acompanhado por assobios de cerca de duas mil pessoas que estavam presentes no Parque Desportivo de Mafra.

Muito obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho

Três respostas diferentes: primeiro, se eu estou a falar com uma audiência que não está objectivamente sintonizada comigo, tenho de mudar a sintonia e o discurso. Se eu entro cheio de arrogância e as pessoas estão a reagir negativamente, tenho que fazer uma graça, criar um processo de aproximação para ter sintonia.

A primeira reacção é conseguir ajustar-me à assembleia.

O segundo registo é tentar encontrar pontes. O ano passado um dos vossos colegas perguntou-me o que é que acontece se estamos perante uma plateia completamente adversa. Eu dei o caso de que uma vez fui convidado para falar numa sessão em que eram praticamente todos comunistas e, portanto, eu era o reaccionário e encontrei dois ou três assuntos de conversa que eram pontos em comum, entre eles a defesa da democracia.

Eles olham-me como adversário e vêem-me como reaccionário, mas também pensam que sou um democrata, que fui falar com eles e até penso como eles nalgumas matérias. Portanto, encontrei pontos comuns. No caso concreto que referiu, acho que teve a melhor reacção: reduziu a intervenção a um minuto, como estava numa função pública, declarou o início dos jogos num minuto, ignorou os assobios e as vaias, sorriu e portanto a imagem é pelo menos de alguma descontracção, não fez gestos nem caras feias, não insultou as pessoas, não reagiu de forma enraivecida e foi a forma mais airosa de sair de uma situação insuportável.

Era melhor que isso não tivesse acontecido. Se os assessores dele tivessem antecipado que isso ia acontecer, era melhor ele não ter ido e ter ido um secretário de Estado, ou outra pessoa. Mas se aquilo não era previsível, ele saiu-se da melhor maneira que foi encurtar e ignorar a contestação.

 
Duarte Marques
Vamos começar agora as perguntas do "Catch the Eye”. Tenho inscrições do Rafael Almeida do grupo Laranja e do Miguel Pereira do grupo Amarelo.
 
Rafael Dias Almeida

Em primeiro lugar, boa tarde. Há uns anos uma televisão estadunidense produziu uma série política que era a The West Wing, os Homens do Presidente, que acompanhava os bastidores de umstaffe de uma Casa Branca.

Acontece que o Presidente, Josiah Bartlet, tinha uma doença degenerativa, fibromialgia, e os eleitores não sabiam disso. Tornou-se necessário tornar público, na altura de uma recandidatura, e a forma que utilizaram foi através de uma fuga de informação premeditada. O conteúdo, otiming, foi tudo muito bem planeado.

Sem querer entrar em teorias da conspiração, ou insinuar o que quer que seja, até que ponto é que muitas vezes não teremos certosleakspreparados pelos Governos, para conseguir desviar a atenção para outros assuntos. Por exemplo, o caso Miguel Relvas, sei que não foi preparado e que a informação não foi divulgada nesse sentido, mas desviou as atenções das reformas que estavam a ter lugar, que eram necessárias e muitas vezes mal entendidas.

Nos últimos tempos, não se ouviu mais falar de manifestações como os indignados, nem nada disso. Até que ponto é que não podemos, se calhar, em comunicação política pensar também nessas estratégias políticas: desviar a atenção da Comunicação Social dos temas que não deviam ser tratados naquele tempo.

 
Dep.Carlos Coelho

Rafael, é um sim, mas com reservas. Primeiro, relativamente à primeira parte, a gestão cautelosa da fuga de informação pode ter um efeito muito positivo. Tem a ver com a estratégia de que o Rodrigo falava há pouco de gerir as notícias.

Isto é público. No Governo do Dr. Durão Barroso, um dos ministros mais importantes era o da presidência, era o Dr. Nuno Morais Sarmento, que tinha um passado de toxicodependente e receou-se que isso fosse usado contra ele. Ele decidiu queimar o assunto revelando-o com a Maria João Avillez, se a memória não me trai, em que metade da entrevista foi a falar disso.

Ele falou de como fazia com os Narcóticos Anónimos, que ajudava outras pessoas e olharam para ele e pensaram:"um homem que reconheceu um momento menos feliz da vida, saiu disso e hoje está a ajudar outros a fazerem o mesmo”.Portanto, aquilo que era uma fragilidade dele tornou-se uma vantagem, porque houve uma gestão inteligente da informação.

Por isso, acho que a gestão inteligente da informação é muito importante. Agora, a segunda parte da sua pergunta é uma forma de dizer que podemos usar estes incidentes para intoxicar, para esconder, etc. De uma forma geral, penso que pode haver gestão inteligente da informação, mas actividades grosseiras de intoxicação, criar um incidente para tapar uma medida, geralmente volta sempre contra quem o faz.

Primeiro, porque se acaba por saber mais cedo ou mais tarde. Segundo, porque os danos colaterais do caso que se cria acabam muitas vezes por não compensar aquilo que se conseguiu poupar e terceiro, porque se o jornalista não foi conivente nessa estratégia, sente-se completamente manipulado e tende a vingar-se na primeira oportunidade.

Portanto, não sou muito favorável a esses truques.

 
Duarte Marques
Obrigado, Carlos. De seguida, o Miguel Pereira.
 
Miguel Santos Pereira

O meu nome é Miguel Pereira e sou militante da Jota desde Fevereiro. Desde que iniciei a minha actividade no partido, tentei espalhar a palavra do partido e por isso decidi procurar apoio junto de pessoas com mais experiência dentro do partido e que me pudessem ajudar a espalhar a palavra.

Nesse sentido, procurei pessoas de Palmela do PSD e da Jota e não tenho tido quase nenhum apoio, tendo tentado contactá-los vários vezes e não só não tive qualquer apoio, como a única coisa que fizemos desde que sou militante foi uma só reunião em que não falámos praticamente de nada e em termos práticos também não se traduziu em nada.

Não fiquei feliz com esta situação e por isso tentei por iniciativa própria intervir e começar a falar com a população. Vi-me confrontado com dois tipos de pessoas: as que estão completamente desinteressadas da política e, por isso, falar com elas ou não de política surte exactamente no mesmo efeito; ou pessoas, poucas, que estão interessadas mas são comunistas ou têm uma mentalidade fechada e não estão mesmo nada receptivas a novas ideias.

Entretanto, há um mês, a JSD de Setúbal convidou-me porque ficaram extremamente felizes por saberem que numa região predominantemente comunista havia um militante da Jota e disseram que ia tentar travar mais contactos comigo e criar mais iniciativas para que eu pudesse actuar na minha área. Mas passou-se o mês de Agosto e porque supostamente muitas pessoas vão de férias, foi mais um mês que passou e não fiz praticamente nada.

Por isso, a pergunta que vos coloco é: perante todas estas adversidades qual é que deve ser a minha retórica e como é que eu posso agir no fundo para tentar espalhar a palavra do PSD, digamos assim, em zonas bastantes hostis.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Miguel, respondo mais ou menos como respondi no caso dos jornais. Não sei bem o seu caso, não sei o que é que se passa. Até no meu caso tenho às vezes dificuldades em perceber a minha militância, o que é que eu posso fazer. A melhor resposta para isso é: podemos fazer tudo.

A expressão "espalhar a palavra” é quase perigosa, é uma coisa quase marxista. Faz sentido em Setúbal, você tem razão. Mas não precisa de ter uma organização estruturada, seja ela qual for, para fazer aquilo que quer fazer e partilhar as suas ideias com as outras pessoas. Não precisa de ter um acesso especial a um jornalista ou jornal local, não precisa de ter a sua própria plataforma de comunicação, não precisa.

Às vezes erramos quando ficamos à espera que nos mandem fazer as coisas; isto é um vício português; por que diabo é que não fazemos à mesma?

 
Duarte Marques

Antes de dar a palavra ao João Martins do grupo Azul, queria dizer o seguinte ao Miguel Pereira: como Presidente da Jota digo-te que há estruturas locais, concelhias e regionais mais activas do que outras. Se algumas hoje são importantes é porque alguém no passado as tornou relevantes e quem vem a seguir continua, mas há outros casos em que alguém tem que começar a fazer esse trabalho.

Neste caso de Palmela, não recordo ter ninguém muito activo e de ter uma estrutura muito forte no contexto regional, mas há outros concelhos, como o de Lousada, o de Oeiras, que há muitos anos também não eram e alguém teve de os tornar activos. Se calhar aqui está a tua oportunidade, pois não há ninguém no passado tenha feito esse trabalho, por isso com a motivação que tens estaremos lá para ajudar, mas é preciso que alguém lá faça esse trabalho e esta é a tua deixa.

 
João Gabriel Martins

Muito boa tarde. Desde já, quero cumprimentar a mesa e gostei muito da exposição dos oradores.

A minha intervenção vem um bocado no sentido do factor de comparação no discurso político, porque às vezes para impulsionar a ideia positiva desse mesmo discurso, demonstramos que a nossa ideia é sempre melhor que a da oposição, isto porque a oposição tem uma ideia muito fraca. Ou seja, quero com isto dizer: porque não usarmos a nossa ideia, a qual batalhámos degrau a degrau e que o melhor adubo para a terra é o suor de quem a trabalha e não dar a entender que a nossa oposição é que está fraca?

Por vezes, também podemos usar que a oposição está um bocado melhor que nós, mas não damos valor a isso e por vezes podemos perder um bocado a carruagem e ser o nosso fim, digamos assim, em termos de campanhas e afins.

Portanto, pergunto aos oradores se não será melhor batalharmos por nós próprios esquecendo o método de comparação.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Isto hoje está muito marxista, "o suor de quem trabalha a terra”; o que é que se passou nesta décima edição da Universidade de Verão, senhor deputado? Isto está já muito descontrolado, não? [RISOS]

Sim, evidentemente, há muitos vícios que temos no combate partidário, logo a começar por aí, pela expressão "combate partidário”. Parece que temos de estar permanentemente a afirmarmo-nos em detrimento dos outros e não tem de ser assim, se a oposição tem uma belíssima ideia, até devemos adoptá-la também e votar nela, independentemente de que partido for. Não interessa, se a ideia for boa, se o conteúdo for bom e corresponder aos nossos ideais, porque não? Por isso, sim, tem toda a razão.

Mas há uma série de vícios na política que é importante desmascarar e este é um deles, não temos de fazer simplesmente oposição por oposição. Também não temos que nos afirmar por detrimento dos outros e temos de saber valorizar o trabalho dos outros até para o nosso próprio trabalho ser valorizado.

 
Duarte Marques
Obrigado, Rodrigo. Dava a palavra ao Simão Ribeiro do grupo Verde e de seguida, ao Bruno Sousa do grupo Laranja.
 
Simão Ribeiro

Boa tarde a todos. A minha questão é breve e pode ser, numa primeira análise, de resposta rápida, curta e fácil, ou se calhar não, por outro lado.

Passo a explicar: muitas vezes assistimos a diversos políticos, diversos estilos de oratórias, diversas formas típicas de se estar.

Por exemplo, o nosso magnífico reitor tem e já nos habituou a uma forma clara de passar a mensagem, muito certa e linear, que tem apenas alguns momentos decisivos de reforço em alguns pontos-chave, sound bitesde acordo com a qualidade ou a validade do conteúdo que ele quer transmitir.

Não vou utilizar nem citar nenhuma frase do reitor Carlos Coelho, mas vou dar um exemplo de uma frase de Sá Carneiro dita pelo nosso reitor. Sá Carneiro disse e vão perceber quando: "isto é o fim”. Carlos Coelho diria: "isto é o fim”, isto é o fim, isto é o fim”.

Perceberam aqui subjacente uma técnica discursiva. A minha questão é esta: falou-se aqui também que a monotonia numa linha retórica é dos piores inimigos, da mesma forma que uma imagem mal passada destrói uma mensagem, de igual modo um tom monótono também acaba por completo com qualquer tipo de interesse da plateia.

Normalmente, e em especial o que os jovens costumam fazer, são aquelas alternâncias de voz e de ritmo. A minha questão concreta é a seguinte: sei que não se fala da mesma forma para 300 pessoas em ambiente aberto, como se fala para 30 em ambiente fechado, está bem? Poderemos nós, políticos, que gostamos de nos preparar e treinar e ir o mais elucidado possível para a plateia tentar criar uma fórmula fixa de estar, mediante determinados parâmetros?

Ou seja, perante uma sala como esta da UV, de carácter formativo não vou fazer alternâncias de voz, vou fazer uma linha discursiva como o nosso reitor tem, ou então posso fazer como de vez em quando se faz num jantar-comício?

 
Dep.Carlos Coelho

Simão, todas as receitas que eu, o Duarte e o Rodrigo vos podemos dar, não são receitas para aplicarem sempre, são instrumentos que têm uma palete e que é para usar em função de um critério que é a eficácia.

A eficácia depende da interacção com a assembleia. Têm de ver e presumir se a malta que está à vossa frente está a reagir. Se você estiver a trabalhar para comunicar para 10 mil pessoas, ou para um milhão, através dosMassMédia, recebe de outra forma, indirecta.

O Dr. Marques Mendes diz-me que quando faz o comentário político, está a sair do estúdio e está a receber imediatamente os critérios da audimetria, quais foram as palavras dele que foram mais votadas pelas pessoas e quais as que gostaram e deram mais importância. Ele tem, no momento, essa indicação, por isso consegue apurar o seu discurso para a próxima vez.

O Simão e várias pessoas que estão na sala já me convidaram para ir falar a vários sítios e sabem quais as perguntas que vos faço: quantas pessoas é que são, que idades têm, qual é o nível de formação; para tentar adequar o discurso àquela gente, isso é o mais importante.

Esqueçam as pausas, alternar a voz e outras técnicas que são recursos que podem usar, mas o que é importante é conhecerem a audiência e interagirem com ela.

Fazerem com que as pessoas vos olhem nos olhos e oiçam aquilo que vocês estão a dizer e o resto vem por acréscimo. Não há receitas fixas. Repito aquilo que já vos disse quatro vezes hoje: se forem falar para uma assembleia de idosos, a última coisa que podem fazer é o que eu estou a fazer agora (o orador levantou a voz). Se vocês levantarem a voz, eles assustam-se, não podem fazer isso, mas aqui pode ser um truque para vos despertar pois vocês já estão ensonados, porque estão a ouvir-nos há duas horas e meia.

Está bem? Portanto, têm de conhecer a audiência; otargeté fundamental!

 
Duarte Marques
Obrigado, Carlos. A seguir o Bruno Sousa do grupo Laranja e depois a Andreia Almeida do grupo Azul.
 
Bruno Reynaud de Sousa

Boa tarde. A minha pergunta tem a ver com a relação com os Média, nomeadamente a Comunicação Social transmitida pela televisão.

Em Portugal, nos últimos tempos, parece que vivemos numa epidemia de directos. A Comunicação Social, com os canais de notícias, está habituada a ser alimentada através dos directos e o que eu perguntava é em termos de estratégia de comunicação, particularmente sendo o PSD o partido do Governo, se não seria tempo talvez de começar a pensar e recuperar a ideia que era do Dr. Morais Sarmento, da central de comunicação.

Não sei se era ou não mais vocacionada para resguardar os decisores políticos. Dava outro exemplo, do Dr. Rui Rio que adoptou um modelo de gestão muito rigoroso das relações com a Comunicação Social. Perguntava-vos se isso em termos de estratégia é sensato e se está na altura de mudar o paradigma.

Muito obrigado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Foi uma estratégia muito mais rigorosa: decidiu não comunicar. Resolveu o problema por cortar as relações; é uma abordagem, não estou aqui a fazer um juízo.

Falou de uma central de comunicação, isso é blasfémia, é heresia, não se pode dizer isso aqui dentro, não se fala em centrais de comunicação. Hoje em dia, temos um problema e deixem-me passar para um sector aqui ao lado onde acontece uma coisa parecida, que é o Futebol. Têm três jornais diários desportivos, cada com cerca de 30 páginas, duas notícias por página, portanto 60 notícias mais ou menos.

Portanto, todos os dias têm sete horas em que têm que encher o jornal com 60 notícias. Na política passa-se a mesma coisa: têm três canais a emitir 24 horas por dia informação, ou é suposto estarem a emitir durante 24 horas. O que quer dizer que precisam de assunto, o que por sua vez quer dizer que precisam que alguém lhes dê assunto. Quando os partidos param de dar assunto, eles evidentemente vão à procura e normalmente não costuma ser agradável.

Por isso, hoje em dia o problema que se coloca é a multiplicação das plataformas de informação, porque além dos canais de televisão de informação, já não estou a falar dos generalistas, têm tudo o que éonline. Ou seja, o jornalista não trabalha só para o dia a seguir, tem de trabalhar para a hora e têm os outros jornalistasonline, como por exemplo no Jornal de Negócios que tem mais de 300 mil leitores por dia, que é dez vezes mais de audiência do que propriamente no papel. É muito mais poderoso e forte do que o Correio da Manhã que é muito mais lido no papel.

Portanto, a concorrência hoje em dia é muito maior. O que é que nós podemos fazer? Evidentemente, estarmos atentos a isso, percebermos que eles precisam da informação, precisam de trabalhar e nós temos é que aproveitar esses mecanismos todos para fazer passar a nossa mensagem. É tão simples quanto isso. Se é através de uma central de comunicação, ou uma comunicação descoordenada isso já não sei. Digo há pouco uma coisa e volto a repetir: a última coisa que este Governo está a fazer é política e comunicação, mas tendo em conta o Estado do país eu tendo a concordar, acho que é igual ao litro.

O senhor disse: "Que se lixem as eleições”, pois de facto que se lixem, depois preocupamo-nos como é que saímos na fotografia, primeiro temos de nos preocupar com os problemas mais mundanos.

 
Duarte Marques

Posso só acrescentar uma coisa, Carlos, permite-me. Reparem num problema: muitas vezes estão a ver televisão, ou a ouvir a rádio e a notícia é a mesma durante horas. Vêem que é uma seca e que estão sempre a repetir o mesmo. É a oportunidade de darem uma notícia nossa.

Às vezes, vou no carro e oiço as notícias, está a falar o Presidente da JCP sobre os desempregados jovens e eu penso: espera aí, que eu também quero falar. Temos de ser pró-activos, aproveitar as oportunidades que estão abertas é a chave para ter sucesso. E isso que acontece com as televisões e canais pequenos, do Cabo, repetem tantas vezes a mesma notícia que é muito fácil entrar. Se é mau para umas coisas, é bom para outras e para nós que somos jovens
às vezes é o caminho certo para ganhar estaleca.

Dou a palavra Andreia Almeida do grupo Azul.

 
Andreia Almeida

Boa tarde. A minha questão vai de encontro àquilo que o Dr. Rodrigo falou de quando nos levantamos para falar já a pessoa tirou uma ilação sobre nós. Queria saber como é que nós temos noção da percepção que os outros têm de nós e como construir a imagem que queremos passar.

Obrigada.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Diria que é química, mas não, estou a brincar. [RISOS] Às vezes é só amor.

Temos muitas vezes o hábito de quando estamos a falar não olharmos para os outros. Aliás, isso foi falado durante a apresentação. Não olhamos para as pessoas quando temos de falar em público, por causa do nervosismo, escondemo-nos atrás do púlpito, ou do papel e evitamos olhar nos olhos. Olhar nos olhos tem imensas vantagens. A primeira é inibir as pessoas de andar a mandar mensagens no telemóvel, porque como estou a olhar vocês, por exemplo, ficam a pensar: "é um bocadinho chato se ele olhar para mim agora”, a não ser o Duarte que já não faz cerimónia comigo. [RISOS]

Portanto, há esse problema logo à partida, é inibidor e tem outra vantagem: percebemos logo se a pessoa gosta ou não e o que temos de fazer para mudar isso. Agora, é horrível e a maior parte das pessoas não aguenta o choque de olhar para alguém e perceber que este tipo não grama de mim nem com molho de tomate, mas azar, isto é um bocadinho como tudo o resto.

Estavam 100 manifestantes à porta na Manta Rota para protestarem, mas estava muito mais gente na festa do Pontal. É uma questão de pensarmos nas causas e nas proporções. Nós nunca vamos ter 100% dos votos, há-de haver ali sempre 20% que não gostam de nós.

Não gostam mesmo, não vale a pena estarmos lá a falar com eles, acho que eles não querem mesmo falar connosco. Estar a falar numa assembleia, de um para um, os ingleses têm inclusive uma técnica para isso, sabem como se aperta a mão, brincam com isso, o toque é um inibidor fantástico e ajuda imenso.

O toque tem, aliás, uma coisa extraordinária. Se me permitem vou levantar-me e demonstrar. Imaginem que o Simão está a refilar comigo, se eu o tocar ele cala-se logo, aquilo é inibidor e às vezes até uma carícia. [RISOS] Somos avessos a toques, quero dizer, há muito poucas pessoas que nos podem tocar.

O Professor Marcelo tinha uma coisa extraordinária para chatear alguém, quando precisava mesmo de chatear alguém, que era tocar e andar mesmo com a pessoa assim. [RISOS] Portanto, o toque é uma maneira bestial de inibir.

As pessoas não tocam, mas o toque cria proximidade; não resolve a questão da química, mas ajuda um bocadinho. Ainda estou a falar de comunicação política. [RISOS]

 
Duarte Marques
Obrigado, Rodrigo. Dava a palavra ao Francisco Vieira do grupo Laranja.
 
Francisco Sousa Vieira

Boa tarde. Antes de mais, agradeço a oportunidade de expor a minha questão. Gostaria de ouvir a vossa opinião relativamente ao facto de quão ténue é a linha que separa o despertar de emoções, que foi aqui esclarecido, da demagogia e que cuidados devemos ter para não, de certo modo, nos apelidarem de demagogos.

Muito obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho

Pois, Francisco, é difícil definir essa linha. Como é que eu defino a beleza? Uma coisa que me pode parecer bela a mim que sou um esteta, um gajo rigoroso e com sensibilidade e parecer feia ao Rodrigo que é um indivíduo que não tem gosto nenhum. [RISOS]

Há coisas que dependem muito, não sei dizer onde está a linha da demagogia, mas sei dizer-lhe que as pessoas percebem quando está a ser demagogo. Eu não consigo falar da pena de morte sem emoção. Várias vezes, no Parlamento Europeu, em iniciativas em que fui um dos primeiros signatários, como por exemplo apelar aos Estados Unidos da América para acabarem com a pena de morte, ou desafiar a China que é quem mata mais pessoas no Mundo nos sistemas judiciais e tem julgamentos ridículos de quatro horas para condenarem as pessoas à morte.

Estamos a falar de dois países completamente diferentes, um país democrático como os Estados Unidos e uma ditadura como a China. Não há nada de tão flagrantemente violento como as estatísticas norte-americanas dos insucessos judiciais, que hoje graças ao ADN e a outras tecnologias se provou que houve pessoas que morreram inocentes.

Todas as semanas está alguém a sair de uma prisão norte-americana, alguns há 40 anos detidos por erros judiciais. Paciência, perderam 40 anos de vida, mas alguma compensação pode ser dada, até financeira, pelo menos podem gozar os últimos dias com a família, mas se morreu já não se pode fazer nada.

Não consigo falar da pena de morte sem emoção, porque acho que é uma violência terrível. Portanto, sei que o meu discurso sobre a pena de morte não é racional e não quero ser racional. Quando quero convencer alguém a votar contra a pena de morte, eu quero tocar na emoção, quero dizer: pensem que poderia estar a ser feito isso a um familiar vosso. Estão aqui os nossos colegas cabo-verdianos e a justiça norte-americana é um bocado de carácter racista. A grande maioria dos condenados à morte é negra, não são brancos.

Faço-o com emoção e é um orgulho fazê-lo assim, porque é um problema que eu sinto. Agora, se eu for pai, eu não sou, mas o Rodrigo é e peço já desculpa pelo exemplo violento, mas se um pai com uma filha de seis anos que é abusada sexualmente por um atrasado mental e é alguém conhecido e cria um ambiente emocional na opinião pública e eu tiro partido desse estupro de uma menor para dizer: vamos pôr a pena de morte na nossa legislação; isso é demagogia pura e dura, porque é aproveitar um momento emocional na opinião pública para tentar criar uma decisão legislativa.

Qual é o momento, o limite, a fronteira, não sou capaz de dizer. Sou capaz de fazer a análise num caso concreto, mas antes não sou capaz de dizer se vai bem ou mal, depende da sensibilidade de cada pessoa. Mas tenham atenção a isso e a uma coisa que o Rodrigo pode dizer com mais autoridade que eu: a diferença entre informação e propaganda. Nós como agentes políticos temos obrigação de dar informação às pessoas, mas às vezes os vários agentes políticos confundem a informação com propaganda.

Se me perguntar se este papel é informação ou propaganda, às vezes é difícil definir. Mas as pessoas percebem, percebem quando estão a ser manipuladas, ou percebem quando estão a ser informadas; e se estamos a tratá-las como adultos, cidadãos eleitores e responsáveis, ou se estamos a tratá-las como marionetas.

Portanto, essas acções de fronteira são as mais importantes. O que é que faz a distinção aqui? É a ética. Não foi por acaso que falei de ética na sessão de abertura. Aquilo que é o critério para estabelecer a medida de onde é que é o limite, é a nossa convicção ética, a nossa formação como homens e mulheres com Princípios.

 
Duarte Marques
Obrigado, Carlos. Mariana Falcão do grupo Laranja.
 
Mariana Falcão

Boa tarde a todos. A minha pergunta prende-se com o seguinte facto: já sou militante desde os 14 anos, aliás sou benjamim aqui na universidade, como todos sabem. E no mês de Fevereiro pude acompanhar no meu distrito, Guarda, o Ministro Miguel Relvas e o nosso Primeiro-Ministro.

Falou-se há pouco de mesmo quando não temos uma plateia muito acolhedora, devemos sempre manter a postura e tentar sorrir. Isso é uma questão muito importante de facto, temos de conseguir lidar com quem está do nosso lado e com quem não está. Mas aconteceu muitas vezes e a meu ver correctamente, observei na televisão o nosso Primeiro-Ministro a manter sempre a postura mesmo perante comentários menos bem-educados.

No entanto, dessa vez que acompanhei o Ministro Miguel Relvas e o nosso Primeiro-Ministro, notei uma postura muito simpática da parte do Ministro Relvas para com os militantes, mas não do Primeiro-Ministro. A questão que coloco é: será que a partir do momento em que sabemos que são nossos militantes, estão do nosso lado, largamos um bocado a vontade de querer conquistar e esquecemo-nos que da mesma forma que foram conquistados podem deixar de o ser e fixamos naqueles que não conquistamos? Não será, realmente, importante manter, tanto a confiança dos portugueses que não são apoiantes como os que são apoiantes sendo militantes e simpatizantes?

Obrigada.

 
Dep.Carlos Coelho

Mariana, cada um é como é, cada um tem a sua forma de ser. O Primeiro-Ministro é um homem extremamente inteligente, particularmente notável, mas não é um homem caloroso. É um homem caloroso na intimidade. [RISOS] Foi o meu vice-presidente na JSD, travámos muitas guerras, bebemos alguns copos, passámos muitas noites.

O Primeiro-Ministro não é um homem caloroso com quem não conhece, não é um homem que simula afeição e emoção. Há políticos que conseguem, por exemplo, o Paulinho das feiras, que vai às feiras, beija as peixeiras todas, mas o Dr. Passos Coelho não faz isso, não é o estilo dele.

É uma pessoa que quando é interpelada reage e reage com delicadeza, portanto não é uma questão de ser caloroso ou não com os militantes. Estou convencido que no caso que referiu se houvesse um militante que interagisse com ele, ele responderia com elegância e delicadeza, mas sem simular calor humano, ele isso não faz. Portanto, temos de nos habituar também, pois as pessoas são como são. Hoje não levaria a sério o Dr. Passos Coelho, como o conheço, se o visse na rua a sorrir para toda a gente, pois aquilo seria falso, não era ele. Acho que as pessoas percebem isso.

 
Duarte Marques
Obrigado, Carlos. José Miguel do grupo Azul.
 
José Miguel

Boa tarde. Gostava de fazer duas perguntas sobre duas coisas diferentes. Quando estamos num debate, podemos optar por estudar muito bem as matérias e tentar passar muitas mensagens demonstrando conhecimento, ou fazer uma coisa em que o antigo Primeiro-Ministro era muito bom a fazer, que era levar duas ou três mensagens e repeti-las desesperadamente, de maneiras diferentes, mas conseguindo sempre passar aquelas duas mensagens?

A segunda pergunta tem a ver com comunicação. Há bocado perguntaram e penso que o Dr. Rodrigo não compreendeu exactamente onde se queria chegar que não era compreender a parte dos jornalistas, nós, eu, pelo menos, compreendo, mas era se é melhor uma estratégia de comunicação à americana com conferências semanais, ou como fazemos em Portugal em que toda a hora estamos a dar alimento a notícias.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Vamos falar sobre o debate. Uma nota prévia: em primeiro lugar, os debates não servem para exibir conhecimentos, mas para ser ganhos, tudo o resto é conversa. As pessoas que vão assistir a debates estão à espera de ver quem é que ganhou o debate, não estão à espera de ver qual é o melhor programa, as melhores ideias, não. Aquilo é tipo combate de boxe, é para ganhar alguém e por isso que ganhemos nós.

A melhor defesa para ganhar um debate é, de facto, fixarmos os temas em duas vantagens que nós tenhamos, para além da preparação toda que nós temos de ter, claro, estou a ser muito simplicista, mas depois fixarem-se em dois temas. Mas isto é uma campanha toda. Aliás, estava a ver o resumo daquilo que o José Aguiar disse e ele resumiu também uma estratégia para um debate, uma estratégia de comunicação que é ter duas ou três ideias fortes, que depois repetimos, repetimos, repetimos.

Porque é que repetimos? Dissemos isso na apresentação: as pessoas não têm a atenção e a disponibilidade que nós queríamos que elas tivessem, aliás, elas estão-se nas tintas para nós. É horrível, as pessoas estão-se nas tintas para a política, para os políticos e para o que dizem. Portanto, à partida não acreditam logo em metade do que vocês disserem. Logo à partida você é mentiroso, não é? Por isso, a única coisa que as pessoas vão julgar é o grau de mentiras que você conta, vão dizer: "ah, este não é muito mentiroso”, ou então "este é muito aldrabão, mas faz rouba pouco”, ou "este rouba muito, mas faz alguma coisa”. Isto são as pessoas, não é? Por isso é que você repete, repete, repete, que é para garantir que as pessoas oiçam alguma coisa.

Às vezes, pensam que não vão estar a dizer a mesma coisa outra vez, mas não, têm é de dizer a mesma coisa muitas vezes, até que a mensagem entre. Relativamente à questão que me colocou, sei que em relação aos jornalistas sou muito defensor da classe, mas percebi ao que queriam chegar. Mas é um bocadinho como o Sporting, qualquer coisa é culpa do árbitro. A equipa não joga nada, mas o árbitro foi um escândalo. Na política temos muito essa tradição de que os jornalistas é que são uns bandidos, uns malandros e que a culpa é sempre deles.

Tudo o que foi dito aqui conduz a isto que você estava a dizer aqui, que é garantir informação e acompanhamento; não é preciso dar grandes exclusivos, ou ter grandes tácticas de fuga de informação. Não é preciso nada disso, é preciso é garantir que os jornalistas e a Comunicação Social façam aquilo que as pessoas não conseguem fazer por impossibilidade física, que é acompanhar o nosso trabalho diariamente.

 
Duarte Marques
Temos tempo para mais duas perguntas. As últimas duas serão do João Ferreira do grupo Azul e o Diogo Paulino do grupo Roxo.
 
João Diogo Ferreira

Vou ser muito sucinto. O que gostava de perguntar era se podemos olhar para o Barack Obama pela forma como ele se expressa e comunica com toda a plateia, claro que tem outra influência no Mundo, mas se podemos olhar para ele como um bom orador e alguém que consegue cativar as pessoas com todos aqueles truques de por vezes sorrir, ou dizer algumas piadas; o que é que acham?

E, também, se quando um Governo quer passar uma má medida deve alocá-la a outra má medida para suavizar as más reacções.

 
Diogo Paulino

Boa tarde, a minha pergunta segue na intervenção do Simão e na resposta do senhor reitor que dizia que devemos adaptar a nossa narrativa à plateia.

Quando essa plateia é demasiado heterogénea quanto à formação e até quanto à idade, que tipo de abordagem é que devemos tomar?

Obrigado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

sobre Barack Obama, acho que não qualquer livraria ou farmácia que não tenha qualquer coisa do exemplo do Obama. Aquilo é uma coisa que me põe doente logo à partida. Tudo aquilo é de um plástico absoluto, mas é notável enquanto exemplo.

Tenho também de fazer um livro sobre o Obama que é para ganhar uns trocos. Mas há ali coisas: a facilidade na linguagem é uma delas e outra noção para vocês que estão a começar na actividade política, que são mesmo políticos, se virem um discurso qualquer nas presidenciais americanas nenhum deles tem mais de 12 minutos. Nenhum.

Eles conseguem falar de tudo o que querem falar e só falam do que precisam de falar em 12 minutos, não têm necessidade de estar a massacrar ninguém. Apenas 12 minutos; aquilo é o máximo e o Obama até consegue fazer menos, já vi um dele com sete minutos, coisa que cá era impossível, havia de ser considerada desrespeitosa.

Mas esta capacidade que têm de síntese e de trabalhar a informação, lá está, é importante. Relativamente à questão do Diogo – e vou terminar – o que hoje estivemos a falar foi um bocadinho de bases científicas para aquilo que vêem na televisão e ferramentas que deixamos à vossa disposição, não há fórmulas mágicas.

A única fórmula mágica que até hoje é conhecida na política é serem vocês mesmos e trabalharem.

 
Dep.Carlos Coelho

Quanto ao Obama, concordo com o que o Rodrigo disse. Muito do que se faz em política lá é muito plástico, mas é indiscutível que ele é um grande comunicador. Ele transporta convicção e emoção. Já o fez mais, naturalmente, antes do primeiro mandato, com o "Yes, we can” que tinha uma força fantástica. Hoje está mais gasto com a erosão do poder, mas há muito na política americana que é de facto profissional, cada palavra é estudada ao milímetro e há uma grande construção plástica, mas o Obama é mesmo um grande comunicador.

Adaptando, nós podemos aprender com o Obama algumas coisas, mas não podemos ter a ideia de que vamos ser o Obama de cá, porque não vai funcionar. Até porque como o exemplo que o Rodrigo deu, o Obama pode fazer uma intervenção de sete minutos e ser uma grande intervenção, mas se um político português fizer cá isso toda a gente pensa que ele é um atrasado mental que não sabe falar, só falou poucos minutos e não tem mais nada para dizer. Portanto, culturalmente somos diferentes.

Segundo, pergunta-me o João sobre gerir a informação das más medidas do Governo. Se eu for Ministro das Finanças, tiver uma má notícia esta semana e sei que vou ter de dar uma má notícia na próxima semana, a menos que haja uma boa estratégia de comunicação para fazer isto a conta-gotas, eu devo juntar as duas.

Vou ser penalizado, por isso é melhor sê-lo só uma vez do que duas e dar a ideia que isto é umstep-by-stepaté ao desastre final. Terceiro, pergunta-me o Diogo sobre a assembleia heterogénea; isso significa que temos de falar para o comum, ou seja, nalguns casos vamos ter de baixar o nível de linguagem para que ela seja mais partilhada e encontrar o registo que seja mais comum às pessoas que estão à nossa frente.

E não devemos fazer o contrário, que é falar para as pessoas que gostamos mais, ou que percebem melhor, ou só para a elite, ou os mais próximos, porque isso não é inteligente. Temos é de tentar alargar o âmbito da nossa comunicação de forma a atingir o maior número de pessoas.

Nós vamos sair para vocês fazerem a avaliação.

Deixo-vos três conselhos finais; se eu puder resumir tudo aquilo que tentámos dizer em três palavras: primeiro, medo; não tenham medo do medo. Segundo,target; não se esqueçam do vossotarget, a quem estão a falar. Terceiro, equilíbrio; não se esqueçam que o sucesso da comunicação é substância e forma e que se tentarem falar só com substância, ou só com forma, irão falhar enquanto comunicadores e enquanto agentes políticos.

Muito obrigado.

FIM