ACTAS  
 
8/29/2012
Ambiente e energia, o que temos de decidir já
 
Dep.Carlos Coelho

Muito bom dia.

Vamos dar início à aula sobre um tema que existiu desde sempre na Universidade de Verão, o Ambiente, que é algo que valorizamos e que é das poucas temáticas estruturantes que estão desde o primeiro dia na Universidade de Verão, juntamente com a Economia e a Ciência Política, mas que é talvez dos temas mais apaixonantes.

Para falar de um tema apaixonante, temos um homem que se entrega a tudo com paixão. Um homem que foi dirigente da JSD, Presidente Executivo da Associação de Estudantes do Técnico, dirigente associativo, membro do Governo, Secretário de Estado do Ambiente e Secretário de Estado das Pescas, dirigente partidário, Vice-Presidente do partido, Presidente do Instituto Sá Carneiro, deputado europeu – foi um dos nossos melhores deputados europeus, daqueles que deixaram marca em nome de Portugal em Bruxelas e Estrasburgo – e que, depois de uma carreira de intervenção política forte, onde também foi deputado da Assembleia da República, decidiu entregar-se à causa do Ambiente no domínio da Energia, sendo hoje o administrador de diversas empresas no âmbito das Energias Renováveis.

O Eng.º Carlos Pimenta tem comohobbya música clássica, o jazz e a leitura. Tem como comida preferida a italiana; o animal preferido é o cão. O livro que nos sugere é notável, para quem não conhece, recomendo, "As memórias de Adriano” de Marguerite Yourcenar, talvez o único livro escrito em termos de monólogo que eu adorei em toda a minha vida. O filme que sugere também é um clássico da ficção científica, "2001 – Odisseia no Espaço”.

A qualidade que mais aprecia é a verdade na generosidade face ao outro.

Se há algo que define o Eng.º Carlos Pimenta é a verdade e a generosidade.

Senhor Engenheiro, o palco é seu.

[APLAUSOS]

 
Carlos Pimenta

Obrigado. Muito bom dia a todos.

O Carlos deixa-me sempre assim em "má figura”, mas muito obrigado. Gostei imenso da sessão começar ao segundo certo, ao bater das 10:00.

É um prazer estar aqui, até porque a Universidade de Verão tem algo que não é comum encontrar na política em Portugal que é qualidade intrínseca e substantiva, isso é algo que se deve muito à persistência e ao trabalho que o Carlos tem feito e já lá vão dez anos de Universidade.

Vamos fazer uma viagem pelo Ambiente e pela Energia. Vou focar-me de início, no Ambiente, só nas grandes pinceladas, daquilo que é mais importante e depois vamos entrar no domínio da Energia. Nas questões, estejam à vontade para perguntarem o que quiserem e que eu saiba responder nos dois temas.

Queria começar por vos falar daquilo que penso que saiu um pouco da agenda pública, mas que é de longe, para mim, o maior problema que a Humanidade enfrenta, que é a questão da mudança climática.

A mudança climática é normal: a Terra conheceu períodos glaciares e interglaciares, o planeta já esteve completamente livre de gelo, com os mares muito acima dos limites do que é a costa actual, como também já esteve quase todo coberto de gelo, exceptuando a zonas trópicas e subtropicais.

O que não é normal é a mudança climática por via da acção do Homem e uma espécie viva, nós,o homo sapiens sapiens, em tão pouco tempo, por via da nossa actividade, termos provocado uma mudança sistémica tão grande ao nível do planeta.

Este trabalho é o mais completo, podem-no encontrar em berkeleyearth.org e fazer uma pesquisa na Internet sobreearth surface temperature.Este trabalho é feito pelo laboratório Lawrence Berkeley que é um grande laboratório na Califórnia que é o que já recebeu mais prémios Nobel no Mundo, são mais de 50 na sua história.

Este departamento era liderado por um dos melhores matemáticos do Mundo que era umclima sceptic, um homem que não acreditava, não na mudança do clima, mas punha em causa metodologicamente alguns dos problemas dos principais modelos climáticos, que são modelos da NASA, o modelo da atmosfera e dos oceanos dos Estados Unidos e um modelo usado na Europa.

Estes são os três grandes modelos que são usados pela Organização das Nações Unidas que segue o clima. Então, o que é que eles decidiram fazer? Uma coisa muito simples: consultar todas as estações meteorológicas que há no Mundo e que de uma forma continuada tomaram medidas de pressão, vento, humidade, etc., desde o Aeroporto de Lisboa às bóias que estão no Oceano, estações agrícolas, tudo o que tivesse continuidade no tempo, quer as calibradas, porque pertencem à organização meteorológica mundial e aos institutos de meteorologia e geofísica dos vários países, quer as não calibradas.

Retiraram todas as medidas que elas tinham tirado 1600 milhões de dados meteorológicos e tudo isto está disponível relativamente às 39 mil estações meteorológicas, e depois aplicaram simplesmente o tratamento matemático corrente e publicaram. Dá isto.

Este homem era um querido dos republicanos e costumava ser convidado regularmente ao Comité de Energia, quer do Congresso, quer do Senado, para apontar os erros dos modelos de Energia das Nações Unidas, do Intergovernmental Panel on Climate Change, etc.

Em Outubro do ano passado, depois de um longo trabalho, que está em permanente actualização –, portanto recomendo a visita aosite– ele chegou lá e quando a Comissão de Energia da Câmara dos Representantes estava à espera que ele fizesse o número do costume, que era pôr em causa o efeito antropogénico – ou seja humano –, da mudança climática, ele abriu a sua comunicação que passou à noite nos telejornais do Mundo, dizendo:I have news for you, I changed my mind, climate change is real, there’s no doubt of the human impact on it.

Quando comecei a trabalhar, já lá vão 40 anos, a concentração de gases era muito menor. Vocês todos sabem o que é o fenómeno da mudança climática: a Terra é envolvida numa atmosfera, se não a tivéssemos e toda a radiação incidente do Sol aquecesse o planeta e fosse reexpedida para o espaço seríamos tão frios como Marte. Temos visto agora imagens fabulosas doroverda NASA, absolutamente extraordinárias quando oroveraterra com a grua e os cabos; seríamos como Marte se a atmosfera fosse muito espessa e seríamos como Vénus caso fosse inexistente, estaríamos numa sauna.

É neste equilíbrio entre a radiação que chega e aquece o planeta que depois reemite radiação térmica para cima e depois há uma parte de radiação que escapa para o espaço e há outra que aquece as nuvens e os gases e é reexpedida para Terra. É como numa estufa, porque como há uma mudança no comprimento de onda, há radiação que entra, depois aquece o corpo, ou seja a Terra ou o Mar tem uma temperatura diferente do Sol, e a radiação temperatura tem um comprimento de onda diferente da que nos chega em grande parte e há outra que ao ser reexpedida para o espaço volta para baixo.

Conforme a espessura do "cobertor” há mais calor e radiação que fica à volta da terra e nos aquece. Nos períodos mais frios do planeta Terra, em que estava coberta de gelo, a espessura do cobertor era de 190 partes por um milhão de CO2em volume. Ou seja, se eu estivesse numa caixa com um milhão de pontos, 190 desses pontos eram CO2ou gases equivalentes em termos de retenção de energia.

No momento mais quente do planeta, em que teve menos gelo e a temperatura esteve mais elevada, dos últimos 3 milhões de anos e nós sabemos isso pelo ar preso no gelo e noutros sítios, a concentração foi de 290 partes.

Nos últimos 50 anos, a concentração passou para 400, estamos nos 396 neste momento, o que significa que em 50 anos a variação em valor absoluto de 290 para 396 é tão grande quanto a variação do valor absoluto entre o período mais frio para o mais quente.

Portanto, como o clima é um fenómeno longo e que tem uma inércia, podem ter a certeza de uma coisa: a máquina está em movimento e é imparável neste momento. Pensem no Oceano. O Oceano está a receber o calor desta radiação incidente, não se esqueçam que a maior parte da superfície terrestre é água e ao aquecer o que está a aquecer são as camadas de cima, que se dilatam (as moléculas ficam mais separadas) e transmitem o calor às camadas imediatamente mais abaixo.

O calor que está a aumentar na camada de cima só vai chegar abaixo daqui a 500 anos, portanto mesmo que invertêssemos o processo de mudança climática hoje, íamos continuar a ter um processo de dilatação do mar nos próximos 500 anos. Neste momento, a subida do nível das águas do mar é dois terços provocada pelo derretimento do gelo e um terço por causa da dilatação. Vai ser ao contrário daqui a algum tempo à medida que as camadas de gelo começam a derreter e as camadas de baixo começam a aquecer.

Bom, o resultado está aqui. Isto é a famosa passagem do Noroeste onde tantos navegadores no século XIX morreram ao tentarem fazer a ligação das duas passagens (Nordeste e Noroeste), ou seja tentarem navegar no mar Árctico entre a Ásia e a Europa e a América. O ano passado pela primeira vez na História humana que se conhece o Árctico ficou livre de uma quantidade de gelo que permite a navegação ao longo das costas.

Isto, agora em termos científicos, é a espessura da camada de gelo no oceano Árctico. Vejam como derrete tão depressa: ainda ontem no noticiário da noite da RTP1 a notícia número três era aquilo que eu já sabia, que este ano de 2012 o derretimento é superior em 50% à média dos últimos dez anos. Portanto, o fenómeno está em aceleração.

Mas as más notícias em relação à alteração climática não é só a Terra a aquecer, haver mais tempestades, mudança de padrões de chuva e de secas e fenómenos extremos, derretimento do gelo e subida do mar, é algo tão ou mais preocupante e de que se fala menos: a acidificação do mar.

CO2e água dão um ácido, lembram-se da vossa química: qualquer óxido, como por exemplo SO2dá ácido sulfúrico e o CO2na água muda o ph, ou seja acidifica o mar. Como o ph do mar já está a mudar, interfere, o meio torna-se mais ácido, com o metabolismo de vários minerais e elementos, nomeadamente o cálcio. Sem cálcio não há espinhas de peixe e não há bivalves.

Estamos a viver a sexta grande extinção das espécies desde que há vida pluricelular, são 500 milhões de anos. A actual extinção é a primeira que é provocada pelo homem, as outras cinco tiveram causas naturais e súbitas. Só falamos da última que foi há 65 milhões de anos, quando passámos do Cretáceo para o Terciário e permitiu a evolução depois da Terra dominada pelos mamíferos, que se diz que foi por causa da queda de um meteorito. Houve quatro extinções antes; têm algo de comum todas as extinções: o desaparecimento de espécies marinhas é brutal. Na penúltima extinção 90% das espécies marinhas desapareceram e porquê?

Porque foram acompanhadas de mudanças climáticas, por exemplo a queda do meteorito pode ter provocado que a Terra ficasse envolvida numa nuvem que fez com que ficasse num Inverno de séculos e isso levou à acidificação do mar também.

Portanto, estamos a mexer com coisas muito sérias e em tempos das vossas vidas não tenho qualquer dúvida que o fenómeno da mudança climática vai ser uma crise de dimensões extraordinariamente grandes e imprevisíveis, muito maiores que alguma crise financeira, bancária, que tenhamos vivido e incluindo as grandes guerras.

Estou a falar-vos com plena convicção, pois há 20 anos que trabalho nisto. Não há nada mais poderoso como a Natureza em fúria, como a mudança das condições do clima, da chuva, da seca e das temperaturas em geral. O que está a acontecer é inevitável.

Em paralelo e agravado pela mudança climática, mas com causas autónomas é a perda da biodiversidade. Nós estamos – como disse um biólogo – a assistir à destruição dos livros da biblioteca sem ao menos guardarmos uma lista dos livros que lá estavam. Foi como no caso de Alexandria que ardeu e não estava lá sequer o índice dos livros da biblioteca de Alexandria.

A taxa de destruição, de perda irremediável, de espécies vivas, de ecossistemas florestais, é brutal. Todos os dias é destruída área de muitos milhares de hectares para sempre e extinguem-se espécies que demoraram milhões de anos a evoluir.

Esta é umablague. "Não estou à espera de encontrar espécies na área em que vamos furar para petróleo” e o aluno pergunta: "não encontra as espécies antes, ou depois de furar para o petróleo?”.

Diria que estes são os três grandes problemas ambientais à escala global e interrelacionados: a mudança climática, a perda da biodiversidade nos vários ecossistemas, não apenas no amazónico, na floresta tropical, mas todos os ecossistemas estão em perigo, por exemplo do Norte, o Árctico, a tundra e depois a floresta taiga (abrange a Sibéria, Canadá, Alasca, etc.) que é um terço das árvores que existem no Mundo e que estão naquela faixa a sul do Pólo Norte. No chão, por baixo, tem opermafrostque é a terra que está sempre gelada e tem muitos metros de matéria orgânica resultante de milhares de anos de florestas que lá ficaram e fermentaram.

Como a camada de cima agora derrete – que antes não derretia – a libertação de gás metano é de tal maneira grande que posso dar o meu testemunho pessoal de ver chamas a saírem de lagos. Porque a borbulhagem de CH4é de tal maneira forte que basta que haja uma descarga eléctrica, um relâmpago, que há fenómenos de auto-ignição.

Agora, pensem: uma molécula de CH4tem 22 vezes a capacidade de reter energia de efeito de estufa de uma molécula de CO2. A bomba de mudança climática provocada por fenómenosboomerangque são naturais e que levam a um agravamento da velocidade da mudança, já não porque o carro está a queimar combustível, mas porque a Natureza com os seus ciclos que nós conhecemos desde que ohomosapiens sapienscomeçou na Terra, entrou em ruptura.

Dentro das actividades humanas, aquela que mais impacto tem no Ambiente, nomeadamente na mudança climática, é sem dúvida tudo o que tenha a ver com a Energia. Esta é responsável por metadegrosso mododo efeito da mudança climática nas várias componentes.

Aqui está uma fotografia com números, que fica cá, do que é a fotografia de um dia no Mundo em consumo de energia. São 5500 piscinas olímpicas cheias de petróleo, por dia, que nós consumimos.

Agora, pensem no seguinte: a Terra tem 7 mil milhões de habitantes, com a taxa de natalidade actual, este número vai estabilizar a 10 mil milhões. Aliás, quem quiser consultar estes gráficos e saber a justificação de uma forma muito bem feita convido a ir aos TED Talks, ver a apresentação no Dubai, do sueco Hans Rosling, mago das estatísticas.

Se nunca viram as apresentações sobre os dados e estatística do Rosling, recomendo, porque de repente as estatísticas tornam-se vivas, são animadas, deixam de ser chatas, gráficos, coisas aborrecidas que pouco se percebem. Vê-se que a Terra estabiliza, porque neste momento há dois mil milhões de crianças e pela morte das pessoas acima de 75 anos, depois entre os 40 e os 65, e os 25 e os 40, e mantendo a mesma taxa de fertilidade de hoje, que a nível mundial está a duas crianças por mulher, ou seja, já está a um nível de estabilidade global. Não ao nível, obviamente, dos países que têm grandes variações, como por exemplo o nosso que tem uma taxa das mais baixas do Mundo. Mas, globalmente, vamos estabilizar aos 10 mil milhões.

Que é que isto tem a ver com a Energia? É que dos 7 mil milhões há um terço que não tem acesso à energia comercial, ou seja, há entre 1,5 a 2 mil milhões destes que ainda não têm, mas como ainda faltam mais 3 mil milhões até estabilizar em tempo da vossa vida, em 2040/2050, vocês têm de ter gente, ou que não nasça, ou que não tenha energia comercial até a Terra estabilizar nos 10 mil milhões.

O que tem de se fazer é uma programação de recursos, em termos de abastecimento, linhas eléctricas e consumo. Não é, obviamente, para a população que hoje está a consumir, mas sim para a que a Terra vai estabilizar, pensando que toda a gente tem o direito a ter um mínimo de acesso a bens essenciais e conforto.

Portanto, este modelo que temos tido não serve, porque pura e simplesmente não há planeta que aguente isto. Tem riscos sistémicos elevadíssimos. Isto é uma imagem da plataforma de petróleo da BP que ardeu no Golfo do México há dois anos e como sabem foi o maior acidente petrolífero: 20 mil milhões de dólares; é um terço do dinheiro da Troika para nós!

Isto é a central de Chernobyl; Fukushima; Exxon Valdez; a plataforma da BP e mais uma outra em fogo; são tudo imagens de acidentes. As renováveis e energias descentralizadas também têm acidentes: está aqui uma eólica em fogo, uma que caiu, um painel fotovoltaico; a diferença é que estes são acidentes locais, confinados ao próprio sítio em que aconteceram, enquanto os outros são mundiais e têm a duração de dezenas de anos.

Fui o chefe da missão União Europeia à Ucrânia a 1 Dezembro de 1991 e já cinco anos depois do acidente de Chernobyl e antes, em 1986, representei Portugal da Conferência de Chernobyl. Trinta anos depois ainda tem um perímetro marcado com arame farpado trinta quilómetros à volta, trinta anos depois, ainda a radioactividade é o que é e os milhares de pessoas que ali morreram.

Agora, perguntam-me assim: para estes 10 mil milhões de pessoas que vão viver em tempo da vossa vida na Terra, não há recursos fósseis suficientes para mantermos o consumo no padrão que temos hoje, das casas, carros, o ar condicionado neste prédio, etc.?

Há. Não há falta de recursos fósseis; podem ser mais caros, mas não há falta. O problema é que não há atmosfera que aguente.

Têm desta linha para trás, o que foi consumido em termos de recursos fósseis e daqui para a frente aquilo que com o conhecimento tecnológico técnico e das reservas que temos de carvão, petróleo e gás natural podemos fazer. Portanto, se aceitar preços de combustíveis sempre acima do equivalente ao que está hoje, dos 100, ou 120 dólares por barril, não tenho qualquer problema em satisfazer a necessidade das pessoas entre carvão, gás natural e petróleo.

Tenho o petróleo que será mais caro, porque o novo é mais caro que o velho, pois fazer o buraco na Arábia Saudita e aquilo jorrava de forma natural e ficava a sete dólares, só há num sítio, no Iraque, porque por causa das guerras sucessivas as reservas não foram exploradas. De resto, por exemplo no Brasil são sete quilómetros abaixo da linha do mar e tecnologicamente é de uma complexidade brutal. O nível de investimento que é necessário são milhares de milhões de euros. E por exemplo no Árctico, ou seja, quando os problemas são grandes o preço é maior.

Mas por exemplo no gás, ou no carvão, o preço de extracção não aumentou. O problema é que não há atmosfera que aguente isto, pelos factores que vimos antes. A minha primeira e grande noção que vos quero transmitir, que muitas vezes não passa bem, é que a grande limitação na Energia não é a falta de recursos fósseis para o século XXI. O século XXII é outra coisa, mas no século XXI, para 10 mil milhões de pessoas há recursos fósseis, mesmo que sejam mais caros, há.

É preciso fazer muita logística: portos,pipelines, refinarias, entre outros, mas isso é investimento em Engenharia, o problema é o Ambiente que não é sustentável para o nível de consumo e de poluição que estamos a provocar pelo uso da energia.

Na Índia houve no mês passado um grande apagão, de que devem ter ouvido falar nas notícias, ficou a Índia às escuras. Hoje vi uma reportagem em que entrevistavam uma pessoa lá na Índia e ele diz: "eu não notei nada, nós não temos electricidade”. É que há 400 milhões de pessoas na Índia, sendo ela já hoje uma superpotência na Informática, na Biologia, na Medicina, etc., tem 400 milhões de pessoas, número maior que o da população da África toda e maior que a União Europeia toda também, que não têm energia eléctrica em casa! Esses não notaram oblackout.

Agora, esses vão ter fio eléctrico em casa, porque a Índia está a desenvolver-se rapidamente e assim não dá. Olhem, nesta fotografia eu fui ao Canadá, no Estado de Alberta, isto são astarsands. Estas e na Venezuela, no Orinoco, constituem um quarto das reservas do Mundo de betuminosos que podem dar petróleo.

Sabem o que isto é? Eles fazem rectângulos do tamanho de muitos campos de futebol, muitos kms2e faz-se a barba à terra, porque o betuminoso está integrado no chão, na areia, tem de ser tirado e refinado. O subproduto tem enxofre, isto são montanhas e montanhas de enxofre e o nível de poluição e de gases de efeito de estufa e de acidificação, de refinar e produzir o betuminoso e sair o líquido que podemos pôr no carro, é maior que o processo de refinação e extracção que tenho no consumo do automóvel.

Ou seja, é aquele gráfico mais científico que eu aqui tinha. No tempo do apartheid os sul-africanos tinham petróleo. Como é que eles faziam? Transformavam carvão em petróleo. Eu com C, O, H, e energia passo de um para o outro, faço o que vocês quiserem: gás, petróleo, etc. No tempo da guerra havia o gasogénio, transformava-se madeira em combustível e os táxis eram movidos a gasogénio.

Portanto, o meu problema não é a falta de capacidade de transformação de um betuminoso, de um carvão, num combustível, o meu problema é o impacto que isso tem. Sobre a energia nuclear falarei se alguém me perguntar, mas acho que nem vale a pena. Aliás, este é o The Economist de Março deste ano, que fez um número especial; como sabem é tudo menos uma revista verde, é financeira, o mais tradicional e conservadora possível, mas dedicou-se a este tema:Nuclear energy, the dream that failed, a special 14 page report. Eu tenho em PDF, se alguém quiser.

Vejam, agora, do lado do consumo o que é a procura. Em 1985, isto são os automóveis, o consumo do Mundo eram 950 milhões de toneladas de petróleo; em 2005, vejam o que isto passou. Como eu digo, a maioria da população mundial não tem ainda um veículo de quatro rodas, nem de duas.

Isto vê-se neste gráfico que é muito interessante: têm a azul as variações do preço do petróleo desde os anos 70 e têm a encarnado a procura. Vêem uma coisa: quando o preço aumentava diminuía um pouco a procura, mas deixou de acontecer desde 1990.

Isto relaciona-se com a procura estrutural por via da urbanização da China, porque quando um chinês passa do campo para a cidade, o padrão de consumo e de poluição mudou todo. Porque no campo ele cavava a terra com a sua força física, bebia água que tirava do poço e a casa era aquecida com lenha, ou esterco animal. Quando ele passa para a cidade, vive no décimo quinto andar de um apartamento que é iluminado de elevador, aquecido e tudo com taxas de eficiência miseráveis, para ir para o emprego vai de duas ou quatro rodas. Porque passou de bicicletas para uma cidade com trânsito engarrafado na hora de comer não vai à horta, ou a galinha come os restos de comida, mas vai comer uma coisa que está numa embalagem congelada, que por sua vez foi fabricada num sítio e que foi transportada por um camião TIR.

Portanto, a pegada ecológica (afootprint) de um dia dele não tem comparação com o que era dantes. Quando vejo a energia, não posso pensar na luz, ou no petróleo que ele põe no carro, mas sim no padrão de consumo com a urbanização. E pela primeira vez na história da Humanidade, desde o ano passado, ou há dois anos, mais de metade da população do Mundo vivem em cidades e isso é uma mudança enorme.

O padrão de urbanização transformou tudo e sobretudo o de suburbanização, porque se fosse de urbanização em centros compactos era passível de ser gerido, mas o problema são as metrópoles que não acabam. Podemos discutir o caso de Lisboa, se nas perguntas quiserem falar.

Agora, como é que nos dez ou quinze minutos que me faltam vamos olhar para o lado positivo e para as soluções? Isto tem de ser uma catástrofe permanente? Não. A primeira ideia que tenho de meter na cabeça é que não tenho de pensar no lado da oferta, mas antes no lado da procura. Ou seja, não bebo petróleo, não respiro gás, não posso tocar num fio eléctrico vivo senão morro imediatamente, por isso não quero saber do lado da oferta para nada.

Quero é ter luz, poder ter multimédia, senão não estavam a ver aqui os filmes, ter ventilação, aquecimento e arrefecimento, ter mobilidade e ter processos industriais a funcionar. Posso fazer isto de muitas maneiras, por exemplo: se fizer o meu chá com uma chaleira eléctrica o CO2que está naquele chá é maior que o da Água das Pedras.

Porque se o fizer com o bico de gás é muito simples: para se fazer um 1kw/h de energia eléctrica com gás natural – que é a forma mais eficiente dentro das energias fósseis, ou seja, carvão, petróleo ou gás, o gás em ciclo combinado é o mais eficiente -, em cada 2kw/h gás obtenho 1kw/h de electricidade e depois vou queimar a electricidade numa chaleira que tem uma eficiência miserável. Então, mais vale queimar o gás no bico do fogão. Isto é um exemplo.

Aquecer uma casa, ou arrefecê-la, com electricidade é muito fácil, eu faço sempre esta conta: metade da electricidade portuguesa vem das térmicas, a outra metade vem das renováveis. Vamos esquecer as renováveis, vamos às térmicas: a central de Sines, carvão, ou do Pego em Abrantes, que viram no caminho para cá, tem 35% de eficiência. Por cada 3kw/h carvão que meto dentro da central, que paguei e que dão origem, ao queimarem, ao equivalente em CO2, eu tiro 1kw/h de electricidade, os outros 2kw/h são poluição, é verdadeiramente poluição: carvão, cinzas, CO2e aquecimento do mar para os surfistas da praia de Sines. A praia é óptima, tem a água a cinco ou seis graus acima.

[RISOS]

Do 1kw/h que está, 10% da electricidade perde-se nas linhas, portanto já só tenho 30%. Depois, tenho aqui um ar condicionado que estou a ouvir a funcionar e que faz com que desses 30% eu vá aproveitar um terço. Ou seja, em cada 10 toneladas de carvão que queimei na central, tiro uma tonelada para ter esta sala com uma temperatura agradável.

Mas, francamente, se tivessem construído o prédio de uma forma diferente, com sombreamento a Sul e arejamento a Norte, na zona virada a Norte para entrar e circular ar fresco, uma meia dúzia de técnicas simples, reduzia o consumo do prédio para menos de metade, rapidamente.

Portanto, tenho de olhar para o lado da procura, de uma forma estática, mas também de uma forma dinâmica e é isso que a política europeia hoje reflecte, ao fim de muitos anos de luta, nomeadamente do Parlamento Europeu que foi o grande motivador da mudança que tem objectivos para 2020 e dos quais se deixou de falar por causa da crise económica.

Os objectivos são: melhorar em 20% a eficiência energética, ter 20% em energias renováveis e reduzir em 20% as emissões de gases com efeito de estufa. Estamos, realmente, numa altura em que de mudar de paradigma, por muitas razões: primeiro, por causa do Ambiente; em segundo lugar, por uma questão de cidadania. Quando eu era da vossa idade, tinha um canal de televisão a preto e branco, portanto a minha opção era ligar ou desligar.

Para uma pessoa da vossa idade isto é um modelo de informação que não faz sentido. O modelo de estar sentado, centrado no fornecedor, sendo o consumidor passivo, passou para estar centrado no consumidor. Vocês são consumidores, recebeme-mails, imagens da televisão, vídeos pelo Youtube, o que seja, mas armazenam e transformam, porque reenviam, portanto, vocês passaram a ser consumidores, armazenadores e produtores de informação.

Tanto que hoje em dia, todos estes movimentos sociais, mexem-se pelo Twitter, Facebook, etc. Na Energia e em grande parte das coisas há uma revolução de cidadania em que os cidadãos e as pessoas produzem e armazenam mais energia do que aquela que consumo e já exporto, quer eléctrica, quer térmica, com painéis solares, biomassa e umas pequenas obras de melhoria do edifício.

Agora a revolução que vou fazer a seguir, já tenho lá os cabos, é a mobilidade eléctrica. Se o Carlos me convidar para o ano e eu não for despedido daqui da Universidade de Verão, espero vir já num carro eléctrico, carregado na minha casa com electricidade gerada pelos meus painéis fotovoltaicos.

Já hoje em minha casa, durante o dia, armazeno mais nas baterias que tenho do que aquilo que consumo e à noite já estou a consumir do Sol do dia. Na casa de outro familiar que não tem baterias, vendo para a rede, até porque economicamente faz mais sentido do que aquilo que fiz, mas estou a fazer mesmo uma experiência de autarcia.

Estou a produzir a minha energia a partir do tratamento da água do esgoto. Não é que eu já ande desconfiado que isto entre tudo em ruptura, mas nunca se sabe e o seguro morreu de velho.

Além disto, estou a testar alguns produtos electrónicos que me permitem, a partir do telemóvel, apagar qualquer luz da casa. São medidas simples. Porque é que o congelador tem de estar sempre ligado durante as 24 horas? Pensem num supermercado que tem cinco congeladores, a meio do dia se eu somar a potência deles todos, o quadro tem de ter uma potência que obriga a uma taxa mensal elevada e a rede eléctrica tem de estar preparada para receber esse máximo.

Se eu tiver um sistema que faz com que eu só tenha um a funcionar de cada vez e os outros desligados e rotativamente, eu dividia a potência por quatro ou por cinco. Isto fazia com que eu gastasse menos energia, o quadro seja menos grande e a rede eléctrica com o transformador e tudo o que está para trás seja mais pequeno.

Estamos a encher o Mundo com instalações para funcionarem na ponta, que funcionam meia dúzia de horas por dia. Era como desenhar a segunda circular para o dia de Natal e haver um jogo entre o Benfica e o Sporting nesse dia, e na véspera de Natal dizer que tinha de ter quinze faixas de cada lado para garantir que não pára carro nenhum a essa hora.

Nenhum sistema eléctrico está desenhado para esse dia, porque se carregarem na luz no dia mais frio do ano e houver umblackoutporque toda a gente carregou na luz e estão com os aquecedores no máximo e as fábricas a trabalhar, é um "ai jesus, que vai haver uma revolução nacional” porque a REN e a EDP falharam e não pode ser.

O não poder ser significa que está todo o sistema – barragens, centrais térmicas, linhas eléctricas, transformadores – preparado para aquele dia em que vai fazer muito frio e começa às 5 da tarde, com as pessoas ainda a trabalhar e as fábricas e carregam num botão e falha a luz. E é assim que isto está montado hoje.

[RISOS, APLAUSOS]

Obrigado.

Isto está pensado do lado da procura. Agora, quero deixar-vos uma coisa que é a par de todos estes perigos ambientais, vocês estão a viver, porque são mais novos que eu, um momento histórico único na Humanidade. Pela primeira vez, o Homem é capaz de fazer novos materiais e não é por ligas, ou processos químicos, é por mexer nos átomos, na estrutura molecular; pegam num A380 e num Jumbo, ou uma pá de uma eólica, e aquilo não existia, é tudo material novo feito ao nível da nanotecnologia, da ciência matemática, da física do estado sólido. Mas também nova vida, novas proteínas, novos seres vivos.

É a primeira vez que têm a capacidade de processar e fazer a informação em tempo real e de uma forma descentralizada. Ou seja, já não é preciso ter um grande servidor, ou um terminal estúpido, que falha e morre tudo. Não, hoje em dia é um processo dinâmico, entre a recolha e processamento digitalizado e transmissão instantânea de alta velocidade e as coisas podem funcionar em conjuntos, ilhas, arquipélagos, e umas vezes ligadas, ou desligadas, com autonomia ou sem, etc.

Isto permite pensamentos económicos que hoje não são possíveis. Quando hoje se diz que há uma desindustrialização da Europa, porque vai tudo para a China, os custos de trabalho aqui começam a não ter impacto, são uma parte menor, porque estamos a caminho da desmaterialização dos objectos.

Ou seja, vocês assistiram à desmaterialização por meio da Informação, porque deixou de ser papel passou a ser texto em Word, depois, da Música que deixou de ser em CD e passou a ser ficheiro de MP3 e os filmes que passaram a MPEG4.

Agora é o meu sapato! Permite fazer o quê? Um sapato que só cabe no meu pé e não cabe no teu. Saiu este sapato que só cabe no meu pé ao mesmo preço do que se fizesse mil sapatos iguais, porque posso transformar este sapato numa folha de código e, numa impressora, ou processo robotizado, a três dimensões, produzir este sapato de uma forma descentralizada. Onde é que está o valor?

Está na folha de código do sapato e nos instrumentos, tecnologia e etc. Isto permite repensar que Castelo de Vide pode ter actividades industriais de alto valor acrescentado. Não tem de estar na China nem em Silicon Valley. O que é que isto tem a ver com a Energia? É que ao fazer esta customização, estou a poupar imenso em transporte, material, porque quando quero fazer sapatos com uma folha de couro, a maior parte é resíduo.

Se eu fizer uma coisa que projecta partículas de couro coladas com uma resina microscópica, aproveito 100% do material e só faço o sapato e elimino o desperdício.

Portanto, se eu pensar do lado da procura, da optimização, em utilizar as tecnologias que a Ciência me dá, sou capaz de pensar em soluções, seja para transportes, aquecimento, fabrico de materiais industriais, ou construção de casas.

Por exemplo, já guiei um carro, todo ele feito de fibra de carbono, portanto com materiais super leves, mas com a resistência do aço. Para vir para Castelo de Vide, em vez de vestir um casaco que pesa mais de uma tonelada, apesar de estar um pouco mais gordito de quando estava em Bruxelas, peso 65kgs, mas a gasolina que gastei para chegar aqui foi para transportar uma tonelada mais 365 kgs.

Portanto, hoje transportei de Lisboa até Castelo de Vide 1365 kgs. Faz sentido? Não faz sentido nenhum. A tecnologia já me responde e é capaz de resolver doutra maneira. Este é um exemplo de quando o país estiver a fazer como eu faço em minha casa: em vez de termos o modelo ineficiente antigo, de que falei, da central do Pego a deitar fora dois terços da energia que queima do carvão e a fazer a poluição toda, vamos ter algumas redes, também no Pego, esperemos que poucas, e vai ter muita gente a produzir descentralizada a sua energia e vai ter micro-redes inteligentes, milhares de postos de armazenamento, nomeadamente os automóveis.

Já pensaram que os automóveis são uma bateria com quatro rodas; e o que é carregar à noite, quando a electricidade é barata e vender à rede durante o dia quando a electricidade é mais cara?

Fui dar umas conferências ao Campus da Universidade de Santa Bárbara na Califórnia que é um sítio paradisíaco porque tem uma baía fantástica. Não sei se estivesse lá, se estava a estudar ou estava na praia maravilhosa.

[RISOS]

Mas, para além disso, é uma cidade, têm milhares de alunos, centenas de professores, laboratórios, etc. Eles têm dentro do perímetro painéis fotovoltaicos nos telhados, cogeração, em vez de terem caldeiras só para produzir calor quando está frio no Inverno, também aproveitam os gases para moverem microturbinas, etc., e têm automóveis eléctricos lá dentro, do tipomini-buggysdo golfe. As salas são todas geridas eficientemente: se estão vazias, não faz sentido terem luz e ar condicionado ligados.

Isto é tão importante! Por exemplo, a Universidade de Évora tem a única experiência de cidade inteligente a funcionar. Estive lá há um ano, em Março do ano passado, no seminário de lançamento do projecto: são 30 mil consumidores, mais os escritórios. Em Abril deste ano fez-se o balanço, um ano depois, sem investimentos em aparelhos, ou seja, sem mudar os frigoríficos, janelas, nada disso, apenas pelo comportamento das pessoas, os consumidores domésticos baixaram 4% e os escritórios 16%.

Porque entrava a mulher da limpeza, ligava as luzes todas e com contadores inteligentes e a capacidade de só usar a energia que é realmente necessária, sem investir nada em capital fixo, em Évora foi possível reduzir brutalmente o consumo.

Uma crítica que se faz às renováveis e àquele modelo é que as renováveis são intermitentes e que, portanto, é um problema.

Eu digo-vos que não é um problema. Isto que está aqui – podem ver nositeda REN – deu dois doutoramentos e dois mestrados, na Universidade do Porto, e uma empresa jovemstart-upque já está a exportar.

Isto é um modelo que me dá previsões com três dias de avanço. A linha cinzenta é o que o modelo previu que íamos ter de produção eólica em Portugal e a linha azul é a produção real que aconteceu. Com três dias de antecedência, estamos hoje com uma precisão, a cada hora, que já tem uma margem de erro inferior a 20%, com 48h a 10% e 24h a 5%.

Portanto, é intermitente, mas dá para prever, por isso é passível de ser gerida. Com o Sol, a água, a biomassa e a geotermia, a mesma coisa.

Hoje em dia, na minha centralzinha de comando com três ecrãs de televisão, sou capaz de ver por exemplo numa playstation, navegando entre as eólicas como se estivesse num helicóptero, ver com 5 segundos de tempo de diferença; tudo isto é português, tanto osoftwarecomo as máquinas. Posso ver em tempo real como é que estão a rodar, para que lado é que estão viradas, qual é a electricidade que estão a produzir, qual é a velocidade do vento e a temperatura, enfim, tudo.

Posso prever com três dias de antecedência como vai ser, por isso é intermitente mas é previsível.

Agora vejam uma coisa: a azul estão as variações do preço do petróleo, a cor de laranja a variação do preço do solar fotovoltaico e a verde a variação do preço do eólico. Isto em investimento, não tenho qualquer dúvida qual é a tendência, com uma pequena diferença, o petróleo, o carvão e o gás são mais de metade do pagamento do défice na balança de pagamentos. Estes são endógenos.

Gosto muito desta fotografia, porque morei muitos anos neste projecto que é em Monção, no segundo maior parque eólico da Europa. Foram quase 400 milhões de euros de investimento, as máquinas são 98% feitas em Portugal, o que contribui para vários milhares de postos de trabalho. Estão em terrenos baldios que pertencem às comunidades de Monção, Melgaço, Valência, Vila Nova de Cerveira e Caminha, totalizando 88 contratos de baldios; produzem 1,8% da electricidade que o país usa.

Portanto, evitam muitos milhões de euros de importação, com tudo isto feito em Portugal, e os baldios estão alugados e as rendas pagas às freguesias e comunidades ao longo da vida do projecto são muitos milhões de euros. As câmaras têm 15% do capital da sociedade, por isso há uma grande incorporação de desenvolvimento regional e de fixação de valor. E o melhor é que as máquinas ocupam 2,5% do terreno alugado e os outros 97,5% continuam exactamente, embora paguem a renda, a ser utilizados como dantes pelas populações para pastoreio, caça, turismo e floresta.

Agora, vejam isto, que é uma fotografia da capacidade de geração na Europa e é isto que me faz ter algum optimismo. As centrais com mais de 40 anos, o que tinha aqui sobretudo? Carvão, a grande hidráulica e algum nuclear. As centrais com menos de cinco anos, ou seja, isto é de 20 anos para cá, 15 anos para cá e dez anos para cá. De dez anos para cá para cá, o que é que temos? Gás, eólica e outro tipo de renováveis.

Portanto, o que se fez nos últimos 20 anos na Europa é sobretudo a substituição do carvão pelo gás natural e do resto por renováveis.

Não queria deixar de chamar atenção de uma coisa sobre a qual se quiserem fazer perguntas, podem fazer, que é a maior revolução na parte dos combustíveis desde que o petróleo substituiu o carvão à II Guerro Mundial, que é a entrada em força do gás natural.

Isto é uma revolução geopolítica. Se vos estivesse aqui a falar há cinco anos, estaríamos num seminário com o senhor Putin, por isso é que aparece aqui a caricatura, pois ele teria a União Europeia assim, pelo gargalo.

Porque nós estávamos dependentes do gás natural da Rússia. Cinco anos depois, ele já não manda nada em termos de gás natural, pois o maior produtor é os Estados Unidos. A economia do gás mudou completamente, com problemas ambientais graves também, de que poderemos falar nas perguntas se alguém quiser. É oshale gas fracking, que mudou completamente a geografia e a geopolítica.

Qualquer dia, no Golfo, vamos ter soldados chineses porque eles é que vão precisar do petróleo do Golfo e do gás do Qatar, em vez de serem soldados americanos. Porque a geopolítica dos recursos da América é auto-satisfeita dentro dos Estados Unidos, Canadá e alguma coisa da América Latina. Portanto, há uma mudança brutal na geopolítica do gás.

Mas isso, como eu digo, podia estar aqui dias a falar sobre Energia. Não percam é da cabeça o seguinte: o Mundo não sobrevive com o padrão de ineficiência dos recursos energéticos que hoje temos. Esta é a grande mensagem-chave que quero deixar aqui e não é que haja falta de gás, carvão, ou mesmo petróleo que há mais falta e será o mais caro entre os três por ter mais problemas de preço e de extracção, mas não há atmosfera, ou oceano que aguente este nível de intensidade de utilização e de queima destes recursos fósseis. Não há e não há mesmo!

Isto é um gráfico com números reais da União Europeia, que mostra que o potencial de redução de desperdício na utilização de energia, sobretudo nos edifícios. Onde é que a energia é utilizada? Um terço é nos transportes, um terço nos edifícios e o outro terço no resto. Isto varia de país para país, masgrosso modoé isto: portanto, edifícios e transportes levam entre dois terços a três quartos da energia final que nós consumimos.

E são as duas grandes áreas em que vou mostrar slides que chegaram hoje, que tinha pedido ao professor Oliveira Fernandes que é dos homens que mais sabe de Energia em Portugal e que hoje em dia é Presidente da Agência de Energia do Porto (AdEPorto). Esta tem talvez – a cidade do Porto, mérito ao Rui Rio, que soube apostar nisso –, o melhor programa até 2020 de redução do consumo numa cidade.

Vale a pena ir aositeda AdEPorto para ver o programa e percebemos que a redução de consumo de energia e a sustentabilidade não são palavras vãs.

Por exemplo, uma das medidas mais inteligentes nesta área, que houve no Porto, foi simplesmente mudar o sistema de distribuição da água. Porque se a água vem da montanha, ela depois estava a ser bombeada para cima para ser distribuída contra a gravidade; fez-se os depósitos lá em cima e ela assim sai por gravidade e não a electricidade. Mas o país está cheio de casos mal organizados, que se fizeram por via do FEDER, de estações de tratamento de esgoto que estão no telhado e estações de água para beber que estão na casa.

De maneira que eu tenho de levar o esgoto para o telhado. Estou a falar a sério, não estou a brincar. Estou a dizer que o país está cheio de municípios que puseram as estações de tratamentos de esgoto em quotas mais elevadas do que o município e que têm as estações de tratamento de água para beber em quotas menos elevadas do que o município.

Ou seja, é tudo à força da electricidade e bombagem, em vez de ser pela força gravítica para a água correr nos canos e onde nalguns canos podem pôr microgeradores, pois já que a água pode correr também podem pôr uma microturbina para gerar electricidade, como vi há trinta anos na Suíça que todos aqueles canais que vêm das montanhas têm quase todos microturbinas, porque à medida que a água vai caindo até às torneiras das pessoas também vai produzindo electricidade.

Vejam uma coisa muito engraçada na cidade do Porto: isto é a energia primária, portanto o carvão, o petróleo, o gás, as renováveis; isto é a energia final, ou seja, a que possa comprar, a electricidade, odiesel, etc.; e isto é a energia útil, onde é que uso a energia. Metade das perdas estão na energia útil, ou seja, na chaleira eléctrica, no arrefecimento de uma casa com ar condicionado em vez de ter um toldo, uma buganvília, ou qualquer outra coisa que fizesse sombra sobre a janela para não estar o sol do meio-dia a entrar de chapa dentro de casa, ou um estore por fora e não por dentro, pois por dentro já passou o calor pelo vidro e entrou para dentro de casa.

Não fazem ideia de medidas simples, por exemplo em minha casa a medida mais simples e mais eficaz que tomei foi pôr um toldo nas janelas a sul, porque tinham um janelão com uma bela vista e o Sol entrava de chapa, ainda por cima no gabinete da minha mulher que ficava cheia de calor, porque eu proibia, por razões ideológicas, o ar condicionado lá em casa.

[RISOS]

Portanto, tinha um problema familiar e energético e resolvi-o com um toldo! Um simples toldo! Baixou cinco graus a temperatura dentro de casa.

Se quiserem fazer perguntas sobre os custos, tenho os números todos aqui, posso passar. Agora vejam só a roleta russa que é para um país como Portugal estar dependente em 80% de energias fósseis. Isto é o défice da balança de importações de energias fósseis: em 2008 foi de 8500 mil milhões de euros, depois houve a crise económica e em 2009 o petróleo baixou, nós poupámos de um ano para o outro 4 mil milhões de euros. É duas vezes um valor correspondente ao décimo terceiro e ao décimo quarto mês dos funcionários públicos e reformados.

Depois, a situação económica estabilizou um bocadinho e o petróleo subiu outra vez, mas a quantidade é a mesma. Em três anos seguidos passou de 8,2 para 4,8, isto é o saldo, é o que pagámos, este dinheiro não fica na Economia portuguesa, vai para o Dubai, Luanda, Brasil, Argélia e não volta. E é pago à frente, porque na Energia fiado só amanhã, ninguém fia.

Termino com esteslide. Meus amigos, estamos numa Universidade de Verão política, não é só académica, embora tenha um vector académico muito grande. Para mim, na Energia há aqui uma opção política clara entre o modelo aberto e descentralizado à semelhança da Internet, em que cada consumidor toma a responsabilidade pelo seu comportamento, consumo, produção e reprodução e é um agente de cidadania como é hoje na Sociedade de Informação, ou um modelo centralizado sob o controle de Estado através de grandes empresas verticais.

Isto é uma escolha política e é um modelo de sociedade.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

 
Duarte Marques

Bom dia a todos. Obrigado ao Eng.º Carlos Pimenta, um clássico da Universidade de Verão, sempre no mesmo estilo e com a mesma vivacidade e, sobretudo, qualidade.

Dava a palavra ao Eng.º Pedro Sousa do grupo Encarnado.

 
Pedro Sousa

Muito bom dia, excelentíssimo Eng.º Carlos Pimenta, é sempre um prazer ouvi-lo, já tinha tido oportunidade de o ouvir várias vezes, o tema é espectacular e a forma como o apresenta sem dúvida é apaixonante.

Em relação ao tema, especificamente, nós queremos levantar apenas três pequenos pontos sobre o tema da Energia e sustentabilidade.

O primeiro ponto e também no tema que abordou aqui levemente na sua apresentação sobre a construção sustentável, porque tem sido apontada como uma grande solução para mudar o paradigma, reduzir as emissões e consumos nas cidades, tem a seguinte pergunta: num contexto em que o parque habitacional português se encontra bastante sobredimensionado em relação às necessidades, numa altura em que reabilitação e requalificação ainda não estão no panorama português da mesma forma que está noutros países e essencialmente numa altura em que os portugueses lutam mais para pagar a casa do que para reabilitá-la, será que mais do que uma solução não será um princípio de valor?

Depois, em relação às eólicas, queria levantar um ponto: o Engenheiro referiu aqui algumas questões, no entanto ainda se fala muito no verdadeiro custo da eólica quando se contabiliza o custo da construção, dos subsídios, a volatilidade que mesmo sendo previsível se o caudal não for suficiente nunca vamos ter capacidade de produção necessária. Portanto será que a aposta está a ser correcta em Portugal? Mas, essencialmente, sendo uma tecnologia que não se considera estar ainda no seu estado maduro, um país como o nosso, com as dificuldades que apresenta, não será otimingmenos correcto para estar a apostar nesta tecnologia?

Por fim, só uma pergunta relacionada com as energias hidráulicas por uma simples razão: historicamente foi sempre uma grande aposta portuguesa, temos grandes exemplos de obras de engenharia hidráulica, de produção de energia eléctrica pelas águas, como Cahora Bassa. Será que estamos a investir demasiado nesta energia que tem mostrado ser muito importante para o país?

Muito obrigado e peço desculpa pela extensão da pergunta.

 
Dep.Carlos Coelho

Muito bem. Só duas coisas: primeiro, eu não me recordo de ter tido em dez anos na Universidade de Verão algum orador que usasse a esperteza saloia do Eng.º Carlos Pimenta desta manhã.

Como ele estava muito limitado de tempo, de 5 em 5 minutos dizia: podem fazer perguntas sobre isto e sobre aquilo, se quiserem. Agora, vocês não levem isto a sério.

[RISOS, APLAUSOS]

O Pedro Sousa respondeu ao desafio e perguntou sobre quase tudo.

Segundo: o Paulo Colaço está aqui a pedir-me que não me esqueça de vos recordar que há um concurso sobre a manchete do JUV de amanhã que tem que ver com a aula do Eng.º Carlos Pimenta.

Podem escrever a manchete e quem vai escolher o ganhador vai ser o Zeca Mendonça, por isso a manchete de amanhã resultará da vossa iniciativa, escolham o melhor título para definir o essencial desta lição.

Agora sim, a palavra é de Vossa Excelência para responder às perguntas.

 
Carlos Pimenta

O problema é que as perguntas são muito boas e davam três conferências. Sobre a parte urbana, não poderia estar mais de acordo.

Quando eu nasci, há 57 anos, Lisboa tinha quase 800 mil pessoas, hoje tem menos de meio milhão. Elas não desapareceram todas, embora Lisboa tenha envelhecido muito. Onde é que elas estão? Estão no subúrbio, porque em vez de se ter feito uma política de reabilitação urbana para uma cidade que estava totalmente estruturada, ou seja, tinha transportes (Carris, Metro), energias (gás, electricidade), escolas, hospitais, estações da polícia, etc., não, foi-se fazer Sintra que tem hoje 350 mil pessoas, Amadora, Loures, Almada e depois a seguir coroou-se a estupidez com a Ponte Vasco da Gama, que em vez de se ter feito para o Barreiro, com um caminho-de-ferro, fez-se só com rodovia para continuar a mancha do subúrbio.

Fazer essa estupidez toda e aliás, tive a ocasião de dizer isso ao nosso Governo que era do PSD e bati-me contra, violentamente, a opção que foi tomada porque foi a continuação da lógica que vinha dos anos 60 de espraiar a cidade, do tipo Denver nos Estados Unidos, ou outras cidades do género. E agora é assim.

Não é só a duplicação de casas que faz com que Portugal seja o segundo país da Europa com mais casas por habitante, não é só o desperdício de dinheiro – que hoje não temos – de investir em mais casas, ruas, planos de esgoto, portanto capitais fixos, quando já estavam feitos noutro sítio e foram abandonados, mas sim é com os movimentos pendulares. É que preciso de tirar a criança de lá que vai para a escola, a pessoa que vai para o trabalho, o correio que vai lá, o lixo que é preciso buscar e isso é todos os dias! São milhares de quilómetros, que os camiões de lixo fazem todos os dias, porque a mancha nunca mais acaba!

Portanto, meus amigos, é assim, isto é uma guerra antiga, esta que o Pedro Sousa disse. Há dez ou quinze anos, tive uma discussão grande sobre isto. Sabem de uma coisa: às vezes, o dinheiro é um problema.

Em 1988, foi aprovado em Fevereiro na Cimeira Europeia o pacote Delors I, que duplicou os fundos estruturais para os países do Sul: o FEDER, o Fundo Social Europeu, o Fundo Agrícola, etc.

Para Portugal, veio um pacotão de dinheiro e era preciso estabelecer quais eram os indicadores, os números, que indicavam o sucesso da aplicação dos fundos. Aí houve duas escolas de pensamento: a dos obreiristas e a dos complicómetro onde eu estava, que era a escola que privilegiava a eficiência.

Os obreiristas tinham uma coisa muito simples: fazendo indicadores lineares como quilómetros de estrada, de linha eléctrica, de linha de telecomunicações, de canos de água e de esgoto construídos, eram fáceis de medir. Resultava muito rapidamente em cadernos de encargos, concursos, adjudicações e inaugurações.

Construiu-se os quilómetros, venha mais dinheiro. Garantiam o sucesso do encaixe máximo do dinheiro do FEDER. Bom, o resultado está à vista: hoje vim magnificamente em auto-estradas vazias, mas o país tem milhares de quilómetros de canos, linhas e tudo. Estamos super bem infraestruturados.

A linha do complicómetro, que era onde eu estava, dizia: não, não quero estradas, quero é saber quanto tempo e quanta energia é preciso para levar um cidadão de um quilómetro dentro da cidade, entre duas cidades ou na longa distância. Porque isso é que me interessa. A dada altura tive uma zaragata com o Ministro das Obras Públicas, com quem me dava bem pessoalmente, e disse assim: ó Joaquim, eu quero lá saber se o tipo vai de burro, bicicleta, helicóptero, automóvel, camioneta, caminho-de-ferro; quero é saber quanto é que ele leva do ponto A ao ponto B e quanto energia é que gasta, porque isso é que vai dar a eficiência do sistema e isto é válido para a Energia, para a Água, para os Transportes e para tudo!

Se ele tivesse pensado numa forma sistémica não tinha tido um metropolitano de Lisboa a inaugurar no Aeroporto este ano, tinha tido há 25 anos! Lembro de ter mandado uma fotografia aérea deste tamanho, a um outro Ministro das Obras Públicas a dizer: está ali o Estádio do Sporting e as oficinas do material do metropolitano e entre essas oficinas e o Aeroporto há uma rua, quando é que o Metropolitano chega ao Aeroporto?

Isto é válido nos portos, aeroportos, aeródromos, etc., porque nós tínhamos o aeroporto no centro da cidade e não chegava lá o caminho-de-ferro, o metropolitano, nada sobre carris, só sobre rodas. O resultado é que se gastou dinheiro em capital fixo, se fez uma matriz urbana que é inviável, porque tenho para a mesma população um padrão de ocupação de território que me induz custos variáveis de energia e de tempo, que vão comer não apenas à qualidade de vida das pessoas, mas ao défice da balança.

Eu só fecho isso com os baixos salários, porquê? Porque com as outras matérias-primas que eu importo, por exemplo o algodão com que este casaco é feito e que custa tanto aqui quanto na Alemanha, o facto de um alemão gastar metade da energia do que eu para transportar um passageiro num quilómetro, ou para a casa, faz com que possa pagar um salário maior às pessoas.

Porque se o algodão, o petróleo, a máquina que lhe faz o fato também é o mesmo preço, qual é a variável que sobra? É o trabalho! Ou, então, eu tenho umdesigne uma máquina tão bons, que as pessoas por um fatomade in Portugalpagam três vezes mais do que se fosse um Armani, que é outra forma que eu posso cobrar dinheiro, é pela marca.

[APLAUSOS]

Esta é a resposta à matriz urbana: há muitos anos que só pensamos do lado da procura e temos é de ver do lado da eficiência, do consumidor e da minimização.

A discussão sobre preços, em Portugal foi envenenadíssima e que não é verdadeira. Isto são preços reais, podem ver, são as tarifas reais da eólica. Em 2001, uma eólica que se ligasse à rede tinha um contrato de 15 anos e vendia naquela altura 82 euros por MegaWatt/hora.

Hoje, as únicas eólicas que foram autorizadas foram 61 em 2006. Vou mostrar-vos a evolução do custo da evolução a gás. Em 2003, o MegaWatt/hora em ciclo combinado era 23 euros e em 2011 são 63 euros.

Isto é para a eólica, que está madura, o fotovoltaico é que ainda não está. Portugal tem um enorme potencial solar. Quando instalei o primeiro projecto fotovoltaico fi-lo em Espanha com tecnologia portuguesa, chinesa e alemã e um 1KW fotovoltaico custou 5 mil euros, ou seja custou 5 milhões de euros por MegaWatt.

Acabei o projecto que como Engenheiro e Chefe de Projecto fiz, foi inaugurado na Bulgária há dois meses, com células feitas na Maia, na EFACEC, uma empresa portuguesa, custou 1380 euros. Portanto, em cinco anos o fotovoltaico passou de 5 mil euros por 1KW instalado para 1380 com tudo incluído.

Portanto, a pergunta: deve Portugal apostar nas renováveis? Meu amigo, peso da factura energética do PIB, a energia é mais de metade da balança de importações. Só posso mexer de duas maneiras: aumentando a eficiência energética e aumentando o uso dos recursos que cá tenho. Tenho muitos recursos cá, Portugal é extremamente rico em recursos naturais: tem água, vento, sol, geotermia, biomassa e um dia, no futuro, há-de ter ondas também quando a tecnologia das ondas for viável, porque neste momento ainda não é rentável, porque as ondas são muito previsíveis, mas o problema é que a engenharia ainda é muito pesada.

Agora não cabe aqui, mas se houver mais perguntas sobre isso darei os outrosslides. Não resisto só a dar umslideque é o seguinte: dizem que em Portugal a electricidade são 22% da energia que consumimos, o resto é petróleo e gás. Dos 22% da electricidade metade vem das renováveis, portanto no bolo que consumimos a electricidade é a única onde há recursos endógenos, no resto 78% exceptuando lenhas e biomassa que são 4% ou 5%, é tudo importado.

Depois, nos 11% da electricidade é meio a meio com as renováveis e os recursos que importamos. Se fosse verdade que as renováveis levaram às rendas e ao país inviável, como disseram, o país devia ter um preço de electricidade que seria incomportável. Vou-vos mostrar os valores reais. Portugal está em termos dos combustíveis da seguinte forma: o preço da electricidade para consumidores domésticos, no segundo semestre de 2011, podem ver que a média da Europa está aqui e Portugal está aqui.

Em termos de consumidores industriais, a média da Europa está aqui e Portugal está aqui. Então e nos noutros 78%, combustível e gás natural? Aí, temos más notícias: Portugal está notop fivedos países mais caros dediesel, gasolina e gás natural.

Então e agora há uma coisa que não percebo: se a electricidade é a única onde as renováveis têm um peso importante de 50%, somos o país da Europa que tem mais renováveis na produção de electricidade, temos metade de fontes renováveis, como é que temos o preço que temos na média europeia? E como é que nos outros que são importados e que o preço médio do barril do Brent é o mesmo, o gás natural da Argélia eles não nos vendem mais caro a nós que aos alemães e estamos no segundo gás mais caro e no quinto mais caro emdiesele gasolina da Europa antes dos impostos?

Estou a falar de tudo isto antes dos impostos ISP, IVA, etc.? Ainda disse isto ao senhor Secretário de Estado da Energia na segunda-feira que há um filme que não estão a ver, dizem que as renováveis são caras e isso tudo, mas o único sítio em que as renováveis em Portugal têm uma introdução forte é na electricidade, infelizmente para produzir calor deveria ser muito, muito, muito mais forte.

Não devia haver casas sem produção renovável de calor, nomeadamente pela luz. Não tem sentido. Tomei hoje um duche às seis e meia da manhã com um sol que esteve ontem, não houve nada de gás. Porque é que as pessoas não fazem isso? O investimento mais barato que existe em termos de energia, além das medidas simples de que já falei, é o painel solar de água de quente, é a coisa mais simples de todas, fica amortizado em menos de meia dúzia de anos e dura 25 anos.

Tenho painéis solares em minha casa que já têm vinte anos, instalam-se por 1600 euros e duram 25 anos e estamos nós a queimar gás, ou nalguns casos, no norte do país, a produzir água a 36 graus com electricidade?

Isto não tem sentido. Constroem-se prédios, condomínios, em que as casas não têm energias renováveis lá metidas, pois se é um prédio já não consigo reverter; se for uma casa, uma vivenda, ainda consigo dar a volta, mas se for num prédio, ou é feito de raiz, ou já é muito difícil reverter.

 
Duarte Marques
Muito obrigado. Dou agora a palavra à Carolina Gonçalves do grupo Roxo.
 
Carolina Gonçalves

Bom dia. Quero agradecer desde já ao Eng.º Carlos Pimenta.

Tendo em conta que vivemos numa zona económica europeia dependente de recursos não renováveis, qual a sua opinião do ponto de vista geoestratégico para tornar a nossa União mais independente dos recursos e custos externos, como é o caso dos países do Norte da Europa?

 
Carlos Pimenta

Muito boa pergunta também. A Europa está um bocadinho melhor que nós em termos de independência, neste momento, importa metade da energia que consome e nós importamos quase 80%. Portugal, apesar de tudo, por causa da aposta das renováveis, porque quando comecei, há 13 anos, Portugal estava a importar 83% da energia que consumia. O ano passado importou 76%, mesmo assim melhorámos 10%, sobretudo na electricidade, alguma coisa nas eólicas, na hídrica e na geotermia nos Açores onde um terço da electricidade dos Açores já vem da sua geotermia.

A Madeira é a zona do país onde há maior penetração de renováveis, com o vento, a água e alguma coisa do Sol. Agora, a União Europeia infelizmente tem piorado, ela importa metade da energia que consome, os países menos dependentes são a Finlândia, a Suécia e a Áustria, porque apostam muito na eficiência.

O que é extraordinário é ver os índices, por exemplo, na Alemanha Finlândia e Áustria, de consumo de energia por metro quadrado, países que têm climas terríveis de frio no Inverno e têm mais eficiência do que a maior parte das nossas casas em Portugal. Nós conseguimos uma coisa fantástica que é termos imensas casas que se comportam pior que o clima.

A casa dos meus pais é um quinto andar no município de Cascais de um prédio novo, tem 15 anos, e eu entre lá anteontem e tirei-os lá de casa, porque era uma estufa. Disse-lhes que não é possível que lá fora estão 26 graus e cá dentro estão 32.

Porque nós fazemos casas que se comportam pior que o clima, de Inverno são mais húmidas e frias, porque nem sequer têm arejamento e sol que dá alguma salubridade e de Inverno são do tipo estufas que não têm circulação natural de ar, concentram o calor, têm paredes viradas a Sul sem sombreamento e quando o Sol se põe as paredes irradiam o calor para dentro de casa e a pessoa não tem sossego.

Portanto, em relativamente à União Europeia as respostas são simples: primeiro, continuar e por isso é que eles querem mais de 20% de eficiência energética e o grande desafio são os transportes de agora. Nós temos que dar a volta aos transportes; era como as lâmpadas que ainda há nesta casa, que eu estou a ver, foi o Thomas Edison que as inventou, por amor de deus! Estas lâmpadas produzem 90% de calor e 10% de luz e depois a seguir vão ligar o ar condicionado para evacuar o calor que as lâmpadas produziram, que é o que está a acontecer neste momento em que estamos a falar.

Se repararem, nesta sala estão todas as lâmpadas estão ligadas, há bocado fizemos a conta com o exemplo da central do Pego, depois se esta lâmpada só utiliza 10% de 30% é só 3%, portanto estou a queimar 97 kgs de carvão no Pego para ter 3 kgs de luz equivalente de energia aqui nesta sala. Mas como tenho 7 kgs de calor, tenho de ligar o ar condicionado para tirá-los senão daqui a pouco estamos aqui todos de fato-de-banho.

[RISOS, APLAUSOS]

Isto é a realidade, por isso: continuar a eficiência! Depois, a segunda: a Europa, sobretudo ao nível das renováveis maduras, por exemplo a Siemens que não tinha praticamente renováveis há dez anos e tinha um sector grande de nuclear, como é que está hoje? E estamos a falar da Siemens que factura 100 mil milhões de euros por ano, metade do PIB português e tem 100 mil funcionários, portanto não é uma boutiquezinha gerida por um tipo da GreenPeace, não, é uma engenharia a sério.

A Siemens fechou o nuclear, há um ano, em consequência de Fukushima e comprou uma empresa dinamarquesa de eólicas, a Bonus, a melhor, porque como não tinhaknow-howinterno, como estas grandes empresas fazem, comprou lá fora e a seguir meteu-lhe a sua engenharia e tudo o que sabia e neste momento 50% das eólicas que estão no mar, offshore, já são da Siemens. Foi uma grande transformação em cinco anos.

Por outro lado, nos transportes, eles forneciam equipamentos de pesados nos comboios, nas máquinas, nos grandes fornecedores de tracção e hoje gerem o quê? Sistemas de mobilidade urbana, com sensores que dizem como é que está o trânsito e mudam as luzes, etc.

Vou-vos dar um exemplo muito engraçado: por exemplo, como é que eu aumento o uso dos transportes urbanos? Um amigo que é professor no Técnico e estávamos com uns amigos que assistiram, dizia-me com muita piada: "sabes uma coisa, é o problema da minha sogra e do meu filho.

A minha sogra está velha – e depois ele deu-lhe outro qualificativo que eu abstenho-me de dizer -, tem todo o tempo da vida, mas está coxa, portanto o que é ela quer? Muitas paragens e depois pode estar meia hora à espera do autocarro porque não tem nada para fazer. O meu filho que tem boa perna não se importa de andar 500 metros para a próxima paragem, mas quer é que o autocarro passe muito frequentemente. A Carris, ao meter autocarros que nem passam muito frequentemente nem fazem paragens várias, não satisfaz nem um nem outro.

O que significa que o tipo de transporte e a tipologia de transporte tem de mudar para passarem a haver coisas mais pequenas, tem de haver táxis partilhados, com aplicações que tenham GPS e eu esteja num sítio e possa dizer que quero um carro e que o carro mais próximo possa parar e recolher-me, coisas destas.

Quando falava há bocado, dizem-me que isto abre negócios, oportunidades de tecnologias e modelos de emprego para um país mais eficiente, mais moderno, mais ágil, do que a velha coisa de perguntar o que é que eu faço, se mais paragens, ou mais autocarros.

Sabem no que é que isto se traduz? Ao dia de semana a velocidade do autocarro é 14 kms/hora, ao domingo de manhã que não há ninguém é de 15 kms/hora. Não é porque não há trânsito, é porque não está sempre a parar. Portanto, nunca chega à velocidade de cruzeiro, não faz velocidade média. O que é que é um autocarro a 14 kms/hora? É um autocarro que gasta imenso combustível, porque está sempre no pára/arranca, na 1ª, 2ª e 3ª mudanças e não passa disso.

É desgaste de material, tempo e consumo. Tenho de redesenhar a ideia que tenho de transporte e isso é uma oportunidade para vocês, porque são novas aplicações desoftware, novos modelos e novas soluções. A legislação tem de acompanhar isso. Não faz sentido, por exemplo, a legislação portuguesa proibir os táxis partilhados; assim está a proibir logo todo este desenvolvimento de que estou a falar.

[APLAUSOS]

 
Duarte Marques
Obrigado, senhor Engenheiro. João Maia do grupo Rosa.
 
João da Maia

Em primeiro lugar, bom dia a todos. Bom dia, senhor Engenheiro, muito obrigado pela palestra que nos deu.

Vou falar de um projecto em particular, a microgeração que é a produção de energia eléctrica em pequena escala usando fontes de energia renováveis. Este projecto tem a particularidade de o utilizador por vender a energia produzida, mas o problema é que ainda tem um custo bastante considerável, principalmente nos dias de hoje que as pessoas não podem estar a despender assim de tanto dinheiro.

Em sua opinião, acha que este valor elevado se deve ao custo real do material usado e da sua respectiva instalação, ou devido a algumas pressões elobbiesexistente? Acha que há meios – e aqui não me refiro apenas aos apoios estatais – para baixar estes custos?

Muito obrigado.

 
Carlos Pimenta

Boa pergunta; eu sou um fanático da microgeração, aliás instalei uma em Portugal antes de haver lei para isso, o que gerou um fenómeno curioso. Não fiz nada de ilegal, só que usei a lei dos grandes parques eólicos, que não dizia quais eram os limites mínimos, portanto instalei painéis fotovoltaicos e pus um licenciamento, já foi há 11 anos, e eles deram-me a licença. Estava tudo em conformidade, eu tinha um projecto, assinado e depois mudou tudo, a EDP na altura há sete ou oito anos não sabia lidar com isso. Então, tive aquilo parado durante um ano no telhado a produzir electricidade para o chão.

Houve um dia em que me zanguei, telefonei para o Presidente da EDP e o Director-geral e disse: anuncio-vos que a partir de hoje faço uma ilegalidade, vou ligar. Chamei o electricista, fez-se uma tomada terra e liguei na ficha da casa e disse: não estou a cobrar dinheiro nenhum à rede, mas estou em auto-abastecimento. Aquilo deu um bocado barraca e apareceu um carro com cinco engenheiros, eu tinha 5KWatts e dois deles até tinham andado comigo no Técnico, recebi-os bem, servi-lhes um chazinho e disse: para mim é uma honra ter um engenheiro por quilowatt.

[RISOS, APLAUSOS]

Mas, hoje em dia, já há mais de 12 mil portugueses de fazem aquilo que o meu amigo disse e a boa notícia que tenho para si é que a quebra de preço do fotovoltaico é de tal maneira grande que o preço deste último parque de que eu falei na Bulgária, já fornece a um preço à rede que é competitivo, não com o de uma central a gás, que é duas vezes e meia, mas é o preço mais baixo que o consumidor doméstico paga.

O que é que isto quer dizer? Quer dizer uma coisa muito curiosa sobre a qual eu já avisei os responsáveis governamentais de vários países sobre isto: é que vamos ter um problema. No dia em que o meu amigo disser o que eu estou a fazer em minha casa, mas estou a fazer por experiência técnica, de investigação e desenvolvimento e não por causa da rentabilidade comercial.

No dia em que produzir electricidade em minha casa, e este dia está a chegar nos próximos três ou cinco anos, a um preço igual ou mais baixo do que o preço que a rede me vende, tenho um problema que é o armazenamento, mas se tiver um carro eléctrico e uma bateria de apoio, posso resolvê-lo. Aí vou dizer à rede: muda a taxa de potência e o preço, ou eu corto o fio. E o país precisa de rede.

Nisso, tenho uma boa notícia para lhe dar: o custo unitário da geração individual em microprodução em Portugal já desceu. Repare: há cinco anos a rede pagava-lhe mais de 400 euros o MegaWatt por hora, o meu amigo está a comprá-lo por 160, portanto era três vezes o preço da compra. Hoje paga-lhe a uma vez e meia. Portanto, em Portugal, em cinco anos, passou-se de uma remuneração que era três vezes que a rede fornecia para uma remuneração de uma vez e meia.

Tenho a certeza que daqui a cinco anos poderá dizer-me que está a produzir em sua casa, amortizando o painel, a bateria e a instalação. Estive noutro dia num templo zen numastart-upe o templo zen era o primeiro grande cliente, cujo monge responsável era fanático por renováveis. O homem levou-me ao telhado que era um terraço e estava cheio de fotovoltaicos. Depois descemos e atrás do Buda estava o computador pessoal – isto é tudo verdade, não estou a contar histórias – que tinha no ecrã a fotografia dos painéis fotovoltaicos e ele dizia: "agora vamos fazer para trás o nosso passeio lá em cima”. O que é que se via: não se via nós os dois a passearmos, porque não estavam lá câmaras, mas via-se a sombra a passar de painel em painel.

Eu disse: espere aí, mas isto não pode ser, porque os painéis estão ligados em série como as lâmpadas numa árvore de natal. O que é que isso faz? Quando há uma nuvem que abrange um painel da fiada todos os outros ficam como se tivessem uma nuvem por cima, o mesmo se for geada, orvalho, ou algo que me diminua em 30% a capacidade de receber a radiação num dos seis painéis da fila, os seis painéis é como se estivessem todos cobertos de geada.

Ele disse-me: "não, atrás de cada painel tenho um micro conversor digital”. Em vez de ter um conversor analógico que converte em contínua a corrente alterna da fiada toda, tem por cada um uma coisa do tamanho de um iPhone, que tem uma vantagem: além de converter logo para corrente contínua e pôr imediatamente a 220v, saindo em corrente alterna, tornando independente cada painel e se algum avariar não afecta os outros, aumentando o rendimento em 20% com os mesmos custos de investimento, como é digital está a fazer um estudo de eficiência de cada painel em cada momento.

Se há um painel que começa com menos 5% em relação ao vizinho ele assinala com cor de laranja, ou encarnado, ou verde a piscar, para que visualmente eu veja que, por exemplo, o painel "X” tem um problema e o painel "Y” não tem. Isto é apenas um caso em como a digitalização, a capacidade de processamento de informação em tempo real de uma forma descentralizada, de que falava há bocado, pela baixa de preços dechips, me permite aumentar brutalmente a eficiência dos mesmos equipamentos porque os painéis são os mesmos só que deixam de estar como uma árvore de Natal.

[APLAUSOS]

 
Duarte Marques
Muito obrigado. Vasco Touguinha do grupo Verde
 
Vasco Teles Touguinha

Bom dia a todos, em especial à mesa.

A questão do grupo Verde não se prende tanto com os meios técnicos energéticos. Após absorvermos toda a informação que nos esteve a transmitir e tendo em conta que antigamente, hoje em dia e para a frente sempre seremos dependentes do Ambiente, concordamos que o bem jurídico fundamental continua a ser desprezado, em parte, pelo legislador no sentido em que embora muito se legisle não se conseguem os impactos sociais que se queriam.

Assim, pergunto: não seria melhor todos nós termos uma legislação interna e europeia mais rigorosa e menos abstracta que a actual com o fim de combater o fenómeno da deterioração do Ambiente, obrigando também as grandes empresas de Energia a produzir e vender energias verdes?

Obrigado.

 
Carlos Pimenta

Muito bem, a pergunta é muito boa.

O actual Governo convidou um grupo de pessoas e eu fiz parte para revermos a lei-base do Ambiente. Convidou pessoas de várias orientações, técnicas, científicas e até políticas. O grupo funcionou muito bem e produziu um texto que já está no Parlamento e o objectivo do texto é tornar os conceitos principais mais operativos, perdendo muito da tralha e das coisas que só complicam.

Por exemplo, o princípio de pagador-utilizador é mais directo e mais simples.

Em relação à segunda parte da pergunta: isto é o Financial Times, por isso também não é um jornal verde, mas está aqui uma notícia que me deu alguma alegria. A Federação da Fórmula1 decidiu abrir uma nova fórmula para carros do tipo fórmula1, mas eléctricos.

Portanto, a partir de 2014 vão estar além do Fórmula1 e isto é importante porque aqueles que se testam nos carros no limite depois passam para omainstream.

Por isso, estou convencido que, por exemplo, o que é que justificou que os chineses tivessem pago o que pagaram pela EDP? Muito sinceramente, não faz sentido, eles pagaram muito. Para mim tem duas explicações: uma pela entrada em mercados no Brasil e África, onde os chineses entraram de uma forma que não lhes correu muito bem.

Sabem de histórias do que aconteceu em África como a forma em que a China entrou, era tudo verdadeiramente "chave na mão”, não havia nenhuma interacção com as pessoas nem com a economia local, porque os trabalhadores vinham da China, viviam dentro de contentores e se morriam os corpos iam nos contentores, não havia nenhuma interacção entre as pessoas e a economia e sociedade locais.

Outra razão é porque a EDP é a terceira empresa de renováveis no Mundo e os chineses são neste momento a área do Mundo que mais está a investir em energias renováveis. E se conseguiram vender bem os painéis fotovoltaicos, eles não conseguiram vender outras como a eólica. A segunda maior empresa de eólicas do Mundo é chinesa, a Goldwind, só vende na China; a quarta e sexta maiores também são chinesas e só vendem na China.

A EDP foi agora ao concurso de Marrocos para um grande programa de desenvolvimento das energias eólicas chinesas e vai com umpartnerchinês. Ou seja, o facto da EDP renováveis ser a terceira maior empresa de renováveis do Mundo deu uma valorização à empresa que ela não teria doutra forma, porque ganhouknow-how, tecnologia, capacidade de fazer projectos renováveis no Brasil e Europa do Leste, África, zonas em que os chineses estão interessados.

Para terem uma noção, neste momento no Mundo, a geração de electricidade é assim: 40% do que se investe é geração de gás natural em ciclo combinado, 40% são renováveis e 20% é o resto. Dentro das renováveis a grande fatia é eólica, porque é a que está mais madura.

O primeiro trimestre de 2012, o total de investimento, ou seja formação bruta de capital fixo, ou seja investimento novo, que houve de renováveis no Mundo foram 56 mil milhões de dólares. O que dá para o ano 200 mil milhões, mais que o PIB português. Destes 56 mil milhões de dólares de Janeiro a 31 de Março metade foi na China.

Portanto, têm a noção do que é que é a aposta estratégica. Têm a noção do quanto custa à nação alemã abandonar o nuclear, fecharam 8 centrais nucleares já e vão fechar as outras todas até 2020, e ter uma matriz baseada em renováveis com suplemento térmico? São 250 mil milhões.

O programa de reconversão da produção de electricidade na Alemanha para basear a matriz em renováveis são 250 mil milhões porque implica construir linhas de altíssima tensão alternativa para minimizar perdas do Norte para o Sul para trazer a energia eléctrica feita com o vento do Mar do Norte para a Baviera e levar o Sol da Baviera para o Norte, fazer redes micro-inteligentes para ter a geração dessas coisas todas.

No outro dia fui lá visitar e o taxista que me apanhou no aeroporto de Bremen, perguntou-me donde é que eu era e ele disse-me: quanto é que pagam a microgeração a partir do Sol? O taxista! Eu fiquei a olhar para o homem: o preço tem baixado, agora está a pouco mais de 200 euros por MegaWatt/hora, mas porque é o senhor quer saber isso? Ele respondeu:"É muito simples, porque aqui a minha família e eu fizemos uma economia e tínhamos duas opções: ou comprávamos um apartamento para alugar, ou pusemos 40KW de fotovoltaico em Hamburgo ao pé de Bergen onde há 400 horas de sol”, aqui onde estamos em Castelo de Vide há 1400 horas,"e fizemos as contas e isto é uma aplicação que nos dá uma taxa de juro equivalente a 9%”.

O taxista alemão já meteu na cabeça que a rede futura é baseada em microgeração, renovável e com milhares de pontos de produção; já há três mil empresas de produção a partir de renováveis na Alemanha. Uma é uma autoridade portuária de um porto e tem seis máquinas com 120 metros de altura, cada máquina com umas pás cujo diâmetro é duas vezes o estádio da Luz, que eu estive lá em cima e vi. Cada uma tem 6MegaWatt, custam 9 milhões de euros cada uma e estão entre as gruas; as máquinas são mais altas que as gruas que descarregam os contentores.

Depois, há uma empresa cooperativa agrícola no meio dos campos de trigo têm as máquinas. Eles meteram isto na cabeça e não estão a fazer isto por serem verdes, mas sim por perceberem que isto tem maior resiliência do que, por exemplo, as centrais nucleares. Como Fukushima, com os problemas gravíssimos de electricidade no Japão no ano passado, tiveram de parar as centrais todas porque perceberam que os erros dedesigne os problemas que ocorreram estavam também reproduzidos noutras centrais e podiam, em caso de situação de terramoto, ou tsunami, ter os mesmos problemas.

A matriz japonesa não estava preparada para este tipo de produção.

Portanto, penso que o caminho é este.

 
Duarte Marques
Muito obrigado, senhor Engenheiro. Dava agora a palavra ao Hugo Silva do grupo Amarelo.
 
Hugo Ricardo Silva

Bom dia, queria cumprimentar a mesa e o orador. Dou-lhe os parabéns pela sua produção caseira de electricidade, é muito bom ouvir isso, é um exemplo.

Depois de ouvir tudo fiquei com uma preocupação e com uma questão muito importante: acha que vamos conseguir mudar as mentalidades em relação ao Ambiente, ou será que ainda morremos todos primeiro?

Penso que é interessante reflectir sobre isto.

Gostava de ouvir falar sobre o projecto Mobie-E se puder dar uma palavra sobre isto, se possível e já agora, quantos carros é que já viu serem carregados nos postos de abastecimento públicos?

Obrigado.

 
Carlos Pimenta

Fazem todos boas perguntas.

Tenho pena que Portugal tenha desinvestido em mobilidade eléctrica. Digo isto claramente: o programa como estava tinha de ser corrigido. Mas os franceses têm um ditado que é "não deites fora o bebé com a água do banho” e nós deitamos fora o bebé, a água do banho e a banheira.

Como vou fazer o meu Mobi-E já instalei no escritório a tomada de carregamento a partir da rede e agora já estou a instalar em minha casa a partir do meu fotovoltaico. Para o ano, tenho o meu carro e vou fazer os 130 kms, até me dá mais, porque moro a 20 kms do meu posto principal de trabalho, portanto nem preciso, mas assim fico com dois pontos de carregamento: um a partir de energias renováveis e outro a partir da rede pública ou na migragem do escritório que já pedi e tenho lá as duas fichas montadas para não ser só para mim.

Tenho pena que não estejamos a explorar por exemplo a mobilidade eléctrica de duas rodas, que podia e pode ser umclusterimportante. Fazem ideia de quantas bicicletas eléctricas é que se vendem por ano no Mundo? Mais de vinte milhões, dos quais 80% na China e na Europa o maior mercado é a Holanda.

Quando me disseram, pensei: a Holanda? Mas é um país plano. Porque eu já subi com uma bicicleta eléctrica o Chiado e faz jeito, porque estamos a pedalar e a certa altura falta-nos o fôlego e aquilo pedala por nós e fingimos que continuamos a pedalar, o que dá um efeito fantástico. Depois, quando está a descer carrega, ou senão nos 220. Mas na Holanda é por causa das pessoas idosas, porque quando se tem 70 anos, ou uma artrite e um problema na coluna, quer-se continuar a ir às compras e a fazer exercício, mas já não se consegue fazer os 20 kms para ir ver os familiares, ou ir ao Correio, então recorre-se a esse apoio.

Nós temos hipótese, em Portugal, porque temos imensas empresas artesanais e familiares de bicicletas, motoretas, reparações e etc., e essecluster, na China, vendem-se acima de 15 milhões de bicicletas eléctricas. Não tenho dúvidas de que é a mesma história da lâmpada. O Mundo mudou todo e nós continuamos com um motor que só é marginalmente melhor que o Henry Ford tinha há mais de cem anos?

Os telefones foram inventados ao mesmo tempo e hoje são coisas que cabem no bolso e fazem tudo, até telefonar e o motor do automóvel é o mesmo do Henry Ford só marginalmente melhor porque nos últimos anos houve normas por causa da poluição. Porque até lá o que as pessoas queriam era que fosse dos zero aos cem em poucos segundos e estavam-se nas tintas para o combustível e para a poluição que faziam.

Ainda hoje um vizinho meu tem um carro que gasta 22 euros aos 100 kms. Mas isto são coisas absurdas, quase pornográficas. Não faz sentido nenhum!

Portanto, digo-vos uma coisa: não sei se a mobilidade vai ser toda eléctrica, se vai ser híbrida, se vai haver um lugar para o hidrogénio, ou para outros vectores, mas há uma coisa que sei, que é a mobilidade não pode continuar como está. A eficiência dos motores é tão baixa, o nível de poluição é tão elevado, apesar dos catalisadores e toda a indústria do petróleo com os compostos orgânicos quando respiramos quando estamos a pôr a gasolina.

Hoje, ao vir, quando parei, pus gasolina; dou-vos um conselho: virem sempre a favor do vento para não apanharem aqueles vapores voláteis que é altamente cancerígeno, é chamadovolatile ground compounds. São super-cancerígenos e as pessoas estão a abastecer e a respirar aquilo. Ponham-se sempre de maneira a que o vento leve e não fique do vosso lado.

Portanto, não faz sentido e toda esta mobilidade vai ter de mudar. Não vamos fazer Porshes, Saabs, nem nada disso. O que é que podemos fazer na mobilidade? Nichos: componentes, tomadas,softwarese nós nisso somos bons, porque temos Engenharia, Economia, Medicina, Biologia, etc., tão boa como qualquer país e temos muita flexibilidade.

Viram nos jogos olímpicos – isto agora para puxar a moral do país deprimido – que os tipos do caiaque usavam todos caiaques feitos em Viana do Castelo.

Aquele material que foi proibido, não era português? Porque se batiam todos osrecordsdo Mundo de natação com os fatos de banho baseados num material que repelia a água e os Jogos Olímpicos já não permitiram ter essa tecnologia mas têm outra que também tem uma grande percentagem portuguesa. Na mobilidade, também vai tudo mudar; é um negócio de biliões e nós temos uma tradição de indústria automóvel e de componentes em Portugal.

Temos a maior tradição de motoretas e duas rodas em Portugal. Portanto, é um sector onde temos tradição e competência, daí que se vai mudar, quer o das duas rodas, quer o das quatro, é altura de mudarmos também, senão qualquer dia estamos a fechar as fábricas porque deixam de se fazer aqueles carros e nós não evoluímos.

Temos de fazer aquelas bicicletas; qualquer dia as bicicletas já não são feitas de metal, mas sim só de materiais sintéticos como fibras de carbono e hoje em dia só as muito caras é que são feitas, mas vai-se popularizar, não tenham dúvidas, porque essas matérias vão ficar mais baratas e depois já ninguém quer algo que pesa quilos quando tem uma bicicleta que levanta com um dedo.

Portanto, se queremos persistir, até nos sectores mais tradicionais, como fizemos no têxtil e nalguns do calçado com muito sucesso, temos também de inovar. Não se deite fora, por isso, o bebé, a água do banho e a banheira, guarde-se as três coisas e mude-se um pouco a água do banho, usando outro líquido.

 
Duarte Marques
Muito obrigado, senhor Engenheiro. Rafael Gaspar do grupo Bege.
 
Rafael Gaspar

Muito bom dia. Em nome do grupo Bege, um cumprimento especial ao Eng.º Carlos Pimenta e agradecer-lhe a sua magnífica exposição.

Tendo consciência que o preço das energias fósseis irá de futuro continuar a subir e do flagelo actual que isso representa para a população alguns países estão a tentar adoptar medidas imediatas na esforço de diminuir o impacto da escalada dos preços do petróleo no preço final, ou seja, no preço dos combustíveis junto dos consumidores.

Ainda ontem, tive a ler na Imprensa que a França está a implementar um novo sistema de regulação dos preços que irá passar pela descida do imposto das refinarias e retalhistas. A minha pergunta é: de que forma o nosso país pretende agir, deverá seguir as medidas da França? E por último: a Comissão Europeia está a intervir nesta matéria de modo a apresentar soluções alternativas?

Muito obrigado.

 
Carlos Pimenta

Muito bem, uma boa pergunta também como todas as outras. Há duas respostas: uma é sobre a concorrência e a outra é estrutural.

Sobre a concorrência, de que ainda não falámos hoje, eu acho que é escandaloso o que se passa no negócio, não só em Portugal, mas na Europa, dos combustíveis. Vejam uma coisa muito engraçada, que é o seguinte: o petróleo sobe e desce, mas a derivada é a subir, como disse muito bem. Não sei, não vi hoje, mas esta semana tivemos o barril a 116 dólares em Londres que é o que nós seguimos. Variou, aqui há uns anos estava a 50, depois a 80, depois a 130 e desceu. Anda assim. Cada vez que o petróleo sobe um dólar, o tempo de resposta no aumento dos combustíveis são cinco dias, quando aumenta um dólar o tempo de resposta são 15 dias.

Estão a ver? E o que é mais curioso é que o petróleo que sobe hoje, estamos a falar de mercadospot, não é a longo prazo, é instantâneo, e é óbvio que a gasolina de que estamos a falar não éspot, porque foi comprada há não sei quantos meses, já foi refinada, transportada, portanto o impacto da subida, ou da descida, quanto muito, é daqui a três ou seis meses, não é hoje.

Portanto, é óbvio que há um défice de concorrência na maior parte dos países, por isso tem de haver mais concorrência e isso é válido para o gás natural que não consigo perceber porque é que em Portugal tem o preço que tem.

Ou melhor, sei porquê. Porque há uma empresa que tem 90% do negócio; não pode ser, tem de haver concorrência. Isso, a União Europeia, desde sempre, desde as primeiras directivas há vinte e tal anos foram já promover a concorrência, porque senão o tipo que é dono dos canos e dos fios, também é dos camiões e portanto só passam os camiões dele. Era como se a Brisa tivesse uma empresa de camionagem e tivesse uma via especial para os camiões dela e os outros estivessem com uma portagem especial numa grande fila.

Depois alguém se admirava se o frete do camião da Brisa fosse mais barato que o frete da concorrência. Portanto, quem é dono da auto-estrada, ou do depósito e das outras coisas não pode ser dono da comercialização, têm de ser coisas diferentes.

Estruturalmente, tenho de ir para um sistema mais diversificado e entramos no tema da pergunta anterior da mobilidade eléctrica e noutras alternativas de transporte.

Transporte de mercadorias: a rodovia tem a vantagem da flexibilidade, porque chega porta a porta, o que numa matriz de território muito dispersa como nós temos acaba por ser. Agora, nós temos uma ferrovia que está subutilizada por muitas razões, que davam para outra conferência e temos portos que só agora recentemente é que começaram a melhorar significativamente como é o caso do de Leixões e Sines, nomeadamente através da introdução de novas tecnologias, despache electrónico das mercadorias, ausência de papel em muitas operações, em tempo real, etc.

Isto é tudo português, estou sempre a dizer que há imensas histórias de sucesso em Portugal, não são só desgraças, há imensas histórias que são exportáveis e que estão a sê-lo e soluções em tempo real.

Portanto, é necessário concorrência no curto-prazo, diversidade de soluções para a mobilidade e para o transporte que são muitas: interfaces, cabotagem, navegação costeira – trabalhei nisso profissionalmente há 30 anos e é muito mais barato carregar 100 toneladas de carvão, ou de milho, de um porto para o outro, do que hoje em dia que seria numa fila de camiões.

 
Duarte Marques
Muito obrigado. Dava agora a palavra ao João Miguel Silva do grupo Cinzento.
 
João Miguel Silva

Muito bom dia. Permita-me saudá-lo em nome do grupo Cinzento. Antes de mais, gostava de dizer que na minha opinião se o Al Gore estivesse aqui hoje a assistir ele teria ficado com vergonha dos diapositivos dele.

Indo ao assunto da sua apresentação, deixe-me mais uma vez dar os parabéns por ter desmitificado a ideia de que o petróleo vai acabar já amanhã e que com o fim do petróleo o Mundo acaba; aquela ideia que tentam vender nas escolas de que no final do petróleo não há vida para além disso.

O problema é mesmo que o Ambiente não vai aguentar, porque recursos temos imensos. A minha pergunta vai no sentido das normas de poluição, do Protocolo de Quioto, a Cimeira do Rio, entre outras. Há países que não as respeitam, nomeadamente a China; de que modo é que podemos penalizar a China e outros países não cumpridores dos protocolos e dos acordos estabelecidos?

Obrigado.

 
Carlos Pimenta

Muito obrigado. A pergunta é muito difícil, talvez a pergunta mais difícil de responder de todas e porquê?

Qual é o problema da mudança climática? O problema da mudança climática é que um grama de CO2emitido em Castelo de Vide tem o mesmo efeito de alteração de clima e de poluição que um grama emitido em Pequim, Washington, Rio de Janeiro, etc.

Quando as poluições eram locais, quando estava no Ministério do Ambiente há 20 anos atrás, 50% das queixas eram de ruído e o resto eram sobretudo lixeiras e rios e ribeiras poluídos. Ou seja, poluições muito locais e quando assim são cheira mal, não nos deixa dormir e uma pessoa tem uma picada no traseiro e levanta-se da cadeira para tentar eliminar a fonte do problema.

Quando são problemas regionais, como por exemplo as chuvas ácidas, das plumas das chaminés que antes de haver as normas que obrigaram a tirar o enxofre dos combustíveis que se queimam, já aí era mais complicado. Porque se queimava carvão na Inglaterra, soprava o vento dominante do Atlântico, levava o fumo para cima da Suécia e da Escandinávia onde o solo é ácido, enquanto o solo do continente europeu é básico, portanto ácido em cima de ácido começou a matar-lhes os peixes nos lagos e rios.

Demorou uma série de anos, os suecos e noruegueses junto dos ingleses, mas lá se conseguiu que se deixasse de queimar carvão para se queimar gás natural. Mas foi um problema, ainda assisti a muitas discussões, mas era ao nível regional. Agora, quando o problema passa a nacional, aí estamos na estatística: como o frango todo menos a ponta da asa e o meu amigo come a ponta da asa, temos todos que reduzir, vamos todos reduzir 10%. Ainda tenho o frango todo menos a asa toda e o meu amigo tem menos da ponta da asa do que tinha.

É óbvio que tenho de reduzir muito mais e agora põe-se um problema muito mais complicado: e se estivesse a comer frangos nos últimos vinte anos, vou aplicar a redução à fotografia instantânea de hoje? Ou seja, digamos que eu estava cheio de generosidade e dizia: o meu amigo só come a parte final da asa, eu como o resto frango hoje. Portanto, vou comer menos do frango para o meu amigo comer a asa e um bocadinho do peito. A seguir, o meu amigo diz-me:"Espere aí, mas andou a comer frango nos últimos vinte anos, enquanto eu comi milho. Quero comer uma parte dos frangos que você comeu também”.

Ou seja, vem a Índia, vem a Nigéria e ainda a China e diz: o integral da poluição de CO2que você emitiu desde a revolução industrial, desde que o James Watt descobriu a máquina a vapor, até hoje, posso estar a emitir até 2100 que não lhe chego e é se não falarmosper capita. Portanto, é muito complicado!

Por ser muito complicado, fui o representante do Parlamento Europeu e um dos três representantes da Europa em Quioto e esta era a discussão: qual é a chave de repartição do esforço.

A solução optada em Quioto foi um cubo transformado numa bola, mas dava ideia de que funcionava, pois definiu-se os países do anexo 1 que tinham na base os países da antiga OCDE mais os do antigo bloco soviético, que tinham reduções quantitativos obrigatórias. Depois havia os países de fora, onde estavam a China e a Índia entre outros, que tinhamtargetsnão vinculativos e isto para quê?

Para que os países que tinham reduções vinculativas obrigatórias terem uma quota e como os que são de Economia nesta sala sabem, as coisas só têm valor se forem escassas, se foram ilimitadas não têm valor. Ao dizer que a quota da União Europeia são tantas toneladas é logo que aí é posto um valor sobre as toneladas, porque vamos supor que tem uma fábrica de cimento e emite tantas toneladas de CO2e que lhe dou ou vendo uma quota que é as toneladas menos 10%. Ele vai comprar as toneladas que lhe faltam, ou produz menos 10% de sacas de cimento, ou melhora a eficiência da produção para produzir tudo com os menos 10%, ou melhora ainda mais e produz mais com menos emissões e vai vender as emissões de sobra.

Agora, isso só funciona desde que o CO2tenha valor. O que é que aconteceu depois disso? Foi uma história triste: nos sítios como a União Europeia em que houve fixação de toneladas e portanto elas tinha valores, deram tantas licenças aos industriais que o valor diminuiu. E hoje, por exemplo, em Portugal, a térmica para a produção de electricidade a EDP tem cinco grupos de gás natural, três no Carregado e dois na Figueira da Foz e está um a trabalhar e está o carvão todo de Sines a trabalhar.

O que é muito menos eficiente, 33% em vez de 56% e produz muito mais CO2. Porque o preço do CO2 está a 6 ou 7 euros a tonelada e devia estar acima de 20. Se estivesse acima de 20, acima do preço do carvão, já o gás natural era competitivo e a eólica ainda mais.

Ao desvalorizar o valor do CO2mantemos o padrão e a matriz de que a atmosfera é ilimitada e o mar é ilimitado e é a nossa lixeira. A China está bem consciente dos problemas, muito bem, porque eu tive muitas reuniões com gente da academia e não lhes falta informação nem ciência.

Como todo o Mundo está numa fuga para a frente, que quer dizer que como não há uma chave de repartição que era começar logo, porque o Senado dos Estados Unidos nem sequer ratificou Quioto, isso foi logo a desculpa para a China pôr-se de fora e tirando a União Europeia que melhorou alguma coisa por via das políticas, que, apesar de tudo, são mais restritivas que no resto do Mundo e também agora via da recessão (que está a levar à diminuição de emissões; por exemplo em Portugal houve um decréscimo de 10% de compra de combustíveis este ano em relação ao ano passado). Mas isto é pelos maus motivos, porque eu queria uma redução de 10% de emissões por as pessoas terem carros mais eficientes ou melhores transportes.

Portanto, estou muito pessimista, depois do fiasco de Copenhaga acha que isto só vira quando houver um mega-katrina, ou um fukushima natural muito grande e aí as pessoas apanham medo. É uma tristeza, mas o Homem funciona mais nestas condições. Foi preciso vir o Katrina e mais três furacões no espaço de uma semana para se perceber que Nova Orleães como estava não era viável, porque até isso os cientistas Army Corps of Engineers faziam relatórios todos os anos e ninguém queria saber deles, porque custava dinheiro fazer os diques outra vez, um sistema de aviso prévio, centros de evacuação, tudo isso e ninguém quis fazer.

Os holandeses há anos que estão a aumentar os diques e têm umas simulações sobre o aumento das tempestades no Mar do Norte, porque é um país que funciona de outra maneira.

 
Duarte Marques
Muito obrigado. Catarina Brito do grupo Castanho.
 
Catarina Brito
Bom dia a todos. Senhor Engenheiro Carlos Pimenta, porque ainda não se falou muito sobre a questão das energias do sector hidroeléctrico, relembrado também a recente reportagem da TVI "Factura de Betão”, perguntamos qual a sua opinião sobre os custos para os cidadãos e para o Ambiente resultantes da proliferação de barragens, especialmente no norte do país.
 
Carlos Pimenta

Vou responder-lhe com toda a sinceridade: essa reportagem da TVI foi uma vergonha, é nojenta; aquilo foi como no "Prós e Contras” que houve; jornalismo manipulado. Aliás, esse senhor telefonou-me antes.

Eu recusei fazer parte do grupo de trabalho que houve em Portugal. Isto é Portugal a funcionar tudo no seu pior: quer na decisão que foi tomada de fazer as barragens, quer na decisão de campanha à volta delas. Voltamos atrás, em Abril de 2005, recebo um telefonema do então Director-geral da Energia:"Eng.º Pimenta, queremos convidá-lo para fazer parte do grupo de trabalho que vai decidir das barragens a fazer do plano nacional de barragens em Portugal”.Eu disse: senhor Director-geral, agradeço muito o convite, mas não sou engenheiro hidráulico, nem engenheiro civil e por isso não tenho formação para decidir isso.

"Mas nós queremos alguém que vá ver os engenheiros hidráulicos e tudo o resto, uma ou duas pessoas que tivessem visão global da energia”, etc., e eu disse: está bem, se insiste faço isso,pro bono, não sei se já tem os estudos do impacto ambiental no sítio, os levantamentos e os outros estudos."Não, mas o senhor ministro quer isto pronto em Julho”, ao que eu respondi: em Julho e o senhor está a telefonar-me em Abril?

Para fazer um estudo de impacto ambiental de um parque eólico, que são meia dúzia de pirolitos no alto da montanha que ocupam 2,5% da área demoro um ano. A chuva do Inverno não é igual ao sol do Verão; os pássaros e lobos que nidificam e reproduzem não é a mesma coisa.

Portanto, se eu demoro oito meses no mínimo para estudos de terreno, geologia, hidrologia, botânica, arqueologia e de fauna, como é que quer aprovar um plano nacional de barragens em 2 meses e meio? Isso não é sério, não dá!

Recuso-me a participar nesse jogo, não entro e não entrei. Eles assim fizeram. O que é que foram fazer? Foram à lista das barragens de antes do 25 de Abril, que estavam por fazer, das hidroeléctricas antigas, ainda antes de haver EDP, porque havia uma lista dos empreendimentos possíveis.

Portugal, em relação por exemplo à França, tem muito menos hidroeléctricas aproveitadas e também em relação aos outros países da Europa, porque nós temos muitos rios e afluências.

Agora, dito isto, que é a primeira parte, decidiu-se um plano nacional de barragens "em cima do joelho” e qual era a motivação? Era sacar dinheiro para o Orçamento de Estado, porque as barragens que foram atribuídas à EDP, à Endesa e à Iberdrola pagaram milhares de euros em licenças e o Estado fez um encaixe brutal de centenas de milhões de euros.

A EDP, a Endesa e a Iberdrola, que foram as duas espanholas e a portuguesa que ficaram com os direitos a construir as ditas barragens do dito plano nacional de barragens, pagaram cheques contados à vista no momento. Foi "paga agora, fazes depois” e o Estado em meia dúzia de meses fez um grande encaixe, inventou dinheiro e a não é a primeira vez que acontece, nem somente com barragens.

As empresas pagaram e toca de fazer, aí é que começam a vir os problemas, ou porque é o comboio do Tua, ou outra coisa qualquer. Aí o Estado começa a ter que proteger as empresas porque elas pagaram para fazer as barragens e entramos numa discussão que não acaba.

Portanto, só lhe posso dizer que algumas barragens faziam falta e já digo porquê. Se são aquelas todas, ou se podia haver uma ou duas a menos não sou capaz de dizer, nem eu nem ninguém, baseado em estudos que não fizeram.

Agora, porque é que era necessário fazer algumas das barragens? Enquanto não vierem as baterias que hão-de vir no futuro com nanotecnologias, lítios, capacidade de acumulação e muito mais leves, e que sejam mais baratas. O grande problema dos carros eléctricos é só um: a bateria que é cara e não tem a autonomia necessária. Resolvido este problema, pronto, estará tudo resolvido.

No dia em que cada cidadão puder ter uma bateria carregada em sua casa, a tipologia de rede passa a ser como aquela que o meu amigo lá de trás falou, da microgeração descentralizada. Mas enquanto isso não se fizer Portugal tem uma grande sorte, que é ter uma bateria supereficiente que é a água. Hoje, foi anunciada a inauguração do reforço de 200 MegaWatts do Alqueva. Não sei se ouviram hoje, eu ouvi no rádio a caminho de cá.

Portugal vai ficar com 3 mil MegaWatts de bombagem e de armazenamento. O que é isto? É pôr o rio a funcionar ao contrário e isto é importante, porque tal como eu disse ao Joanaz de Melo, porque sou amigo dele, partilho e fui fundador da GEOTA e disse: João Miguel, o teu problema é opores-te a tudo, não pode ser, porque com a mudança climática o número de anos secos e de muito chuvosos vai aumentar. Ou seja, o ano médio vai ser cada vez mais uma ficção matemática. A temperatura média, a pluviosidade média, vai ser cada vez mais uma ficção matemática.

O que vamos ter é tempos muito secos e tempos muito pluviosos: períodos sem água e períodos em que vem muita água. O que é que isto quer dizer? Que eu tenho de encaixar. Se chove muito, tenho de encaixar e se chove pouco tenho de ter água que foi encaixada. Isso é chave para a sobrevivência económica do país e, além disso, em termos de protecção civil eu tenho de ter capacidade de controlar cheias, não posso ter o que chove a vir pelo rio abaixo.

Portanto, preciso não apenas pelo lado da energia, mas pelo do recurso hídrico e da protecção civil, de maior capacidade de encaixe. Se não tivesse tido capacidade de encaixe, já tinha passado neste ano de seca "as passas do Algarve”.

Logo, algumas barragens eram necessárias, sempre com bombagem, ou seja, sempre com capacidade de pôr a água lá dentro, se houver vento, se houver muita água, se for domingo e houver muita produção e não consumo, e estamos a encaixar energia que posso turbinar. A barragem tem uma vantagem em relação à térmica, é que em microssegundos ela está a produzir, enquanto a térmica para estar disponível tenho de a ter sempre em banho-maria, ou seja, está sempre a queimar um bocadinho para aquilo estar quente, porque se preciso de lançar 400 MegaWatts no Carregado não posso tê-los frios.

Enquanto na barragem, tenho a água e abro a comporta a água sai, o gerador anda e a electricidade é produzida. Portanto, a história da TVI, eu expliquei tudo ao homem, mas é claro que não saiu nada disto. Eu disse: você tem de começar por atacar o Governo que tomou a decisão e a metodologia que foi adoptada perante essa decisão. Depois, tem de olhar para cada uma individualmente e ver sobre cada uma delas os seus méritos e deméritos.

Não, o homem como queria era vender tempo de antena fez aquilo. Fiquei furioso quando vi aquilo, eu não sei, acho que a nossa televisão peca muito em qualidade. Não sei se conhecem um programa da BBC que é muito interessante e vão fazendo com várias cidades do Mundo, é um "Prós e Contras” sério e não aquela macacada que acontece à segunda-feira. O que é que é? Há um tema, por exemplo, os dois programas que eu vi: "Deve o Reino Unido devolver os frisos do Partenon à Grécia, ou não?”; "A Eutanásia deve ser aprovada ou não?”; temas complicados e é num auditório.

As pessoas à entrada votam secretamente em urna, há um apresentador com nível, que sabe sobre o que está a falar e depois não há filmes iniciais e assim, a levar a opinião do público para um lado ou para o outro, não, não há nada disso.

Há tempo de antena igual para cada uma das pessoas fazer a sua apresentação, depois há perguntas da audiência aos dois lados. Depois, no fim voltam a votar em urna com voto secreto. É muito interessante que os votos ao final do programa nunca são iguais ao do início.

Ou seja, o debate foi profundo, teve nível, foi equilibrado na apresentação dos prós e dos contras de posições fundamentadas e isto é de um verdadeiro civismo, é a democracia a funcionar.

 
Duarte Marques

Muito obrigado. Antes de dar a palavra à Patrícia Pimenta do grupo Laranja, que juntou uma boa cor com um bom sobrenome, queria só avisar que o Emanuel Silva, medalha de prata nos Jogos Olímpicos, vai responder às vossas perguntas hoje e apesar de normalmente estarem abertas as perguntas até às 17h, hoje para ele devem chegar até às 14h. Ou seja, além daquelas que entregam à saída, pela net só contem para serem seleccionadas as entregues até às 14h.

Quem estiver interessado para fazer perguntas ao Emanuel poderá fazê-lo até às 14h pela net. Obrigado.

 
Patrícia Pimenta

Desde já quero saudá-lo em nome do grupo Laranja. Numa das suas últimas aparições em que discursou acerca da Conferência Rio+20 em Serralves, advertiu que a verdadeira crise é a ambiental.

Tendo em conta este facto, aqui vai a pergunta: acha que esta crise ambiental está a ser condicionada pela profunda crise económica e, por sua vez, a pôr em risco a soberania nacional e segurança energética do país.

 
Carlos Pimenta

A resposta é sim, está mesmo. Infelizmente está e não é só em Portugal. O tempo de antena que é dado às pessoas que se ocupam e procuram estudar isto com profundidade tem sido diminuído brutalmente.

Quando fui ao Parlamento Europeu, em 1987, as questões da floresta amazónica eram do G7 e de topo, ou as questões da mudança climática, ou da destruição dos oceanos, etc., e hoje em dia quase não se ouve falar disso. A última cimeira não foi nada e estou com muito receio, francamente preocupado.

Houve progressos extraordinários a nível da gestão do ambiente industrial e urbano, isso houve, até em Portugal; o Mundo em que vivemos hoje é muito melhor do que há vinte anos, as lixeiras acabaram, os rios estão menos poluídos e os carros são melhores.

Se eu quiser contabilizar os progressos tenho muitas histórias de sucesso para dar, mesmo muitas, mas o meu problema reside em que ostockde pessoas que não tinham consumos, como em África, Índia, China, etc., ou o padrão de vida com a suburbanização de que falámos há pouco, induziu aumento de consumo de recursos naturais, com necessidade de madeiras, minerais, petróleo e outros, que as melhorias não compensam.

É como nos carros, ou lâmpadas, que são melhores, mas já há muito mais; logo, a velocidade de melhoria não acompanha. Depois, a mudança da dieta é uma coisa dramática. Eu procuro ser cada vez mais vegetariano, por motivos de saúde e porque produzo os meus próprios vegetais sem químicos, mas quando mudam de uma dieta baseada em vegetais para uma baseada em carne, o consumo de água e de energia é brutal. Porque se comem vegetais estão a comer da terra directamente para vocês, mas para comer um quilo de carne a vaca teve de comer muitos quilos de vegetais que por sua vez precisaram de muitos litros de água.

É progressivo e quando o chinês, ou indiano, ou português, passou da aldeia para a cidade e mudou a sua dieta que era baseada em vegetais e passou a ser baseada em hambúrgueres, a quantidade de recursos aumenta brutalmente: água e fertilizante e tudo o que leva atrás, com transporte, camiões e frigoríficos.

Vou-vos dar dois números: sabem qual é a percentagem de comida que é deitada fora todos os dias nos Estados Unidos, tomando os 100% de comida que é posta no prato? 40%. Vocês fazem ideia das toneladas de comida que todas as semanas os supermercados portugueses atiram para o sistema? Não vos digo mais nada, é que quando passam e vêem os iogurtes e aquelas coisas todas com tantas marcas e prazo de validade, perguntam-se como é que é?

Tenho um amigo que é chefe da segurança num supermercado, não digo o nome do supermercado mas é dos mais conhecidos, e ele dizia-me no outro dia:"Ó Carlos, não fazes ideia do que se deita fora todas as semanas; são contentores daqueles verdes grandes, camiões de contentores, é o talho e todos os outros a despejar para lá”.

 
Duarte Marques
Muito obrigado. Ana Catarina Gomes do grupo Azul.
 
Ana Catarina Gomes

Bom dia, Engenheiro Carlos Pimenta. Antes de mais, quero agradecer a sua presença em Odivelas na conferência sobre a sustentabilidade em Março. Em Junho de 2012, ocorreu no Rio de Janeiro a conferência sobre o desenvolvimento sustentável, onde se debateu a Economia verde.

Quero perguntar se a Economia verde pode ser uma saída para a crise. Outra questão: o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território colocou em apreciação pública em 2012 uma proposta de reformulação da arborização e da rearborização com vista ao aumento da produção dos eucaliptos em Portugal, com forte impacto no sector português.

Esta medida é considerada por algumas ONG e afins, desadequada à realidade social, territorial e ambiental, apenas visando favorecer as celuloses e alguns produtores florestais interessados em burocracia e desregularização. O aumento desta monocultura só poderá aumentar as perdas com os incêndios, a biodiversidade, porque o eucalipto é uma árvore que acidifica o solo e danifica-o.

Não deveria a estratégia nacional para as florestas proteger a nossa biodiversidade?

 
Carlos Pimenta

Nas duas perguntas, estou de acordo com as respostas que estão implícitas nas perguntas.

Em primeiro lugar, a Economia verde, por tudo o que eu disse, para mim é óbvio que é a solução. Para já, é muito menos conhecimento intensivo. As pessoas às vezes pensam que a Economia verde é algo auxiliar e não é verdade.

Eu procuro fazer as minhas couves biológicas e a minha horta também. O trabalho que me dá ter aquilo comestível, sem estar tudo cheio de bichos, tendo que jogar com as plantas que os atraem, ou repelem, fazer a permacultura do uso da água, aquilo obriga a ler e a pessoa que me ajuda no jardim também anda a ler. Andamos a ler há dez anos.

Por exemplo, este ano consegui espantar os pássaros que me atacavam as maçãs com CD pendurados nas árvores e funciona.

Portanto, a Economia verde tanto funciona disso como dos sensores e da desmaterialização dos códigos de fabrico, etc.

A Economia verde, é óbvio que sim, porque o Mundo não tem outra hipótese e os países como nós, que conseguirem capacidade e nós temos empresas de sucesso na Economia verde, até lhe dou exemplos: em Coimbra temos umastart-upque fazsmart metersque permitem à distância, não apenas ler os consumos de energia, mas actuar sobre a rede de casa, desligando a luz, o frigorífico, etc.

Isto é fantástico, porque à distância posso, não é só a história de ter a casa quente quando chego, mas também enquanto não chego; sobretudo é isso.

Temos aí uma oportunidade de emprego, conhecimento e muitas especializações: ciências da vida, biotecnologia e outras. Quanto a essa dos eucaliptos é umnonsense. Nós já temos, não sei quantas, centenas de milhares de eucaliptos, mas temos mesmo muitas. Na altura até tive uma zaragata, na televisão num debate frente-a-frente, em que eu dizia que o problema era o seguinte: quem é que vai pagar ao fim de três ciclos de corte plantar os tocos, ou seja, as raízes e replantar aquilo? É fácil dizer-me que sete anos e faz-se um corte, doze anos outro, 18 outro e depois deixa de ser rentável, porque já esgotou a terra e os seus nutrientes. Nós só cultivamos um tipo de eucalipto, otasmanian gum, que está alterado geneticamente para produzir mais depressa. Há 500 ou 600 espécies de eucalipto diferente.

Na Austrália, o problema é a monocultura das resinosas, porque o eucalipto é um ecossistema, não é só um eucalipto, há muito e arbustos e muita coisa que funciona como monocultura em linha. Depois, ficam lá as raízes e é um minifúndio que está alugado.

Portanto, não estou nada a favor disso. Aí é mais directo.

 
Dep.Carlos Coelho
Chegámos ao fim da nossa aula de Ambiente. Peço aos avaliadores para virem para aqui e em nome de todos agradeço ao Eng.º Carlos Pimenta a aula com paixão que ele nos deu esta manhã.