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Aula do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa

A seguir ao almoço tivemos a aula do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, uma figura incontornável da Universidade de Verão. O orador começou por fazer uma resenha histórica, elencando várias fases da nossa Democracia.

Em primeiro lugar, a política que se fazia na década de 70 e dos agentes políticos de então. Destacou a Igreja Católica; os partidos políticos à data (PS, PPD - enquanto partido de eleitores e militantes, o CDS -enquanto partido de quadros; e as centrais sindicais. Referiu ainda a televisão e a rádio pública enquanto agentes importantes do processo de construção democrática. Continuou, destacando a primeira erupção do FMI nos anos 70 em Portugal, aquando da primeira crise financeira do Estado Português. Lembrou a forma como se fazia política “esta era feita na rua, com a cobertura da televisão e da rádio”. Considerou que politicamente o país estava dividido entre Norte e Ilhas (mais conservadores e católicos) e o Sul (com maior peso dos partidos de esquerda e menos religioso).

Em segundo lugar, a fase entre 1980 e 1985, marcada pelo surgimento da AD, coligação ideológica e de eleitores, num tempo de transição, com o desaparecimento das forças armadas. Referiu a existência de um sistema partidário eleitoral menos polarizado e mais volátil. “Aquilo que era uma realidade antes da revolução, em que não havia volatilidade de votos, desapareceu! A UGT surge como parceira social. A CGTP passa a ser uma grande central sindical no sistema. Diminui a intervenção estrangeira em Portugal, mas o FMI volta a aparecer, nos anos 80, com uma nova ajuda. Aderimos às comunidades europeias.” Referiu ainda que houve uma renovação da Maçonaria.

Numa terceira fase, a década do Cavaquismo, entre 1985 e 1995, destacou a mudança estrutural que houve no país, com a mudança num país até então rural. Terminou o período ideológico da política, referiu. Foi um período preocupado com problemas políticos, sociais, culturais. A imprensa lateralizou a sua acção, com um discurso simples, curto e popular, em torno de termos concretos, problemas das pessoas concretos. Surge a política “anti políticos”, com Cavaco. O PSD atinge o seu máximo de representação com Cavaco Silva, e que nunca mais foi atingida. O PRD sofre com isso, e desapareceu. O CDS sofre o problema de ter que co habitar com uma liderança tão forte. A regionalização conhece a sua primeira morte, quando as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto crescem muito.

Já a quarta fase é a do pós-Cavaco, entre 1995-2005, com o populismo a continuar a subir. “Com novos parceiros a querer aparecer; a mulher ganha influencia, o país urbano é predominante. As áreas metropolitanas multiplicam-se e destacam-se do interior. O PS governa maioritariamente. Nasce o Bloco de Esquerda. A geração anos 70 está a ser substituída pela geração anos 80”.

Numa quinta fase, a do Socratismo e do Novo Século, marcado pela longa governação de José Sócrates. A crise mundial surge, o populismo continua a galopar na primeira fase de Sócrates. Iniciamos uma crise dos partidos, todos antiquados, fazendo retoques e melhorias pontuais, com dificuldade em acompanhar a aceleração. Mas para o orador a crise é também dos parceiros económicos e sociais, uma crise dos grupos económicos, a morte da imprensa, a crise da TV, a Internet passa a ter um papel importante que já tinha avultado durante o Socratismo. Há uma aparente ideologização, mas para Marcelo Rebelo de Sousa passa a viver-se no somatório de conjunturas.

Para o orador a saída da crise vai ser segura mas lenta, não é de um mês para o outro. Apelou à redescoberta de valores, afirmou que se foi longe no domínio da ideologia mas não na doutrina, defendendo a necessidade de novos modelos de vida. Terminou dizendo que “a grande constante da nossa vida é a mudança”.