ACTAS  
 
31/08/2012
Jantar-Conferência com o Dr. Luís Amado
 
Dep.Carlos Coelho

Senhor Dr. Luís Amado, senhores Deputados à Assembleia da República, senhores avaliadores, senhores conselheiros, minhas senhoras e meus senhores, como todos nós já sabemos – o Dr. Luís Amado ainda não sabe – começamos cada jantar-conferência com um momento cultural que consiste na escolha e leitura de uma poesia feita por dois grupos da Universidade de Verão.

Pelo sorteio que fizemos no primeiro dia, cabe o privilégio hoje aos grupos Azul e Encarnado.

A Ricardina Bessa do grupo Azul vai ler-nos "Portugal perdido” de Eça de Queirós. Os membros do grupo Azul escolheram este poema porque, em primeiro lugar, acham que devia ser obrigação dos jovens valorizar a cultura portuguesa, neste caso através de um dos seus máximos expoentes, Eça de Queirós. Este escritor, que ficou eternizado pela sua obra "Os Maias”, deixa-nos para além desta uma imensidade de preciosas obras literárias e, nesta vasta produção, encontramos este poema de 1871.

Diz o grupo azul que "é impressionante, que passados 141 anos a realidade se repita: encontramos em 2012 um país perdido, onde os bons costumes e a ética parecem querer desaparecer, onde as instituições não são respeitadas e os políticos são banalizados por uma população defraudada e desiludida. O Estado é visto com desconfiança e a realidade de desigualdades entre ricos e pobres corrompe a união do povo português. Há quem diga que o país continua perdido; a nós, jovens, cabe-nos acreditar que é possível mudar. Temos todas as condições para o conseguir.

Impõe-se que comecemos por nos lembrar de Sá Carneiro quando em 1974 disse:vivemos uma oportunidade única de construir um país novo, humano e justo e não apenas um país para alguns.”

Temos a responsabilidade de assegurar que daqui a 141 anos os poemas serão diferentes.”

O grupo Encarnado, através da Selma Sequeira, faz outra escolha; no momento de seleccionar o poema para recitar pensaram em vários temas, poderiam recitar um poema onde estamos perante optimismo, poderíamos recitar um poema mais complexo, mais comprido, quase inédito para todos vós, mas não, dizem eles que "para nós, a lógica de recitar um poema passa por uma boa interpretação e a sua interiorização”.

É preciso encarnar– refere o grupo Encarnado –a situação concreta, desta forma optámos por um poema que se insere na terceira fase de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), portanto uma fase intimista, de pessimismo, da abolia, do desespero, do tédio e da angústia existencial. Não vos faz lembrar nada? A nós, faz lembrar alguns momentos de revolta de alguns portugueses; efectivamente o cansaço encontra-se intrínseco em muitos de nós e a contradição igualmente. E porque somos do grupo Encarnado preferimos também um poema que falasse de paixões violentas e amores intensos. "O que há em mim é sobretudo cansaço”, é o título do poema que o grupo Encarnado escolheu para este momento.

Vamos portanto ouvir "Portugal perdido”, pelo grupo Azul, a Ricardina Bessa e "O que há em mim é sobretudo cansaço” do grupo Encarnado através da Selma Sequeira.

[AUDIÇÃO DOS POEMAS]

[APLAUSOS]

[DEPOIS DO JANTAR]

 
Filipa Rui Caetano

Boa noite, Dr. Luís Amado. Antes de mais, seja bem-vindo à Universidade de Verão do PSD.

Para nós é uma grande honra, enquanto jovens, receber o contributo de alguém que prima pela liberdade de ideias, que tem opinião própria, defendendo-a sempre independentemente do partido a que pertence. Em todos os cargos desempenhados, deixou a sua marca e rigor, sendo para nós um exemplo de integridade.

Façamos um brinde à sua presença!

[BRINDE E APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho

Senhor Dr. Luís Amado, senhores Deputados Duarte Marques e Nuno Matias, minhas senhoras e meus senhores, como foi dito e bem pela Filipa, o Dr. Luís Amado deixou uma marca de rigor. Foi Deputado à Assembleia Legislativa Regional da Madeira e à Assembleia da República; no Governo exerceu várias funções, quer na Administração Interna, quer depois como Ministro da Defesa e como Ministro de Estado e Ministro dos Negócios Estrangeiros.

No âmbito da nossa liberdade de opinião e do juízo crítico temos com certeza possibilidade de identificar no seu percurso momentos em que nos identificámos e momentos em que tivemos que o criticar.

Eu acompanhei de forma especial o mandato do Dr. Luís Amado durante a presidência portuguesa da União Europeia em 2007 e sou testemunha imparcial, creio eu, da elevada qualidade, do grande sentido de Estado, do rigor e competência com que imprimiu a sua marca na presidência portuguesa de 2007.

Creio que o Dr. Luís Amado prestigiou Portugal e acredito que de uma forma, independentemente da orientação política, podemos sublinhar e aplaudir.

O nosso convidado tem comohobbya escultura, como comida preferida as massas, como animal preferido o cão e o livro que nos sugere – é o terceiro convidado que também nos sugere este livro – "As memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar, tal como nos sugeriram os convidados Carlos Pimenta e Paulo Rangel. O filme que nos sugere é "Fala com ela” de Pedro Almodóvar e a qualidade que mais aprecia é a bondade.

Dr. Luís Amado, tenho o privilégio de lhe fazer a primeira pergunta e ela não podia deixar ter a ver com a realidade nacional: nós, hoje, vivemos momentos de tensão, estamos com uma crise económica e financeira e nalgumas vozes em Portugal, mas muitas vozes noutros países europeus, assiste-se à emergência de fenómenos nacionalistas e alguns até carregados com as cores da xenofobia, dizendo que temos de nos fechar sobre nós próprios e só assim resolveremos os nossos problemas.

Ora, o que é verdade é que todos nós estamos inseridos na União Europeia e todos nós estamos inseridos num mundo cada vez mais global e interdependente. Portanto, a pergunta que lhe faço é: na sua opinião, faz algum sentido dar gás aos movimentos que pretendem encontrar solução para os vários problemas dos países na lógica do Estado-Nação, ou o caminho para sair da crise tem de ser encontrado na nossa inserção em espaços mais largos?

Minhas senhoras e meus senhores, para responder à minha e às vossas perguntas, um socialista ilustre que se junta a vários outros que já nos deram o prazer e o privilégio de estar na Universidade de Verão Francisco Sá Carneiro, o Dr. Luís Amado.

[APLAUDSOS]

 
Luís Amado

Muito obrigado a todos, é um privilégio estar aqui convosco e sobretudo responder em vinte e cinco minutos a uma pergunta que foi formulada pelo Dep. Carlos Coelho num minuto.

Por isso, terei a oportunidade de lhe responder minuciosamente à forma como encaro as questões pertinentes que estão subjacentes à sua pergunta.

Mas antes de mais, deixe-me agradecer as palavras simpáticas e excessivamente generosas que, apesar de tudo justificam, dada a condição de convidado que aceitou estar no vosso evento, mas que estão além daquilo que tem sido o meu desempenho em funções públicas.

Tive muita satisfação em aceitar este convite. Acho que este evento marca, já hoje, o calendário político português de uma forma muito considerável, porque envolve a participação de uma geração que vai ter responsabilidades a muito curto prazo, ou já tem mesmo responsabilidades de liderança e de gestão de uma sociedade em trânsito, em mudança, para situações completamente novas com que vamos ter de conviver e para a qual temos de nos preparar.

Este evento prepara-a justamente para uma percepção mais acutilante sobre a realidade do mundo em que vivemos. Por outro lado, porque nós precisamos muito de debater novas ideias. Um dos problemas, em geral, em toda a Europa – e isso tem-se reflectido, aliás, na resposta à crise que estamos a viver – é que os partidos ainda estão muito agarrados a ideias do século XIX, quando têm problemas no século XXI completamente diferentes para resolver.

As grandes ideias de políticos que ainda hoje dominam, a forma como os partidos projectam a sua visão da realidade da Europa e do mundo é ainda muito refém, muito tributária, do quadro ideológico que se definiu no século XIX e que se prolongou no século XX.

Nós precisamos de novas ideias para os novos problemas do século XXI. Não tenhamos dúvidas que não os podemos vencer com as ideologias dos séculos XIX e XX; é outro mundo, aquele em que nós entrámos definitivamente.

E também me satisfaz estar convosco porque vocês discutem os problemas do país e naturalmente, na situação em que ele está, mais do nunca é necessário que o país se mobilize para encontrar formas de saída das diferentes situações em que nos encontramos. Que sejamos capazes de estabelecer, aqui e ali, as bases de um compromisso nacional, de uma narrativa para o futuro de Portugal, que num contexto de tão impetuosa mudança como aquela que se está a dar na Europa e no mundo, nos prepare para nos afirmar como uma Nação com nove séculos de História e que tem pela frente outros, muitos mais, séculos como nação livre e independente.

Isso passa muito pela capacidade de compromisso, que a nível nacional as principais políticas, as suas elites partidárias, as suas elites empresariais e institucionais forem capazes de assumir ao longo dos próximos anos. Sobretudo agora quando nós temos um horizonte de uma década de ajustamento difícil como aquele que estamos a viver.

Por isso, permitam-me que vos faça, no tempo que me é dado, uma exposição sobre a visão que eu tenho dos problemas nacionais no contexto de uma difícil e complexa situação internacional e de uma ainda mais – sublinho – complexa e perigosa situação, como aquela que vivemos na Europa hoje e que muito condiciona um país como Portugal. Perigosa pela dinâmica que os desenvolvimentos desta crise podem produzir na geopolítica europeia e no despertar de fenómenos que marcaram tragicamente a Europa nas últimas décadas em particular no século XX.

Gostaria muito rapidamente de fazer uma descrição da situação internacional e europeia, antes de finalizar com algumas considerações que penso serem pertinentes sobre a realidade portuguesa. A situação portuguesa, como sabemos, é muito difícil; é a crise mais difícil, mais complexa, que seguramente o país, a democracia portuguesa, conheceu nas últimas décadas. Assim é, principalmente pela interconectividade entre a dimensão nacional dos nossos problemas, a dimensão europeia dos problemas que nós recebemos e assumimos como problemas europeus que também são nossos e os problemas da situação europeia internacional que está a mudar muito rapidamente.

Nós temos uma situação em que a realidade e a ideia da crise se impõe em todos nós; uma crise que decorre em grande parte de uma situação económica muito frágil, muito aberta ao exterior, periférica no contexto da economia europeia que se insere, que não tem grandes recursos naturais e que não foi capaz de se adaptar à circunstância de ter entrado num clube muito exigente de países e economias de moeda forte como é o euro. Perdendo, por isso, o mecanismo de valorização que permite ajustar os problemas da economia: a falta de competitividade, a falta de rigor da gestão, de muitos dos sectores da economia portuguesa, através de desvalorizações competitivas, que foi essa a tradição de uma economia como a portuguesa durante décadas.

Esse facto, da difícil adaptação às exigências de cultura económica de moeda forte, de alguma forma acentuou e agravou desequilíbrios estruturais que a economia portuguesa hoje conhece (sempre conheceu) de forma mais grave. Comércio externo, balança de pagamentos, balança de transacções correntes e um excessivo endividamento que de alguma forma justificou que tivéssemos perdido a capacidade de nos financiarmos, quer o Estado, quer as famílias, pelas difíceis condições em que a nossa dívida se apresenta.

O ritmo de endividamento excessivo que o país conheceu, precisamente pelo agravamento dos desequilíbrios externos, em grande parte também agravados pela dificuldade de nos adaptarmos rapidamente a uma moeda forte, impôs-nos um programa de ajustamento. E nós temos um problema sério que é ter de corresponder a um programa muito exigente que nos foi imposto e contratualizado com o sistema político português, com os principais partidos que o subscreveram e que tem de ser honrado, sob pena de nós termos dificuldade em nos financiarmos (o Estado, as empresas, as famílias), agravando ainda mais as condições de recuperação da nossa economia. E, mais grave ainda, dificultando o processo de plena retoma das condições de soberania e liberdade que um país que se preza deve ter.

Por isso, nós estamos numa situação difícil, de recessão económica, por força desse programa de ajustamento austero que procura corrigir os desequilíbrios estruturais que se agravaram nos últimos anos. Mas temos de ter a noção de que este programa é recessivo, na exacta medida em que numa primeira fase a redução desses desequilíbrios estruturais impõe condições muito sérias ao funcionamento normal da actividade económica. É por isso que nós, seguramente, nos encontraremos em recessão ainda no próximo ano.

Se tudo correr bem na Europa e no mundo, é provável, do meu ponto de vista, que no final de 2013, mas mais provavelmente em 2014, o país possa começar a recuperar uma perspectiva de crescimento económico e melhoria das condições de bem-estar da sociedade portuguesa. Mas não tenhamos ilusões. O período de ajustamento que temos pela frente é muito difícil e complexo, e vai depender em grande medida do que se vier a passar do ponto de vista internacional, na evolução de uma situação muito perigosa que o sistema internacional hoje conhece e, em particular, com a forma com que a Europa for capaz de resolver os problemas que hoje está a viver.

É por isso, neste contexto, que eu acho que devemos focar a realidade da crise portuguesa, bem diferente do que foi a crise em 83, 78, ou 79, era uma crise então nacional, que dependia sobretudo da capacidade dos governos se ajustarem às exigências dos programas que negociavam então com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Hoje, a negociação decorre de um compromisso com uma Troika, em que a União Europeia tem um papel preponderante, mas em que o FMI também está presente e acompanha a execução e implementação do programa com todo o rigor. Mas mesmo que nós façamos tudo aquilo que nos é exigido, há um conjunto de variáveis inúmeras que se podem desenvolver de forma que nós não controlamos e que podem agravar a situação em que o país reage e procura responder à crise com que se confronta.

É, por isso, necessário que, com muito realismo, tenhamos noção do que temos pela frente e, vocês, que são mais jovens, têm de ter a noção de que este período, até ao final desta década, é um período de grande exigência.

Ou a sociedade portuguesa, no seu conjunto, é capaz de se adaptar à exigência de uma cultura económica e de gestão e a uma cultura social muito exigente, como é a dos países mais ricos que integram hoje a zona comum que partilhamos, ou então teremos muita dificuldade em manter as expectativas de fazer de Portugal um país, uma sociedade e uma Economia, capazes de se afirmarem no plano internacional ao nível das economias mais dinâmicas que se confrontam.

Para isso, é preciso ter a noção da especificidade da situação internacional. Nós estamos a viver as ondas de choque daquela que foi a maior crise que o mundo viveu desde a Grande Depressão e a II Guerra Mundial. Não nos iludamos. Não é fácil gerir o impacto de uma crise que teve a dimensão que teve a crise financeira de 2007 e 2008 e a grande recessão que provocou em 2009. Por isso ainda estamos a sofrer as ondas de choque dessa crise que foi brutal.

Ela não foi tão sentida nas sociedades ocidentais precisamente porque a experiência da crise de 29 e 33 fez com que os Estados de forma coordenada a nível internacional reagissem com grande acutilância do ponto de vista económico e político.

Deixaram o G7 e passaram para um quadro de G20, integraram nos mecanismos de decisão a nível internacional a força e a capacidade das economias emergentes e foi possível coordenar um conjunto de intervenções que acabou por suster a pressão desreguladora que o mundo teve e o pôs à beira do abismo em 2009.

Simplesmente, respondemos à crise fazendo de forma coordenada, os Estados assumindo através de injecção de liquidez nas economias, sobretudo nas economias ocidentais, através de dívida massiva, estabilidade financeira e capacidade de retoma do crescimento económico. Mas ao fazê-lo, criámos um problema novo que o mundo e a economia internacional não conheciam até hoje, que é ter o conjunto das economias mais desenvolvidas do mundo com uma dívida acima dos 110% de média. Portanto, muito longe dos tempos da Grande Depressão dos anos 29 e 30.

Não nos iludamos. Por isso o problema da dívida é um problema sério com que o mundo ocidental, as economias desenvolvidas, se confrontam hoje.

É por isso que, hoje, quando olhamos para a situação económica internacional, o factor mais importante é que vemos que a recuperação é muito frágil. A economia cresceu logo em 2010, mas a economia mundial tem vindo a enfraquecer, porque a capacidade de resposta que houve das economias mais desenvolvidas foi significativa numa primeira fase, mas foi através de dívida excessiva que agora tem que pagar e tem, por isso, que moderar o seu impulso de consumo e de investimento.

Enquanto as economias emergentes não têm ainda o peso suficiente para crescerem do ponto de vista económico e poderem através de mais consumo e de mais consumo reequilibrarem a economia internacional, nós estamos ainda numa perspectiva de enfraquecimento da economia mundial e na ameaça de uma dupla recessão. Se as economias americana e europeia entrarem em recessão para o ano, por muito que a China cresça e as economias emergentes – e não vai crescer muito com a Europa e os Estados Unidos em recessão –, a economia mundial terá um crescimento fraco.

Essa é uma preocupação que logo nos leva à pergunta que o Dep. Carlos Coelho tem subjacente. É que quando a economia cresce, o bem-estar aumenta, as sociedades geram riqueza, as classes médias se fortalecem e a pobreza se reduz, há naturalmente uma abertura para "o outro”, para o mundo, para o comércio internacional, para as trocas, completamente diferente daquela de quando entramos em recessão, com os seus medos decorrentes, do mal-estar, da pobreza e do empobrecimento das classes médias.

Por isso, a situação mundial vai ser determinante para a nossa situação. Se a economia mundial continuar a baixar as expectativas de crescimento e continuar a enfraquecer os seus mecanismos de confiança e de estabilidade, nós teremos dificuldade.

Isso não acontece enquanto a estabilidade da Europa não for garantida, porque um dos factores que hoje mais penaliza o ambiente estratégico em termos internacionais mais favorável ao investimento e à criação de riqueza e ao desenvolvimento do comércio internacional e trocas financeiras, é justamente a incerteza e a instabilidade que se instalaram na Europa, que nunca devia ter acontecido nos termos em que aconteceu. Em grande medida, é resultante de alguma irresponsabilidade política de alguns erros políticos que foram cometidos ao nível europeu.

Uma moeda é confiança e quando se deixa instalar desconfiança e incerteza relativamente ao futuro de uma moeda, está-se a criar um problema de dimensões inomináveis. Aí, houve muita ingenuidade, ou muita irresponsabilidade, na forma como alguns aspectos desta crise foram acompanhados pelo centro da Europa, pelas suas principais instituições, ao longo dos primeiros anos da crise que se sucedeu à crise financeira.

Depois, ainda temos o problema das tensões geopolíticas, que nós pensávamos que eram perigosas, em particular no Médio Oriente, mas as tensões geopolíticas associadas à crise económica que nós temos na Europa são muito preocupante. Por isso, a incerteza, a instabilidade e a insegurança, que hoje geram uma volatilidade impressionante nos mercados financeiros, está a germinar tensões crescentes entre os mercados financeiros e os sistemas políticos no mundo ocidental, nos EUA e na Europa, que nós vamos ter de acompanhar com particular exigência.

E não tenham dúvidas: os sistemas políticos não estavam preparados para lidar com esta realidade. A complexidade dos fenómenos financeiros, a forma como os mercados financeiros actuam, a incapacidade de orientar mercados financeiros, em grande medida desregulados pela inovação que a globalização dos últimos 30 anos impôs no funcionamento desses mercados, é um problema seríssimo com que estamos confrontados.

Por isso, o fraco crescimento económico, a volatilidade do sistema financeiro com uma incerteza no futuro da Europa e com tensões geopolíticas crescentes nalgumas regiões críticas para a paz e para estabilidade do sistema internacional, são factores de enorme perturbação que influenciam seguramente, como vocês todos compreendem, a realidade europeia e influenciam muito a realidade de um pequeno país periférico com uma economia frágil e ultra-dependente do exterior como é o caso da economia portuguesa.

Agora, é preciso ter a noção de que o que se está a passar internacionalmente, para lá da espuma dos acontecimentos que nós detectamos e eu enunciei alguns, há forças subterrâneas de ajustamento, de uma mudança de uma configuração do sistema político e de uma economia global, que nós temos que considerar sempre. É que em 30 anos o mundo, subterraneamente, estruturalmente, sem que se desse conta mudou muito do ponto de vista da relação de forças e da redistribuição da riqueza a nível mundial.

Desde que, em 1979, Deng Xiaoping assumiu na China comunista, em aliança com os Estados Unidos, como forma de pressão também sobre a União Soviética, integrar as categorias da economia de mercado no funcionamento da economia chinesa num sistema comunista, abriu as portas para uma dinâmica de globalização, de expansão dos mercados, do desenvolvimento das trocas e mercados internacionais e de expansão de fluxos financeiros, criando uma dinâmica completamente nova, que foi ainda mais dinamizada quando menos de dez anos depois pela implosão do império soviético.

Isso significa que, em menos de 30 anos, mais de metade da humanidade integrou-se nas economias de mercado e nos mercados, criando uma mudança nas placas tectónicas da geopolítica mundial, das diferentes regiões e nações.

O que nós estamos a viver hoje, para lá de todos os aspectos da crise que identificamos, é uma profunda e complexa mudança na relação de forças no sistema internacional, na relação da riqueza na economia mundial e um ajustamento macroeconómico a uma escala global que está em desenvolvimento.

O que torna a crise ainda mais complexa e difícil de gerir, precisamente porque há forças de uma dimensão incontrolável do ponto de vista político, que são forças globalizadas para as quais não há uma instância política global capaz de a conter, controlar, dominar e orientar. Portanto, há aqui uma margem de volatilidade na forma como toda esta dinâmica se desenvolve na Economia, no sistema financeiro, nas trocas internacionais e nas relações entre os valores das moedas, que é também um elemento de conflitualidade crescente na economia mundial muito difícil de dominar. E, mais uma vez, sublinho: para a Europa tem de ser tido em consideração e que para um país como o nosso, pequeno e periférico, não pode deixar de ter as suas consequências conforme essa dinâmica evolua num ou noutro sentido.

A crise europeia desenvolve-se neste contexto de uma oscilação brutal na relação com o sistema internacional. A Europa, no contexto de uma hegemonia que o Ocidente garantiu sobre o sistema internacional durante cinco séculos, com dois séculos e meio vê-se de súbito confrontada com uma realidade com a qual não estava preparada.

A Europa não está preparada, precisamente porque não foi capaz de resolver um problema político fundamental para poder posicionar a relação com o sistema internacional e preservar condições de influência, não de hegemonia e de liderança, não de imposição colonial, ou neo-colonial, como se habituou durante séculos a transmitir com o mundo, mas de influência mais indirecta, mais assente nos valores e nos princípios que de alguma forma foram assimilados e apreendidos pelas economias emergentes e pelos sistemas emergentes de poder que se estão a afirmar nos sistema internacional.

E o que há de mais paradoxalmente na situação que estamos a viver em termos do Ocidente, quer do papel dos EUA, quer da Europa no sistema internacional, é que no momento em que a Europa afirma os seus valores na organização económica, política, no papel determinante da sua visão da globalização, é o momento em que ela enfraquece, é atingida por uma crise brutal, que acontece no coração do poder ocidental, o poder americano e em Wall Street, que a deixa e aos Estados Unidos e ao Ocidente num profundo desequilíbrio.

Por isso, a crise europeia não é só o euro e é, muito menos – erro brutal, grosseiro, cometido por alguns comentadores da crise, quando identificaram uma crise da dívida soberana da Grécia, depois de Portugal e depois da Irlanda; não, é uma crise que afecta o euro precisamente porque ele era o instrumento da relação que a Europa estabeleceu com o sistema de poder mundial. Era uma moeda que se estava a tornar numa moeda de referência no sistema de comércio mundial e no sistema de poupança mundial.

Por conseguinte, a crise do euro reflecte o problema da crise europeia na sua relação de poder com o sistema internacional e das potências europeias com o sistema internacional.

Daí que a crise do euro rapidamente se tenha dobrado numa crise do projecto político europeu e, hoje, é assumido como tal pelos principais actores políticos, que não têm pejo nenhum em dizer que se o euro falhar a Europa desintegra-se, decompõe-se do ponto de vista político.

Estamos confrontados com uma crise europeia, que tem a complexidade decorrente de uma mudança de poder no sistema europeu entre as potências europeias e as instituições europeias, mas também na relação de poder da Europa com o sistema internacional.

Por causa disso, a questão política do federalismo, que tinha sido enterrada em Lisboa, depois de ter sido morta com a recusa do tratado constitucional, voltou à ordem do dia e sei que aqui, hoje mesmo, tiveram um debate sobre a questão federal na União Europeia.

A questão federal renasce precisamente porque ela é, paradoxalmente, a forma possível para salvar o euro e o projecto europeu. O federalismo político foi recusado pelos europeus, mas ao mesmo tempo todos hoje aceitam que, por necessidade de salvar o euro, é necessário introduzir um mecanismo federador na construção europeia. Por isso, estamos à beira de uma situação em que a refundação do euro terá de se fazer por uma via mais federadora. E não digo federal para não assustar os mais euro-cépticos, embora eu veja cada vez mais euro-cépticos a ver que a solução federal é a solução que por necessidade a Europa tem de acolher em alguns dos seus mecanismos de decisão.

Mas voltamos a Maastricht, a 20 anos atrás, e voltamos ao debate que então foi orientado por uma relação de forças diferente da actual. Quando a Alemanha queria a reunificação a qualquer preço e a França e os seus aliados europeus lhe puseram como contrapartida a moeda comum, a Alemanha resistia procurando o caminho contrário: "vamos para a moeda comum depois da união política, primeiro façamos a união política, depois a económica e depois chegaremos à moeda comum”. Era essa a metodologia que a Alemanha gostaria de ter seguido e que o chanceler Kohl aliás, nas confrontações que teve então com o presidente Mitterrand, usava mesmo a expressão: " a moeda comum sem a união política é um castelo no ar”. E de facto verificou-se que a moeda comum sem os mecanismos de reforço da união política é um castelo no ar, como estamos a ver.

À primeira tempestade, que abalou os alicerces desse castelo, o castelo ficou no ar. Por isso, de alguma forma estamos numa fase do projecto europeu em que o debate de Maastricht é reavivado e entrámos numa lógica de que, no meu ponto de vista, a refundação vai-se ter de fazer revendo o conceito de integração, revendo as condições de liderança do projecto que até hoje ocorreram e revendo o método que foi adoptado até hoje para desenvolver o projecto europeu até às fronteiras a que chegámos.

Acho que não há saída para a situação a que chegámos hoje sem uma solução federadora no âmbito da governação da zona euro. O que pressupõe que a união fiscal, orçamental, financeira, a governação económica e uma forma de união política, qualquer que ela seja, se encontre.

É esse o caminho que nós já estamos a seguir e estamos melhor do que estávamos há dois anos atrás, porque de alguma forma eu acho que em Outubro a França vai ratificar o tratado orçamental e fiscal, a Alemanha definitivamente ratificará os dois tratados em Setembro e a partir de Janeiro de 2013 a paisagem europeia mudará radicalmente.

O conceito que era de integração destep by stepa 27, todos em conjunto, com as mesmas instituições, ao mesmo ritmo, de uma forma simétrica, vai desdobrar-se numa dinâmica de várias velocidades, de diferentes sistemas e mecanismos institucionais e políticos e segundo uma metodologia em que a fusão entre os métodos intergovernamental e intercomunitário têm de ser muito mais afinados no arranjo que for criado.

É uma engenharia complexa, um impulso mais voluntarista e uma arrojada e ambiciosa decisão política que vai ter de ser legitimada politicamente por todos os povos europeus, seja directa ou indirectamente por todos os parlamentos. Eu não acredito que as decisões que nós vamos ter de tomar ao longo dos próximos meses e do próximo ano, não tenham que ter um renovado impulso legitimador das sociedades europeias; o que vai agravar a turbulência politica com que este processo vai ser conduzido nos próximos meses.

E, a meu ver, são três as condições-base: primeiro é necessário garantir a estabilidade da relação franco-alemã. Nós temos um problema com a Espanha, com a Itália, são economias muito pesadas que se entrarem em desequilíbrio, seguramente o projecto europeu sofre um processo difícil de gerir, mas grave, muito grave, é se o eixo franco-alemão se rompe. Por isso, as relações entre o eixo franco-alemão são decisivas para um ambiente favorável à estabilidade que garanta o desenvolvimento do projecto europeu.

Vamos ver o que se passa nos próximos meses nessa relação, mas é absolutamente decisivo que ela se mantenha. Provavelmente, agora, relação germano-francesa e essa mudança não é irrelevante, porque ela reflecte também uma mudança na relação de forças e do poder no coração da Europa que tem de ser sufragada pelos respectivos povos. Mas é absolutamente vital.

Segundo: nós não aguentamos muito mais tempo as diferenças das taxas de juro que estão por essa Europa fora. É insustentável; por isso, os diferenciais nas taxas de juro, como se financia a economia alemã e como se financia uma economia periférica como a portuguesa, ou a espanhola, ou a italiana, é insustentável. Portanto, ou pela antecipação de um mecanismo deeurobonds, ou de umroad mappara a integração doseurobonds, ou por uma intervenção não-convencional do BCE, de que tem sido muito falada nos últimos dias e é provável que ocorra, há alguns sinais nesse sentido, na próxima reunião do BCE na próxima semana.

Alguma coisa tem de ser feita, porque a situação de pressão dos mercados na Espanha e na Itália é demasiado perturbadora para não pôr em causa, dada a tal volatilidade que o sistema financeiro hoje conhece e em que as poupanças mundiais se deslocam vertiginosamente à procura de refúgio e de segurança nos seus investimentos e aplicações, é absolutamente vital que a baixa das taxas de juro seja garantida o mais rapidamente possível.

Nessa perspectiva, acho que se o desenvolvimento do projecto – de acordo com o programa que está em implementação –, se a França e a Alemanha entenderem como tinham com Sarkozy e Merkel nesseroad mappara a saída da crise, se o novo governo francês com os ajustamentos que foram feitos entretanto, aceitar o desenvolvimento desse programa, entraremos em 2013 em condições de garantirmos alguma estabilidade para o futuro da zona euro, retoma de confiança no euro – que é uma forma também fundamental para baixar a pressão na taxa de juro –, e a possibilidade também de algumas economias, como a nossa, aliviarem um bocadinho da enorme pressão que têm sobre si.

Se tudo isso correr bem, nós temos de ter em consideração os aspectos mais críticos da situação portuguesa e eles são quatro ou cinco, do meu ponto de vista.

Primeiro, temos de ter um grande compromisso em relação ao nosso futuro na Europa. Uma vez que vamos entrar num processo de relegitimação, de transferências de soberania para um centro que ainda não identificámos bem na sua configuração institucional e política, é muito importante – do meu ponto de vista – que os principais partidos portugueses, sem excepção, se procurem entender sobre o modelo que favoreça a inserção de Portugal nas novas arquitectura e realidade europeias que estão em construção. É fundamental do meu ponto de vista.

Depois, é preciso garantir que nós nos possamos financiar o mais rapidamente possível pelos mercados. Por isso, a questão do financiamento externo é prioritária; um país não pode estar à mercê de uma tutela como aquela que se verifica neste momento pelos credores internacionais que nos emprestam dinheiro extraordinariamente para que nós não entremos em bancarrota.

Portanto, é preciso rapidamente resolver o problema do financiamento externo, que é como quem diz "voltar aos mercados”. Isso exige credibilidade, confiança na economia, sociedade e povo portugueses, porque é disto que estamos a falar, não é apenas o Governo, é o conjunto do país que tem de dar uma imagem de confiança e de credibilidade que permita que os mercados nos passem a olhar como um actor económico credível a quem se pode emprestar dinheiro sem nenhum problema de risco.

Depois, é preciso dar muita atenção ao problema estrutural que nos trouxe até aqui: ao desequilíbrio externo que é o problema da competitividade e precisamos de reformas estruturais que foram adiadas e que permitam, apesar de tudo, à economia portuguesa competir no plano europeu e no plano da competição que a economia europeia tem de garantir com a economia mundial para não cairmos na situação de xenofobia, de nacionalismo, de encerramento nas fronteiras, que nos isolaria do mundo. E Portugal é um país que se afirmou na relação com o mundo, é o último país que pode justificar estrategicamente uma opção desse tipo, porque Portugal é um país que se forjou na relação com o mundo; nós temos dois vizinhos: a Espanha e o mundo.

Foi assim durante séculos e portanto Portugal é um país que tem de saber competir e nas condições muito exigentes da economia europeia e esta tem de competir se não se quiser tornar numa fortaleza isolada do mundo e por isso sem capacidade de influenciar o mundo e, mais do que isso, dominada a prazo pelo mundo emergente. Porque perante as outras civilizações e culturas, se a Europa se fechar a ela própria na sua fortaleza, ainda para mais com a pressão demográfica que tem, será irrelevante no mundo dentro de décadas, não digo um século, mas sim em duas ou três décadas a Europa deixa de contar.

Por isso, competir; temos de resolver o problema da competitividade, do desemprego e do investimento: criar condições de confiança para atrair o investimento e fixá-lo para que possam criar emprego e de novo competitividade.

Só para terminar, dois problemas a que se deve dar particular atenção: numa situação de crise como a que estamos a viver, o problema da distribuição de riqueza, da pobreza e das desigualdades, é de uma enorme sensibilidade.

Quando há crescimento, quando as classes médias crescem, quando as classes mais desfavorecidas têm o elevador em ascensão para se projectarem através dos seus filhos para níveis sociais mais ambiciosos, há uma contemporização saudável e positiva com a diferença social. Quando o elevador social cai abruptamente e as pessoas entram num processo de empobrecimento a questão das injustiças e desigualdades é muito mais sensível do ponto de vista político. Portanto, é preciso que o país faça uma gestão adequada deste problema das grandes diferenças, da desigualdade e do rendimento.

Uma das situações mais paradoxais das últimas décadas nos 30 gloriosos anos da globalização foi justamente o facto de centenas de milhões de pessoas terem saído da pobreza extrema por conta da globalização a nível mundial. Mas as desigualdades dentro das sociedades agravaram-se imenso. O leque de disparidades sociais entre os mais ricos e mais pobres nas sociedades por força desta dinâmica muito liberalizadora das relações, das trocas e fluxos financeiros, produziu esta dinâmica muito difícil de gerir politicamente.

Isto leva-me ao último ponto e encerro a minha exposição: o problema da estabilidade social, governativa e política; estamos num governo de coligação, é bom lembrar. Porque um país que está dependente dos mercados, do financiamento de médio-longo prazo, não basta ter apenas uma maioria, tem de ter um sistema político estável que garanta a estabilidade das responsabilidades que assumimos perante os credores.

Quem nos empresta dinheiro a dez e vinte anos, quer saber se o governo que vai substituir o governo que pede emprestado o vai pagar a seguir. Isso pressupõe que haja uma matriz de estabilidade muito mais alargada para um país que tem um problema de endividamento e financiamento externo como o nosso.

Viram o que aconteceu na Grécia? Foi uma grande irresponsabilidade do sistema político grego; uma enorme irresponsabilidade, porque não foi capaz de inspirar nenhuma confiança nos seus credores, com uma luta acesa pelo poder, só pelo poder. Essa irresponsabilidade custou à Grécia aquilo que ela está a viver e nós soubemos, quando o PSD – e estou aqui num evento do PSD – precipitou a crise política ao recusar o Pacto de Estabilidade e Crescimento, nós vimos o que aconteceu a seguir: o pedido de resgate foi também provocado por uma crise política incitada pelo PSD.

Eu não gostaria que o meu partido provocasse uma crise política que agravasse as condições de estabilidade necessárias para garantir ao país o financiamento de que tem absoluta necessidade ao longo dos próximos anos e, por isso, defendo que o modelo de estabilidade numa sociedade tão desequilibrada do ponto de vista externo como é a sociedade portuguesa, exige uma estabilidade política ampla nas grandes questões estruturais.

As grandes questões estruturais devem ser o mais profundamente e largamente acordadas.

Meus amigos, a Alemanha está na posição em que está do ponto de vista financeiro e económico, porque tem um modelo de governação e de estabilidade política em que estes aspectos de interesse nacional se sobrepõem aos interesses partidários. E nos momentos decisivos, o sistema político alemão funciona em condições que garantem a estabilidade política e governativa necessárias para fazer da economia alemã e da Alemanha o que ela é hoje.

Muito obrigado a todos.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho
Vamos entrar na fase de perguntas. O primeiro bloco é dos grupos Laranja e Azul, Francisco Sousa Vieira e Francisco Canas.
 
Francisco Sousa Vieira

Muito boa noite. Quero começar por dirigir um especial agradecimento e cumprimento ao nosso convidado, Dr. Luís Amado, que nos privilegia com a sua presença.

Como todos devem saber, ontem começaram os jogos paralímpicos, onde participam atletas portugueses cujos resultados têm sido grandes alegrias ao nosso país. No entanto, há um partido de extrema-direita – de um país que o Dr. Luís Amado acabou de falar, a Grécia –, o partido Aurora Dourada, que promove agora (como tem feito no passado) ataques violentos contra cidadãos portadores de deficiências, bem como emigrantes e cidadãos de minorias étnicas.

Tendo em conta que 50% da base apoio deste partido parece ser proveniente das forças policiais, que a sua retórica demagógica consegue captar cada vez mais apoiantes e que os governos gregos e europeus parecem tolerar isto como um custo social resultante da austeridade em vigor, eu pergunto-lhe, consciente de que não tenho faculdades para tal, qual é a sua visão de solução para isto? Peço-lhe que me fortaleça a esperança de que estes oprimidos voltarão a viver em paz.

Muito obrigado.

 
Francisco Canas

Muito boa noite a todos. Gostaria de cumprimentar a mesa, em especial o senhor Dr. Luís Amado, e agradecer-lhe a sua presença na nossa Universidade de Verão.

Queria colocar-lhe a seguinte questão, que está relacionada com a pasta dos Negócios Estrangeiros, que anteriormente tutelou: desde Março de 2011, temos assistido a uma revolta contra o presidente da Síria, Bashar Al-Assad, que é neste momento responsável por um verdadeiro genocídio.

Tendo isto em conta, a nossa questão prende-se com o seguinte: qual é a razão para que ainda não tenham sido tomadas medidas sancionatórias por parte da comunidade internacional tal como aquelas que foram tomadas na Líbia e no Iraque? Será que este ponto não tem espaço na agenda política mundial, ou é pelo facto de este país não possuir recursos fósseis de interesse?

Muito obrigado.

 
Luís Amado

Muito rapidamente, eu peço desculpa, porque me excedi no meu tempo de exposição inicial e vou tentar ser mais sucinto agora.

Em relação ao problema grego, eu já disse que, em grande medida, identifico o problema da Grécia como sendo o resultado de uma enorme irresponsabilidade dos partidos tradicionais do sistema político grego. É para isso que os partidos existem de facto, para se prepararem para o poder nacional, mas há circunstâncias e momentos em que interesse do país deve-se sobrepor ao interesse imediato da luta partidária normal suscita.

No caso da Grécia, houve muita irresponsabilidade precisamente por não acautelar os interesses do país e ter deixado que ele resvalasse para uma situação tão trágica que revelou ainda muito mais descredibilização dos partidos tradicionais, que perderam a sua capacidade de enquadramento.

Por isso, num contexto de crise como este que estamos a viver, é muito importante que os partidos tradicionais não percam a referência das mudanças que a realidade económica e social vai impondo, precisamente para não deixarem o espaço livre para o aparecimento de fenómenos de populismo, demagogia, xenofobia, como esses que evidenciou e em que a extrema-direita grega se tem revelado.

É um momento de contexto de crise social tão sério que estamos a viver na periferia da Europa, que a capacidade de suster esse tipo de fenómenos deve ser a preocupação fundamental do sistema partidário, de forma a não criar situações de ingovernabilidade, de falta de capacidade para que os partidos políticos que têm agendas de governo não sejam ridicularizados até pela ascensão de fenómenos desse tipo.

Quando eu vejo um comediante italiano, que nas sondagens tem quase 20% e é um comediante que resolve criar um movimento político e arrasta 20% de potenciais eleitores, isso dá-nos bem a ideia da descredibilização que esse sistema político está a gerar e, portanto, há aí um problema dos partidos tradicionais.

Felizmente, em Portugal, todos os estudos de opinião têm-no revelado, os partidos continuam numa relação de grande estabilidade com o seu eleitorado e isso é muito importante que seja preservado, mas pressupõe uma relação de verdade entre actores partidários e eleitores, o que nem sempre é fácil, porque essa relação de verdade, muitas vezes não dá votos.

É muito difícil para agradar os credores dizer que se vai reduzir os salários em 30% e os credores ficarão satisfeitíssimos, mas esse político não ganhará as próximas eleições. É essa contradição que hoje nós temos: agradar aos credores e aos eleitores, na situação em que estamos e esse exercício é muito difícil de fazer. Eu tiro o chapéu a alguns políticos que conseguem, porque é muito difícil.

Mas esse é um problema; em relação ao problema da Síria, é o problema decorrente de a Síria estar na situação em que está num contexto de uma profunda revolução que tem varrido o mundo árabe e, portanto, com pressão do mundo árabe e numa linha de fractura na realidade do Médio-Oriente porque está sob enorme pressão.

Aliado do Irão, com o Irão sob grande pressão e um governo com uma minoria alauita, não-sunita e, por isso, com todo o mundo sunita a pressionar esse regime déspota como é o do Assad.

Do ponto de vista do apoio da comunidade internacional, as suas limitações têm decorrido do Conselho de Segurança ter dois vetos permanentes a uma posição uniforme em relação à Síria – da Rússia e da China – que se prendem com o tal exercício de reposicionamento dos principais actores internacionais num processo de reconfiguração da geopolítica mundial e em que o sistema de poder de quem manda no mundo está em causa. Porque já não é o poder herdeiro da situação da II Guerra Mundial, mas também não há ainda um equilíbrio de forças que o justifique, ou que se imponha.

Por isso, esse exercício de disputa de influência de poder no jogo do Conselho de Segurança é muito limitativo de qualquer solução negociada para a Síria neste momento. O exemplo da Líbia, de alguma forma, serviu para a Rússia que tem aspirações de ter posição no Mediterrâneo, que tinha perdido aquando da queda das suas bases na ex-Jugoslávia ou na Bulgária, e preserva a todo o custo a ligação com a Síria e vai defender até ao fim o regime de Assad. Mas, ainda assim, a Rússia tem a chave para a solução do problema de Assad.

 
Dep.Carlos Coelho
Segundo bloco de perguntas: Henrique Barros do grupo Encarnado e Alexandra Abrantes do grupo Roxo.
 
Henrique Barros

Muito boa noite. Gostaria de cumprimentar o Dr. Luís Amado, é sempre um privilégio ouvir alguém tão conhecedor dos problemas internacionais.

Partindo para a questão que formulámos: hoje olhamos para fora de Portugal e observamos um mundo que se está a alterar a todos os níveis: vemos uma revolta no mundo árabe, por vezes pacífica, por vez violenta; vemos que a Europa está no fio da navalha e começamos a ver tensões sociais extremas em países perto de nós e também lá longe, como é exemplo a África de Sul em que dezenas de mineiros são mortos por reivindicarem melhores condições de vida. Por outro lado, começamos a ver o extremismo, o radicalismo e os demónios a renascer, como na Grécia e até nos chamados super-desenvolvidos países da Europa do Norte.

Também vemos no Médio-Oriente o Irão e no Oriente a Coreia do Norte a correr para o nuclear e, do ponto de vista económico, ainda assistimos à ascensão dos tão falados países BRICS e ao deslocamento do grande poder económico do Ocidente para esses países.

Dr. Luís Amado, eu tenho apenas 17 anos e carrego comigo uma enorme incerteza acerca do mundo em que vou viver, deste modo e em nome do grupo Encarnado, sabendo que o senhor é um profundo conhecedor da diplomacia e das relações internacionais, pergunto-lhe: para onde caminha a ordem mundial, com particular destaque para a Organização das Nações Unidas e qual o papel de Portugal nesse cenário? Já agora, deixe-me acrescentar: vivemos uma paz real, ou será tudo uma paz aparente?

Muito obrigado.

 
Alexandre Abrantes

Boa noite.

Dr. Luís Amado, em nome do grupo Roxo, gostaria de lhe apresentar as mais cordiais saudações.

Aproveitando o facto de ter sido Ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, gostaria de lhe endereçar uma pergunta que visa essas áreas. Muito se tem escrito e dito acerca da dívida grega, mas existe uma dimensão da dívida que muitas vezes não tem saído a público para ser debatida, que tem de ver com os altos gastos em despesas militares que os sucessivos governos gregos têm feito. Sabe-se que a Grécia é o quinto maior importador mundial de armas, tem um gasto aproximado de 3% do PIB e é o país europeu com mais alta taxa de despesa militar.

Em sua opinião, não seria de se esperar um recrudescimento da União Europeia Ocidental, isto é, que a dimensão político-militar da união assentasse num pressuposto de contributo dos Estados-Membros de acordo com a dimensão de cada um deles, de modo a se evitar situações como esta na Grécia?

Do seu ponto de vista, a União Europeia Ocidental terá um carácter de eficiência, uma vez que para além das questões político-militares também atenta a questões económicas?

 
Luís Amado

Muito obrigado pelas perguntas muito pertinentes, que dariam para uma nova exposição.

Em grande medida, eu procurei responder durante toda a minha exposição à natureza da crise que estamos a viver, nessa dimensão de interdependência e interconectividade nos planos geopolíticos mundial, europeu e regional.

Portanto, diria apenas que nós estamos no princípio ainda de um longo, complexo e muito perigoso processo de reajustamento da geopolítica global e de reencontro de uma nova ordem mundial que de alguma forma dê representatividade ao que foram as profundas mudanças estruturais que decorrem ao longo das últimas décadas na economia e realidade política internacionais.

Nesse contexto, temos de ter a noção de que o mundo para o qual estamos a caminhar é um mundo marcado por alguma desordem resultante de uma mudança que o sistema internacional está a conhecer e que a economia mundial está a registar.

É bem evidente a dificuldade com que os EUA assumem a liderança do sistema internacional. É difícil a posição do Ocidente que durante séculos determinou liderança, hegemonia, controle, sobre a dinâmica dos acontecimentos internacionais. É difícil a posição em que se encontra no momento em que se confronta com uma crise tão austera como aquela que está a agredir as suas economias e neste período de transição alguma anarquia no sistema internacional é, sem dúvida, fonte de grande preocupação. Porque esta transição na liderança e na governação do sistema internacional tem de ser garantida pela paz e pelas vias da política e da diplomacia.

Se não fosse a circunstância de, ao contrário do que se passava no tempo da II Guerra Mundial e da última guerra mundial, as capacidades dos arsenais bélicos internacionais ser a que é, que permitia então incorporar a dialéctica de continuidade da política através da guerra; se não fosse essa circunstância, é provável que na cabeça de muitos líderes políticos internacionais, outras opções se estivessem a colocar do ponto de vista das adversidades com que se confrontam ao nível geopolítico. Mas como esse cenário é impossível de enquadrar numa razão política com que os problemas devem ser confrontados, é a diplomacia e a política que têm de intervir. Porém, enquanto os modelos e temas que se apresentem como exequíveis, não se impuserem pela força das suas convicções e modelos, é provável que tenhamos que viver com alguma desordem e anarquia.

Há quem fale até – Ian Bremmer, um importante autor americano que publicou um livro com o título "G-zero” – em que já não há ninguém capaz de pôr ordem no sistema internacional e por isso esse vazio de liderança é de alguma forma perturbador na exacta medida em que ele gera alguma indefinição relativamente à forma como a dinâmica dos acontecimentos pode levar a realidade do mundo e das diferentes situações com que nos confrontamos num ou noutro destino.

Há, por isso, alguma imprevisibilidade e a natureza dos fenómenos de risco e as ameaças com que as sociedades se confrontam também têm gerado alguma desordem e alguma insegurança. Por isso é que os fenómenos de incerteza, instabilidade e insegurança estão também a agravar as condições de confiança, que permitam restabelecer o funcionamento normal dos sistemas económicos a nível mundial. É uma situação que vamos ter de acompanhar com atenção.

Agora, uma coisa lhe digo só para terminar: se a Europa implodir temos a anarquia no sistema internacional e o Ocidente deixa de contar, esqueçam os americanos e alguns sectores mais radicais na sociedade americana pensam que a implosão do euro é-lhes uma vantagem a prazo, esqueçam a liderança do sistema internacional.

Porque o Ocidente só existe com a Europa, sem ela e sem a realidade de integração que ela tem apresentado ao mundo o Ocidente desfaz-se e o poder americano, que já hoje é relativamente solitário apesar do esforço que a administração Obama tem vindo a fazer para tentar restabelecer a confiança nos EUA, será sem a Europa, sem a aliança transatlântica, sem dúvida muito confrontada com alianças que colocarão em causa, no Pacífico e no Índico, a sua hegemonia.

Sobre despesas militares, falaríamos disso mais tarde, mas dir-lhe-ei apenas que a questão é pertinente porque ela é a segunda fase do projecto europeu. Não tenho, sobre isso, nenhuma dúvida.

Nós vamos ter uma mudança muito rápida, na forma como a relação de forças na Europa se posicionou através das grandes potências ao longo das últimas décadas: a França liderou este processo até Maastricht, depois até Lisboa enquanto a Alemanha não tinha condições da reunificação para liderar, o Reino Unido teve uma enorme influência no projecto europeu. Subitamente, o Reino Unido deixa de ter capacidade para acompanhar o ritmo que a integração europeia vai exigir e é provável que, pela sua posição reservada que tem tido historicamente em relação ao processo de integração do continente europeu, se afaste momentaneamente, mas vai ter de voltar – do meu ponto de vista até, os americanos se encarregarão de persuadir o Reino Unido a voltar – a uma Europa de segurança e de defesa que integrará mais o seu sistema colectivo no sistema transatlântico.

Os Estados Unidos não podem mais continuar com todo o peso da segurança da União Europeia e nesta crise, na fase seguinte, quando e se resolvermos, supondo que vamos resolver os problemas que temos na frente financeira, económica e política, as frentes de segurança e estratégia são questões demasiado sérias para a Europa então para que as despesas militares nacionais possam ainda subsistir no formato crítico que referiu no exemplo grego que deu.

 
Dep.Carlos Coelho
Vamos ao terceiro bloco de perguntas: do grupo Rosa, o João Letras e do grupo Verde a Eduarda Rocha.
 
João Letras

Boa noite a todos. Um cumprimento especial ao nosso convidado, Dr. Luís Amado, seja bem-vindo à nossa Universidade.

A questão que eu queria colocar-lhe é a seguinte: como Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros no governo anterior como é que vê a falta de consenso político nas questões europeias de fundo, nomeadamente a questão do federalismo e da regra de ouro? Há assim tantas divergências entre o Partido Social Democrata e o Partido Socialista no que diz respeito a estas questões?

Obrigado.

 
Eduarda Rocha

Boa noite a todos os presentes, em especial ao Dr. Luís Amado.

Há pouco, referiu que as tensões geopolíticas e as instabilidades políticas em geral criam conflitos entre os fenómenos financeiros e os fenómenos políticos.

Hoje, o Dr. Paulo Rangel defendeu o federalismo como solução para esta instabilidade. Já percebemos que partilha esta ideia, mas defende uma liderança do eixo franco-alemão e no seu ponto de vista como se coaduna esse modelo com o papel dos parlamentos nacionais?

Obrigada.

 
Luís Amado

Bom, são duas perguntas muito pertinentes.

A primeira, eu creio que continua a haver uma base possível e de amplo consenso relativamente às questões europeias entre o PS e os partidos que estão no governo hoje. E espero que assim seja, pois não podemos desprezar o que foi um compromisso durante décadas relativamente a um objectivo estratégico nacional definido depois do fim do império colonial e do período de deriva estratégica em que o país caiu e que garantiu, apesar de tudo, a estabilidade, o desenvolvimento económico, a melhoria das condições de bem-estar, a sociedade portuguesa não tem nada que ver, hoje, com o que era há 30 anos.

Em grande parte, se a sociedade portuguesa hoje vive melhor e tem melhores perspectivas de futuro do que tinha há 30 anos atrás é precisamente porque esse consenso permitiu gerar estabilidade política nos objectivos a longo prazo independente das mudanças de governo e alternância que ocorreu durante estas duas décadas e meia.

Acho que este compromisso não se pode desfazer neste momento e acho que há reservas em todos os campos, mesmo à esquerda do PS para um renovado compromisso em relação às questões europeias.

Admito que seja possível numa mudança muito rápida que se vai verificar na paisagem política europeia durante os próximos tempos, admito que seja possível refundar esse compromisso nacional para a nossa inserção na Europa e no mundo global.

Porque é esse o objectivo que nós temos de ter presente: não é apenas a inserção na Europa, é a inserção na Europa como via da inserção de Portugal no contexto de um mundo global, porque estamos ligados ao mundo e sempre procurei transmitir esta forte convicção de que a europa não é o nosso destino, o nosso destino é, ainda e sempre, uma relação que privilegiamos com o mundo através do espaço atlântico que consolidou a nossa independência, a nossa personalidade e a nossa identidade histórica e política durante séculos.

Por isso, acho que esse compromisso nacional em relação à sua inserção, à sua inserção no mundo é absolutamente fundamental.

Os casos específicos que referiu em relação à questão federal europeia – eu não sou um entusiasta do federalismo; longe de mim! Porque acho que a Europa não pode desprezar a força das nações e da diferença das nações e das culturas e, por isso, o federalismo político foi rejeitado e pegar no federalismo político como bandeira da integração europeia é importante, mas não mais do que isso.

A ideologia europeísta, também, como todas as ideologias, procura de alguma forma esconder alguma realidade, é opaca em relação a alguma realidade. E a realidade da Europa do ponto de vista cultural é que as forças das nações, as identidades culturais, são muito fortes ainda. Agora, não tenho dúvida nenhuma que um elemento federador que aglutine as condições de sustentabilidade de uma união económica e monetária são absolutamente incontornáveis e, portanto, vamos te ruma etapa federadora. Aliás, penso que foi o Presidente da Comissão Europeia que falou em "momento federador”, precisamente porque o federalismo político no espaço da União Europeia é impossível de negociar do ponto de vista político.

Eu participei nas negociações de Lisboa e sei até o que à mesa do Conselho se pensa e se diz relativamente a essas questões. Agora, por necessidade de preservação de um ambiente de estabilidade necessário para a integração da Europa e para evitar a tragédia que seria a sua decomposição, eu não tenho dúvida nenhuma que vamos ter elementos federadores. Ninguém sabe bem quais são, aliás perco um minuto para contar-vos uma história.

Há um adjunto do Presidente Kohl que num dia destes num exercício de memória que fazia das conversas entre Kohl e Mitterrand no período da preparação de Maastricht dizia ao Chanceler Kohl, quando ficou muito surpreendido de o Chanceler Kohl ter colocado na mesa ao Presidente Mitterrand a questão da União Política. Ele ficou muito surpreendido e cá fora terá dito:"senhor Chanceler, o que é que exactamente queria dizer com a União Política?”E o Kohl terá dito: "pergunta pertinente, mas não é sensato fazê-la agora”.

[RISOS]

Se vocês verificarem, a Chanceler Merkel também já terá posto outra vez a questão da União Política na mesa, mas façam-lhe a pergunta e vão ver que ela terá dificuldade em dizer o que é exactamente a União Política.

Agora, que há um elemento federador que tem de ser integrado na re-engenharia do processo institucional e político europeu não tenho dúvidas sobre isso. A regra de ouro, para mim, é muito simples: há um compromisso possível de conseguir o mesmo objectivo na lei de enquadramento orçamental, dotando essa norma de uma maioria para mudar que preveja a maioria de dois terços. Para mim, ninguém perde a face nesse processo.

Eu privilegiaria uma relação dessa regra com a constituição, não tenho nenhum problema sobre isso. Acho que a dívida hoje é um problema que coarcta a liberdade, a independência e a capacidade de soberania de uma nação a partir de certos limites. Portanto, não tenho nenhum pudor ou nenhum preconceito ideológico, ou teórico – que também há preconceitos teóricos, quer na doutrina constitucional quer na doutrina sobre as finanças públicas sobre essa matéria –, em seguir por aí.

Mas acredito que o compromisso é possível e em torno, não de uma alteração à constituição para esse fim, mas numa alteração na lei de enquadramento, que provavelmente necessitará de um toque na constituição relativamente à maioria de dois terços para esse ponto específico na lei de enquadramento orçamental.

Portanto, deitemos a criança na cama adequada e creio que é possível um compromisso nesse domínio.

Relativamente à questão dos mercados financeiros, reconheço que a tensão entre mercados financeiros e sistemas políticos é dos problemas mais sérios com que nós estamos a lidar. A impreparação dos sistemas políticos, em geral, e de muitos economistas para lidar com a realidade de hoje dos mercados financeiros é uma das preocupações de governabilidade no espaço europeu em particular.

Agora, a solução política para essa realidade, do meu ponto de vista, decorre sobretudo da capacidade de voltar a gerar confiança no euro. Nós não necessitamos de pôr a União Europeia votar um tratado de união federal a 27 que seria absolutamente impossível de fazer aprovar, para estabilizar os mercados e sossegar de novo a relação entre os mercados e os sistemas políticos europeu.

É preciso credibilidade e criar as condições de certeza e confiança no euro, que permitam rapidamente aproximar as taxas de juro dos mercados dos sistemas diferentes das economias europeias.

 
Dep.Carlos Coelho

Muito bem, vamos para o quarto e penúltimo leque de perguntas. Quero agradecer ao grupo Amarelo o convívio que fizemos aqui na mesa durante o jantar.

Irei convidar o Tiago Pais a formular uma pergunta ao Dr. Luís Amado, a que se seguirá o João Lourenço do Grupo Bege.

 
Tiago Pais

Antes de mais, muito boa noite a todos. Senhor Dr. Luís Amado, foi –e acredite – uma verdadeira honra jantar aqui nesta mesa consigo, deu para conversarmos um pouquinho. De facto já lhe disse e digo agora em público que é preciso ter uma grande abertura democrática, ter um grande respeito por todas as ideologias, poder de encaixe e saber participar no jogo político para vir aqui com uma mente aberta debater política e fazer política com jovens de outro partido que não o seu.

Muito obrigado por isso.

[APLAUSOS]

Na sua primeira intervenção fez uma exposição bastante clara, precisa e interessante sobre os desafios que temos a nível económico mundial.

Gostaria de pegar nessa intervenção para lhe fazer algumas perguntas. O grupo Amarelo entende que hoje em dia é imperativo demonstrar tudo aquilo que temos de bom ao estrangeiro e pegando na sua experiência de vida, enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros o que acha ser necessário fazer para "vendermos” Portugal no estrangeiro? Como é que criamos uma porta aberta para os países virem mais vezes cá, conseguirmos exportar mais e dar uma imagem diferente da que temos nalguns países?

Falou também de credibilidade e confiança no povo. O governo não tem unicamente essa tarefa e de facto é muito importante, porque o povo português tem necessidade de mostrar acima de tudo responsabilidade.

Última pergunta: o que acha, também a nível internacional, do papel que devemos ter com os países de língua oficial portuguesa? Ou seja, que estratégia é que desenvolvemos com os mesmos? E já que estávamos a falar de Economia, refiro-me sobretudo ao nível económico.

Mais uma vez muito obrigado pela sua presença.

 
João Lourenço

Boa noite a todos. Dr. Luís Amado, o grupo Bege saúda-o pela sua presença neste jantar. O senhor é natural de Porto de Mós, que para quem não conhece, é um concelho pertencente ao distrito de Leiria, perto de Fátima. Fátima, onde a palavra fé tem um peso substancial.

Conhecendo tão bem Portugal e a sua imagem externa, pergunto se tem fé em Portugal, face ao panorama actual? Essa fé é partilhada pelo resto do mundo?

Obrigado.

 
Luís Amado

A primeira pergunta, respondendo ao simpático Tiago que me fez elogios que agradeço, mas ele no fundo foi o único que teve as palmas.

[RISOS E APLAUSOS]

A imagem de Portugal no exterior, do meu ponto de vista, como disse há pouco eu tenho sempre na cabeça a ideia de que temos a Espanha de um lado e que temos o mundo do outro.

Portanto, a minha visão da nossa inserção e relação com o mundo é muito marcada por esta visão genética do país e acho que tudo temos de fazer para criar condições de credibilidade que favoreçam a imagem do nosso país. Por isso, acho que – como disse na minha intervenção – a prioridade das prioridades é justamente repor as condições normais da nossa relação com o mundo através do financiamento. Enquanto estivermos numa situação em que não acreditam se vamos ou não pagar a dívida, se vamos ou não reestruturar a dívida face à dimensão que a dívida adquire, se vamos ou não entrar em bancarrota, é óbvio que essa imagem na relação com o exterior está marcada por essa circunstância.

Por isso, a prioridade das prioridades, como sublinhei, é a normalização do financiamento. Nessa perspectiva acredito que o país sairá reforçado nas condições de imagem e credibilidade internacionais precisamente porque o faz, como todos o sabem, num contexto de grande austeridade e dificuldade, mas também de grande sacrifício e compromisso.

Se conseguirmos gerir como tivemos a capacidade de gerir até agora este processo, se as condições não se deteriorarem muito mais, não tenho dúvida nenhuma que a imagem do país sairá reforçada se o país conseguir, apesar de tudo, garantir a presença numa das regiões mais importantes do sistema internacional, com mais poder e mais capacidade de afirmação internacional que será sem dúvida o núcleo federador do euro.

Nessa perspectiva acho que nós temos de continuar a ter esta obsessão – no meu ponto de vista – de garantir que as condições de normalização da nossa Economia se façam o mais rapidamente possível.

Creio que, relativamente às relações com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), essa circunstância também facilitará muito a afirmação da imagem do país nesse contexto. Porque nós não deixamos de estar numa situação diminuída mesmo com os países com quem temos uma aliança tão estreita como é com a CPLP.

Essa aliança é fundamental para a afirmação diferente dos nossos interesses estratégicos no contexto europeu e ocidental. Abre, só por si, na relação com o Brasil e com os espaços da África Austral e Ocidental, um potencial de relacionamento estratégico para as próximas décadas, que valorizará imenso nas próximas décadas.

Não se esqueçam que o Brasil se afirmará como uma grande potência do Atlântico Sul. Os Estados Unidos serão uma potência dividida cada vez mais pela necessidade que tem de acautelar os equilíbrios na zona do Pacífico e do Índico.

Não tenho nenhuma dúvida de que se a Europa se reforçar do ponto de vista da sua coesão e da sua integração estará em condições de, em grande parte, assumir no sistema Ocidental-Atlântico algumas funções para a estabilidade do espaço Atlântico na relação com o sistema do Índico-Pacífico.

Não nos esqueçamos que o sistema do Índico-Pacífico concentra hoje dois terços da humanidade e para aí se desloca a riqueza, os recursos e a força da economia mundial. Por isso, o sistema Atlântico tem de ser também integrado nessa perspectiva Norte-Sul. Nesse jogo Portugal tem um papel absolutamente fundamental, porque tem relações privilegiadas justamente quer com o Brasil, quer com a África Austral e com o eixo da África Ocidental que faz a articulação entre o espaço do Atlântico Norte e o espaço do Atlântico Sul.

Sem a integração do sistema Atlântico numa certa unidade Ocidental, de valores, princípios políticos, económicos, culturais e até linguísticos, é mais difícil perceber como é que nós nos equilibramos no horizonte nos próximos vinte anos com a massa política impressionante que se está a afirmar no Índico e no Pacífico.

Por isso, eu vejo – respondendo à pergunta seguinte – com grande fé o futuro do nosso país. Acredito, de facto, se resolvermos o nosso problema político na relação com a Europa e se a Europa resolver o seu problema político, porque a Europa tem um sério problema político, não tem um problema económico e financeiro como tem por exemplo os Estados Unidos. A Europa é uma região do ponto de vista macro-económico com mais equilíbrios do que uma região como a dos Estados Unidos; tem é enormes diferenças, desajustamentos e desequilíbrios internos que, em grande parte – sabemos hoje –, decorrem de um grande problema político que tem para resolver e que tem de saber resolver durante os próximos meses, ou durante os próximos anos.

Por isso, se nós resolvermos o nosso problema político numa Europa que é capaz de resolver o seu problema político, não tenho nenhuma dúvida que, não imediatamente, mas no fim desta década, vocês estarão aliás nos governos do país, nas câmaras, assembleia da república, e terão condições de beneficiar do ajustamento que entretanto, a nível europeu e nacional, está a ser feito para repor as condições de afirmação do nosso país no sistema nacional como uma nação com capacidade de afirmar voz própria no sistema internacional.

Isto, no quadro de uma partilha de soberania cada vez mais exigente, com um centro europeu reforçado, que a salvação do euro nos imporá, mas que creio que não colocará em causa o papel diferenciador e instrumental que o país pode ter na articulação de política externa da Europa com áreas importantes da nossa implantação cultural, histórica e até linguística.

 
Dep.Carlos Coelho

Senhor Dr. Luís Amado, nós temos a tradição na Universidade de Verão de dar a cortesia da última palavra ao nosso convidado. Antes das últimas duas perguntas é, geralmente, a oportunidade que eu tenho para agradecer a presença do nosso convidado.

Não vou agradecer a sua presença, não porque não o deva fazer, nem porque não o desejasse fazer, mas ocorre que o presidente da JSD reivindicou para ele esse privilégio. Em dez anos é a segunda vez que o faz, a primeira foi o ano passado com o Dr. Mário Soares.

Portanto, depois do Duarte Marques usar da palavra, farão as últimas perguntas ao nosso convidado a Alexandra Videira do grupo Cinzento e a Sara Simões do grupo Castanho.

 
Duarte Marques

Obrigado, senhor reitor.

Eu estava na dúvida – não era se o senhor não merecia, não era isso – era se o Carlos Coelho me deixava ou não, porque isto tem regras muito estritas. Não sei se sabe mas aqui 10h não são 10h05.

[RISOS]

Há aqui uma ditadura saudável das regras que se fossem mais respeitadas no país, mais vezes, não estaríamos como estamos. Mas eu queria usar da palavra porque acho que tenho esse dever, em nome não só dos que estão aqui hoje, mas de uma estrutura de juventude que preza a qualidade da intervenção política e, sobretudo, a dignidade do serviço à causa pública.

Há um ano atrás, tivemos cá o Dr. Mário Soares e acabámos a gritar "Soares é fixe!”. Muitas vezes, no nosso partido, isto não é bem entendido, não se compreende e não vou dizer que tenho pena que o Senhor não seja do PSD, porque a bem da Democracia e da qualidade dos partidos políticos é bom que os outros partidos tenham gente de qualidade e de craveira e que possam ajudar a tornar o país melhor.

[APLAUSOS]

Isso é a riqueza do sistema democrático. Gostava de lhe agradecer simplesmente. Dizer-lhe obrigado por estar connosco, debater com jovens que não têm preconceitos em debater com pessoas de outros partidos, têm sim em debater com gente sem qualidade.

Mas têm a maior honra e o maior orgulho de ver que aceitou o nosso convite e sei que teve gosto também em estar aqui. Deu-nos uma lição de política externa, deu-nos uma lição de democracia, mas sobretudo também nos demonstrou – e ontem recebi várias mensagens, a maioria das pessoas dizia: "este tipo é um senhor” e acho que é a única coisa que eu posso dizer é que o país precisa de mais Luís Amados e mais gente de qualidade.

Do fundo do coração, é uma honra contar consigo na nossa Universidade de Verão e espero que ainda venha a dar muito mais, como tem vindo a dar, ao nosso país.

Muito obrigado, sinceramente.

[APLAUSOS]

 
Alexandra Videira

Boa noite a todos. Antes de mais, gostaria de felicitar o Dr. Luís Amado pela sua excelente intervenção.

Devido à crise económica e à falta de democracia, países como o Egipto, a Tunísia e a Líbia, entre outros, envolveram-se em protestos, revoltas e revoluções populares contra o governo do mundo árabe, que eclodiram em Março na chamada "Primavera Árabe”.

Assim sendo, gostaria de lhe perguntar como é que acha que a consolidação da democracia nesses países, tendo em conta a intrincada influência muçulmana, irá acontecer e de que maneira irá afectar a Europa?

Muito obrigada.

 
Sara Simôes

Muito boa noite.

A criação da figura do Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e política de segurança parece não ter resultado. Pensamos nós que talvez por não ter uma força, ou autonomia política superior à dos Estados-Membros individualmente considerados.

Deste modo, gostaríamos de saber como perspectiva a evolução desta figura institucional? Para quando e como acredita que a União Europeia poderá falar para o mundo em uníssono, ou por outro, se pensa que a relação externa é uma questão de soberania de cada Estado-Membro e cada um deve ter, portanto, a sua política?

Muito obrigado.

 
Luís Amado

Muito rapidamente, em relação às perguntas: as revoluções no mundo árabe e a chamada "Primavera Árabe”, são sem dúvida dos fenómenos mais importantes e surpreendentes até com que nós nos confrontámos nas últimas décadas na relação de um espaço muito próximo da União Europeia como é o espaço do Mediterrâneo, também no contexto de crescente tensão geopolítica nesta região.

No processo desta reconfiguração que a Europa terá que sofrer, as relações entre o núcleo federador, o espaço da integração da União europeia e o espaço de alargamento têm de ser necessariamente pensado à luz também das mudanças que estão a ocorrer em particular no Médio-Oriente e em toda a bacia do Mediterrâneo.

Muita coisa vai acontecer neste processo durante os próximos anos e durante esta década vamos ser surpreendidos com o desenvolvimento de dinâmicas muito difíceis de gerir. Sempre o disse, não tenho qualquer dúvida, que o aprofundamento do processo democrático em todas essas sociedades vai catapultar para o poder formas do Islão político, mais ou menos agressivas, algumas em relação aos valores e aos princípios de organização social e cultural do Ocidente e da Europa em particular.

Portanto, um dos maiores desafios que nós vamos ter é precisamente o da relação com o Islão político.

Como é que essa relação vai-se estabilizar ao longo dos próximos anos, em cada uma das circunstâncias em que esse fenómeno vai ocorrendo, com singularidades decorrentes da especificidade de cada país e de cada cultura, Marrocos é diferente da Argélia que é muito diferente do Egipto e a Síria é o que sabemos.

O mosaico de dinâmicas que se vão desenvolvendo em toda essa vasta região de vizinhança é sem dúvida dos maiores desafios que nós vamos ter. Só não temos agora porque a Europa não existe do ponto de vista das relações externas, porque está absolutamente dominada por um processo de ensimesmamento, de confronto com a sua realidade interior, com os seus problemas próprios e perdeu qualquer referência na sua relação com o mundo.

Ninguém houve falar hoje da relação da Europa com o mundo e de alguma forma tem posto à prova também as dificuldades que o Alto Representante tem para fazer a afirmação do seu papel, da sua função em nome da União Europeia e em nome dos 27 Estados-Membros.

Sobre a pergunta em concreto do seu papel no desenho da política externa da União, não tenho dúvida nenhuma que a função de soberania na área da política externa, segurança e defesa, serão reservas de soberania a que os estados resistirão no processo de transferência para qualquer centro que se venha a identificar nesse processo, nesse caso a figura do Alto Representante, ou mesmo noutras variantes, quer do Presidente do Conselho, quer do Presidente da Comissão que também tem funções de representação externa na União.

Acho que o exercício do cargo de Alto Representante é fundamental também para fazer o perfil do próprio lugar, das competências e funções desse lugar. Na minha concepção o seu exercício fundamental devia ser – não tem sido sempre, mas devia ser – a concentração naquilo que deve ser o interesse estratégico no mundo; identificar o que é que há na resolução daquele ou doutro problema no sistema internacional o que é que há de comum que possa agregar a vontade e a capacidade de todos os Estados-Membros.

Nessa perspectiva, definindo um interesse estratégico comum, a Europa pode em certas situações afirmar posições coerentes, consistentes e que são capazes de acomodar as diferenças de posição e de opinião até, que outros representantes da União Europeia em nome nacional podem expressar.

Esse exercício será sempre de equilíbrio difícil, mas que à medida que a agenda internacional vai impondo um conjunto de temas que só pode ter solução à escala global e para os quais nenhuma acção política individual, nem das grandes potências europeias é sustentável, a partir do momento em que essa agenda global domina a política externa da União é mais fácil definir essas posições.

Portanto, acredito que o trabalho do alto representante e dos responsáveis pela política externa da União Europeia na definição e no acompanhamento da agenda global, dos temas que devem envolver o conjunto da comunidade internacional para a sua solução – e são muitos hoje, começando por aqueles que afectam mais directamente a Europa –, eu creio que à medida que esse exercício for feito, a figura do alto representante, seja ele quem for, será importante para a afirmação da política externa da União Europeia.

Eram estas as minhas impressões, creio que respondi a todas as perguntas na medida do possível.

Gostaria apenas, se me permitem, deixar uma palavra final para evidenciar, por um lado, o agradecimento que tenho às palavras tão simpáticas, quer do Carlos Coelho, quer do presidente da JSD, quer de alguns de vós que me dirigiram e que são do meu ponto de vista também excessivamente generosas, mas dar-lhes ideia da enorme satisfação que tive em estar aqui convosco.

Gosto de estar com gente jovem, tenho o privilégio agora de poder ensinar, voltando à universidade como professor convidado e acho que é indispensável que nós possamos, entre todos, afirmar o que nos une independentemente, de saber com dignidade e com personalidade as nossas diferenças, porque é essa riqueza de uma comunidade.

Uma comunidade livre é uma comunidade em que as pessoas se respeitam na sua diferença e para se respeitarem na sua diferença têm de identificar aquilo que os une enquanto comunidade.

E a comunidade política portuguesa precisa, mais do que nunca – foi por isso que disse logo que aceitava o convite para aqui estar –, de um grande compromisso de nós todos.

O país está a viver uma crise de tal gravidade, que é indispensável que haja espírito de abertura de todos os lados, no sentido de dialogar, de concertar posições, de encontrar soluções para os problemas, porque eles são muito sérios, muito exigente, muito complexos e exigem também um compromisso de geração.

Os problemas que temos hoje são criados pela nossa geração e que têm de ser resolvidos ainda pela nossa geração, mas são compromissos intergeracionais. Porque hoje a complexidade dos problemas, a profundidade no tempo que exige não é possível sem compromissos interpartidários e intergeracionais.

É nessa perspectiva que estas iniciativas, a Universidade de Verão do PSD, como a do PS e outras iniciativas de outros partidos que se abrem à relação com outras ideias e com outras convicções, são absolutamente necessárias na situação em que o país está a viver.

Não tenhamos dúvidas que precisamos de novas ideias e que sejam forjadas no debate, na polémica, na controvérsia, mas no forte sentido institucional e comunitário que deve fazer prevalecer a nossa condição de seres sociais, individuais, ricos, livres, capazes de afirmar a sua criatividade e, por isso, projectar a força de uma comunidade nessa dimensão plural nas suas liberdades individuais, mas com um forte sentido comunitário nessa dimensão social que nos une a todos.

É, por isso, um privilégio ter podido estar convosco aqui hoje e não havendo almoços grátis, ou jantares grátis, tive um grande privilégio em expressar as minhas ideias junto de todos vós.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

[PORTUGAL! PORTUGAL! PORTUGAL!]