Desde há três anos a esta parte que o currículo da Universidade de Verão inclui um tema social.
Nos outros anos a abordagem foi para a caracterização do problema social do país, designadamente para a análise das situações de pobreza e de exclusão.
Este ano, vamos acentuar a questão da responsabilidade social e da nossa iniciativa individual. Começaremos por ver um filme que preparámos para vós.
[VISIONAMENTO DE FILME]
[APLAUSOS]
Temos connosco uma senhora que também marca pelo exemplo. A Dr.ª Conceição Zagalo, no quadro da IBM, ajudou a fundar o GRACE, a que preside actualmente, que consiste num grupo de reflexão e apoio à cidadania empresarial.
Teve vários prémios que reconheceram o trabalho que tem feito à frente do GRACE, entre eles em 2007 foi distinguida pela Amnistia Internacional, juntamente com outras 25 mulheres, pela sua especial dedicação às causas sociais. Em Portugal é uma das vozes mais qualificadas no que diz respeito à responsabilidade social e ao apelo ao voluntariado.
A nossa convidada de hoje tem comohobbya jardinagem, como comida preferida uma boa feijoada ou cabidela de galinhas criadas lá em casa; o animal preferido são vários, mas acha alguma piada ao cultivo dos bichos-da-seda; o livro que nos sugere é "Os Maias”; o filme é "The Sound of Music” e "Tudo o Vento Levou” e quanto à qualidade que mais aprecia, diz:"Gosto das pessoas simples, a simplicidade que sustenta o modelo de integridade que preconizo é talvez a característica que mais me leva a respeitar o outro”.
Connosco, a Dr.ª Conceição Zagalo.
[APLAUSOS]
Conceição Zagalo
Conceição Zagalo
Olá, bom dia! Bom dia a todos e a todas!
Percebo neste grupo e na mancha que vejo ali, linda, que há aqui um denominador comum, que é a juventude, a jovialidade que vos faz andar o Mundo tal como o Ryan fez.
Tenho o grupo mais ou menos caracterizado, mas até porque é sexta-feira de manhã estão cansados, ainda faltam dois dias, propunha a ajudar-vos a despertar e, então, tentava captar a vossa atenção para saber daqui quem é que é do Norte do país?
Quem é que é do Centro? Quem é que é do Sul? Quem é açoriano? Não há, ainda não há. Quem é madeirense? Também não há. Quem é de Cabo Verde? Quem é do Alentejo? Alguém de Castelo de Vide? Ainda não.
Quem é licenciado? Quem é mestrado? Quem tem doutoramento? Ainda não. Quem está ainda no Secundário? Boa.
Quem tem menos de 18 anos? Fantástico. Quem tem entre 18 e 21? Quem tem mais de 25? Quem já está a trabalhar? Quem pertence a movimentos associativos? Boa. Quem é dirigente associativo, ou qualquer outra coisa de dirigência? Quem já fez voluntariado? Quem o fez nas academias, nas universidades, nas escolas? Quem o fez em família? Bem.
Quem o fez em organizações autárquicas? Só escapa mesmo os Açores e a Madeira, de resto tenho em todos os grupos. Quem não está neste grupo que eu referi? Duas pessoas. Ponha-se em pé.
Porque é que se sente excluído, conte-se lá?
Aluno não identificado
Não me sinto excluído; estive a fazer voluntariado quando estive no seminário, portanto foi por essa razão que não achei que devia estar nas escolhas que referiu.
Conceição Zagalo
E agora que está de pé, diga lá uma boa razão para poder ouvir falar sobre responsabilidade social.
Aluno não identificado
Uma boa razão será porque ainda muitos jovens não se dedicam ao voluntariado, nem conhecem a realidade no nosso país.
Conceição Zagalo
Não está mal, pode-se sentar.
[RISOS]
No seu caso, lá ao fundo, com uma camisola verde, porque é que se sente excluído?
[RISOS]
Paulo Pinheiro
Estive em África, em missão.
Conceição Zagalo
As outras pessoas sabiam disso, que já esteve em África a fazer missão?
O que é que andam aqui a fazer durante uma semana? Aproveitem o poder donetworking, do relacional e sejam garganeiros a quererem saber o que se passa com uns e outros, porque têm aqui uma oportunidade única de poder trabalhar e fomentar relações de vida para a vida.
Quem já traçou planos para o futuro, braço no ar? Espero que já toda a gente os tenha traçado. Quem quer ouvir? Quem quer construir? Quem quer vencer? Quem quer fazer a diferença?
Temos sala, vamos a isso!
[APLAUSOS]
Muito obrigada por estarem aí e por terem levado o PSD a organizar e justificarem que isto se faça ano após anos, dez anos é obra. Uma década é uma geração praticamente e portanto "isto” corre o risco de ser uma coisa séria e todos e todas vós estão envolvidos num projecto de facto bem sério.
É uma oportunidade fabulosa de estarem aqui durante oito dias a beberem lições de vida que creio que poderão partilhar com todos os outros que mais indiferentes não justificaram a presença aqui, mas também com as vossas famílias. Vocês vão ser parte da nata da nata, do tecido decisor, executivo, do tecido que vai fazer mudar o Mundo. Mudem-no muito bem mudado, porque eu tenho dois netos – um de três anos e meio e outra de um ano – e quero que eles estejam integrados num Mundo necessariamente melhor que o meu.
Portanto, estas coisas têm sempre um fundamento de egoísmo e deixem-me que vos peça que capitalizem a oportunidade única que têm de estar aqui. Estão vocês e não estão outros cem, por algum motivo é; é um voto de confiança, uma prova da vossa senioridade, um sintoma do tal mérito que ontem se falou tanto é seguramente um compromisso muito grande face ao futuro. Porque vocês, espero, que vão ser vítimas de olheirismo e de acompanhamento para termos a certeza que aproveitaram da melhor maneira esta oportunidade que vos foi facultada.
Esta Universidade de verão é de facto um compromisso e vocês estão nas condições ideais de porem a mão à obra. Quem é que – percebo que mais do que imaginaria – já ouviu falar em responsabilidade social? Em responsabilidade social nas empresas? Óptimo. Quem é que já tinha ouvido falar do GRACE antes de vir para esta Universidade de Verão. Portanto, tenho imenso trabalho a fazer e conto convosco para isso também.
Há algumas definições de responsabilidade social empresarial, nomeadamente a que é advogada pela minha associação, ao longo dos tempos e que continua sempre actual, esta questão da responsabilidade social é mesmo um conceito que tem assumido um crescente peso e um crescente factor de ponderação em matéria de competitividade nas empresas.
Sustenta-se em valores, que ontem também ouvi falar por várias vezes e em diversos cenários de valores; é de valores que reza a história das pessoas e das organizações bem sucedidas, mas nas empresas levamos a cabo todo um conjunto de iniciativas, que quer do lado do ponto de vista interno quer do externo, nos ajuda a melhor nos integrarmos nas comunidades em que estamos inseridos e podermos assim contribuir para um mundo verde mais sustentável.
O livro verde da Comissão Europeia dizia, em 2001, que a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais sic por parte das empresas e na sua interacção com outras partes interessadas é tema a ser incluído na grande definição de responsabilidade social.
E Kofi Annan dizia, em 2001, que não estamos a pedir às empresas que façam algo diferente da sua actividade, estamos apenas a pedir-lhes que façam a sua actividade de forma diferente. É simples e é tão simples quanto parece esta afirmação. Acima de tudo, depende única e exclusivamente de empenho, o mesmo que vos fez faltar de uma praia ou de qualquer outra actividade para bancos de uma sala de conferências num hotel durante uma semana de Agosto.
Porque é que se pede então às empresas que façam algo de forma diferente - e as empresas são grupos como nós –, é porque de facto há terreno no Mundo e também em Portugal que justifica que trabalhemos estas matérias. Estamos num país com mais de 10 milhões de habitantes, em que vemos que a dispersão por faixa etária é algo heterogénea. Porquê apenas 15% de crianças, 19% de idosos, que no actual contexto mundial Portugal revela e apenas um índice de 100 jovens para 129 idosos?
A dívida pública tem muitos zeros e muitos números à direita. O PIB em 2011 está aí. As pessoas no desemprego no total da população activa são em número significativo. Vergonha das vergonhas: nas últimas eleições 41% das pessoas não levantaram o traseiro de onde estavam para irem votar, para irem cumprir o seu dever de cidadania, para dizerem"estou cá, este país é o que quero, porque votei assim e contribuí para que a votação fosse esta”.
Não tenho dúvida nenhuma que todos e todas vós podeis alterar este número e que no próximo processo eleitoral não vai haver 5 mil apenas aqueles milhões de votantes, vai haver muito mais pessoas a votar, porque vamos todos trabalhar para que o número de indiferentes seja cada vez menor. Mas também há mais razões para se poder apostar em responsabilidade social, seja nas empresas, organizações, independentemente da origem delas.
Sabemos que estamos num contexto mundial em que ainda hoje há mais de mil milhões de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia. Ryan queria alguns dólares para poder investir em Uganda, há mais, muito mais gente que vive abaixo do limiar da pobreza. A má nutrição leva a que milhões de crianças morram com fome. Ryan não sabia que havia tantas crianças a morrerem por causa de falta de água potável. O acesso à água é uma calamidade e já vamos ver mais como; o acesso à saúde é muito deficitário; a educação, nós encontramo-nos aqui num privilégio nessa área e há pessoas que não têm acesso ao abecedário, portanto a iliteracia e o analfabetismo são enormes.
Ainda ontem à noite falava-se da questão de género (homens/mulheres) e sabemos que há ainda muita coisa a fazer nesta matéria. De resto, é verdade que o índice de desenvolvimento é fraco, temos muito por fazer, depende de cada um de nós, não é do outro, não é de vocês, é nós, eu, primeira pessoa do singular; temos de ser nós a mudar a primeira pedra, peça do puzzle, pois ele não fique concluído se não for a acção da minha intervenção directa. Porque nós, seres humanos, ainda somos responsáveis por 30% de malefícios no planeta que não têm capacidade de se regenerar.
A desertificação é um facto, vemos esse terreno árido por aí que é resultado de todas as atrocidades que o ser humano infere no planeta, as espécies animais e vegetais tendem a desaparecer. Não sei os meus bichos-da-seda vão ter folhas de amoreiras, na altura dos meus netos, para se alimentarem, se metamorfizarem e serem capazes de se transformar de lagartas em borboletas multicolores e maravilhosas, mas depende de nós também garantir que as espécies animais, vegetais – aquelas que nos levam a nós, empresas, a produzir produtos para depois vendermos conjuntamente com serviços –, de facto, progridam neste planeta que vai ser o vosso seguramente.
Até porque as alterações climáticas são também uma realidade, uma crise a que temos que atentar e sabemos que depende de todos nós o contribuirmos para que o aquecimento circunstancial, mas também consistente, do planeta não provoque das suas e daquelas suas que nos podem fazer torcer a orelha.
Tudo isto nos leva a estar atentas, porque de facto em pleno século XXI temos quatro desafios enormes pela frente: a pobreza, o crescimento populacional, as questões do Ambiente, da globalização e que também ontem, no jantar, vimos que estamos em pleno a viver e percebemos que, hoje, algumas das pessoas desta sala já tiveram experiências fora noutros países e portanto, cada vez mais, eu sou e nós somos cidadãos do Mundo, cidadãos globais e não apenas aqui, cidadãos circunscritos à nossa geografia.
Sabemos que, em matéria de pobreza, temos muito para fazer, até porque nós, empresas e quem forma as empresas, temos capacidades de trabalhar da melhor maneira estas vantagens e circunstâncias que acontecem cada vez mais, que é a existência de algumas realidades de alguns tecidos empresariais que são mais ricos que alguns países. Sabemos e estamos em ano europeu de? Está muito pálido, isto.
É de envelhecimento activo e solidariedade entre gerações. Sabemos que é, hoje em dia, uma questão complicada. Depende também de todas e todos vós, combaterem estas questões do envelhecimento e que o crescimento não seja necessariamente à conta de pessoas que estão numa idade mais avançada que é óptima mas que tem que ser casada cada vez mais com a vossa jovialidade e de pessoas que estão em pleno poder da sua massa cinzenta e da sua capacidade decisora e que podem dizer"sim, eu estou cá, sou a primeira, ou primeiro, a responder à chamada”.
As questões ambientais também nunca antes foram tão faladas, as questões CO2 e emissões de gases nocivos, a escassez de matérias-primas, a globalização e portanto, todos nós, indivíduos e seres de bem que nos preocupamos com o outro, podemos contribuir para que estes desafios que se nos impõem no século XXI sejam outras tantas oportunidades.
Para a realidade empresarial é cada vez mais crucial levar a exercício uma gestão responsável que integre não apenas estes três pilares da sustentabilidade – ambiente, economia e sociedade -, mas cada vez mais a questão cultural e deaccountability, a capacidade de criar valor partilhado rumo ao tal desenvolvimento sustentável que todos queremos defender e queremos para este Mundo em que vivemos, em que casamos, em que fazemos amigos, em que nos desenvolvemos em termos pessoais e em termos de carreira, em que fazemos política e sociedade, em que fazemos tudo aquilo que nos justifica acordar e adormecer a cada dia que passa.
Para as empresas e as organizações de pessoas, isto é um conjunto enorme de vantagens. Desde logo, porque as torna mais eficazes operacionalmente e reduz riscos de ordem diversa, desde riscos de operacionalidade e imagem a outros, porque se forem bons cidadãos, responsáveis, mais facilmente nós lhes concedemos licença para operar. Porque deste modo são mais atractivas e mais capazes de reter talentos – os vossos e os nossos – de forma a poderem aumentar a criação de valor e protegerem recursos naturais capazes de as fazerem produzir mais matérias-primas, resultando em mais produtos e mais serviços que nos permitam como dizia ontem a Dr.ª Leonor Beleza:"servir e não servirmo-nos”.
Tudo isto é muito bonito, mas convém sustentar em dados objectivos. Num estudo levado a efeito pela minha empresa a nível mundial e para o qual colaboraram CEO, ou presidentes de empresas portuguesas, foram ouvidos 1.130 presidentes de empresas em todo o Mundo. Dizem eles, nas conclusões trabalhadas pela IBM Institute for Business Value, que as empresas que são, hoje, e o querem ser no futuro, e que não querem sucumbir às más gestões não sustentáveis, estão ávidas de mudança, precisam de inovar além da imaginação dos seus clientes.
Ontem também se falou muito em inovação e a capacidade de reinvenção que temos de ter e esses 1.130 CEO dizem que têm seguramente de adivinhar os gostos dos clientes e dos outros para poderem inovar, a empresa do futuro tem de saber disruptiva de uma forma natural e tem de ser genuína e não apenas generosa. Não pode continuar a dar cheques, a falar e a fazer "para osflashs”, tem de fazer por razões de competitividade, tem de fazer porque senão perde a tal licença para operar.
Neste mesmo estudo, 70% dos participantes dizem que a aposta na responsabilidade social nas empresas é uma oportunidade e como tal pretendem incrementar os seus investimentos em cerca de mais 25% do que aquilo que tinham feito no passado em programas de cidadania empresarial, que passam necessariamente pelas boas práticas e pela implementação de boas políticas de responsabilidade social.
Isto não é uma questão de sermos bonzinhos, deixem-se de coisas. Diziam-me no outro dia, alguém defendia que Deus mandou-nos sermos bonzinhos, não nos mandou sermos parvos. Portanto, não sejamos parvos e apostemos em vivermos numa sociedade que faz mais sentido e queremos que as gerações que vêm atrás de nós e que serão sangue do nosso sangue, tenham uma marca forte daquilo que nós ajudámos a construir.
Portanto, tudo isto é uma estratégia de negócio, factor de competitividade, estratégia que temos de desenvolver não apenas de forma regulatória, mas também como factor de crescimento desta sociedade em que estamos inseridos e que quer apostar em grupos de 100 jovens para eles ouvirem, criarem grupos e um espírito bem fortes de cidadania e depois irem, semearem, regarem, para colherem os frutos do que aqui receberam.
Aqueles estudos são internacionais. Um estudo levado a efeito em 2008, em Portugal, e fazendo um comparativo sobre 2007, diz que houve um aumento de mais 30% de empresas a investir 65 milhões de euros em programas de responsabilidade social. Mais de 50% das empresas têm projectos próprios neste domínio; alguns deles dependem muito perto de todos os colaboradores e a nível de investimento refere-se que mais de 33% de empresas investe mais de um milhão de euros nestas matérias e há outros que investem menos de 200 mil euros, mas investem e só esse facto já é um muito bom sintoma.
Até porque nós, consumidores, somos cada vez mais exigentes e na hora de comprar, se for dada a possibilidade de comprar um produto que sabemos ser produzido por uma empresa socialmente responsável e que cumpre e vai além do que é exigido por nós em matérias de desempenho, se calhar não hesitamos e compramos mesmo o produto de quem sabem ser mais responsável.
Bebo todos os dias café, se tiver opção do café Delta é o que escolho, pois sei que é um excelente praticante, independentemente do resto. Não há empresas perfeitas, certo? Estamos em sintonia. Não há pessoas perfeitas e não havendo empresas perfeitas, há seguramente algumas que se distanciam das outras pelas boas práticas e pela forma como se preocupam com o outro. Portanto, nessa matéria e em função do trabalho que tem vindo a ser feito, dou comigo a beber Vitalis – água da UNICER -, ou dou comigo a beber café Delta, ou a dar papas da Nestlé aos meus netos, ou seja sempre a optar por comprar produtos que sei que vêm de empresas com boas práticas. Claro que compro computadores IBM, obviamente, não é? Já não compro, porque já não produzem, mas tenho o coração muito preso à IBM.
Nós somos cada vez mais exigentes e não queremos ser parte importante do problema da mão-de-obra infantil, ou outras atrocidades sociais que vão sendo cometidas por aí.
Os temas vão desenvolvendo e pela primeira vez na vida em 2010, um ranking de liderança trabalhado pelo EU Group aponta a responsabilidade social como factor importante de liderança. A par e passo com vários outros factores, esta questão da responsabilidade social ainda aparece no décimo lugar, mas aparece já nos primeiros, com uma expressão ainda diminuta, mas não tenho dúvida nenhuma que no próximo estudo essa expressão será maior, também muito por via do trabalho que todos nós andamos aqui a fazer.
É curioso registar que, notopdas dez empresas, sete delas são membros associados desta minha associação de fascínios. Tudo isto, como vos dizia, não é só uma questão de sermos bonzinhos, é factor de competitividade empresarial. Acerca da responsabilidade social nas empresas e organizações, e nas autarquias cada vez mais, a preocupação é crescente; o negócio e a criação de valor andam aqui de mãos dadas de forma a criar impacto positivo no desempenho das organizações e seguramente a serem mais competitivas na hora do comparativo.
A propósito de voluntariado e do Ano Europeu do Voluntariado, que se celebrou em 2011, a Cruz Vermelha, mais concretamente Federação Internacional das sociedades da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, conduziram um estado sobre o estado da arte do voluntariado no Mundo. Chegaram à conclusão, entre diversos outros aspectos, tendo em perspectiva África Subsariana, o Sudoeste Asiático, Portugal e a Europa – alguém tem explicação para o 1-327, 1-12, etc., alguém atrevido? Num grupo de vinte voluntários há um assalariado.
Portanto, nas organizações que trabalham voluntariado para o trabalho feito por vinte voluntários, esta é a média europeia, há apenas um assalariado. Na África Subsariana, o número é abissalmente diferente, portanto, trabalha-se voluntariado à séria. Percebemos isso um bocadinho pelo vídeo que vimos, ou por aquele colega que já fez missão.
No Sudoeste Asiático esta discrepância agrava-se mais ainda. Em Portugal, temos doze voluntários para um assalariado. Vocês são tantos aqui e porque é que nós não temos um espírito mais voluntário? Porque é que nós não conseguimos pensar que quando o jardim à volta da minha casa que está sujo, não são eles – Junta de Freguesia, Câmara Municipal, órgãos autárquicos – que têm que resolver isso; sou eu, condómina daquele sítio, que tenho de me preocupar em ter o espaço circundante da minha casa capaz limpo e que me permita olhar para lá e gostar do que vejo.
Portanto, nós, neste 1 para 12, temos um trabalhão a fazer e temos uma atitude enorme para mudar, porque nós precisar de uma vez mais falar na primeira pessoa do singular e na primeira do plural e não nas terceiras pessoas.
Não deixemos créditos por mãos alheias. Se eu fizer, tenho a certeza que fica bem feito – modéstia à parte –, se forem os outros, tenho desculpas para lhes dar. Logo, nestas questões do voluntariado quem quiser fazer faz, quem não quer fazer arranja desculpas. Acreditem que isso é verdade e à medida que forem crescendo no tempo e na vossa construção enquanto seres humanos vão chegar a essa conclusão.
Até porque o voluntariado está no coração do desenvolvimento da comunidade, promove a confiança e a reciprocidade, enfim, todos esses aspectos que estão aí e que depois podem ler ao consultarem a apresentação no pós-aula, são dados que nos levam a pensar. Ainda neste estudo da Cruz Vermelha e também dados recolhidos no Observatório do Emprego chegámos à conclusão que o voluntariado tem um impacto brutal em matéria social e em matéria económica.
Do ponto de vista social, permite-nos desenvolver enquanto pessoas e profissionais a nossa auto-estima que vem ao de cima, depois de cada acção de voluntariado – não tenham dúvida -, a confiança, a motivação, a autodisciplina cultiva-se e quase que desafiava a Universidade de Verão do PSD numa próxima edição montarem no programa da semana uma acção de voluntariado. É capaz de funcionar.
[APLAUSOS]
Ontem, não perguntei porque não quis ser demagógica, sabia que não tinham feito, mas a visita a Castelo de Vide poderia ser de facto qualquer coisa desse género e à noite estariam com a adrenalina ainda mais em cima do que estiveram. Vale a pena. Tudo isto confere qualidade de vida e desenvolve competências. O voluntariado leva-nos a desenvolver competências que nós não imaginávamos que tínhamos.
Não é que diga ao meu marido, porque não quero muito que ele saiba disso, mas ele sabe que aprendi a fazer buracos com o berbequim – eu sou de Humanidades e sou muito mulher, portanto não tenho muito jeito para aquelas coisas que o hemisfério direito/esquerdo dita que são feitas tendencialmente por homens ou mulheres; não tenho muito jeito para a construção civil, no entanto hoje em dia faço muito trabalho de construção civil e faço bem feito.
Porque levando a efeito e também a exercício, o que diz a Presidente do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado, esta questão do voluntariado é muito bonita, é preciso fazer o bem, mas é preciso fazê-lo bem feito.
A mediocridade não é para nós. Portanto, as competências desenvolvem-se, o desenvolvimento faz-se, a inclusão e os sorrisos colhem-se.
A cada acção de voluntariado ficamos com uma capacidade maior ainda de ginasticar todos os nossos músculos faciais e aprendemos a sorrir com uma luminosidade diferente. Tudo isto tem um impacto económico. Se em Portugal o impacto do voluntariado é de um 1% do PIB, no Canadá, por exemplo, donde vem Ryan que ali nos ensinou que é"de pequenino que se torce o pepino”, o peso do PIB é de 4%. Nuns países mais e noutros países será menos, mas temos de facto muito terreno para trabalhar e temos de encarar tudo isto também numa óptica da Economia, na construção do nosso modelo económico, que seja mais forte e assim, todos nós, podermos contribuir de forma diferente para o valor acrescentado.
Com o GRACE o voluntariado empresarial é feito de forma muito séria desde há 12 anos, tantos quanto os da sua constituição, já fizemos 81 acções que envolveram mais de 3100 colaboradores de empresas, cerca de 13 mil beneficiários, 50 mil horas de voluntariado nas nossas empresas é obra! Pelo menos aquelas que nós conseguimos registar, pois acredito que haja algumas que não conseguimos registar.
Isto significa cerca de 500 mil euros de investimento na comunidade feito pelas nossas empresas. Mas há coisas que não se pagam, que não têm de facto preço que é o nosso empenho. É difícil de converter em euros, em moeda palpável, o empenho que todos nós somos capazes de operar e de incutir nas comunidades onde podemos fazer a diferença.
Este valor que está aqui calculado foi feito segundo a remuneração de base, têm aí para perceberem que não estou a falar de cor, estou a falar com base em dados rigorosos, científicos, trabalhados com a seriedade que a comunidade nos impõe. Imagens, imagens, imagens, mas por muitas imagens que colha, ao preparar esteslidesno último par de semanas dava comigo a dizer: "então e esta?”, para várias imagens.
De facto, ao longo de 12 anos são muito ricas as vivências com todos os nossos associados em matéria de intervenção. Escolhi algumas, diversificadas, por serem significativas, acima de tudo, das pessoas e do ser humano por detrás de todos estes temas da responsabilidade social. O GRACE, falando agora um bocadinho sobre a história desta associação a que tantos de nós, nas empresas, nos dedicamos, é uma associação sem fins lucrativos, constituída a 25 de Fevereiro de 2000. São 12 anos de muito trabalho, muitas vivências, muito "partir pedra”, muita sensação no fim do dia de que fizemos muita coisa e de que temos tudo por fazer.
Assentamos nessa constatação de que tudo está por fazer, com a certeza de que fizemos em consciência e bem feito e portanto podemos subir mais um degrau neste escalar da responsabilidade social, aquela que nós queremos viver cada vez mais enquanto seres humanos plenos de direitos e plenos de deveres.
Reflectir e promover o desenvolvimento de iniciativas de responsabilidade social em organizações de cariz empresarial e fomentar a participação de nós, enquanto trabalhadores, profissionais, de empresas, ou outras organizações, em actividades que nos permitam articular com a sociedade civil, tendo sempre a preocupação de ser norteados pelas questões de políticas governamentais e cada vez mais articular com governos, no sentido de saber que casamos o poder e a capacidade governamental com o empenho enquanto parte importante da sociedade civil. No sentido de podermos estrategicamente caminharmos todos para o mesmo lado, num caminho em que o atrás é passado e o futuro é que tem de ser, de facto, a nossa iluminação.
Os associados do GRACE, em 2000, quando se constituiu eram oito, hoje são 96, é obra! Somos 96, alguns, poucos, individuais e os que o são é porque fizeram parte de empresas, deixaram de fazer e pediram para continuar a trabalhar connosco no GRACE. Alguns são membros honorários por mérito próprio, porque foram parte importante da constituição deste grupo de reflexão e apoio à cidadania empresarial. O crescimento foi feito com empresas e organizações, geridas por gente como vós, que consideraram que deviam apostar nestas matérias e portanto nos anos da tal criação decidiram que queriam associar-se de forma a levarem avante o princípio de "a união faz a força” e é bem verdade que todos juntos fazemos muito mais do que trabalhamos individualmente.
Não são só grandes empresas; 47% das associadas são grandes, mas 32% são médias ou pequenas e 9% são micro, há empresas com duas pessoas e temos 8 associados individuais. Temos quatro grandes pilares de actuação, tantos quanto os desafios que se nos impõem a nós no século XXI. Construímos, agimos, partilhamos e comunicamos e encaixamos nestes quatro grandes pilares toda a intervenção que temos vindo a fazer e que cresce, desenvolve e evolui a cada dia que passa. Temos publicações diversas, que depois poderão ter a oportunidade passar e de ler, sobre por exemplo como dar os primeiros passos em responsabilidade social, com um questionário sobre o que é que eu faço, o que é que eu posso fazer e como é que posso ser, de facto, parte da solução e não necessariamente parte do problema.
Temos variadíssimas explicações, a última foi sobre as organizações a adversidade e a inclusão e sabemos que somos tão díspares quanto cada um de nós é também enquanto ser humano. A certa altura lançámos um manual sobre voluntariado:"Como implementar uma boa prática de voluntariado na minha empresa?”.Com esse manual nós quisemos fazer o salto e não apenas falar, mas "walk the talk” e começámos, fizemos no ano do lançamento do voluntariado, uma primeira grande intervenção de voluntariado intra e inter empresarial e de facto valeu a pena, porque estamos neste momento a realizar a sétima edição consecutiva e estas questões contagiam-se, mas contagiam-se pelas melhores razões.
Temos voluntariado de força braçal, temos também cada vez mais voluntariado de conhecimentos e competências, de que vos falarei mais daqui a bocado. Arrancámos o Ano Europeu do Voluntariado a pintar voluntariado com CEO de empresas na estação do metro do Rossio a pôr pinceladas em telas e os próprios utentes do metro. As telas, que ficaram lindíssimas e que estiveram emroadshowpelos nossos associados, foram depois vendidas simbolicamente aos nossos associados sendo que o produto foi entregue nas instalações do nosso associado Hotel Ritz a uma instituição que podia fazer melhor trabalho ainda, nomeadamente na melhoria das instalações nomeadamente se usasse as verbas, 11 mil euros, que nós juntámos.
Obras de arte lindíssimas, pintadas por nós e curiosamente muitas delas reflectiam a génese do negócio. Portanto, estas questões de missão, de voluntariado, de empresa, de sentido de pertença, estão cada vez mais sobre a mesa, no nosso acordar e adormecer a cada dia que passa.
Voluntariado em família, também fazemos cada vez mais, porque ao passarmos um dia em voluntariado empresarial, chegamos a casa e partilhamos com os familiares que também questionam se não podem ir. Para poderem ir tem de ser ao fim-de-semana, portanto é um dia de voluntariado de cariz não 100% empresarial, porque o voluntariado empresarial é feito durante os dias de semana. O voluntariado em família é feito em extensão do voluntariado das empresas porque nos é pedido.
Ainda há pouco tempo, estivemos em Sintra com crianças que, como o Ryan, provam que é de"pequenino que se torce o pepino”, mas também com avós e o mais velho tinha 82 anos e engrenou ali na maior no esquema do voluntariado em família, que é normalmente um voluntariado de cariz ambiental. O giro GRACE intervir, recuperar, organizar é a grande iniciativa que fazemos ano após ano, ao longo dos últimos sete anos; é mesmo a maior iniciativa de voluntariado empresarial no nosso país, tem feito várias intervenções e elas acontecem no mês de Outubro, sendo que o seu grande desígnio é a melhoria de espaços, ou requalificações, de gente ou organizações.
Depois deixo alguns slides convosco, porque se quiserem depois ligar-me, perguntar, partilho convosco. Cada vez mais requalificar e já estivemos em todos esses sítios, envolvemos 611 voluntários de 48 associados em quinze espaços e tivemos connosco o Ministro da Solidariedade e da Segurança Social no lançamento da iniciativa de Lisboa. Foi fantástico e estamos neste momento envolvidos no ajuste da lei do voluntariado, para poder reflectir também o empenho empresarial.
Já fizemos a diferença em muitas instituições, estamos associados ao Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado e de facto isto é um tema cada vez mais de ponte entre a nossa razão, os nossos corações, um tema emotivo, de inteligência emocional, um tema que nos leva a pensar e a acreditar que vale a pena termos nascido porque temos um Mundo de aposta que pode depender do nosso empenho.
Damos e recebemos sorrisos e acreditem que de cada vez que trabalham nestas matérias é sorriso que colhem, também de idosos que vivem na parte histórica de Lisboa e que não têm condições para melhorar as casas onde vivem e nós em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e com a nossa capacidade de fazer acontecer conseguimos melhorar 13 das suas casas. Contar voluntariado às crianças é possível e é possível nas empresas; histórias feitas por gente crescida, que constituem uma matriz intergeracional de aprendizagem, de partilha, com crianças como o Ryan, que nos dão uma lição de vida aos sete anos e que aos 21 anos são muito mais maduros do que muitos sexagenários.
Temos, de facto, esta publicação que foi lançada em Junho no Museu da Criança e vamos relançá-la em Coimbra pelas mãos de um associado nosso, a CH. A capacidade para partilhar conhecimentos e competências é cada vez mais o que nós trabalhamos em parceria com a Alta de Lisboa, o Centro Agha Khan e a Câmara Municipal de Lisboa. É isto: aprender a fazer um currículo, aprender a desenvolver determinadas competências que na universidade, nos bancos de escola não faço; aprender a trocar uma mão estendida na rua por uma capacidade de trabalho num ambiente formal é cada vez mais o que se faz. Faz-se com o K’Cidade, faz-se com o Engage Key Cities, projecto que temos com parceria entre o Business Community.
A primeira fase concluída, rampa de lançamento para a segunda fase: trabalhar as populações emigrantes. Podem perguntar porquê as populações emigrantes e não as nossas. Porque nós não queremos dizer "eles fizeram isto”, "eles não se integram”; queremos que cada vez mais, as pessoas que escolhem o solo português para viver se sintam acolhidas e que podem fazer parte importante do processo social e ambiental do nosso país.
Encontros temáticos, fizemos muitos. O primeiro em 2008 sobre empregabilidade em tempos de crise. Nem nós sabíamos que a evolução iria ser esta. O mais recente foi o desafio das oportunidades, as questões do Rio+20, mas também já estivemos a ouvir sobre o empreendedorismo local em Campo Maior, ou as empresas e comunidades locais lá em cima na UNICER, em Leça do Balio.
Temos um prémio de investigação em responsabilidade social, concorram; vocês têm condições para isto, vale a pena, o investimento é bom, o Montepio não brinca em serviço quando investe dinheiro nestas matérias. A segunda edição vai ser decidida na segunda-feira, um júri de primeira água, trezentas e tal candidaturas – foram à final vinte – de jovens que escolheram não estarem sentados e desenvolverem projectos fantásticos.
A campanha "Passa a Palavra” sobre as questões do colo do útero, rapazes, raparigas, homens, mulheres, isto não é com os outros, isto é connosco, todas e todos nós e, portanto, nas empresas também queremos gente saudável e também sem ser nas empresas e temos uma campanha com o IPO, movida também por alguns dos nossos associados, no sentido de nos sensibilizarmos a todos para a prevenção que podemos fazer nestas matérias.
Comunicação, comunicação, comunicação! Vi que já foi matéria de preocupação para vós neste Universidade de Verão e é de facto da comunicação bem feita que pode depender o crescimento destas matérias. No GRACE Advocacy estivemos já no Parlamento, na altura pela Dr.ª Maria José Nogueira Pinto, a quem, aqui, presto a minha homenagem, fomos chamados a intervir num debate sobre Economia Social e terceiro sector. Ainda há bem pouco tempo, muito por causa da nossa intervenção, estivemos na Assembleia da República e recebemos um diploma de mérito também pelo trabalho feito no voluntariado que constitui o emblema de toda a demais intervenção que nós fazemos.
Anos europeus eleitos pela União Europeia são matéria que importa a nós, sociedade civil e empresas, portanto o combate à pobreza, o voluntariado, o envelhecimento activo, ou pura e simplesmente o ano dos cidadãos que se adivinha para 2013 são matéria de trabalho e de intervenção que não queremos deixar por mãos alheias. Esse é o chapéu da intervenção em ano europeu do voluntariado, são muitas as gotas que podem regar o tal terreno fértil que nos pode fazer colher bons frutos.
Os casos práticos são vários, não vou entrar em pormenor em nenhum deles; olhem, com os vossos olhos de ver, tão atentos quanto têm agora, para verem o que fazem na Alcatel, o que faz a Fundação da PT, não inventando a roda, levando o exercício melhor daquele que podem fazer para nos cativarem a nós, clientes. Ou a tal CH Consulting, empresa pequenina de gestão de recursos humanos, que tem 70 pessoas, é gerida por um homem que é Presidente do Clube de Empresários de Coimbra e que, de facto, justificaram uma intervenção de voluntariado o ano passado.
A Delta Cafés tem neste momento um programa, "Tempo para Dar”, destinado a pessoas idosas, que muitas vezes estão circunstanciadas à distância de um comando de televisão e porque não têm uma pilha os isola do Mundo. Portanto, "Tempo para Dar”, para atarraxar uma lâmpada, para pôr uma pilha num comando, para conversar e para outras coisas, fazer coisas simples.
A Heidrick & Struggles é uma empresa que nos recruta a nós, os melhores, para irmos para as empresas, ou outras organizações, tem também um bom programa neste domínio. A minha IBM levou-me ao Vietname entre 8 de Abril e 9 de Maio, porquê? Porque me portei bem e aos 57 anos quando achava que não tinha hipótese nenhuma, como a que estas que vocês têm para serem matéria de aposta, disseram que 3 mil dos 420 mil dos melhores quadros em todo o Mundo podem fazer um programa de voluntariado porque são bons e têm as melhores avaliações de desempenho, num país de terceiro mundo ou em vias de desenvolvimento.
Eu queria tanto."Tu não consegues, tens 57 anos, qualquer dia estás na idade da prateleira, já deste o que tinhas a dar, a aposta são só os jovens”.Candidatei-me e foi com grande satisfação que fui escolhida. Deixe-me ter alguma imodéstia, porque tenho muito orgulho nisto: fui a primeira pessoa de Portugal, a primeira portuguesa a fazer um programa destes e fi-lo aos 57 anos e, portanto, fui, fiz formação anterior, fui com uma equipa de mais 6 pessoas: um indiano, um chinês, duas americanas, uma irlandesa, uma alemã. Eu, a portuguesa, fui quem coordenou a actividade do grupo das 7 pessoas. Trabalhámos, trabalhámos e trabalhámos: partilhámos conhecimento, planos de negócio e de comunicação e marketing.
A minha empresa, de facto, lá está muito bem, trabalhámos com uma universidade e viemos e partilhámos o resultado do que fizemos com Harvard que está a trabalhar o caso. Estive no Vietname, tenho uma história fantástica para contar sobre o que é possível fazer que nós não imaginávamos. A empresa diz-me:"Portaste-te bem, vais com 57 anos e a seguir se quiseres sais da empresa”, que foi o que fiz para passar à reforma e hoje em dia sou uma voluntária bem mais rica, porque aprendi que sabia fazer coisas que não imaginava, porque o voluntariado isso nos confere.
O voluntariado poder ser rico, pode ser matéria de celebrar aniversários empresários. Muitos casos que vocês vão ver; se quiserem partilhar ou saber pormenores de alguns deles podem perguntar. Acima de tudo, com o que é que eu quero concluir: as boas práticas são mesmo Economia de Bem-Estar; para as empresas motivam, melhoram as relações pessoas, beneficiam aqueles que podem ter espaços reabilitados, permite-nos criar parcerias e acima de tudo permite-nos acreditar que responsabilidade social nas empresas e boas práticas redundam em boas estratégias e cada vez mais são estratégias que nos têm de fazer converter o tradicional donativo em consequência.
Cada vez mais, o dinheiro dá-se numa certa altura e depois já ninguém sabe onde é que ele anda. Por isso se podermos relevar os donativos e fazer projectos é bem melhor. Até porque conseguimos triangular a atitude que é daí que dependemos todos nós e converter brainware, orgware e citizenware de facto num factor de competitividade.
A GRACE empresa e instituição pode mesmo afirmar o princípio daworld wide web,win win win, ganhar ganhar ganhar, é tudo que queremos; constrói-se assim com base na comunicação, na responsabilidade social, na estratégia constrói-se mesmo um Mundo melhor e é isto que nós no GRACE, empresas, cheias de pessoas e empenhos estamos muito apostados em mudar o paradigma da sociedade em que estamos para que ela seja mais equitativa, sustentável e se transforme num Mundo melhor.
O meu último desafio: homens em pé. Homens, digam comigo: eu sou solidário. Mulheres em pé: eu sou responsável. Olhem que elas são em menor número, mas não ficaram atrás.
Agora, homens e mulheres em pé: nós queremos intervir; nós fazemos a diferença. E fazem.
Muito obrigada.
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Bom dia a todos. Antes de dar a palavra à Rebeca Lopes do grupo Cinzento, queria aproveitar o desafio da Dr.ª Conceição Zagalo e dizer também que a JSD faz muita actividade solidária, discretamente nas concelhias e há dois congressos para cá que fazemos recolha de alimentos, já juntámos três toneladas numa dessas vezes e, sobretudo, aproveitando o espaço para recolher amostras de dadores de medula e no último congresso juntámos 3 mil pessoas, sendo que o congresso tinha só mil.
Aproveito para dizer – não sei se aconteceu com mais alguém – não vou dizer o nome da pessoa, mas na semana passada houve um alto dirigente que me ligou a dizer que tinha sido chamado para dar uma parte da sua medula a alguém. Espero que corra bem e que a pessoa seja salva, porque vale a pena, nem que seja só um dos 3 mil já valeu bem a pena e espero que todos continuem a fazer isso.
Rebeca Peres Lopes
Bom dia a todos. Dr.ª Conceição Zagalo, os mais eficazes métodos para combater o sofrimento e as carências humanas têm sido desenvolvidos por instituições de proximidade que são mais ágeis, que são mais prontas e que estão mais perto.
Um modelo assente no voluntariado encontra-se presente no programa do Governo, porém o modelo actual continua a ser estatizante, de que forma é que podemos alterar essa situação?
Obrigada.
Conceição Zagalo
Podemos alterar a situação intervindo nós próprios. Deixe-me só que lhe diga que, em relação, por exemplo, à legislação de voluntariado, ela não confere com os requisitos empresariais que nós temos.
Precisamos de ter as questões do seguro garantidas, os CEO e presidentes das empresas a quererem apostar e a deixarem os seus colaboradores fazerem voluntariado sem ser"ok, está bem, mas não me distraia as pessoas”. Porque ainda estamos neste estado. Portanto, nós, se quisermos fazer a diferença e dissermos"senhor ministro, Conselho Nacional para a Promoção de Voluntariado, nós temos esta proposta para a lei de voluntariado e queremos que ela seja implementada por forma a podermos alargar o bolo”.É por aí, a atitude de"eu faço, eu quero, eu sou solução e não crítica do problema”.
Duarte Marques
Obrigado. Miguel Bugalho do grupo Castanho tem a palavra.
Miguel Cruz Bugalho
Muito bom dia. Cumprimento a mesa e a respectiva convidada. Em nome do grupo Castanho quero agradecer a presença da Dr.ª Conceição Zagalo na Universidade de Verão da JSD.
A situação económica actual relaciona-se com o papel das associações no aspecto em que dependem de ajudas de financiamento externo, tanto parcial como totalmente. Com a crise económica que o país atravessa, como irão as associações que dependem destas ajudas recuperar a percentagem de financiamento que perderam.
Conceição Zagalo
Muito obrigada pela sua pergunta. Falávamos, ontem ao jantar, em orçamento zero e na capacidade de fazer sem ter recursos, falámos também hoje aqui que as empresas têm de se reinventar para poderem fazer responsabilidade social e voluntariado. E as empresas são pessoas que depois constituem associações. Estou a representar a IBM no GRACE e a IBM paga uma quota de 2.400 euros por ano, não paga mais do que isso. Paga e tem obrigação de pagar, pois os lucros dão-lhe o dever de o fazer. Acho que temos, cada vez mais, que aprender a fazer omeletes sem ovos e a liofilizar a matéria. Fazemos construção civil em cada acção de voluntariado no valor de milhares de euros, com o cimento da CECIL, com as tintas das várias casas de pinturas, com todo o empenho e força braçal nossa, colaboradores associados, que não somos necessariamente trabalhadores da construção civil.
Portanto, se nós quisermos construir é aquilo que eu quiser com a capacidade de produto de matéria-prima que eu fizer, consigo constituir uma associação que consiga trabalhar de forma independente sem estar à espera dos donativos estatais.
Duarte Marques
Obrigado. Tem agora a palavra a Patrícia Pimenta do grupo Laranja.
Patrícia Pimenta
Bom dia. Antes de mais, quero agradecer à Dr.ª Conceição Zagalo pela sua presença nesta Universidade de Verão.
Esta semana, o Dr. Marcelo Rebelo de Sousa referiu que actualmente o tempo social está em conflito com o tempo político. A minha pergunta é: deve-se isto ao facto dos governantes e empresários estarem com menos olhos para as pessoas? Deve o tempo político sobrepor-se a um tempo civil e social?
Obrigada.
Conceição Zagalo
Respeito imenso a opinião do Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, é evidente, mas vejo cada vez mais, políticos e decisores, mais preocupados com estas matérias, porque quem está preocupado com estas matérias está preocupado com o bem-estar e com a satisfação das pessoas de uma forma geral. Penso que há tempo e capacidade para tudo.
Estava aqui há tempos na Universidade do Porto a 5 de Dezembro, num evento de voluntariado, e apareceu-me um jovem, da vossa idade, com os cabelos compridos, loiros, encaracolados e olhei para ele e pensei assim, com toda a imodéstia, obviamente: o que é que este jovem terá para me ensinar em matéria de voluntariado?
Ouvi-o falar e depois o Miguel começou a partilhar a sua história com todos os outros jovens que estavam naquela sala, eram 300, e ele era formado em Medicina e estava a fazer um curso de História, estava numa orquestra, era responsável por um movimento associativo no Porto, que recolhe e apoia estudantes que vêm doutros países e aloja-os não emcampus, mas em casas de pessoas idosas para permitir um apoio a ambos: as pessoas idosas dão-lhes camas e os estudantes dão-lhes apoio.
Perguntei-lhe se ele tinha tempo para isso tudo? Ele respondeu-me:"Ó Conceição, se nós quisermos, temos tempo para tudo”.Portanto, acho que cada vez mais há tempo para a coexistência, há tempo para a agenda política, há tempo para a agenda social, há tempo para ouvir todos osplayers(que somos nós na sociedade) e construir e edificar uma sociedade mais equitativa. Há tempo, assim nós queiramos dizer: eu quero, eu faço, assim vai acontecer porque eu interferi.
Duarte Marques
Muito obrigado. Pergunta agora a Andreia Almeida do grupo Azul.
Andreia Almeida
Bom dia a todos.
O voluntariado é um exercício de cidadania que nos envolve de tal forma na sociedade, criando em nós uma capacidade motivacional inqualificável. Num Mundo de recursos escassos, acredito que está aí uma das formas de poder aproveitar o enorme potencial de cada um, que muitas vezes está adormecido.
Cada vez mais são as pessoas que se voluntariam, mas o caminho ainda é longo. Sabemos que em muitos locais do país esta intervenção é mais patente, portanto a minha questão vai em perguntar se não estará também na tutoria dos municípios cativar os seus cidadãos a participar activamente e que projectos se fazem ou se podem fazer lá fora e cá dentro, para que o voluntariado seja um motor de crescimento da sociedade.
Em relação à responsabilidade social, gostaria de saber como consciencializar a população no consumo de produtos e serviços de empresas que têm boas práticas sociais?
Obrigada.
Conceição Zagalo
Na sua questão, a Andreia quando equacionou respondeu. Diz aí, também as autarquias, não é? Claro que sim. Cada vez mais, nós, GRACE, somos chamados à responsabilidade social, com 96 empresas, por enquanto já temos mais algumas a caminho, a articular com as câmaras municipais.
Nós, não apenas em conferências que versam este tema, mas as autarquias hoje também já têm, quase todas, um gabinete de acção social e algumas delas são muito interventivas e mostram muito trabalho. Somos chamados, não apenas a falar, mas a partilhar para depois conseguirmos o efeito de contágio que leva as pessoas a serem informadas e a optar por um produto e não por outro.
Neste tipo de circunstância, em todos os anos da Universidade de Verão tem-se falado, portanto cada vez mais há uma consciência, os próprios meios de comunicação falam sobre o tema também, estão muito mais sensibilizados, as autarquias promovem o debate do tema e envolvem-se nas comunidades.
E nós, associação, em cada acção de voluntariado que fazemos, também já não fazemos sem ser com as autarquias."Em Roma, sê romano”; se nós temos de vir a Castelo de Vide fazer uma intervenção, obviamente temos de falar com a Câmara Municipal de Castelo de Vide, pois é quem sabe do terreno, é quem conhece, é quem nos pode aconselhar e é quem pode fazer o trabalho de sustentabilidade no dia de voluntariado mais um e nós cada vez mais nos preocupamos com o dia de voluntariado mais um, ou mais 365 dias, que é o ano a seguir.
Portanto, é desta aculturação, desta educação, como se tratasse de pais para filhos, que tem que tratar o crescimento destes temas e o envolvimento de todos osstakeholders, autarquias, juntas de freguesias, universidades e as de Verão, partidárias, ou não, têm aí um papel grande a desempenhar.
Duarte Marques
Muito obrigado. Dava agora a palavra ao João Gabriel Martins do grupo Encarnado.
João Gabriel Martins
Bom dia. Queria cumprimentar a mesa e dizer à Dr.ª Maria Conceição Zagalo, que agradecemos a sua intervenção pois certamente eu e o meu grupo ficámos mais ricos socialmente.
Ontem à noite, quando estava a fazer os "trabalhos de casa” assisti a uma reportagem que deu na RTP2, em que o jornalista disse que nos últimos anos a lógica das empresas alterou-se e cada vez mais aposta na inclusão social na própria esfera empresarial, um caso particular é a contratação de pessoas portadoras de deficiências.
Actualmente, frequento o curso de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidades Humanas na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Vila Real. Para quem não sabe este curso tem como objectivo formar técnicos capazes de utilizar tecnologia ao serviço da melhoria de condições de vida das populações com necessidades especiais como por exemplo pessoas com deficiência, idosos e acamados, ou seja, mais do que 21% de pessoas em Portugal.
Esta licenciatura responde à necessidade de se formar novos profissionais nesta área, aliás como ficou identificado no programa nacional para participação dos cidadãos com necessidades especiais na sociedade de informação, em 2003, e no plano nacional de promoção de acessibilidades aprovado em conselho de ministros em 2006, tendo como líderes o Governo de Durão Barroso e José Sócrates respectivamente.
O curso foi criado com o apoio do Governo de José Sócrates em 2007, congratulando-se esta instituição pela obra em Portugal ser pioneira na Europa. Depois de ter passado a sua certidão de óbito, pouco depois da sua nascença; passando três anos, os primeiros formados nesta licenciatura em parceria com o núcleo deste curso requisitaram à direcção do instituto nacional de reabilitação algum auxílio orientador para a pós-licenciatura. Até hoje nem sinal desta resposta; ou o pombo-correio enganou-se na entrega da mensagem, ou mais uma vez o Governo de José Sócrates pecou por ter memória curta e caímos no esquecimento.
Concluindo, pergunto: deverá o actual Governo resgatar os profissionais formados neste curso para que realmente possam ser úteis a este país, tentando assim eliminar o défice nestas áreas o mais rapidamente? Se sim, como?
Quanto à responsabilidade social empresarial, pergunto-lhe: que empresas e que sectores podem dar o exemplo – como já é dado por algumas operadoras telefónicas –, de possuírem serviços para clientes com necessidades especiais.
Conceição Zagalo
Vamos lá a ver se na minha resposta consigo lembrar-me de tudo o que disse. De qualquer modo, sim, o Governo deverá e nós também. Agora, isto não deverá estar tudo circunstanciado à licenciatura da UTAD.
Na UTAD está um homem, que é o Francisco Godinho, que é o promotor fantástico dos temas do desenvolvimento, conhecimento e competências para apoio científico e direccionado à deficiência. Cada vez mais tem de ser generalizado. Outra pessoa que esteja noutra universidade, a Universidade do Minho? Porque é que é o único? Tem que haver mais e sobretudo o Ensino tem de estar todo ele direccionado para cidadãos e cidadãos. Se é alto, se é magro, se tem olhos azuis, olhos verdes, se tem deficiência, ou não, isso depois é umapportde pleno direito e cheia de deveres também, tem de estar integrada num processo e num estado em que a cidadania seja respirável como qualquer outra função vital na vida.
Nós, na minha empresa, temos um programa de integração de estágios para os melhores alunos, aqueles que mais se destaquem em determinado tipo de formações e aqui há anos apareceu uma miúda do ISPE que tinha feito uma formação e queria muito ser educadora de infância. Quando ela fez a formação com distinção concorreu a um determinado posto de trabalho e disseram-lhe que ela não podia porque tinha dificuldades motoras, tinha paralisia cerebral. A Carla não ficou por aí, fez outra formação em Matemática e foi para a IBM para a área de Recursos Humanos, fazer um estágio em Recursos Humanos e hoje é nossa colega.
Porque é que é que a Carla com uma dificuldade locomotora e de discurso, não tendo dificuldades mentais e, por exemplo, um colega meu que não tem um braço, ou o André que é surdo, lhes é vedado o mercado de trabalho? Não há razões para isso.
Eles formaram-se em qualquer universidade e, portanto, as universidades e os docentes têm de estar cada vez preparadas para formar mais cidadãos. Claro que se houver especializações, tal como o ISCTE, ou o ISEG, ou a Nova, são especializados em determinadas matérias, se houver uma especialização para a deficiência, melhor também. Agora, tem de ser parte do programa nacional, não tem de ser parte do empenho de uma só universidade.
Respondi à sua questão?
João Gabriel Martins
Sim, sim, abordei mais a responsabilidade social empresarial, visto que em tempos de crise, certamente os meus colegas seriam os jovens empreendedores, ou seja, criaremos muitos postos de trabalho e pela noção que tenho o próprio Governo dá um incentivo à contratação destas pessoas com deficiência. Porque não, no futuro, cada um de nós, poder oferecer um emprego a estas pessoas?
Conceição Zagalo
Você é responsável por aquilo que acabou de dizer. Se puder vou andar de olho em si para ver se constituiu uma empresa que dê empregabilidade a pessoas com deficiência porque você tem vantagens, portanto leve-as para a frente.
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Obrigado. Pedro Laborinho do grupo Roxo.
Pedro Laborinho
Antes de começar a minha intervenção, só queria dizer que caso a mesa não perceba algo que eu diga é porque estou com uma grave constipação. Até agora estava só com lencinhos e não estava a resultar pelos vistos.
Conceição Zagalo
Foi de ontem à noite.
[APLAUSOS]
Pedro Laborinho
Bom dia à mesa e à Dr.ª Conceição Zagalo. É, para mim, uma honra recebê-la aqui na Universidade de Verão. Estou plenamente de acordo com este tipo de aulas e digo porquê: mais do que uma crise económica, estamos a viver uma crise de valores e quanto mais aulas houver deste tipo, para nos abrir mais a mente, para despertar mais interesse no que toca a esta área, melhor para todos nós.
Estamos em formação, não faz mal formar civicamente e a pergunta que eu tenho para fazer é a seguinte: qual deve ser o papel da JSD na prevenção social e como podemos dar o exemplo?
Obrigado.
Conceição Zagalo
Muito obrigada. Adorei a sua capacidade de improviso, ontem. Continue nisso.
Fóruns como estes são "pão para a boca”. Se vocês, 100, ou 97 jovens que estão aqui, mas também sem serem os mais jovens, sem serem os tão miúdos, todos nós que estamos aqui nesta sala, pudermos ser parte importante do crescimento e enquanto JSD, vocês são vítimas de olheirismo e vão ser espero eu. Vocês são exemplo para todos os outros que não tiveram oportunidade de vir aqui. Vão ser alvo de seguimento por parte de muitos outros, sãochange makers, como o Ryan foi. Portanto, vocês podem ser a grande razão de existir para o crescimento deste movimento.
Ó Pedro, fico toda contente se você me telefonar um dia destes e me disser: Conceição, tenho uma empresa que quer ser visitada, porque tem boas práticas de responsabilidade social e quer pôr em comum com as outras 96 que vocês lá têm. Se todos vocês, os 97, me vierem com um exemplo desses, eu visito essas empresas. O meu voluntariado, hoje em dia, é só para isso. Estou reformada a fazer voluntariado, porque acredito nestas causas e porque quero que vocês tenham um Mundo que faça mais sentido.
Portanto, se eu tiver razões para continuar a visitar o país e ter aqui 97 empresas associadas, daqui a um ano somos 200 empresas e a JSD teve um papel preponderante nesse processo que nós queremos acompanhar com estes "olhos que a terra há-de comer”.
Duarte Marques
Muito obrigado. Joana Baptista do grupo Rosa.
Joana Batista
Olá, bom dia a todos. Antes de mais gostaria de dizer que foi um prazer ouvi-la, foi muito inspiradora.
A nossa questão é a seguinte: ao longo desta semana, vários oradores salientaram a necessidade de atenuar o fosso entre as gerações mais jovens e as mais velhas, referindo que é fundamental não ostracizar as segundas.
Tendo isto em conta, de que forma a entidade empresarial se poderá revelar um mecanismo importante para incutir o valor de responsabilidade social nos seus colaboradores mais jovens que se reflictam no seu papel como membro da sociedade?
Obrigada.
Conceição Zagalo
Muito obrigada. É levar a exercício tudo aquilo que preconizámos, tudo aquilo que eu falei ali. Eu, aos 57 anos – agora tenho 59, quase 60 – era demasiado válida para poder ser posta na prateleira. Tenho conhecimentos, competências, que são excelentes, mas são tão melhores quanto eu tiver a capacidade de casar com a jovialidade, com a capacidade de estar aí, com a capacidade de fazer e acrescentar valor e de criar. Portanto, as empresas – como diziam os tais 1130 CEO no estudo – têm de ser capazes de investir parte dos seus lucros nestas matérias por forma a terem as suas pessoas a levarem a exercício nas comunidades o mesmo profissionalismo, os mesmos desempenhos que têm com os clientes.
A minha empresa tem um programa para reformados activos e diz que quem fizer mais de 50 horas por ano numa instituição onde esteja fidelizado há mais de cinco meses, pode chegar lá e dizer assim: IBM, eu já fiz 50 horas na AIESEC, faço parte do conselho consultivo deles, houve dois anos em que partilhei o meuknow-howe mais anos a fazer outras actividades. Eles dizem: então, está bem, nós vamos converter isso em equipamento, ou em géneros e vamos dar em teu nome à AIESEC para que lhes possa fazer progredir.
O Clique Avô é um programa semelhante. Um reformado, por acaso é o homem com quem estou casada há 38 anos, faz voluntariado, trabalha com idosos que foram espoliados, famílias de emigrantes, basicamente na Alemanha, França e Canadá e que estão com dificuldades motoras, muitos deles já, não sabem pegar no rato, por exemplo. Com o animador cultural, com este voluntário de 60 anos, com jovens do IPJ conseguem pôr os idosos a jogar às cartas, a mandarmailsà família, a receber fotografias do casamento dos netos, etc., a criar intergeracionalidade que permita a um idoso dizer: menina, olhe, no Canadá, neve diz-sesnow; as colheitas do trigo, do milho, fazem-se naquela altura; olhe isto, ou olhe aquilo; a localização da minha casa é esta naweb; a receita de fazer pão é esta; etc.
Portanto, este tema é cada vez mais matéria de aposta das empresas, até porque eu, ao estar num voluntariado desses, chego à empresa muito mais satisfeita, produzo muito mais, logo estou a contribuir para o crescimento da empresa, da Economia e da sociedade.
Duarte Marques
Muito obrigado. Rui Araújo do grupo Verde.
Rui Guilherme Araújo
Antes de mais nada, gostaria de cumprimentar a mesa e a Dr.ª Maria Conceição Zagalo pela presença que nos orgulha a todos.
Estamos num ano de solidariedade intergeracional e do envelhecimento activo. Infelizmente, cada vez mais, ouvimos notícias de idosos que morrem sozinhos em casa, isto numa altura em que os jovens têm de trabalhar mais para cumprirem os seus deveres e obrigações, portanto tendo menos tempo para os seus pais e avós.
O que acha que deve ser feito para combater e controlar esta situação? E qual o papel que o voluntariado pode assumir na resolução deste flagelo?
Conceição Zagalo
Rui, não fica muito zangado se eu discordar consigo nalgumas coisas? Essa questão de terem menos tempo para os pais e avós ébullshit.
[RISOS, APLAUSOS]
Se vocês quiserem, têm tempo e se quiserem conseguem ser bons filhos, bons irmãos, bons colegas, bons tudo. Portanto, penso que seja fácil conseguir. Morrem cada vez mais idosos abandonados, mas não sei se concordo com isto, penso que se sabe mais disto, ou seja, os meios de comunicação divulgam mais, nós estamos mais atentos porque há mais rádios, mais televisões. Estamos na era da evolução tecnológica e da tecnologia da informação e de facto estamos num Mundo em que tudo se sabe e ainda bem.
Havia, ontem, uns casos esquisitos nos meios de comunicação sobre violência doméstica e não acontecia? Sempre aconteceu, mas sabe-se mais, hoje. O facto de se saber, obrigou-o a si a ter de arranjar mais tempo para conseguir intervir com a responsabilidade que lhe é atribuída nesta Universidade, com a sua capacidade de exemplo, de inventar tempo e de ser uma parte importante do combate a esses casos.
Se tiver mais desperto, mais envolvido, mais integrado em grupos comunitários, se calhar consegue contribuir para que cada vez mais, nesse aspecto e só nesse aspecto, os meios de comunicação tenham menos trabalho e menos notícias.
Há tantas outras notícias que nos podem ajudar a erguer e a auto-motivar que não sejam necessariamente essas que são tristes e que não são os exemplos em que nós queremos sustentar a nossa evolução.
Duarte Marques
Muito obrigado. Temos agora a Maria Teresa Azóia do grupo Amarelo.
Maria Teresa Azoia
Olá, bom dia.
Em primeiro lugar, agradeço à Universidade de Verão por nos ter trazido o tema social, que me é muito caro e agradeço também à Dr.ª Conceição Zagalo por nos falar desta forma e nos mostrar que, como disse, a fazer façamos bem feito e deixemos aquela coisa do social docoitadinho, dopobrezinho, dovoluntariadozinho, e tal.
Para mim não está resolvido o pensamento sobre a questão do RSI e do trabalho comunitário que os beneficiários do RSI vão passar a fazer. Sim, de facto há subsídios mal atribuídos, há muita coisa errada e a funcionar mal nesta área, mas um pouco à semelhança de frases feitas que nos desagradam como "os políticos são todos iguais, são todos ladrões”, também se olha para os beneficiários do RSI e dizemos o mesmo: "são todos calões, não querem trabalhar”.
[APLAUSOS]
Quero também, muito rapidamente, dizer que houve um senhor no meu prédio que deu um tiro na cabeça esta semana. Perguntei aos meus vizinhos - no meu prédio somos 30 fracções, não conheço sequer 20% - mas perguntei aos que conheço: como é que está o senhor, como está a situação? Depois disseram-me assim: "Não gosto muito que fales com os vizinhos sobre o que se passa.” Ou seja, nós temos dificuldades em aceitar que as coisas acontecem perto de nós e fechamo-nos, não vemos que é da nossa responsabilidade e temos obrigações de facto para com o que está à nossa volta.
Voltando à pergunta: será que isto não tem um efeito perverso, ou seja, numa altura em que tanto se fala de desemprego e de trabalho, não será que estamos a fazer o contrário, em vez de receber por trabalhar, trabalhar por receber?
Obrigada.
Conceição Zagalo
A sua questão é se estamos a converter voluntariado em hipóteses de trabalho?
Maria Teresa Azoia
Exactamente. Mais ainda, atendendo aos públicos que são beneficiários destes subsídios, alguns, mais uma vez não são todos iguais, e pô-los a fazer trabalhos em determinados sítios e instituições que, como falou e muito bem, precisam de pessoas especializadas a fazer bem e bem feito, será que não corremos o risco de pervertermos a situação e causar aqui, se calhar, ocorrências pouco desejáveis.
Conceição Zagalo
Quase que lhe perdoava a sua pergunta, se me respondesse que me dizia isso tudo a cantar. Era muito mais fácil. Se calhar pode catequizar os 30 condóminos que acham que a Teresa não tem de fazer comunidade no seu prédio.
Cantar, cante, cante, porque a cantar os males espanta! Portanto, isso é um dom que a assiste, por isso não fique atrás e use-o. Teresa, eu acho que não. Deixe-me lembrar – quem não sabe, vai à net e vê – a história dos velhos do Restelo. Há sempre quem – é muito cómodo e às vezes é uma boa desculpa para não se fazer –, critique negativamente. Penso que há espaço para tudo: para o IRS, para o voluntariado, para os profissionais.
Pelo facto de estar a fazer voluntariado não estou a tirar posto de trabalho a ninguém, dedico-me hoje em dia ao voluntariado como não conseguia dedicar há dois anos atrás. Ao dedicar-me ao voluntariado, abandonei o meu posto de trabalho, dei-o a uma jovem com 34 anos, assegurando a melhor substituição e ao sair foram gerados mais dois postos de trabalho.
É claro que, tal como dizia no início, não há Mundos nem realidades perfeitos, porque não há pessoas perfeitas. Agora, por via das dúvidas, faça-se e faça-se bem feito. O voluntariado pode ser uma excelente forma de desenvolver conhecimentos e competências, que circunstancialmente não uso, ou uso. Aquilo que fiz em voluntariado no Vietname que foi de facto formação estratégica, executiva, partilha, recuperação de empresas e de universidades, construção de modelos de negócio, ajudei a que aquelas empresas progredissem e se criassem mais postos de trabalho.
Porque é que não faço isto cá? Porque é que não partilho o meu conhecimento e as minhas competências com aqueles dos bairros e na associação local na Alta de Lisboa? Ao fazê-lo, estou a capacitar jovens ou adultos para poderem depois lançar-se no mercado do trabalho. Consigo trabalhar no sentido da dignificação da condição humana e não do descrédito das capacidades humanas.
Portanto, acho que vale a pena fazer, apostarmos e tentarmos sublimar os aspectos negativos que são passíveis e meritória de crítica e tentar convertê-los em aspectos positivos. O tal modelo não funciona, então vamos ver como pode funcionar e vamos converter isso em activo precioso para a evolução da sociedade.
Duarte Marques
Obrigado. De seguida, Filipe Rui Caetano do grupo Bege.
Filipa Rui Caetano
Bom dia, Dr.ª Conceição Zagalo, gostava de saber, à semelhança do que a minha colega perguntou acerca das câmaras municipais, o que é que as escolas podem fazer em relação à solidariedade e em motivar as pessoas, se há algum trabalho feito ou se ainda pode ser feito mais?
Conceição Zagalo
Sim, há algum trabalho feito e sim, pode ser muito mais feito. As escolas têm um papel preponderante na formação da sociedade.
Desde logo, quando andei no colégio de freiras em Torres Novas e na altura – sou muito jovem, mas vou fazer 60 anos em Outubro – ainda havia aulas de civismo e eu acho que fazem falta, como fazem falta as aulas de teatro para aprendermos a estar em público.
Se as escolas têm um papel preponderante na formação das pessoas, as escolas devem incluir nos seus currículos formação em cidadania e responsabilidade social. Mas, deixe-me que lhe diga, que já há muitas escolas, independentemente de serem, básicas, secundárias, preparatórias, universidades, a ensinarem este tema.
Aqui há tempos, quando numa acção de voluntariado em família, que foi feita no dia 19 de Março, Dia do Pai, trocava impressões com algumas crianças, pois fazemos sempre testemunhos para partilhar também no jornal Giro, perguntei a uns gémeos, filhos de um advogado da Miranda Correia e Amendoeira Associados, se era a primeira vez que estavam a tomar contacto com o tema, o que é que era para eles fazer intervenção no ambiente. Eles diziam: "Não, a minha professora já fala nisto desde que éramos miúdos”. Eles tinham 7 anos, portanto, desde que tinham 3 anos já falavam nisto.
Já há, felizmente, o tema em discussão em muitos sítios e grupos de voluntários nas escolas a trabalhar isto. O Ano Europeu do Voluntariado foi no ano passado, nós corremos vários pontos do país, variadíssimas autarquias e grupos escolares que puseram em perspectiva o voluntariado e o voluntariado consequente, também na perspectiva da partilha do vosso conhecimento que adquirem nos bancos da escola, com a metodologia que está fresquinha, junto dos socialmente excluídos.
Portanto, oiça, a resposta Filipa é sim e sim: já foi feito e há muito para fazer, tudo.
Duarte Marques
Muito obrigado. Acabámos as perguntas sorteadas, ou seja, agora temos tempo para o "Catch the Eye”. A primeira inscrição que eu tenho é do Tiago Pais do grupo Amarelo e depois será o António João Campos do grupo Cinzento.
Tiago Pais
Antes de mais, bom dia a todos. É um prazer poder comunicar com a Dr.ª Conceição Zagalo, essencialmente pelo trabalho que desenvolve que é de facto de um mérito inacreditável, difícil de qualificar. Os meus maiores parabéns por isso mesmo.
Gostava de partilhar uma experiência pessoal de uma única vez em que fiz voluntariado, se calhar no sentido mais comum, pois entendo voluntariado por acima de tudo acreditar nos outros e dar parte de nós aos outros, que será útil àqueles que precisam e se assim adoptar essa concepção certamente já fiz mais vezes voluntariado.
Mas, agora, participei na recolha de alimentos do Banco Alimentar e fiz uma constatação bastante peculiar, diria. Entendo que as pessoas aparentemente com menos posses são aquelas que, na verdade, contribuem de uma forma muito maior e de facto apareceu lá um senhor, nessa precisa tarde em que estive a fazer o voluntariado, que via-se claramente que via do trabalho, com roupa suja e tudo mais e dei-lhe um saco como dava a qualquer outra pessoa. O senhor quando chegou para entregar tinha três sacos completamente carregados de bens alimentares.
Também aconteceu dar a outras pessoas que via que eram pessoas se calhar com mais posses – não sei, também é um juízo de valor que faço - que saíam e nada davam. Acho que é algo bastante interessante, que nos deve essencialmente fazer reflectir pelo seguinte: nós hoje podemos até ter muita coisa, muitos bens materiais e tudo mais, mas se não soubermos e não conhecermos o ideal da partilha não vamos ser homens e mulheres cidadãos concretizados, vamos ser pessoas que temos tudo, pelo menos deste Mundo, e que relativamente à conexão com a sociedade somos um bocado negativos e valemos zero.
Posto isto, também gostaria de realçar e estudou num colégio de freiras, se calhar estou a atrever-me ao dizer que grande parte do trabalho que faz tem que ver com a fé que tenha na vida cristã e eu, de facto, sendo católico, considero que a religião católica é um grande exemplo de partilha. Jesus Cristo ensinou-nos de facto a partilhar e a dar a nossa vida pelos outros, acho que é um bocadinho assim o que a Doutora faz.
Relativamente à pergunta, é muito simples, numa espécie de desabafo: o que acha que devemos fazer quando nós próprios queremos contribuir e vemos que no nosso meio só existem pessoas que nos viram as costas? Ou seja, em que nós dizemos que queremos fazer uma recolha de bens, ou alimentos e de facto todas as portas em que batemos nos trancam a porta; o que fazer nessas situações mais complicadas?
Muito obrigado e mais uma vez os meus parabéns.
Conceição Zagalo
Ó Tiago, apenas dois comentários: o primeiro, sei que me permitem, uma homenagem ao meu pai que não está necessariamente no meio dos seres vivos, mas foi uma inspiração. Foi um autarca, político e humanista seriíssimo, foi um homem que deu a todos os cinco filhos e ao contexto em que esteve a tal noção de valores, que independentemente depois do sítio onde tenhamos feito a formação, ficou cá no sangue e nas veias e nos fez pensar no outro, até não raras vezes, mais do que em nós.
Portanto, acho que foi um pai excelente e a minha mãe que é uma matriarca de 86 anos continua e estas questões familiares não são despicientes.
A segunda: alguém aqui tem dúvidas de que nós estamos no melhor país? Não estou nada convencida com essa vossa resposta.
Portanto, Portugal é o país melhor para se viver; diga-se o que se disser nós temos bom ambiente, boa luz, boa gente, boas condições, segurança e eu, que já andei um bocadinho pelo Mundo, não escolheria outro país.
Tenho uma filha que neste momento está a trabalhar em Londres. Ela diz que o dia feliz dela será quando voltar a Portugal, pois é um país fantástico. Portugal tem uma capacidade enorme, que nos vem já de Camões, é histórico, de termos ditados populares e em meia dúzia de palavras respondem a uma questão. A sua questão remete-me para um ditado que é: "a adversidade aguça o engenho”.
Quando diz que no Banco Alimentar aparecem as pessoas com maior dificuldade a dar, é natural. Peço-lhe é que veja além desses casos e quando não tiver terreno numa determinada circunstância, quando tiver gente que lhe vira as costas em determinadas situações, permita-me que lhe diga que está proibido de voltar as costas, de desistir, de baixar os braços e está autorizado e empossado para no espírito de missão continuar o seu trabalho, porque "desistir é próprio dos fracos” e não me parece que seja um homem fraco.
[APLAUSOS]
Portanto, avance e na óptica do desafio naquela nega reside uma oportunidade, vá para outra oportunidade e catequize, e às vezes conseguir catequizar uma nova oportunidade ganha também uma frente para depois poder intervir a montante naquele desafio que tinha sido negado no início. Não raras vezes, nós encontramos inspiração e força, capacidade de mudar uma circunstância, com base em nãos. A vida, a vossa vida, a vossa evolução, a vossa carreira e índole humana, pode e deve ser construída na base da conquista. Conquistem. Um não tem de ser conquistado por forma a ser convertido num sim. É esse o meu conselho.
António Campos
Bom dia, caros companheiros, mesa e Dr.ª Conceição Zagalo. Deixe-me, desde já, começar por agradecer a sua presença, o seu contributo para a educação e formação desta plateia num assunto que tem tanto de importante como de essencial cada vez mais no contexto actual, que é o da intervenção social.
Vivemos num Mundo que apregoa aos sete ventos muito daquilo de que falou nesta sessão: responsabilidade social, solidariedade, compaixão e o gosto de ajudar os outros e com isso, enfim, realmente fazer a diferença, reduzir as assimetrias das várias realidades que assolam este Mundo.
Temos de facto muita vontade em curso, muitas estruturas de apoio e ajuda, seja de entidades governamentais como a UNICEF, subsidiária das Nações Unidas, e não-governamentais como os Médicos Sem Fronteiras. Temos recursos financeiros como os disponibilizados pelo compromisso dos países mais ricos, que contribuem para o Fundo Oficial de Desenvolvimento com até 0,07 do rendimento nacional bruto, que depois são usados em diferentes áreas de assistência em países menos desenvolvidos e às populações mais afectadas pelos mais variados flagelos.
Porém, voltando às duas organizações de que falei atrás, os Médicos sem Fronteiras são os mais eficazes e penso que eles gastam cerca de 40% do dinheiro para ajuda real, enquanto o resto vai para a sua organização. Quando se trata da UNICEF, a proporção é de 10% de dinheiro gasto para as carências, versus 90% para a organização.
Posto isto, pergunto: em termos de eficácia e para se chegar ao fim desejado não é preferível atribuir mais fundos às ONG como a Ryan Wells, em detrimento de organizações como a UNICEF que têm um peso burocrático e administrativo pesadíssimo que faz com que os fundos se vão perdendo pelo caminho?
Obrigado.
Conceição Zagalo
Muito obrigado, António. Oiça, não há Mundos perfeitos, eu disse isso; é sempre mais fácil olhar para uma determinada situação que é muito visível a exposição não um factor facilitador. Só nesse aspecto é que não queria estar no lugar do Dr. Pedro Passos Coelho; não é que me falhe o espírito de missão, mas prezo muito a minha privacidade, a minha capacidade de tomar um café, de sair de casa, sem estar toda a gente a olhar para mim. Porque de facto, as pessoas perdem a vida pessoal, perdem privacidade, capacidade de serem elas próprias nos seus direitos mais elementares de vida.
Essas organizações de que falou, de maior dimensão, estão por esse facto muito expostas e por isso passíveis de serem criticadas e alvo de serem apontadas por terem feito isto ou aquilo. Uma das coisas que nós temos feito no GRACE e modéstia à parte, penso que temos feito bem, é constituir uma bolsa de organizações que nos permita conseguir uma intervenção mais heterogénea por parte dos nossos associados.
Quando, no primeiro ano, se questionou no Algarve onde é que iríamos fazer intervenção, respondam-me lá qual foi a associação, ou organização que a maior parte dos associados respondeu? Não respondem, mas digo eu: no Centro Aboim Ascensão, que é no Algarve e onde todos os fundos vão parar. Quando a tendência, hoje, é de quando é feita a recolha de bens alimentares é para se pensar na instituição Entrajuda, não é? Quando se pensa em determinados tipos de apoios, pensa-se sempre nas mesmas organizações. Hoje em dia, no GRACE, temos oknow-howe a capacidade de identificar toda uma série de instituições e temos cada vez mais os nossos associados a intervirem em organizações que a maior parte das pessoas não conhece. Penso que seja esse trabalho de prospecção, de pesquisa de mercado, de investigação e de identificação de novos alvos da nossa intervenção que cada um de nós, associativamente, ou individualmente, deve fazer.
Sem demérito para a AMI, os Médicos Sem Fronteiras, ou organizações como a UNICEF, que fazem trabalhos fantásticos, porque é que não apoio outros que são desconhecidos?
É isso que, cada vez mais, em associativismo nós temos feito, não raras vezes suportamo-nos no aconselhamento das concelhias, ou das organizações governamentais, mas também pesquisando e fazendo nós um trabalho de prospecção que nos permita alargar a nossa intervenção.
Duarte Marques
Muito obrigado. Dava agora a palavra à Ana Catarina Gomes do grupo Azul.
Ana Catarina Gomes
Bom dia. Antes de mais, queria agradecer a sua presença aqui. A minha questão: nas universidades em geral, pelo menos as portuguesas, acontece que ainda não existem disciplinas de desenvolvimento de projectos em países em vias de desenvolvimento.
Tive a oportunidade de estudar num país em que havia esta disciplina e tive um colega, dinamarquês, que foi para o Togo implementar a sua tese de Mestrado que era sobre o aproveitamento de resíduos para produção de energia numa aldeia do Togo. Foi uma coisa brutal e como falou da sua experiência no Vietname, a minha questão é a seguinte: por que não mudar-se a perspectiva de se fazer, por vezes, teses de Mestrado só para acabar o grau, e realmente fazê-las com âmbito social e pensando em ajudar as pessoas?
Queria também perguntar se a GRACE tem alguma parceria com universidades, ou se costumam falar e incutem isso nos jovens de lá.
Conceição Zagalo
Muito obrigada pela sua questão. As coisas já não são necessariamente como diz e nós já temos uma formação académica na Católica na área social, temos no ISEG, no ISCTE e na Nova cadeiras sobre estas matérias. Você é de onde?
Ana Catarina Gomes
Sou da Nova, mas da FCT, de Engenharia, acabei o curso em 2010, que não foi assim há tanto tempo e acho que às vezes falta essa integração.
Conceição Zagalo
Já há várias organizações académicas que se mexem nessas áreas. A AIESEC com quem trabalho semanalmente tem um trabalho fantástico de intercâmbio. Ainda no ano passado, no Verão, mandaram-me mais de 300 jovens para países em desenvolvimento. A Constança, que foi a mais recente presidente da AIESEC internacional, está neste momento no Uganda, portanto há programas muito instituídos.
Creio que ao nível associativo, mais ao nível dos jovens, não necessariamente institucional, mas dê tempo. A minha filha mais velha que é de Economia no ISCTE, no ano em que acabou o curso teve a melhor nota de Economia asiática e foi levada pela Fundação Oriente à Índia e veio de lá a desenvolver um projecto de desenvolvimento social.
Sabem disto, ou só sabem do que não existe? Têm de estar despertos para as oportunidades que existem e serem também nessa matéria parte importante da solução. O programa de que falei há pouco, com o prémio de RSE do GRACE, está direccionada a pessoas que já estão no mercado de trabalho a desenvolver a sua actividade, mas que fizeram trabalhos académicos nesta matéria.
A primeira edição deste prémio foi entregue pela Ana Esgaio que estava a trabalhar no Oeiras Solidário, fez um trabalho fantástico com base na tese de Doutoramento dela, esteve em Londres na Young Foundation, voltou e chegou à conclusão que nós em Portugal trabalhamos bem e o facto de ter tido o prémio de investigação do GRACE em responsabilidade social empresarial, levou-a a re-olhar a sua orientar profissional e neste momento ela está outra vez a dar aulas no ISCPE.
Portanto, há já algumas coisas feitas. Se calhar, pode ser que tenha sensibilidade para este tema e tenha empenho para ver isto implementado, nomeadamente da Universidade Nova. Pode ser um óptimo motor para o desenvolvimento de um programa institucional.
Por que não tenta constituir um grupo de intervenção que permita implementar uma iniciativa dessas? E nesse dia vai ver que adormece muito satisfeita com o peito a rebentar, porque construiu uma varanda no céu. Está a ver? É possível construir uma varanda do céu, quanto mais não seja: faça, experimente, vá, mas pesquise porque há muito mais trabalho feito do que pensa. Veja o ISCTE, fale com o professor Rogério Roque Amaro, com o Fernando Ribeiro Mendes do ISEG, na Católica ou na Nova também podemos tentar encontrar alguém. Mas tente, com a capacidade e a experiência que adquiriu lá fora. Esteve onde?
Ana Catarina Gomes
Estive na Universidade Técnica da Dinamarca.
Conceição Zagalo
Tente, com a experiência nesse país que é tão desenvolvido nessas matérias, construir um projecto de empreendedorismo com que esteja pessoalmente envolvida e alargue-o à Universidade que a formou e onde quer que outros sejam mais bem formados do que você foi.
Duarte Marques
Muito obrigado. Dava agora a palavra ao Francisco Vieira do grupo Laranja.
Francisco Sousa Vieira
Muito bom dia a todos os presentes, espero que todos tenham tido uma boa noite de sono. Quero dirigir um especial cumprimento à nossa convidada.
Sabemos de antemão que o povo português é solidário, no entanto quando se vive numa crise socioeconómica como a actual a nossa real natureza tende a ficar um pouco definhada. Considera que os portugueses nesta altura se tornam mais individualistas devido às dificuldades naturais que possam ter, ou pelo contrário, a inerente compaixão do povo português é amplificada e o sentimento de entreajuda vem à flor da pele?
Obrigado.
Conceição Zagalo
Mais uma vez, uso o ditado português:"a dificuldade aguça o engenho”e eu acho que é nas dificuldades que nós temos a grande oportunidade de poder construir.
Recuso-me um bocadinho a falar em crise, para dizer a verdade custa-me um bocadinho a dizer a palavra. A dificuldade está aí, mas não é a primeira vez. No meus quase 60 anos – e espero chegar aos 60 – lembro-me dos tempos em que era preciso buscar o queijo e o açúcar, entre outros, racionados e o meu marido que tem 70 anos esteve a viver em Lisboa no pós-guerra. Portanto, não é agora a primeira dificuldade e as dificuldades são cíclicas e nós ultrapassamos.
Nós, hoje em dia, estamos mais conscientes, mais formados acerca do que não podemos fazer para saber o que temos de fazer. Acho que isso que diz é verdade, o povo português é proeminentemente solidário, é muito o espírito de"eu posso tocar na minha galinha, mas alguém que venha tocar nos meus filhos”. Tenho duas filhas escorreitas, bem formadas com princípios e valores que advogo na vida, os mesmos que recebi do meu pai, pelo menos assim tento, e eu incuto nelas a capacidade de darem as mãos, de serem capazes de construir, de fazer, ser positivo, pois a chorar nós não vamos lá.
A lamentarmo-nos não vamos lá e a dizermos que devia ter sido feito, também não lá vamos. Portanto, nós estamos nas condições ideais para sabermos aquilo que não queremos e podermos fazer aquilo que queremos, na óptica da solidariedade.
Nós somos de facto solidários, chegamos a qualquer país e os portugueses reúnem-se, fazem e acontecem e o país e o Mundo estão edificados com base no trabalho português. Portanto, ponhamos essa mesma capacidade de edificação ao serviço uns dos outros, aqui neste cantinho fantástico, e deixemos soltar o tal espírito solidário, de fazer acontecer que nós podemos fazer. Mas sentados, ou à espera que caia do céu aos trambolhões, não; portanto, vamos lá e façamos.
Às vezes,"o trabalho é pouco e o desperdício é louco”. É possível fazer pouco de cada vez, mas se fizermos pouco e cada vez mais, aí está, corremos o risco de sermos seguidos e assim conseguimos fazer ter o espírito que nos permite maiores concretizações.
Duarte Marques
Muito obrigado. Agora temos a Sónia Branco do grupo Rosa.
Sónia Cláudia Branco
Bom dia. Ouvi com muita atenção a sua palestra, porque trabalho numa empresa portuguesa de grande dimensão que já vem incluindo alguns programas de voluntariado.
Este ano, porém, decidiram iniciar um projecto semelhante ao seu, ou seja, de uma organização que tem um projecto definido e trabalha directamente com a empresa. Eu participei, fui voluntária e no final houve uma sessão informal com os voluntários, com a organização e as pessoas da empresa que fizeram parte da iniciativa. O objectivo era avaliar a iniciativa para ver se podia ser repetida.
Acontece que uma das questões que foi levantada e talvez por ser uma empresa muito hierarquizada, tem que ver com as mentalidades da chefia. É que o funcionário precisa de dispor de horas, mesmo no local de trabalho, para preparar as acções de voluntariado. Isto porque voluntariado é trabalho também.
A minha questão e a minha curiosidade também em jeito de proposta à minha organização: pela sua experiência empresarial, até que ponto o voluntariado, ou o facto de determinado funcionário revelar diversas iniciativas de voluntariado, não poderá ser integrado nos modelos de avaliação, quase como umasoft skillque pudesse dar alguma vantagem ou não?
Isto, porque gostaria de propor à minha empresa, já que foi discutido o que é que podíamos fazer para convencer as pessoas a participar mais em acções de voluntariado.
Obrigada.
Conceição Zagalo
Muito obrigada. A sua empresa não é uma instituição financeira, pois não? É a Caixa. Pois, já têm programas fantásticos e sim, nós já temos e se calhar não é por acaso, variadíssimas empresas e outras organizações (fundações, por exemplo) que valorizam muitíssimo o voluntariado na hora da implementação dos programas de avaliação e desempenho.
A PT faz isso, entrega ao voluntariado seis dias por ano, valoriza muito o conhecimento e as competências na hora dos programas de avaliação e de desempenho, tem um programa sério no domínio da integração das pessoas com deficiência. Tem inclusivamente uma divisão de necessidades especiais de que podemos falar.
Mas o Montepio que é gerido pelo António Tomás Correia que foi administrador da CGD e não é por acaso, também na hora do recrutamento olha de forma diferente para os jovens que responderam às chamadas iniciais de hoje: "quem já fez voluntariado”, etc.
Não tenham vergonha de escrever no vosso currículo que fizeram voluntariado numa caixa de supermercado,babysittingaté, porque isso é muito valorizado na hora do recrutamento. Aqui, também é, ora falamos de organizações inteligentes, geridas por pessoas inteligentes. Portanto, cada vez mais o voluntariado é valorizado.
Quando, há bocado, lhe dizia que há organizações empresariais, ou não, com que temos contactos e dizem:"vá, organize lá acções de voluntariado, mas não distraia as pessoas”, é verdade, é um facto. Só que, não raras vezes, são essas organizações que dizem:"não distraia as pessoas”; que depois querem celebrar um aniversário especial com uma acção de voluntariado. Porque começam a perceber que o voluntariado tem mesmo essas vantagens que eu elenquei ali: é factor de produtividade, matéria de auto-confiança, confere sentimento de pertença e orgulho face à organização e torna-nos mais produtivos, capazes de alimentar melhor o ciclo social, o da Economia e do desenvolvimento sustentável.
Se quiser, falamos, tenho todo o gosto nisso, posso partilhar abordagens que possa ter no sentido da credibilização destes programas e da sua integração na estratégia e no modelo operacional da Caixa, designadamente ao nível de programas de avaliação e de desempenho. E lá na Caixa tem vários gestores que não têm dificuldades em entender isto e posso dar-lhe depois o nome deles, com quem já falei também.
Duarte Marques
Obrigado. Segue-se o Pedro Sousa do grupo Encarnado.
Pedro Sousa
Bom dia. Antes de mais, quero agradecer à nossa oradora, não tanto por estar aqui, mas mais pela paixão com que partilhou connosco as suas experiências e as suas ideias relativamente a este tema.
Em relação à minha pergunta, gostava de voltar a abordar um assunto sobre o qual queria ouvir a sua opinião: temos vindo a assistir, nos últimos anos, a uma mudança do paradigma social em Portugal e no Mundo, essencialmente devido à já famosa crise económica. Essa mudança, na minha opinião, está a acontecer em diversos campos e de várias formas. Por exemplo, a habitação social tem extravasado o seu tradicional utilizador. Hoje é usada também por jovens, por incapacidade de aos 30 anos se emanciparem.
Efectivamente, uma sociedade não se desenvolve se os seus cidadãos também não se puderem desenvolver. Mas vê-se isso também noutros contextos, por exemplo quando o World Bank afirma que países como a Grécia vão ser foco desta ajuda, não em apoios directos, mas por exemplo em partilha de conhecimento activo com os governos destes países para tentar combater este novo tipo de população que necessita de apoio social.
A minha pergunta é muito simples: como é que esta mudança de paradigma está a ser feita, no sentido de responsabilidade social no mundo empresarial?
Obrigado.
Conceição Zagalo
O mundo empresarial reflecte e é uma forma mimetizada, espelhada, do tecido social e portanto, a tendência é para que – e nós fazemos isso muito na associação – acompanhemos o que está a acontecer mundialmente e, não raras vezes, construirmos novas tendências. Não vos referi algumas parcerias internacionais que temos e algumas representações que nos permitem cada vez mais fazermos novas políticas, desenhar novas estratégias e levarmos a exercício a nossa liderança também em matéria de precursores nestas áreas da responsabilidade social.
Nós somos os representantes nacionais da CSA Europe, que é o braço armado da Comissão Europeia para a responsabilidade social. Estamos muito integrados na Agenda 20-20 e com todo um conjunto de empresas que trabalham os temas no sentido não só de combater as clivagens sociais que são provocadas pelas mutações da sociedade, como também criar novos modelos que permitam que cada vez mais haja menos necessidade de intervir nessas matérias.
Portanto, o que é que nos cabe a nós, empresas, cidadãs e cidadãos fazer? Estarmos atentos, despertos, predispostos a trabalhar no sentido de conseguirmos fazer intervenção a montante, profiláctica e não necessariamente só a jusante de tratamento.
Duarte Marques
Obrigado. Dou a palavra ao Diogo Braz do grupo Bege.
Diogo Braz
Bom dia a todos. Obrigado pela presença, gosto muito desta área da responsabilidade social e tudo o que seja desenvolvimento e sustentabilidade. Penso que rumamos, neste momento, para o equilíbrio do Mundo, ou seja, neste últimos 50 anos houve esta revolução toda e agora vamos para o equilíbrio.
Ou seja, esta crise não é crise, mas sim um rumo para o equilíbrio e um ajustamento para as necessidades, porque isto não é infinito, tem uma capacidade e é por aí que estamos.
O que quero perguntar está mais dentro da cultura portuguesa. São 97 empresas portuguesas com que trabalha, acho que é uma intervenção necessária e não conheço outras associações de RSE, porque cada vez mais acredito que não se baseia só nas organizações e associações sem fins lucrativos, mas sim nas empresas sociais de que cada vez se vai falando mais. Ou seja, continuando com a competitividade de querer lucrar, mas tendo como base a responsabilidade social nessa intervenção.
São 97 empresas, mas existem milhares. Portanto pergunto-lhe qual é a receptividade das empresas de cultura portuguesa perante este tipo de acção e se há alguma estratégia para optimizar este tipo de mentalidade de responsabilidade social nas empresas.
Conceição Zagalo
Muito obrigada pela sua questão. Este é um trabalho que temos vindo a fazer de forma consistente e muito sustentada ao longo dos anos. Como dizia, no ano 2000 éramos só oito empresas e de cariz muito internacional: Xerox, IBM, McDonald’s, enfim. Empresas portuguesas era só uma em Napa, a quem a Fundação Luso-Americana confiou, no fundo, a constituição do grupo. Depois, nos primeiros anos, andámos ali um bocadinho a marcar passo. Fizemos uma parceria no âmbito da associação lançar explicações sobre a RSE e a certa altura vimos que corríamos o risco de sermos acusados de "associação das explicações”, por isso saltámos para o lado da acção. E foi aí que um maior número de empresas começou a aderir, curiosamente mais as portuguesas, que começaram por ser grandes mas hoje em dia já estão cada vez mais matizadas com as pequenas.
Acho que isto e o efeito que esta questão tem seguem um bocadinho a tendência em quaisquer outras matérias. Questiona-se muito se investimento é responsabilidade social e a adesão à responsabilidade social é uma questão de moda. Ainda ontem ao jantar falava com alguém quem comparava isto um bocadinho ao movimento de informatização – que acompanhei muito bem na IBM – que se fez nos últimos 20 anos.
Quando apareceram os primeiros grandes computadores pessoais, tinham-nos aquelas grandes empresas que tinham departamentos de informática e capacidade de ter alguém a gerir o assunto.
Com todo o respeito pelos empresários do Norte e ergo aqui a minha homenagem a eles, mas depois o que aconteceu muito foi aquele exemplo de:"Se ele tem porque é que eu não tenho? Se calhar estou a perder alguma coisa”.Aconteceu vermos computadores na secretária do executivo tapadinho com a tampa para não ganhar pó e depois a certa altura começou a ser usado e viram que até dava uma maior flexibilidade e de operação executiva estrutural na empresa.
Depois, deu-se o benefício da dúvida e evoluiu-se, evoluiu-se e evoluiu-se. Hoje em dia quem é que não está informatizado? Ninguém. Seria louco, alguém com responsabilidades executivas, não ser capaz de estar informatizado. Acho que vai acontecer isso com a responsabilidade social; um destes quem não agarrar esta possibilidade e o investimento nesta matéria, quem vir esta matéria como um custo, como umnice to have, ou como uma discussão de sexo dos anjos, vai ser penalizados também na hora de atrair pessoas, pelo facto de não fazer.
Portanto, somos 96, a caminho dos 97 e 98 membros, mas éramos pouco mais de 40 há dois anos e vamos ser muitos mais seguramente daqui a uns tempos, porque isto é sério e é algo em que tem de se investir como factor de competitividade. As empresas portuguesas, independentemente da sua dimensão, vão perceber isso, porque vocês também vão estar nessas empresas portuguesas, muitos jovens que são da vossa geração e que sentem que há que investir nestas matérias, ser socialmente responsável, defender boas práticas e políticas de gestão de recursos humanos e integrar planos destes na estratégia da empresa por forma a não se perder o barco da competitividade e continuarem empresas saudáveis com pessoas a serem geridas e a gerirem as suas estratégias.
Duarte Marques
Temos só mais tempo para uma rapidíssima questão do João do grupo Azul.
João Diogo Ferreira
Bom dia. Tenho de ser rápido, por isso vou passar os agradecimentos, pois os meus colegas já os fizeram.
A minha pergunta foca o seguinte: não quero generalizar, mas muitos portugueses dizem que não têm tempo, entre outras desculpas. Um simples caso: quando digo para virem para a JSD, dizem-me que estou à procura de um cargo nalgum sítio; se perguntar a alguém se quer vir para o grupo de jovens, dizem-me logo que não têm a minha vida e que têm mais que fazer.
Gostaria de saber a sua opinião fundada sobre isto para tentar aprender com a sua vasta experiência. Outra questão seria: os políticos também têm de ter alguma responsabilidade social e alguns, que nos puseram nesta situação, cometeram uma irresponsabilidade social. Não vale a pena citar nomes, porque há vários séculos isto tem vindo a acontecer.
Gostaria de saber a sua opinião sobre: eles de facto têm de ser um modelo para toda a sociedade, mas deverão ser punidos pelas suas irresponsabilidades sociais. Porque razão só descobrimos os danos depois e não andamos mais vigilantes sem ser quando os danos são irremediáveis?
Conceição Zagalo
Vamos lá ver se eu consigo ter uma resposta e mais dizer a minha opinião sobre a questão que levantou do que outras.
Quando os jovens dizem que não têm tempo, acho que vão aprender à custa deles. Eles vão perceber, alguns deles, dos seus amigos, dos seus grupos que são convidados para estar em actividades partidárias ou associativas, ou em movimentos de voluntariado, vão-lhe dizer assim:"Ó João, tu tens muita sorte”. O João vai responder-lhes:"Tive sorte, pois estive sentado uma semana em que estou branquinho, não estou queimado do sol, estou a fazer trabalho partidário, tenho sorte porque a sorte dá trabalho e porque trabalho para ter sorte”.E claro em igualdade de oportunidades.
No meu caso específico, sou extremamente ambiciosa, sou extremamente garganeira, garanto que se reunir as condições a oportunidade é para mim, não é para outro e agarro-a de que maneira! Agora, podia ter escolhido estar a ver telenovelas, mas não faz o meu estilo. Não condeno quem veja, tem de haver gente para tudo, mas eu quero trabalhar, quero ter sorte e cada vez mais vai haver jovens que percebem que a sua sorte é saber escolher.
Você, se calhar, consegue dizer: eu vou fazer isto, eu quero fazer isto, eu vou trabalhar onde quero e é você que escolhe. Eles são escolhidos das franjas do que sobra e sobras érédone não é para nós, a não ser em circunstâncias especiais.
Portanto, o seu exemplo e o exemplo dos joãos e das filipas que estão nestas salas, ou nestes fóruns, pode ajudar outros mais distraídos a agarrarem o tempo, a quererem estar a trabalhar nas férias, a quererem fazer aquilo ou aqueloutro, com processo de maior aprendizagem ou menor aprendizagem, mas não estarem ociosos. Essa vai ser a diferença e vão ser vocês, com as vossas escolhas, que lhes vão ensinar que a ociosidade e a gestão de tempo é qualquer que se lhe diga. Tem muito a ver com a nossa atitude e sobretudo com as certezas que queremos ter e a correcta gestão das incertezas que não queremos que façam parte de nós. Por isso, mais tarde, ou mais cedo, eles vão lá.
Sobre a questão dos governantes: governantes são vocês, somos nós, com a devida circunstância. Nós podemos ser, de facto, rebarbativos, combativos, negativos, azedos, ácidos, sermos destrutivos, ou podemos absorver as vantagens que determinados grupos de pessoas, neste caso governantes nos conferem e fazer-nos à vida. Nós vemos cada vez mais programas e se forem à página da Presidência da República, vêem programas conduzidos pela mesma; há uma mandatária para a juventude, não sei se neste momento ainda é a Dr.ª Susana Toscano, mas era ela.
O próprio Jorge Portugal, que trabalha a Tecnologia da Informação na área das empresas, está muito ligado a grupos de jovens. Já estive na Presidência da República em audiência, acompanhada, a levar um jovem que ganhou um prémio da IBM e teve um projecto de implementação de empreendedorismo em Portugal. Já lá estive também noutra circunstância com um jovem da AIESEC. Portanto, fui levada por jovens que quiseram de facto marcar a diferença e dizer "eu já lá estou” e os governantes reagem bem a isso.
Esta alteração da lei de responsabilidade social empresarial que nós andamos a trabalhar com o gabinete do Ministro da Solidariedade e Segurança Social, com o Dr. Pedro Mota Soares, é movida por nós e por muitos jovens da vossa idade que são trabalhadores nas empresas com que nós estamos a trabalhar e que nos levam a acreditar que vale a pena institucionalizarmos e organizarmo-nos no sentido de fazermos e influenciarmos políticas públicas.
Nós podemos influenciar, assim nós estejamos dispostos a acordar todos os dias e a estar aqui às dez horas em ponto e não 10h01. [APLAUSOS]
E a querermos servir de exemplo para nós próprios e para todos os outros dizer: "ainda bem que vou para o partido”, "ainda bem que vou para o movimento associativo”, "ainda bem que eu vou trabalhar, enriquecer currículo e ser escolhido, porque tu não és, percebes?”. Não tenham medo de serem assertivos, ambiciosos e de dizer: há este lugar, se for meu não é teu e eu quero muito que ele seja meu.
E depois,the more you ask, the more you get.
Dep.Carlos Coelho
Muito bem. Esta imagem que está nos ecrãs foi uma campanha que a JSD fez há algum tempo e que tem muito a ver com aquilo que nós falámos esta manhã.
Peço à equipa dos avaliadores para virem para aqui, porque eu e o Duarte Marques vamo-nos despedir da Dr.ª Conceição Zagalo à saída. E em nome de todos: muito obrigado por ter estado connosco esta manhã.