ACTAS  
 
27/08/2012
Jantar de Boas Vindas
 
Dep.Carlos Coelho

Minhas senhoras e meus senhores, vamos dar início ao jantar formal de abertura da Universidade de Verão 2012.

Este é sempre um jantar especial e é o único jantar durante toda a semana em que eu tenho o privilégio de fazer um brinde porque a partir de amanhã em todos os jantares-conferência que terão lugar durante a semana serão vocês a fazer os brindes e a saudar os nossos convidados.

Numa reunião que terá lugar hoje à noite, depois dos trabalhos de grupo, com os vossos coordenadores, vamos sortear quais são os grupos-anfitrião e quais são os grupos do brinde. Isto, porque esta é a última vez que a mesa da presidência é realmente uma mesa da presidência; a partir de amanhã, de acordo com o sorteio que será feito esta noite, esta mesa será de um dos vossos grupos e será esse grupo a receber os convidados.

Assim, amanhã, quando o professor Miguel Morgado se sentar aqui será recebido pelo coordenador do grupo que for sorteado para grupo-anfitrião. A mesa da presidência terá a vossa cor, a vossa mascote e o vosso estandarte, de acordo com o sorteio que terá lugar.

Vamos começar o jantar-conferência de hoje de uma forma semelhante à dos seguintes. Todos os jantares-conferência vão abrir com um momento cultural: dois dos grupos, de acordo com um sorteio, vão escolher um poema e declamá-lo. Uma das vossas responsabilidades será, portanto, escolherem um poema e determinarem quem será encarregue de fazer a sua declamação.

Neste primeiro jantar a escolha é nossa. Escolhemos uma poesia de que gosto muito, uma prosa poética de Jorge de Sena, um grande autor português que esteve exilado e que escreveu "Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya”, que vocês têm nas vossas mesas.

O quadro que estamos a ver nos ecrãs foi pintado por Goya. Estamos no início do século XIX, 1808, e o povo de Espanha está a revoltar-se contra a opressão napoleónica. Os nossos amigos de Espanha estão a dizer "nós queremos ser donos da nossa terra e não aceitamos o jugo do estrangeiro”. E numa pequena cidade, Aranjuez, há um motim contra o império napoleónico, contra a dominação francesa. Esse motim dá origem a revoltas em Madrid, que acabam em tragédia. O general francês decide punir os revoltosos e faz mais de 400 vítimas, fuziladas na noite de 2 para 3 de Maio de 1808. Esta obra de Goya foi realizada pouco depois, em 1814, ainda com o sofrimento e a dor na memória das pessoas, o sangue jorrado em vão.

De uma forma geral, acho que quando os poderes recorrem à guerra é porque não tiveram inteligência para gerir as suas desavenças em paz; a morte e a guerra são coisas a evitar.

Jorge de Sena, um grande autor português, faz uma carta aos seus filhos – que eram muitos, ele foi um pai com uma prole numerosa –, inspirado nesta tela de Goya. "Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya”, será lida pelo António Matos, um dos membros da nossa organização. Vamos ouvir.

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.

É possível, porque tudo é possível, que ele seja

aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,

onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém

de nada haver que não seja simples e natural.

Um mundo em que tudo seja permitido,

conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,

o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.

E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto

o que vos interesse para viver. Tudo é possível,

ainda quando lutemos, como devemos lutar,

por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,

ou mais que qualquer delas uma fiel

dedicação à honra de estar vivo.

Um dia sabereis que mais que a humanidade

não tem conta o número dos que pensaram assim,

amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,

de insólito, de livre, de diferente,

e foram sacrificados, torturados, espancados,

e entregues hipocritamente â secular justiça,

para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue

Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,

a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas

à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,

foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,

e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,

ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.

Às vezes, por serem de uma raça, outras

por serem de urna classe, expiaram todos

os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência

de haver cometido. Mas também aconteceu

e acontece que não foram mortos.

Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,

aniquilando mansamente, delicadamente,

por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.

Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,

foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha

há mais de um século e que por violenta e injusta

ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,

que tinha um coração muito grande, cheio de fúria

e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.

Apenas um episódio, um episódio breve,

nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)

de ferro e de suor e sangue e algum sémen

a caminho do mundo que vos sonho.

Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém

vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.

É isto o que mais importa - essa alegria.

Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto

não é senão essa alegria que vem

de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém

está menos vivo ou sofre ou morre

para que um só de vós resista um pouco mais

à morte que é de todos e virá.

Que tudo isto sabereis serenamente,

sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,

e sobretudo sem desapego ou indiferença,

ardentemente espero. Tanto sangue,

tanta dor, tanta angústia, um dia

- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -

não hão-de ser em vão. Confesso que

multas vezes, pensando no horror de tantos séculos

de opressão e crueldade, hesito por momentos

e uma amargura me submerge inconsolável.

Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,

quem ressuscita esses milhões, quem restitui

não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?

Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes

aquele instante que não viveram, aquele objecto

que não fruíram, aquele gesto

de amor, que fariam amanhã.

E por isso, o mesmo mundo que criemos

nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa

que não é nossa, que nos é cedida

para a guardarmos respeitosamente

em memória do sangue que nos corre nas veias,

da nossa carne que foi outra, do amor que

outros não amaram porque lho roubaram.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho

Senhora presidente do PSD Açores, senhor secretário-geral do Partido Social Democrata, senhor presidente da JSD, senhor presidente do Instituto Sá Carneiro, senhor deputado Duarte Freitas, senhor deputado Nuno Matias, senhor deputado Cristóvão Crespo, senhor presidente da Assembleia Municipal de Castelo de Vide, minhas senhoras e meus senhores, a modéstia do Dr. António Ribeiro fica sempre ferida quando nós fazemos esta saudação, mas eu tenho de repetir todos os anos: não é um exercício formal de cortesia para saudar o representante dos habitantes de Castelo de Vide, não é o dever de reciprocidade para agradecer a simpatia com que somos, todos os anos, recebidos nesta bela terra do Alto Alentejo, não é porque gostemos, por razões protocolares, de ter o presidente da câmara junto a nós no primeiro jantar, é porque precisamos de bons exemplos na vida como na política!

O Dr. António Ribeiro é um bom exemplo, um cidadão independente que é um independente a sério, não é daqueles independentes que às vezes surgem no cenário político, que eram de um partido, zangaram-se e vão ser candidatos independentes. Foi um independente que aceitou ser candidato pelo PSD, que alterou o poder político em Castelo de Vide que não era do nosso partido, era do partido socialista; que herdou uma câmara endividada; que saneou financeiramente a câmara e que em eleições reiteradas mereceu a confiança dos seus concidadãos.

É um homem honesto que não confunde o tesouro público com os recursos privados, sério na forma como responde às preocupações dos seus cidadãos, um homem que deixa obra nos mandatos autárquicos em que foi eleito pelos seus concidadãos de Castelo de Vide e é um homem que nos acompanha desde 2003. Ao longo destes dez anos, vimos no Dr. António Ribeiro não apenas um anfitrião, mas um bom exemplo. É por isso que, além do brinde que quero fazer a este grande homem que é presidente da câmara que nos recebe, tenho uma prenda singela para ele, que é uma caneta personalizada e comemorativa dos dez anos da Universidade de Verão.

Agradecendo sempre o apoio, o estímulo e o incentivo, que ele nos deu e o facto de nos permitir sediar aqui, na sequência da iniciativa do secretário-geral Matos Rosa. O que tem permitido à JSD, ao PSD e ao Instituto Sá Carneiro dar duas mensagens ao país: a primeira é que num país que está inclinado para o Litoral há iniciativas de vulto que podem e devem ocorrer no Interior; a segunda é que não há nenhum espaço no território nacional que não possa ser berço das nossas iniciativas, ainda que esse espaço se situe no Alentejo e ainda que seja naquilo que podemos designar por "Alentejo laranja”.

Assim sendo, pedia que erguessem os vossos copos para beber à honra do Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, desejando-lhe na sua vida pessoal e política os maiores sucessos e as maiores virtudes: ao Dr. António Ribeiro!

[APLAUSOS]

 
Dr.António Manuel Ribeiro

Excelentíssimo director da Universidade de Verão de 2012, Deputado do Parlamento Europeu, Dep. Carlos Coelho, excelentíssimo Presidente da Juventude Social Democrata, Deputado Duarte Marques, excelentíssimo Secretário-Geral do Partido Social Democrata, Dep. José Matos Rosa, excelentíssimo senhor presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro, Dr. Carlos Carreiras, excelentíssima senhora presidente do PSD Açores, Dr.ª Berta Cabral, senhores deputados, excelentíssimo Dr. José Miranda, presidente da comissão política da secção, excelentíssimos alunos e convidados, mais uma vez na qualidade de presidente da câmara municipal de Castelo de Vide, concelho que desde 2003 acolhe esta importante iniciativa que o PSD, em boa hora, concebeu, que me cabe a honra e o privilégio de dar as boas-vindas a todos os participantes envolvidos neste projecto, sejam eles organizadores, alunos, convidados, conferencista, comunicação social e colaboradores.

Sejam todos muito bem-vindos e espero que para além do intenso e exigente programa consigam ainda disfrutar dos muitos prazeres que esta notável vila tem para oferecer. Além da minha mensagem de boas-vindas, queria igualmente – e nunca será demais – relevar a competência e o empenho com que o excelentíssimo deputado Carlos Coelho, juntamente com a sua eficiente equipa de colaboradores, organiza esta Universidade de Verão, que ano após ano consegue afirmar-se como uma iniciativa que marca a agenda política nacional nesta fase darentréepolítico-partidária. Não só por isso, mas também pelo patamar de elevada excelência que a universidade alcançou, quer pela qualidade dos palestrantes, quer ainda pela exigência e actualidade dos temas programáticos, que o êxito é indiscutível e reconhecido tão notoriamente pela comunicação social.

Peço uma salva de palmas para os obreiros desta iniciativa consubstanciada na pessoa do Dep. Carlos Coelho.

[APLAUSOS]

Foram precisos decorrer nove anos para que outro partido com responsabilidades no poder viesse agora anunciar uma iniciativa congénere que tem lugar no Alentejo, o que demonstra que também no campo de preparação de técnicos dos seus quadros, do departamento das ideias e doutrinas, da consolidação e consciencialização das responsabilidades de quem exerce ou pretende exercer funções de poder político o PSD é o primeiro partido português.

Parabéns, Deputado Carlos Coelho, pelo seu carácter visionário e inovador que nos coloca ainda mais à frente em relação aos outros partidos para os quais a prática e exercício de poder se esgotam nas circunstâncias do presente, ou na mera ambição de resultados eleitorais de amanhã.

Quero também deixar uma mensagem pessoal: sou Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide há cerca de onze anos, eleito nas autárquicas de 2001, apoiado por este partido; circunstâncias diversas fizeram com que aos 55 anos a minha vida sofresse uma mudança de 180 graus com a eleição de 2001.

Não tinha experiência da actividade político-partidária, embora não omita que no meu subconsciente existisse uma forte aspiração de um dia vir a presidir aos destinos do meu concelho.

Uma vez eleito, foi um caminho de constante aprendizagem face à preparação de base que, confesso, não tinha. Por isso, é com enorme satisfação que vejo a enorme qualidade com que o PSD prepara os seus futuros quadros. Alguns de vocês serão certamente chamados a exercer cargos públicos de relevância e com esta experiência irão desenvolver a vossa missão de modo mais consistente e consolidado.

Assim, para todos vocês, um forte estímulo para absorverem tudo aquilo que vos for aqui ensinado e votos de felicidades ao longo das vossas vidas.

Termino com uma segunda mensagem: vivemos tempos difíceis, que se traduzem na contestação social que será certamente crescente a partir destarentrée. Considero ser fundamental para a estabilidade do partido e do país que internamente o clima seja de confiança e união. Na minha qualidade de simpatizante do PSD, presidente de uma câmara municipal e, sobretudo, como cidadão, deixo aqui um apelo ao sentido de responsabilidade que devemos ter nos tempos actuais. Lanço-vos ainda o repto de regressarem com as vossas famílias a Castelo de Vide noutras ocasiões fora destas lides partidárias.

Castelo de Vide, apesar da relação periférica que tem com Lisboa e vivendo a angústia que todos os outros concelhos do Interior vivem, tem sabido potenciar os seus recursos tornando-se hoje num lugar incontestado onde ainda existe qualidade de vida. Para esse efeito, muito têm contribuído o nosso esforço e empenhamento à causa autárquica. Acredito que é também num ambiente descontraído e em lazer, que conhecemos as fraquezas e virtudes dos lugares e aqui, permitam-me a imodéstia, consegui honrar este partido que me apoiou, transformando aquilo que foi outrora um feudo do partido socialista, hoje, num bom exemplo de gestão autárquica, que não obstante a sua obra apresenta uma tesouraria de cerca de um milhão de euros e a dívida à banca reduzida em cerca de 800 mil euros.

Bom trabalho, muito obrigado!

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho

Minhas senhoras e meus senhores, estamos a chegar à parte final do jantar formal de abertura da nossa Universidade de Verão e eu gostaria de dar algumas informações e chamar a atenção para uma curiosidade. Também me é lícito fazer um "Achei curioso”.

Com certeza repararam que a abraçar o vosso guardanapo, no início da refeição, havia uma pequenina tarja cor-de-laranja que tem, de um lado, o símbolo da Universidade de Verão, e do outro lado a ementa. Provavelmente terão achado que era algo que a organização tinha mandado fazer. Numa universidade que dá valor aos pormenores podia ser perfeitamente uma ideia nossa, mas o que há de curioso nestas pequeninas tiras de papel é que não foi uma iniciativa nossa.

Há alguns anos a esta parte, apercebemo-nos que o pessoal deste hotel tinha entendido a lógica da Universidade de Verão e passou a produzir as ementas com o nosso símbolo, desta forma, e o mais curioso ainda, como vão ter o prazer de reparar amanhã, o hotel altera as cores desta tarja. Hoje é cor-de-laranja, presumo que em homenagem à casa, mas a partir de amanhã estes pequenos rectângulos de cartolina que apresentam a ementa do nosso jantar passarão a ter a cor do grupo anfitrião. O que significa que se amanhã estiver aqui o grupo verde, as tarjas serão verdes, se for o grupo amarelo, as tarjas serão amarelas, por aí adiante. Significa que o pessoal do hotel aderiu aos costumes, regras, tradições, da Universidade de Verão com muita facilidade, sem que nós tivéssemos de pedir isso.

Em segundo lugar, quinze minutos após o fim deste jantar vamos ter as primeiras reuniões dos grupos e vamos fazer da seguinte forma: os grupos verde, encarnado, rosa e laranja reúnem lá em baixo na sala de aulas, onde tivemos a sessão de abertura; nesta sala vão reunir os grupos roxo, castanho, bege, cinzento, azul e amarelo. Lá em baixo terão o Jorge Varela e a Filipa e cá em cima o Paulo Pinheiro, o Joaquim e a Vera Artilheiro como conselheiros.

Finalmente, gostaria de vos pedir que trabalhem depressa e bem, pois desejaria poder reunir às onze e meia com os dez coordenadores que resultarem da vossa escolha nos grupos. Chamo à atenção dos cinco conselheiros, que o José Baptista terá para vos distribuir os envelopes com as missões para os trabalhos de grupo para que elas sigam a sequência que está combinada.

Dito isto, gostaria de vos falar de uma grande senhora, que foi administradora de empresas, membro do governo regional, é presidente da câmara municipal de Ponta Delgada desde 2001 e tem o desafio da vida dela que é disputar a presidência do Governo Regional dos Açores. Não tenho dúvida que os Açores vão mudar de vida, vão mudar para melhor e que o património de experiência, de saber, mas também – como o Eng. Jorge Moreira da Silva relembrou hoje na sessão de abertura – de proximidade às pessoas que a Dr.ª Berta Cabral pode transportar nos Açores, que é um bom augúrio da mudança política se impõe no arquipélago.

A nossa convidada, que acedeu ao convite de fazer a intervenção política deste jantar formal com que iniciamos os trabalhos da Universidade de Verão, tem como passatempo a jardinagem, como comida preferida o cozido das furnas, como animal preferido o cão (que é o animal de estimação mais votado pelos convidados da nossa universidade). O livro que nos sugere é "Sorriso por dentro da noite” de Adelaide Freitas e o filme "Amigos improváveis”. A qualidade que mais aprecia é a lealdade.

É uma mulher leal aquela que nos vai dar a honra de abrir os trabalhos, minhas senhoras e meus senhores, connosco esta noite a Dr.ª Berta Cabral.

[APLAUSOS]

 
Berta Cabral

Muito obrigada. Muito boa noite, magnífico reitor da Universidade de Verão, senhor presidente da câmara municipal de Castelo de Vide, senhor secretário-geral, senhores deputados, senhor deputado Duarte Freitas, senhor presidente da JSD, caros conselheiros e organizadores desta Universidade de Verão de 2012, caros alunos, caros convidados, é para mim uma honra e um gosto imenso poder estar aqui convosco a partilhar esta sessão de abertura.

Por ironia do destino, ou por felicidade, é precisamente este ano que se comemoram os dez anos da Universidade de Verão. Cem alunos em cada ano são mil alunos e o reitor desta universidade, Carlos Coelho ultrapassou governos e todos estes dez anos mantendo sempre bem viva esta iniciativa, esta Universidade de Verão, que tanta gente já formou, tanta gente ligada ao PSD e com funções de responsabilidade. Já passaram por esta Universidade de Verão e são seguramente referências para todos vós para aproveitarem bem este espaço de formação, que também é um espaço de informação, de partilha de experiências, de amizades, porque tudo isso faz parte da vida, porque é uma componente muito importante - a componente institucional, profissional e política.

Mas há também a outra metade da vida, que é das relações pessoais, da amizade, da lealdade, da felicidade e ainda na sessão de abertura ouvi várias pessoas a desejarem-vos bom trabalho e que sejam felizes. Eu, de facto, acho que a palavra felicidade é uma palavra feliz, porque encerra um conjunto de atributos e qualidades que resume aquilo que cada um quer que a sua vida seja: uma vida feliz, em que cada um se sente realizado, se sente bem consigo próprio e que pode dar de si aos outros e contribuir para a felicidade colectiva. É esse também o meu primeiro desejo para todos vós na certeza de que a formação é essencial. Por isso mesmo queria deixar-vos esta nota: aproveitem bem esta semana, que é talvez, como alguém dizia há pouco, uma das semanas mais importantes da vossa vida. É uma extraordinária alavanca para o dia de amanhã, para uma carreira, seja cívica ou política, será seguramente uma carreira profissional onde tudo o que aprenderdes agora será importante no futuro.

É essebackgroundque nós transportamos na vida que faz de nós o que somos e que vai fazer de vós pessoas bem formadas, capazes de defrontarem e superarem todos os desafios que vos colocarão pelo caminho e que só com desafios é que se consegue construir um projecto de vida que vos satisfaça enquanto pessoas e como profissionais.

Feita esta pequena introdução e de felicitação também, com uma palavra muito especial ao nosso reitor, Dr. Carlos Coelho, pela iniciativa e tenacidade que ele tem manifestado ao longo dos dez anos, quero desejar à Universidade de Verão e ao seu reitor uma longa vida e que continue por muitos e muitos mais anos a formar jovens do nosso país, da nossa comunidade e também os Açores têm tido a honra e gosto de participar nestas Universidades de Verão.

Este ano, por razões que têm que ver com o calendário, não temos cá ninguém, porque obviamente estamos todos muito ocupados e dedicados a uma tarefa que nos prende a todos no nosso dia-a-dia, porque temos de ultrapassar este grande desafio que temos pela frente. Já perceberam que estou a falar das eleições regionais de Outubro, as mais importantes dos últimos 16 anos. É um grande desafio para o PSD, mas é também muito importante para os Açores e para a democracia.

Os Açores viveram ao longo dos seus 36 anos de autonomia dois ciclos de governação relativamente longos, mas também importantes: um primeiro ciclo de governação que se iniciou em 1976 quando foi aprovado o primeiro estatuto político-administrativo da região autónoma dos Açores, que lhe conferiu as competências autonómicas.

Faço um parêntesis para os que estão menos familiarizados com estas questões. Os Açores são uma região periférica, insular, com nove ilhas, que sempre foram naturalmente parte integrante de Portugal continental, embora insular, e continuam a fazer parte deste Estado unitário que é o Estado português. Mas por ser uma região insular e arquipelágica (com nove ilhas) tem também características muito diferentes do resto do nosso país e tem aspirações autonómicas centenárias.

A primeira autonomia dos Açores foi consagrada em 1895 e, portanto, desde essa altura que os grandes autonomistas sempre lutaram para que a região autónoma pudesse tomar nas suas mãos o seu destino, a sua autodeterminação ao nível das opções prioritárias para o seu desenvolvimento e tudo fizeram – isso foi consagrado em 76 – para que tivéssemos órgãos de governo próprio, um parlamento e governo regionais, poder legislativo e os decretos legislativos regionais são aprovados no parlamento regional com 57 deputados e um governo regional que varia as suas dimensões consoante as suas opções governativas.

Fechado este parêntesis para perceberem que numa região insular como a nossa, como dizia Vitorino Nemésio "a geografia é tão ou mais importante que a História, porque a geografia determina a História” e foi esta geografia que determinou o sentimento autonomista, que determinou a conquista e a consagração da autonomia no nosso estatuto político-administrativo em 1976.

A partir de 1976, viveu-se o primeiro ciclo de desenvolvimento dos Açores da era pós-autonomia. Um ciclo liderado por Mota Amaral, da responsabilidade do PSD, que durou 20 anos. Nesses 20 anos construíram-se as mais importantes e básicas estruturas nos Açores: portos, aeroportos, hospitais e mesmo as escolas (não as do ensino básico, mas as do ensino secundário, só havia nas capitais de distrito, como aliás também acontecia no resto do país, só que numa região insular isso era uma enorme limitação para a formação do nossos jovens). Construíram-se estradas dentro de cada ilha, aquilo que é hoje a empresa de electricidade dos Açores (onde já tive o gosto de exercer funções), formou-se e institucionalizou-se a Universidade dos Açores que até 1976 não existia e os jovens como eu vinham todos estudar para Lisboa, os que tinham condições, os que não tinham ficavam pelo ensino secundário.

Tudo isto são consequências positivas da autonomia e desse primeiro ciclo protagonizado pelo PSD, cuja principal figura e aliás, construtor da autonomia e da estrutura que a autonomia hoje tem, foi sem dúvida João Bosco Mota Amaral. Ao fim de 20 anos, em 1995, deu-se a alternância democrática. O Dr. Mota Amaral deixou o governo regional dos Açores e como deixou de ser o líder carismático e presidente do governo regional dos Açores os açorianos entenderam neste segundo ciclo de governação entregar a responsabilidade do governo regional ao Partido Socialista, em eleições livres e democráticas.

Há 16 anos que temos governos do Partido Socialista, quatro mandatos onde se fez muita coisa bem e de bom para os Açores. Temos também de saber reconhecer o mérito das pessoas independentemente dos partidos a que pertencem e sem dúvida nenhuma que é justo reconhecer que durante estes 16 anos muitas outras infra-estruturas, obras de interesse e interessantes também do ponto de vista do desenvolvimento dos Açores foram construídas. Digamos que foram infra-estruturas de segundo nível, de proporcionar e propiciar algum desenvolvimento, sobretudo hotéis, canalização dos fundos comunitários para determinados investimentos em áreas sociais, áreas ligadas ao turismo e foram mais de seis anos de progresso e desenvolvimento. Mas a verdade – e a verdade tem de ser dita quer para o bem, quer para o que está menos bem – este final do segundo ciclo trouxe-nos um certo declínio ao nível dos mais significativos indicadores da economia dos Açores.

Neste momento temos um nível de desemprego superior ao nacional, cerca de 15,6%, o que é muitíssimo para uma região pequena e insular, temos um rendimento social de inserção de 8% quando a média nacional é de 3% e temos uma situação financeira que foi notícia nos últimos dias que merece alguma preocupação e apreensão por parte de quem tem responsabilidades actualmente de fiscalização deste governo e de quem tem todas as condições para assumir futuramente o governo dos Açores e que se deparará com esta situação. Mas acima de tudo é preocupante para os açorianos, os Açores e para um processo de crescimento que temos de voltar a retomar nos Açores, porque o desemprego é um enorme problema e a criação de emprego é o maior desafio que temos pela frente, sobretudo nas gerações mais jovens.

Ao nível da juventude o desemprego ronda os 40%. É urgente, um imperativo nacional, invertermos esta situação e criar emprego para todos, mas de forma muito particular para os mais jovens.

É com esta situação problemática e outros indicadores que eu vos poderia trazer aqui, mas para não estar a tomar o tempo desta conferência, que é limitado, com as questões negativas, eu prefiro passar para as positivas e para o dia seguinte das eleições.

O dia seguinte é aquele em que se inicia um terceiro ciclo que tem confiança nos açorianos, que eles perceberão que está na altura de dar ao PSD e a mim própria a oportunidade de governar os Açores neste terceiro ciclo que tem de ser diferente, protagonizado por pessoas diferentes com sensibilidades diferentes e acima de tudo com uma visão diferente para o futuro dos Açores. Não estamos mais no tempo das infra-estruturas, nem das obras megalómanas, estamos no tempo de investir nas pessoas, criar riqueza, apostar nas empresas, apostar na formação, na educação, na saúde, na acção social, naqueles que mais precisam, na construção de um mercado interno, na construção daquilo que nós chamamos de "região económica”.

Para que percebam de forma sintética o que é uma "região económica”, trata-se de um modelo que nós queremos pôr em prática a partir do dia 15 de Outubro de 2012, um novo modelo de desenvolvimento.

Um modelo de desenvolvimento em que a economia, o crescimento e o desenvolvimento têm de chegar às nove ilhas dos Açores, em que temos de construir um mercado interno único e uma região económica única para potenciarmos a nossa capacidade produtiva, o nosso próprio consumo, substituir importações e promover exportações.

Ao longo destes 16 anos, fomos capazes de construir efectivamente uma região autónoma. Os Açores não são mais as noves ilhas do ponto de vista político, não são de forma nenhuma os três distritos que eram antes de 1976. Não! São uma região autónoma! Nós conseguimos fazer de nove ilhas e três ex-distritos uma região autónoma, mas não fomos capazes ainda de construir uma região económica. É mais fácil cada ilha se relacionar com o exterior do que cada ilha se relacionar com a ilha vizinha. Com algumas excepções, mas falando no conjunto das nove ilhas, há muito a fazer para que os produtos circulem entre as nove ilhas, para que haja comércio, turismo e haja efectivamente uma região económica.

Esse é o nosso modelo de desenvolvimento assente em transportes mais acessíveis, mais baratos, mais fiáveis, mais adequados à mobilidade de pessoas e bens, apostando nos principais sectores da nossa economia que são sem dúvida a agricultura, o turismo, as pescas, o ambiente, as novas tecnologias, a inovação e a ciência. Temos uma Universidade dos Açores que deve estar ao serviço da nossa economia, do desenvolvimento e quando se fala de uma região insular no meio do Atlântico tem de se falar necessariamente de viagens, de transportes, de comunicações, de novas tecnologias.

Quando se fala de comunicações e de novas tecnologias não há distâncias e nós podemos estar no centro do mundo. Também aí – e porque estamos perante uma plateia jovem – o nosso projecto prevê a construção de uma região tecnológica, de umaoffshoretecnológica, com condições fiscais especiais para atrair empresas que recorram a outsourcing ao nível da tecnologia, dos sistemas de informação e comunicações e que nos Açores encontrarão a mão-de-obra qualificada e as competências necessárias, que os nossos jovens já têm, para poderem corresponder às necessidades em termos de prestação de serviços de tecnologia, inovação, investigação, com a nossa universidade ao lado dos jovens desde a sua formação até à sua vida prática. Transformar o saber no saber fazer é outro grande desafio da universidade ao serviço dos nossos jovens, do nosso desenvolvimento e da nossa economia.

É este terceiro ciclo que nós queremos iniciar nos Açores, que nos mobiliza, nos motiva e nos faz trabalhar todos os dias para que o dia 15 de Outubro de 2012 seja de esperança para todos os açorianos, um dia de mudança, mas de mudança segura e para melhor. Uma mudança que conta com todos e aqui queria deixar uma palavra especial à administração pública regional.

Nós temos uma administração pública regional muito jovem, porque nasceu a partir de 1976 e para essa administração bem formada, muitíssimo competente queria deixar uma palavra de reconhecimento pela sua capacidade de desempenhar as tarefas administrativas que nós queremos concretizar e de lhes dizer que contamos com todos eles para o nosso projecto, para nos ajudaram a concretizar este terceiro ciclo de desenvolvimento, esta região económica que nós queremos fazer nos Açores.

Contamos com uma administração regional competente, porque nós lhes damos um voto de confiança. A nossa administração regional pode estar certa de que não vai haver danças de cadeiras quando nós chegarmos ao governo regional dos Açores. Todos são necessários para o nosso projecto, todos farão parte da nossa equipa, todos farão parte deste projecto de mudança segura, de mudança para apresentação de resultados.

Porque a autonomia não pode ser uma palavra vã. A autonomia é uma forma de nos governarmos para ditarmos o que é melhor e concretizarmos essas acções, esses projectos que considerámos essenciais para o nosso desenvolvimento. Por isso é que eu acredito numa autonomia de resultado. A autonomia é a favor das pessoas e é com os resultados que nós conseguimos melhorar a vida de cada açoriano. A autonomia é o instrumento fundamental para imprimir melhoria e qualidade de vida a cada um dos açorianos e daqueles que não sendo açorianos decidiram e escolherem viver nos Açores e são muitos e são todos bem-vindos.

Por isso contamos com todos, com os que lá nasceram e com os que lá vivem porque escolheram os Açores para construírem o seu projecto de vida. Contamos com as nossas empresas e empresários, porque só com eles podemos criar riqueza, postos de trabalhos, promover o desenvolvimento sustentável e contamos com a distribuição dessa riqueza para de forma justa e equitativa continuarmos a ajudar os que mais precisam.

É isto que nós queremos fazer, é isso que nós queremos pôr em prática a partir do dia 15 de Outubro. A alternância democrática é boa para a democracia. É mesmo vital para uma democracia que já atingiu a maioridade e que quer pôr exactamente em prática e levar cada vez mais longe o nosso projecto autonómico. Mas é exactamente porque todos os açorianos podem beneficiar dessa mudança segura, com esta alternância democrática, com esta democracia pujante, forte e cheia de vitalidade, que nós estamos aqui neste projecto para levar os Açores ao bom caminho.

Nesta Universidade de Verão foi para mim um privilégio, a menos de dois meses de eleições, poder partilhar convosco o nosso sonho, esta nossa vontade, esta nossa capacidade e esta enorme confiança de que os açorianos sabem que quando muda um presidente do governo é um fim de um ciclo e que se inicia um novo ciclo com uma nova alternância democrática, novos protagonistas, novas políticas e novos políticos.

O PSD será certamente o partido das pessoas, o partido da democracia, o partido da social-democracia, que vai conduzir os Açores neste terceiro ciclo de autonomia.

Muito obrigada.

[APLAUSOS]

________________